quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Letras de inverno - Suma das Letras

O selo Suma das Letras, antes vinculado a editora Objetiva, passou a fazer parte do catálogo da Companhia das Letras quando as duas editoras se fundiram. Desde então, os títulos de fc&f engrossaram ainda mais, e recentemente ganharam destaque por conta da importância dos títulos traduzidos. Como é o caso de O problema dos três corpos, do escritor chinês Cixin Liu, romance de ficção científica vencedor do prestigioso Prêmio Hugo, o mais importante da ficção fantástica mundial, que além dessa recomendação, destaca-se por ter sido o primeiro livro de autor não anglófono a ganhar o prêmio nessa categoria.
Eis a sinopse divulgada pela editora: "China, final dos anos 1960. Enquanto o país inteiro está sendo devastado pela violência da Revolução Cultural, um pequeno grupo de astrofísicos, militares e engenheiros começa um projeto ultrassecreto envolvendo ondas sonoras e seres extraterrestres. Uma decisão tomada por um desses cientistas mudará para sempre o destino da humanidade e, cinquenta anos depois, uma civilização alienígena a beira do colapso planeja uma invasão."
A colônia, livro de estreia do americano Ezekiel Boone, é um romance de ficção científica de horror que segue a linha  catástrofe, que sempre fez muito sucesso nos cinemas. "Nas profundezas de uma floresta no Peru, uma massa negra devora um turista americano. Em Mineápolis, nos Estados Unidos, um agente do FBI descobre algo terrível ao investigar a queda de um avião. Na Índia, estranhos padrões sísmicos assustam pesquisadores em um laboratório. Na China, o governo deixa uma bomba nuclear cair “acidentalmente” no próprio território. Enquanto todo tipo de incidente bizarro assola o planeta, um pacote misterioso chega em um laboratório em Washington... E algo está tentando escapar dele. O mundo está à beira de um desastre apocalíptico. Uma espécie ancestral, há muito adormecida, finalmente despertou. E a humanidade pode estar com os dias contados. Uma história aterrorizante sobre uma espécie adormecida há mil anos, que agora voltou para reconquistar o planeta."
O livro da escuridão, do americano John Stephens, é o terceiro e último volume da série Os livros do princípio, antecedido por O atlas esmeralda e A crônica de fogo. Diz a divulgação: "As aventuras dos irmãos Kate, Michael e Emma tomam o rumo final quando eles começam a busca pelo último Livro do Princípio — o Livro da Morte. É a vez de Emma embarcar em uma aventura entre dois mundos, enfrentando inimigos terríveis, monstros e fantasmas, e seus próprios medos mais profundos. Agora, ela deve aprender a dominar os poderes do livro mais perigoso de todos para que, com Kate e Michael, possa salvar o mundo do terrível confronto que Magnus Medonho está planejando: a batalha decisiva entre seres mágicos e pessoas comuns."
Stephen King, que dispensa apresentações, fecha esta seleção com Último turno, final da trilogia de horror iniciada com Mr. Mercedes e Achados e perdidos. "Brady Hartsfield, o diabólico Assassino do Mercedes, está há cinco anos em estado vegetativo em uma clínica de traumatismo cerebral. Mas sob o olhar fixo e a imobilidade, Brady está acordado, e possui agora poderes capazes de criar o caos sem que nem sequer precise deixar a cama de hospital. O detetive aposentado Bill Hodges agora trabalha em uma agência de investigação com Holly Gibney, a mulher que desferiu o golpe em Brady. Quando os dois são chamados a uma cena de suicídio que tem ligação com o Massacre do City Center, logo se veem envolvidos no que pode ser o seu caso mais perigoso até então."
Como se vê por este e pelos últimos quatro posts, não é pouco nem de se desprezar a quantidade de títulos de fc&f por uma única editora, o que revela que as grandes brasileiras ocuparam de vez o nicho – como no passado –, que vai dar mais visibilidade ao gênero nas livrarias, com a vantagem de que agora os autores nacionais também têm vez. Vamos aproveitar.

Letras de inverno - Seguinte

A história alternativa é um ramo da ficção especulativa que constrói cenários históricos alterados por algum detalhe ou evento que resultou diferente de nossa realidade. Dentre os muitos exemplos possíveis, o mais recorrente é uma realidade em que a Alemanha venceu a Segunda Guerra Mundial e impõe ao mundo uma ditadura nazista. Lobo por lobo, da escritora americana Ryan Graudin, é mais uma narrativa que se insere nesse ambiente: "O Eixo ganhou a Segunda Guerra Mundial, e a Alemanha e o Japão estão no comando. Para comemorar a Grande Vitória, todo ano eles organizam o Tour do Eixo: uma corrida de motocicletas através das antigas Europa e Ásia. O vencedor, além de fama e dinheiro, ganha um encontro com o recluso Adolf Hitler durante o Baile da Vitória. Yael é uma adolescente que fugiu de um campo de concentração, e os cinco lobos tatuados em seu braço são um lembrete das pessoas queridas que perdeu. Agora ela faz parte da resistência e tem uma tarefa: ganhar a corrida e matar Hitler. Mas será que Yael terá o sangue frio necessário para permanecer fiel à missão?" Interessante que parte da história segue a cartilha de outras aventuras modernas de ficção científica inserindo um componente desportivo para dar mais ação a trama.
Da escritora e ilustradora alemã Cornelia Funke chega O fio dourado, terceiro volume da série de fantasia Reckless, que antes já tinha lançado Maldição da Pedra e Sombras vivas. "Jacob Reckless continua viajando para o Mundo do Espelho através do portal que encontrou tempos atrás no escritório abandonado do pai. O garoto é reconhecido nesse lugar mágico graças à sua fama de melhor caçador de tesouros de todos os tempos, mas o preço por se envolver com os dois mundos pode ser alto demais… e está prestes a ser cobrado — inclusive de Will, seu irmão mais novo, e de Fux, a companheira transmorfa por quem Jacob nutre sentimentos que vão além da amizade. Quando Will atravessa o portal em busca de uma cura para a misteriosa doença que atingiu sua namorada, Jacob e Fux vão atrás dele até o leste do Mundo do Espelho, terra de baba yagas, exércitos de ursos e tsares. Enquanto isso, um ser que conhece nosso mundo tão bem quanto o do espelho os observa de longe, pronto para se vingar."

Letras de inverno - Companhia das Letrinhas

O cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro enverada pela literatura no livro Quem tem medo de curupira?, organizado por Gabriela Romeu, com ilustrações de Raul Aguiar. O texto é a romantização de um musical escrito por Baleiro em que se misturam o pop e o popular, o tradicional e o contemporâneo, o urbano e o rural. Diz a divulgação da editora: "O maior medo dos seres da mata é cair no esquecimento. O que seria da Mãe-D’água sem jogar seus feitiços, do Curupira sem pitar seu cachimbo e do Saci sem pregar peças? Aflitos com a falta de visitas na floresta, eles decidem ir à cidade para recuperar a fama e voltar a fazer parte da imaginação de crianças e adultos. Mas, para isso, vão precisar se adaptar à selva de pedra."
Mesmo sendo uma publicação para crianças, é um ótimo exemplo de como abordar com criatividade o folclore brasileiro na literatura.

Letras de inverno - Quadrinhos na Cia

Na arte dos quadrinhos, são dois álbuns em destaque. Magda, do quadrinhista paulistano Rafa Campos Rocha, é uma ficção científica brutalista. Mas não espere ver aqui aquelas ilustrações glamourosas dos quadrinhos Marvel-DC. O desenho de Rocha é absolutamente autoral, ágil e de uma crueza desconcertante. Diz o texto de divulgação: "Um ser ancestral se esconde na Terra, um predador de milhares de anos que pode ter sido responsável por extinções do passado. Agora ele se apossou de Magda, numa relação de simbiose que acaba por criar um dos seres mais poderosos do planeta. E Magda esta com fome."
Ainda que vindo da matriz, o título seguinte não é nada previsível. Pau e pedra é uma novela gráfica de ficção científica surpreendente, a começar pelo seu autor, Peter Kuper, cartunista experiente, conhecido por seu trabalho na série Spy vs. Spy, na revista Mad. E segue surpreendendo por ser uma narrativa completamente sem balões, algo que, se não é inédito, é bastante incomum. "Numa terra devastada, um novo império está prestes a nascer e uma batalha épica vai começar... o embate entre dois povos tão diferentes quanto, estranhamente, similares. Numa poderosa alegoria dos dias de hoje, Kuper cria uma história de vida e morte, de guerra e paz, ao mesmo tempo atual e atemporal."

Letras de inverno - Companhia das Letras

Já entramos na primavera, mas vale a pena registrar aqui o que a editora Companhia das Letras e seus múltiplos selos ofereceram aos leitores de ficção fantástica ao longo do inverno de 2016. Por motivos práticos, dividirei este relatório em vários posts, classificados por selo editorial, para mostrar que não é um fenômeno localizado e sim uma proposta sólida da editora.
Pelo seu próprio selo, a Companhia da Letras seleciona obras que atendem as público mais sofisticado, com obras de autores consagrados e bem avaliados pela crítica. Destaco aqui quatro títulos. O primeiro é Atlas de nuvens, romance do escritor britânico David Mitchell, que impactou o público ao ser levado ao cinema em 2013 no longa A viagem. Diz o texto de divulgação: "David Mitchell combina o gosto pela aventura, o amor pelo quebra-cabeça nabokoviano e o talento para a especulação filosófica e científica na linha de Umberto Eco, Haruki Murakami e Philip K. Dick.
Conduzindo o leitor por seis histórias que se conectam no tempo e no espaço — do século XIX no Pacífico ao futuro pós‑apocalíptico e tribal no Havaí —, Mitchell criou um jogo de bonecas russas que explora com maestria questões fundamentais de realidade e identidade.
O segundo título é o inusitado Enclausurado, do também britânico Ian McEwan, autor premiado e prestigiado, que apresenta aqui um romance de mistério que avança no fantástico, ao colocar como narrador um feto: " Enclausurado na barriga da mãe, ele escuta os planos da progenitora para, em conluio com seu amante — que é também tio do bebê —, assassinar o marido.
Apesar do eco evidente nas tragédias de Shakespeare, este livro de McEwan é uma joia do humor e da narrativa fantástica."
A literatura nacional também tem vez no catálogo da Companhia da Letras, que relançou mais um volume do mestre do fantástico brasileiro, José J. Veiga, a coletânea De jogos e festas, "livro vencedor do prêmio Jabuti em 1981, mostra que o extraordinário está nas pequenas coisas.
Com olhar aguçado e sensibilidade para trazer os paradoxos do cotidiano, o autor apresenta três histórias que fogem do banal e trabalham — com humor e inteligência — os efeitos daquilo que nos parece completamente inesperado."
O paulistano Pedro Cesarino é o autor de Rio acima, romance de mistério e horror passado entre os nativos da Amazônia, que vem se somar a muitos outros textos de fc&f nacional que tem nesse ambiente uma tradição bem estabelecida. "Um antropólogo desembarca na Amazônia para estudar os mitos de um povo indígena e a misteriosa história do 'apanhador de pássaros'. Aos poucos, o pesquisador vai se aproximando da descoberta — mas ela pode ter consequências desastrosas." A editora localiza a obra de Cesarino como "um misto de Nove noites, de Bernardo Carvalho, e Coração das trevas, de Joseph Conrad".

domingo, 25 de setembro de 2016

Juvenatrix 180

Está disponível mais uma edição do fanzine eletrônico de horror e ficção científica Juvenatrix, editado por Renato Rosatti.
Este número tem 16 páginas e é uma edição especial, com quatro contos e ilustrações do artista português Emanuel R. Marques, que também assina a imagem da capa. Complementam a edição um longo artigo sobre o filme O jovem Frankenstein (Young Frankenstein, 1974) e divulgação de fanzines, livros, filmes e bandas independentes de rock extremo.
Para obter uma cópia, basta solicitar pelo email renatorosatti@yahoo.com.br.

Todo Lovecraft

Até às 23h59 do dia 20 de outubro 2016, quem é fã da melhor literatura de horror pode garantir aqui um exemplar da mega coletânea H. P. Lovecraft: Contos Reunidos do Mestre do Horror Cósmico, projeto de financiamento coletivo que pretende reunir, num só volume, toda a ficção curta do cavalheiro de Providence.
Serão 640 páginas em que se apresentam 61 histórias divididas em quatro tomos: "Ciclo de Cthulhu", "Ciclo dos sonhos", "Miscelânea" e "Juvenília", cada uma delas contextualizada por uma apresentação escrita por Bruno Gambarotto. Conterá ainda um apêndice com ensaios de especialistas na obra do mestre Marcello Simão Branco, Nathalia Sorgon Scotuzzi, Silvio Alexandre, Edgar Indalecio Smaniotto e Guilherme da Silva Braga. A tradução dos contos ficou a cargo de Francisco Innocêncio, e a organização geral do volume é de Bruno Costa, com supervisão de S.T. Joshi.
Há diversos modos de colaborar, cada um deles prevê recompensas bem interessantes.

Carqueija reeditando muito

O escritor carioca Miguel Carqueija, um dos mais produtivos autores do fandom brasileiro de ficção fantástica, segue firme em seu projeto de manter a disponibilidade de seus trabalhos na internet. Desta vez, o autor anuncia a republicação de dois títulos.
Horizonte sombrio é um romance de ficção científica, anteriormente publicado pela Agbook, que agora está disponível para download gratuito em forma de arquivo de texto.
Diz o texto de apresentação: "Numa Terra alternativa, no Rio de janeiro de 1930 e às vésperas da revolução de Getúlio Vargas, três amigos se reúnem em torno de uma invenção perturbadora e revolucionária, capaz de entrar em contato com o longínquo passado. Um quarto amigo, o inventor e físico brasileiro Padre Roberto Landell de Moura (nosso Nikola Tesla), acompanha de longe o experimento, pressentindo que o mesmo pode mexer com algo muito perigoso do passado distante." O texto vem com prefaciado de Ronald Rahal.
A face oculta da galáxia, romance de fc que já teve várias edições, ganha suma segunda republicação em 2016, agora pela plataforma de auto-edição Perse, que oferece o texto em papel (pago) e virtual (gratuito). "Num distante futuro, a Cosmopol está às voltas com um problema muito difícil: um misterioso objeto cósmico, do qual pode depender a estabilidade do universo, foi roubado de uma nebulosa e levado para um distante planeta chamado Sombrio. A ex-mercenária Vésper é chamada de volta à ativa para tentar recuperar o objeto. Atormentada por problemas de consciência, Joana Pimentel, a Vésper, está prestes a vivenciar uma extraordinária experiência que mudará sua vida para sempre." O prefácio é assinado por Jorge Luiz Calife, e posfácio de Maria Santino da Silva.

QI 140

Está circulando o número 140 do fanzine Quadrinhos Independentes-QI, editado por Edgard Guimarães, dedicado ao estudo dos quadrinhos, destacando a produção independente e os fanzines brasileiros.
A edição tem 36 páginas e traz mais depoimento de José Ruy, desta vez sobre o periódico português Cavaleiro Andante, uma homenagem ao mestre Rodolfo Zalla, falecido em 19 de junho deste ano, artigo do editor sobre o personagem Raio Negro, e as colunas "Mistérios do colecionismo", sobre revista anunciadas mas nunca publicadas, e "Mantendo contato", com um ensaio sobre o personagem O Morto do Pântano, criado em 1967 por Eugênio Colonnese. Quadrinhos de Eduardo Marcondes Guimarães, Luiz Cláudio Lope Faria, Chagas Lima e do próprio editor completam a edição, juntamente com as seções fixas "Fórum" (em 12 páginas!) e "Edições independentes", com os lançamentos de fanzines do bimestre.
A capa tem uma ilustração do editor, com cores aplicadas à mão.
Junto ao QI, os assinantes receberam Artigos sobre Histórias em Quadrinhos 2: As histórias em quadrinhos de terror, fascículo de 12 páginas de autoria de Carlos Gonçalves, com um panorama das revistas de horror publicadas no Brasil na visão de um leitor português.
O QI é distribuído exclusivamente por assinaturas, mas sua versão digital pode ser encontrada no saite da editora Marca de Fantasia. Mais informações com o editor pelo email edgard@ita.br.

Marte sempre ataca

Em 2016 comemoram-se os 150 anos do nascimento do escritr britânico Herbert George Wells (1866-1946), mais conhecido com H. G. Wells, considerado o pai de ficção científica, autor de grandes clássicos do gênero, como A máquina do tempo (1895), O homem invisível (1897) e A ilha do Dr. Moreau (1896), entre muitos outros. Mas seu romance mais importante é, sem dúvida, A guerra dos mundos (The war of the worlds, 1898), que recebeu recentemente das editoras Companhia das Letras/Objetiva em seu selo Suma das Letras, uma edição comemorativa extremamente bem cuidada, com tradução de Thelma Médici Nóbrega.
O luxuoso tratamento gráfico e editorial, a começar da capa dura com laminação fosca, relevo seco e papel pólen nas 312 páginas do miolo, revela sua natureza realmente especial no conteúdo, que traz um prefácio assinado por Braulio Tavares (parte dele pode ser lido no Blog da Cia das Letras), com um levantamento histórico e bibliográfico do autor, repleto de informações pitorescas, bem como a longa e igualmente instigante introdução de autoria do também britânico Brain Aldiss, outra sumidade do gênero. Mas não fica nisso. O grande diferencial da edição são os cerca de 30 desenhos de Henrique Alvim Corrêa, artista brasileiro que produziu estas artes para a primeira edição belga do romance, publicada em 1906. A edição brasileira não mantém a mesma qualidade na definição das imagens originais (que podem ser apreciadas em diversos saites na internet, basta pesquisar) mas, mesmo assim, é um privilégio poder apreciá-las na forma similar a que foram apresentadas originalmente aos leitores.
A história é bastante conhecida. Depois de esgotarem os recursos naturais de seu planeta natal, a civilização marciana empreende uma migração em massa para a Terra, com objetivo de aqui se estabelecer. Dotada de grande avanço científico e tecnológico, os invasores facilmente dominam o planeta e iniciam a transformação do ambiente para seus próprios padrões, eliminando o incômodo humano no processo. A narrativa parte do ponto de vista de um cidadão comum, morador de Winchester, na Inglaterra, que, no ano de 1894, ao lado de outros moradores locais, testemunha a aterrissagem de uma das primeiras espaçonaves marcianas, a partir de onde todo o horror começa.
Não se trata de uma história convencional dentro do subgênero das invasões que ela mesma inaugurou. É uma narrativa de horror, repleta de descrições vívidas e muita desesperança. Wells não estava ali propondo apenas uma obra de ficção para entreter adolescentes. Na época em que escreveu, esse objetivo não existia no gênero*. Tinha sim um alvo maduro e evidente, que era a política colonialista que o império britânico imprimia ao mundo de seu tempo, algo similar ao que fazem hoje os impérios neocoloniais, impondo sua presença em territórios estrangeiros à força de seu poder bélico superior. Do mesmo modo que as populações invadidas de hoje reagem com ações que o ocidente convencionou chamar de "terrorismo", em A guerra dos mundos a humanidade tenta, com seus parcos e insignificantes recursos, resistir à presença alienígena, sem qualquer efeito. A invasão é completa e irresistível, e a humanidade parece viver seus últimos dias. O que vai decretar o desfecho da história é inesperado, algo sob o qual nem homens nem marcianos detêm qualquer controle. Mais uma vez, Wells estava coberto de razão.
A edição ainda traz, em suas páginas finais, uma entrevista com o autor e o cineasta Orson Welles – cuja adaptação da obra para o rádio 1938 causou pânico nos EUA. Welles certamente ajudou a construir a fama que A guerra dos mundos tem hoje, que depois recebeu adaptações para diversas mídias, e pelos menos duas grandes produções cinematográficas em Hollywood, uma de 1953 e outra de 2005, cada qual com uma leitura própria da obra vista a partir do território americano. Na verdade, A guerra dos mundos já assume o formato de um universo compartilhado, pois há dezenas de obras que dão versões em cores locais à invasão marciana de Wells, com fatos ocorridos em paralelo ou na seuência, como na ótima noveleta "A vitória dos minúsculos", em que o escritor brasileiro Roberto de Sousa Causo narra, em estilo machadiano, a chegada dos marcianos ao Rio de Janeiro, e na novela "Não estamos divertidos", na qual o escritor português João Manuel Barreiros conta uma missão de contra-ataque da Terra a colônia marciana na Lua, que sobreviveu ao holocausto.
Ou seja, ainda que seja um clássico obrigatório, nunca foi tão oportuno adquirir, ler e reler esta que é, sem dúvida, o que se pode chamar de uma edição definitiva para A guerra dos mundos.

* O conceito de literatura segmentada só viria a ser instalado na fc no período da normatização editorial das literaturas de gênero, promovida pelo editores pulp, nos anos 1930/1940, nos EUA, com objetivos unicamente comerciais.

sábado, 17 de setembro de 2016

Lalo e Vésper

O escritor sãobernardense Hugo Vera, conhecido por organizar a série de antologias Space opera para a editora Draco, está envolvido com um novo e ousado projeto: uma série de aventuras de ficção científica em desenho animado, inspirada nos seus personagens Lalo e Vésper: Patrulheiros galácticos. Diz o autor: "É um trabalho autoral, que será disponibilizado gratuitamente no Youtube/Facebook/site oficial. É todo desenhado e animado por mim mas, para a sua conclusão, vou precisar do apoio dos amigos. Conheça o meu projeto, e se puder, colabore! Qualquer contribuição é bem-vinda."
Um trailler pode ser visto aqui. No mesmo link podem ser conhecidas as várias formas de apoiar o projeto, bem como os brindes e retribuições que promete aos apoiadores. Confira!

Todas as Starlogs

Nos anos 1980, a grande fonte de informação dos fãs de ficção fantástica, especialmente sobre cinema e tv, era a revista americana Starlog que, mensalmente, trazia notícias e curiosidades sobre a produção de fc&f nos EUA, inclusive com artigos dedicados a literatura e outras mídias, embora o seu carro chefe sempre tenha sido a produção audiovisual. Era uma publicação valorizada, difícil de obter, especialmente por conta de seu alto custo. Chegou a ter uma versão brasileira nos anos 1990 que, assim como outras publicações do segmento, não vingou frente à concorrência da internet.
Mas agora, as facilidades da internet tornam a Starlog uma publicação ao alcance de todos: todas as edições estão disponíveis gratuitamente para leitura online aqui.
Recomendo especialmente a edição comemorativa número 100, que trouxe uma valiosa lista de personalidades da fc&f mundial que ainda pode servir de referência aos estudiosos do gênero.

Juvenatrix 179

Está disponível mais uma edição do fanzine eletrônico de horror e ficção científica Juvenatrix, editado por Renato Rosatti.
Este número 179 tem 20 páginas e traz contos de Caio Alexandre Bezarias, Zé Wellington e Julio Alexandre Camargo, resenhas dos livros A volta ao mundo em 80 dias, de Julio Verne (2007, editora FTD), e Cemitério perdido dos filmes B: Exploitation (2013), organizado por César Almeida para a editora Estronho; resenhas aos filmes O lago dos tubarões (2015), A maldição de Ghor (1977), O perigo vem do lago ( 2013), Terror tropical (2012) e Tubarões de gelo (2016), além de divulgação de fanzines, livros, filmes e bandas independentes de rock extremo. A capa traz uma ilustração de Angelo Junior.
Para obter uma cópia, basta solicitar pelo email renatorosatti@yahoo.com.br.

Trasgo 11

Está disponível o número 11 da revista eletrônica de ficção fantástica Trasgo, editada por Rodrigo van Kampen, totalmente dedicada à produção nacional.
A edição tem 158 páginas e traz textos de ficção científica, fantasia e terror escritos por Enéias Tavares, Fabio Fernandes, Karen Lavares, Marcos Voador, Priscilla Matsumoto e Wilson Faws, todos também entrevistados na edição, assim como os artistas plásticos Karl Felipe e Cecília Reis, que ilustram a edição. Também podem ser degustados trechos dos romances O mundo de Quatuorian, de Cristina Pezel e O olho de Agarta, de Antonio Luiz M. C. Costa.
Trasgo pode ser lida e baixada gratuitamente aqui, nos formatos epub, mobi e pdf. Edições anteriores também estão disponiveis. A revista aceita submissões e os trabalhos publicados são remunerados.

Conexão Literatura 14 e 15

No período em que este blogue esteve inativo - inatividade esta ocasionada por problemas de saúde deste que lhes escreve - as publicações do fandom não deixaram de seguir seus próprios caminhos. Infelizmente, não pude divulgá-las quando de seus lançamentos, como de costume, então vou tentar tirar o atraso de algumas delas, para que o leitor não fique sem o acesso.
A revista eletrônica Conexão Literatura, editada por Ademir Pascale pela Fábrica de Ebooks, lançou duas edições nas últimas semanas.
O número 14, publicado em agosto último, tem 53 páginas e destaca em entrevista o trabalho de Viviane Lordello a frente do portal Skoob, rede social voltada especificamente para a divulgação de livros e autores. Também são entrevistados Alex Camargo, J. Edir Bragança, Fernanda Vinci Kondo, Nika Lup, Rodolpho Araujo, Thati Machado, Neyd Montingelli e Karin Poetisa, e ainda publica contos de Ricardo de Lohem, Míriam Santiago, Dione Souto Rosa e Misa Ferreira, e artigos de Amanda Leonardi e do próprio editor.
A edição 15 saiu em setembro, com 48 páginas, e destaca em entrevista a publisher da A.R. Editora, Angela Ramalho. Glauco Callia, Aline Basztabin, Thays Martins de Paiva e Daniela Garcia Mesquita também são entrevistados na edição, que traz contos de Ricardo de Lohem, Míriam Santiago e José Gaspar, crônica de Misa Ferreira e artigos de Amanda Leonardi e do editor.
A revista é gratuita e pode ser baixada aqui. Edições anteriores também estão disponíveis.