terça-feira, 3 de abril de 2012

Resenha: O paraíso de Zahra

Publicado em 2011 pela Editora Leya em seu selo de quadrinhos Barba Negra, O paraíso de Zahra, de Amir e Khalil, é um drama político que se insere no mesmo segmento de algumas obras primas da arte sequencial, como Persépolis de Marjane Satrapi, Maus, de Art Spiegelman, Palestina, de Joe Sacco, e Gen: Pés Descalços, de Keiji Nakazawa.
Trata-se de uma história de ficção, mas que se insere num fato verídico, angustiante e assustador, muito familiar aos brasileiros: as manifestações populares que ocorreram em Teerã logo após as suspeitas eleições que elegeram Mahmoud Ahmadinejad presidente do Irã. Fortemente reprimidas pela polícia política iraniana, muitos jovens iranianos foram presos, torturados e mortos nos porões do regime teocrático dos aiatolás.
Há quem goste de usar a situação como argumento anti-religioso, mas o fato é que tudo o que aconteceu e ainda acontece no Irã nada mais é que a nossa muito conhecida ganância humana. É apenas uma questão de poder e dinheiro, como se pode ver no angustiante relado sobre Zahra Alavi, que busca por seu jovem filho Mehdi depois que ele desaparece durante a maior das manifestações acontecidas em Teerã, que reuniu mais de três milhões de pessoas. A história é contada por seu irmão Hassan que, através de um blogue, tenta denunciar ao mundo as arbitrariedades do regime de seu país. A propósito, O paraíso de Zahra foi primeiramente publicado na internet, traduzido para doze línguas e lido por milhões de pessoas no mundo inteiro.
Um trecho curioso é quando um mecânico elogia uma chave de fenda fabricada na Turquia, a que Hassan comenta: "O Irã não consegue nem fazer uma chave de fenda que preste, e o mundo tem medo do programa nuclear iraniano?"
Além do explosivo conteúdo político, O Paraíso de Zahra é uma maravilhosa peça de arte. As ilustrações de Khalil são elegantes e mostram em detalhes as ruas de Teerã e o modo de vida de seu povo.
O livro ainda traz apêndices valiosos, entre os quais um glossário de termos e nomes árabes, muito útil para entender os conceitos políticos, históricos e culturais citados na história, um posfácio sobre as origens da obra, um relato sobre as eleições presidenciais iranianas em 2009, artigos sobre a morte de Neda Agha Soltan – assassinada nas ruas de Teerã pela milícia Basij durante as manifestações de 2009 – e sobre a prisão de Kahrizak, e o "Omid", relação de treze páginas com nomes de milhares de vítimas do governo revolucionário iraniano.
Se metade do que diz O paraíso de Zahra for verdade, o presidente do Irã é um sociopata perigoso do mesmo nível de Pinochet. E eu não tenho dúvida que é verdade.
O paraíso de Zahra tem 272 páginas e é leitura obrigatória para quem quer saber sobre a questão sócio-política iraniana recente.

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