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segunda-feira, 9 de julho de 2012

Guerra dos tronos em quadrinhos

Depois de arrebentar em forma de séries de livros e TV, A guerra dos tronos, fantasia épica de George R. R. Martin, chega também aos quadrinhos adaptada pelo romancista Daniel Abraham e o ilustrador Tommy Patterson. 
A série gráfica, originalmente publicada pela Dynamite Entertainment, foi apresentada em revistas periódicas, mas chega ao Brasil na forma de um álbum com 240 páginas, reunindo as seis primeiras edições. 
Considerada uma saga adulta de alta fantasia, A guerra dos tronos conta o drama de Westeros, um mundo no qual a sobrevivência depende da capacidade de se resistir a um secular e rigoroso inverno que se aproxima. Mas não há como salvar a todos. Então, os reinos de Westeros estão em guerra pelo controle dos limitados recursos necessários para garantir a vida durante essa mini-era glacial.
O volume conta com prefácio do próprio George Martin e um making off com rascunhos, esboços e estudos dos personagens.
Independente de ser um produto claramente dirigido aos fãs, vale a pena dar uma olhada no material, pois o álbum é uma publicação da editora LeYa através do selo Barba Negra, que tem editado alguns dos melhores trabalhos em quadrinhos disponíveis no mercado, tais como O gosto do cloro, de Bastien Vivès, Lucille, de Ludovic Debeurme, Koko be good, de Jen Wang, O pequeno pirata, de David B, e O Paraíso de Zahra, de Amir e Kalil. Está muito bem acompanhado, portanto.

domingo, 8 de julho de 2012

O gosto do cloro

Depois de uma prolongada fase de experimentalismos formais e narrativos, as histórias em quadrinhos demonstram ter chegado à maturidade com o lançamento de O gosto do cloro (Le goût du chlore), uma crônica em quadrinhos do francês Bastien Vivès, originalmente publicado em 2008, quando o autor tinha apenas 22 anos. É o primeiro trabalho de Vivès publicado no Brasil, através do selo Barba Negra da Editora LeYa, numa edição de alto luxo com 144 páginas belamente coloridas.
Conta a história de um jovem que é intimado por seu terapeuta a praticar natação para ajudar no tratamento de uma escoliose severa. Relutante, ele vai a uma piscina pública e passa a conviver ali num micro universo social, uma comunidade de anônimos colocados juntos por apenas alguns minutos por semana. E são todos realmente anônimos, uma vez que o leitor sequer fica sabendo os nomes dos personagens principais.
O jovem chega à piscina um tanto inseguro, pois o que ele conhece da natação é suficiente apenas para não morrer afogado. Só sabe boiar e nadar de costas, e muito mal. Mesmo assim, fica elaborando competições imaginárias com os demais freqüentadores, entre os quais está uma garota bonita, que nada muito bem, mas sua timidez galopante impede que se aproxime dela.
Até o dia em que um amigo o acompanha à piscina, um jovem em tudo diferente dele. Animado e extrovertido, logo está de conversa com a garota que ele observava a distância, e essa é a deixa para que, enfim, ele lhe dirija a primeira palavra, um prosaico "oi" na hora de ir embora. Na semana seguinte, a moça toma a iniciativa de falar com ele e começa então uma espécie de amizade de bolso, restrita aquele universo molhado. Todas as semanas, os jovens encontram-se na piscina e a experiente nadadora passa a instruir o rapaz nos fundamentos da arte. Durante um desses treinamentos, ele sugere atravessar a piscina de ponta a ponta, totalmente submerso, e passa então a treinar natação em apnéia. Num desses momentos, a garota fala-lhe alguma coisa sob a água, através de mímica labial, que ele não chega a compreender, muito menos nós, visto que os movimentos são em francês. Isso, somado a um desfecho ambíguo, ao mesmo tempo trágico e anticlimático, conduz o leitor a participar da história decidindo pelo destino das personagens.
O gosto do cloro foi o terceiro trabalho publicado de Vivès e tornou-se sua obra prima ao receber o Prêmio Revelação do Festival de Angoulême, em 2009. O que destaca o trabalho entre o que geralmente se vê nos quadrinhos modernos é a delicadeza narrativa, tanto no roteiro quanto nos desenhos, numa estética minimalista e econômica. O ambiente da piscina, não muito rico em detalhes, transforma-se num universo de tons e texturas, onde a expressão física predomina. Reconhecemos os personagens mais por sua movimentação corporal do que por qualquer outro detalhe. A superfície água, quase sem movimento, marca a fronteira entre dois mundos distintos, cada um com seu próprio tempo e história, e o texto mínimo, sem grandes tensões, favorece um ritmo ágil e agradável na leitura. O efeito sequencial ganha relevância, com angulações e enquadramentos belos e cinematográficos.
Hoje com 28 anos de idade, Vivès continua produtivo, publicando de dois a três títulos por ano. Só em 2012 já lançou em seu país os álbuns Le Jeu Vidéo e La Famille. Aqui está um autor que deve ser observado de perto.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Resenha: O paraíso de Zahra

Publicado em 2011 pela Editora Leya em seu selo de quadrinhos Barba Negra, O paraíso de Zahra, de Amir e Khalil, é um drama político que se insere no mesmo segmento de algumas obras primas da arte sequencial, como Persépolis de Marjane Satrapi, Maus, de Art Spiegelman, Palestina, de Joe Sacco, e Gen: Pés Descalços, de Keiji Nakazawa.
Trata-se de uma história de ficção, mas que se insere num fato verídico, angustiante e assustador, muito familiar aos brasileiros: as manifestações populares que ocorreram em Teerã logo após as suspeitas eleições que elegeram Mahmoud Ahmadinejad presidente do Irã. Fortemente reprimidas pela polícia política iraniana, muitos jovens iranianos foram presos, torturados e mortos nos porões do regime teocrático dos aiatolás.
Há quem goste de usar a situação como argumento anti-religioso, mas o fato é que tudo o que aconteceu e ainda acontece no Irã nada mais é que a nossa muito conhecida ganância humana. É apenas uma questão de poder e dinheiro, como se pode ver no angustiante relado sobre Zahra Alavi, que busca por seu jovem filho Mehdi depois que ele desaparece durante a maior das manifestações acontecidas em Teerã, que reuniu mais de três milhões de pessoas. A história é contada por seu irmão Hassan que, através de um blogue, tenta denunciar ao mundo as arbitrariedades do regime de seu país. A propósito, O paraíso de Zahra foi primeiramente publicado na internet, traduzido para doze línguas e lido por milhões de pessoas no mundo inteiro.
Um trecho curioso é quando um mecânico elogia uma chave de fenda fabricada na Turquia, a que Hassan comenta: "O Irã não consegue nem fazer uma chave de fenda que preste, e o mundo tem medo do programa nuclear iraniano?"
Além do explosivo conteúdo político, O Paraíso de Zahra é uma maravilhosa peça de arte. As ilustrações de Khalil são elegantes e mostram em detalhes as ruas de Teerã e o modo de vida de seu povo.
O livro ainda traz apêndices valiosos, entre os quais um glossário de termos e nomes árabes, muito útil para entender os conceitos políticos, históricos e culturais citados na história, um posfácio sobre as origens da obra, um relato sobre as eleições presidenciais iranianas em 2009, artigos sobre a morte de Neda Agha Soltan – assassinada nas ruas de Teerã pela milícia Basij durante as manifestações de 2009 – e sobre a prisão de Kahrizak, e o "Omid", relação de treze páginas com nomes de milhares de vítimas do governo revolucionário iraniano.
Se metade do que diz O paraíso de Zahra for verdade, o presidente do Irã é um sociopata perigoso do mesmo nível de Pinochet. E eu não tenho dúvida que é verdade.
O paraíso de Zahra tem 272 páginas e é leitura obrigatória para quem quer saber sobre a questão sócio-política iraniana recente.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Últimas leituras de 2011

Entre os lançamentos do final de 2011, chegaram-me às mãos três títulos interessantes.
Fiz questão de ler primeiro a coletânea de tiras Rei Emir Saad: O monstro de Zazarov, novo álbum do cartunista carioca André Dahmer. Trata-se de uma série de humor negro, na qual o dito Emir Saad, rei do Ziniguistão, mantém seu poder através de violência, tortura e crimes políticos, às vezes fazendo o tipo de rei medieval, outras o de ditador sul-americano ou de algum estado da Europa Oriental. As tiras são interessantes e devem funcionar muito bem quando publicadas num jornal diário, mas a leitura s contínua é algo incômoda. Dahmer tem se especializado em fazer graça com temas espinhosos, como em sua série de tiras mais conhecida, "Malvados", sobre as maldades cotidianas, e "Apóstolos", com críticas ao Cristianismo. O álbum tem 96 páginas em cores e foi publicado pelo selo Barba Negra da Editora Leya.
Outro lançamento recente é Brasil 1500: Segredo de Estado, de Fábio Fonseca, Andrei Miralha e Otoniel Oliveira. Trata-se de uma aventura histórica, que acontece em Lisboa entre a volta de Vasco da Gama de sua viagem às Índias e a partida da frota de Pedro Álvares Cabral. Um jovem acaba envolvido nas tramas de um espião espanhol, cobiçoso de informações sobre as novas rotas descobertas pelos navegantes portugueses. A aventura tem ilustrações competentes e um estilo narrativo algo didático. O melhor de tudo é o desprezível espião espanhol Mendoza, que estabelece todos os conflitos da história. Como já disse, a história termina exatamente no momento em que a frota cabralina zarpa do Rio Tejo, com um gancho perfeito para uma sequência. O álbum tem 48 páginas em cores e é uma publicação da Devir Livraria.
Completei minhas leituras em 2011 com o surpreendente A Liga Extraordinária: Século 1969, de Alan Moore e Kevin O'Neil, também publicado pela Devir Livraria. Depois dos excelentes volumes iniciais (A Liga Extraordinária I e II) e de ter sido obrigada a saltar a publicação do excepcional Black Dossier por conta de problemas com direitos autorais da edição original, a editora brasileira havia apresentado em 2010 o fraquinho A Liga Extraordinária: Século 1910, que não satisfez os leitores das edições anteriores. A ausência da contextualização de Black Dossiê, que não é muito esclarecida nem mesmo no resumo que acompanha a edição, deixou a história solta e frouxa.
As muitas alterações dos personagens e a dificuldade do autor em continuar a usar referências contemporâneas – que devem ter sido justamente as causas dos problemas legais enfrentados em Black Dossier – também tiraram o brilho que caracterizava a trama. Restrito às referências de domínio público, Moore e O'Neil tiveram de frear seu ímpeto criativo, fixando a história em Wilhelmina Murray e Allan Quartermain às voltas com o supervilão místico Oliver Haddo. As novas aquisições da Liga, Thomas Carnacki, Arthur Raffles e o curioso Orlando, imortal que muda periodicamente de sexo, não chegaram a empolgar. Então, a expectativa por Século 1969 não era das melhores, principalmente porque o apelo steampunk das primeiras edições certamente não estaria presente. Contudo, os autores conseguiram destacar novos caminhos para sustentar a aventura iniciada na edição anterior. Agora, uma Liga Extraordinária diluída e ilegal chega ao tempo do amor livre, da pílula e das drogas numa Londres alternativa em constante orgia. Depois das duas guerras mundiais e dos anos de ditadura do Grande Irmão, quando a Liga foi desfeita e devidamente apagada da memória oficial, Murray, Quartermain e Orlando têm uma nova chance de acabar com as armações de Haddo. O clímax da narrativa acontecendo durante um show de rock no Hide Park, em ritmo de viagem lisérgica. Os textos de apoio acrescentaram mais detalhes ao período "em branco" da Liga, de forma que a trama voltou a ganhar foco. Impossível não fazer paralelo entre A Liga Extraordinária e outra obra importante de Alan Moore, Watchmen, que também conta uma história de intrigas numa realidade alternativa com um grupo de heróis atirados na ilegalidade. Mas isso só melhora a coisa toda.
Século 1969 ainda está distante da excitação dos primeiros volumes de A Liga Extraordinária, mas já recuperou um pouco do brilho dessa que é uma das sagas mais criativas da história dos quadrinhos.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Barba Negra e o novo quadrinho

A editora Barba Negra, que se tornou o selo de quadrinhos da Editora Leya, distribuiu recentemente às livrarias algumas das mais perturbadoras histórias de uma novíssima geração de autores internacionais que, cada vez mais, distanciam-se das aventuras de ação que sempre caracterizaram a arte, enveredando por dramas mais realistas e existenciais.
Koko Be Good é o trabalho de estreia da ilustradora americana Jen Wang, publicado originalmente em 2010, com uma personagem anteriormente vista na internet. Sucesso no seu país de origem, conta a história de um casal de jovens tentando organizar suas vidas em Los Angeles, entre encontros e desencontros, confusões e um pouquinho de romance. O desenho é bastante movimentado, com uma colorização diferenciada em tons neutros. Apresentado na forma de um livro, tem 304 páginas e custa R$29,90.
Lucille, do francês Ludovic Debeurme é uma grafic novel de 544 páginas que também conta a história de um casal de jovens adolescentes, estes de uma aldeia no litoral da França, que fogem juntos para uma aventura pela Europa, em busca de suas próprias identidades. A narrativa ágil e repleta de flashbacks é ilustrada com desenhos simples, lineares e sem requadros. Lançado originalmente em 2006, o trabalho foi vencedor dos prêmios René Goscinny e da La Nouvelle Republique, além de ter sido destaque no Festival de Angoulême. A edição brasileira custa R$54,90.
Mas ainda há algum espaço para a fantasia. Pequeno Pirata (Roi Rose), do francês David B., é baseado num conto de Pierre Mac Orlan e soa como uma mistura de O livro do cemitério e Piratas do Caribe. Com um belo trabalho de arte visual totalmente em cores, conta a história de um bebê que é adotado pelos fantasmas do amaldiçoado navio Holandês Voador. Originalmente publicado em 2009, foi indicado ao Eisner Awards 2011. O álbum tem 48 páginas e custa R$29,90.
Ótimas opções para presentear neste Natal.