terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Resenha do Almanaque: Futuro proibido

Futuro proibido [Semiotext(e)], Rudy Rucker, Robert Anton Wilson & Peter Lamborn Wilson, orgs. 224 páginas. Tradução de Sergio Kukpas, Ludmila Hashimoto Barros e Alexandre Matias. São Paulo: Conrad, 2003.

A editora brasileira comenta, na apresentação assinada por Marietta Baderna, que o livro seria publicado no Brasil em duas partes, anunciando para o segundo volume os textos de Philip José Farmer e Robert Sheckley entre outros. No entanto, publicou só o primeiro volume, deixando os leitores brasileiros com apenas parte desse curioso projeto, na qual se destacam-se os nomes de Bruce Sterling, Colin Wilson, Willian Gibson, Rudy Rucker e J. G. Ballard.
A ideia dos organizadores de Futuro proibido era reunir textos ousados e perturbadores que eventualmente tivessem sido censurados em suas edições originais, mas a maior parte dos contos não foi realmente censurada. Publicados em fanzines, são textos algo libertinos para o estado da arte vigente a época em que foram escritos, mas lidos hoje soam bastante comportados. De fato, há trabalhos mais ousados entre os modernos escritores brasileiros de fc&f, mas é possível que muitos deles tenham sido influenciados pela leitura deste mesmo volume.
No aspecto erótico, os contos mais expressivos são "Êxtase no espaço", de Rudy Rucker – que não termina lá muito bem – e "O pênis Frankenstein", de Ernest Hogan – o mais entusiasmante do conjunto.
"Vemos as coisas de modo diferente", de Bruce Sterling e "Relatório sobre uma estação espacial não identificada", de Ballard, são textos bastante profissionais. O de Sterling lida com um tema sensível para os americanos, que é a presença em destaque de personagens árabes, mas ambos são trabalhos conservadores no estilo, ainda que avançados nas ideias.
A maior parte dos dezesseis contos publicados na edição brasileira se destaca mais pela ousadia formal, pós-moderna, do que pelos conteúdos. O trabalho de Colin Wilson sequer chega a ser um conto, está mais para um artigo. Dentre esses textos alternativos, impressiona "Visite Port Watson!", de autor anônimo, que se desenvolve na forma de um guia de viagem a uma ilha no meio do Pacífico que vai soar familiar a quem acompanhou o seriado Lost.
Completam a edição alguns portfólios de artistas plásticos que perderam muito de seu possível apelo por serem publicados em uma apresentação pobre, sem cores e com definição ruim.
É difícil dar uma avaliação final realmente isenta, mas a impressão geral é que a ideia é melhor que o resultado. Poucos dos trabalhos publicados realmente cumprem a promessa do futuro proibido prometido pelo título nacional, mas vale a pena conhecer o que estes autores pensavam ser uma fc imaginativa aos olhos do século XXI. Pelo menos esta metade do livro é bastante inspiradora, o que é muito mais do que eu geralmente se pode esperar das antologias em geral.
Por ser um livro pela metade, a sensação de incompletude é frustrante. Imaginar o que Farmer e Sheckley fizeram e que não sabemos é de deixar maluco. Mas nunca é tarde para que a editora cumpra a promessa feita no início do século e nos agracie com a segunda metade desta antologia. Outras obras da Conrad que também ficaram incompletas, como as séries de quadrinhos Nausicaa Delivery Service of Corpse, bem poderiam ser finalizadas. Nausicaa, pelo menos, parece que será enfim publicada integralmente pela editora JBC, mas isso é ainda uma promessa.

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