quarta-feira, 30 de abril de 2014

Tarzan renasce

Depois de décadas ausente das livrarias, o popular personagem criado por Edgar Rice Burrougs retorna ao mercado com uma caprichada edição da Zahar.
Tarzan, o filho das selvas, originalmente publicado em 1912, é primeiro romance de uma bem sucedida série que fez furor em várias mídias ao longo de todo o século 20. Recebeu da Zahar um tratamento de luxo, com 336 páginas, tradução de Thiago Lins e uma edição comentada e ilustrada com 40 desenhos do imortal Hal Foster, além de notas e cronologia da vida e obra de Burrougs.
A história conta como um menino nascido em plena selva sobrevive aos seus pais sendo criado por um bando de macacos muito espertos, e como, já na adolescência, é confrontado por natureza quando um grupo de exploradores aparece na região, entre eles a jovem e bela Jane, que desperta sensações incomuns no selvagem. Resgatado mais tarde por outro explorador, Tarzan aprenderá a falar as línguas humanas e descobrirá que além de ser homem, é herdeiro de uma grande fortuna, que ele irá reclamar. A história é muito conhecida e já teve dezenas de adaptações tanto para o cinema como para a tv e os quadrinhos.
A edição da Zahar é bastante incomum no atual momento editorial brasileiro, já que o texto ainda não está em domínio público (isso só acontecerá em 2020, quando completar 70 anos da morte do autor), o que talvez indique não ser este o prenúncio da republicação de toda a coleção, o que é uma pena. Afinal, aprendi a gostar de ficção fantástica com os livros de Tarzan e nunca consegui ler todos eles – a coleção completa tem 24 volumes e não foi totalmente publicada no País. Muitos deles só conheço por sua adaptação para os quadrinhos, que são fabulosas, mas não chegam a ombrear o impacto do texto original.

Fantasma vai à guerra

Um ano depois, chega às bancas o volume 2 da coleção Fantasma, da editora Pixel/Ediouro.
Finalmente temos uma história diferente, que não replica mais uma vez a clássica "Os piratas do céu", que é boa, mas já teve republicações que bastem no passado recente.
Esta segunda edição apresenta a aventura completa "Fantasma vai à guerra", originalmente publicada em 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, que mostra como o herói dos quadrinhos enfrenta a invasão de Bengala pelas forças japonesas.
O álbum tem 132 páginas em cores, com roteiro de Lee Falk e desenhos de Ray Moore e Wilson McCoy. Sei que alguns leitores do personagem não curtem o traço minimalista de McCoy, mas eu sou um de seus fãs e fiquei muito empolgado ao reencontrá-lo nas bancas. Pena que o colorido adotado pela editora tire boa parte de seu charme. Mesmo assim, é uma edição muito recomendável.

Horror e fc alto astral

Os simpáticos cenobitas, seres bizarros supradimensionais criados pelo escritor britânico Clive Barker para o clássico filme Hellraiser: Renascido do inferno e suas sequências, são por certo uma das melhores ideias que o gênero do horror já apresentou aos fãs. No final dos anos 1980, os personagens conheceram uma breve e memorável encarnação da franquia nos quadrinhos, publicada parcialmente no Brasil pela Editora Abril, além de algumas edições especiais que chegaram ao Brasil de modo algo heterodoxo, se é que vocês me entendem. Mas esses tempos tenebrosos são coisa do passado.
A editora Alto Astral, que tem uma boa presença no mercado de revistas de culinárias e saúde, escolheu justamente Hellraiser para reforçar seu catálogo de quadrinhos. Trata-se de Hellraiser: The dark watch, publicada nos EUA em 2012 pela Boom! Studios, com roteiros do próprio Clive Barker e Brandon Seifert, e desenhos de Tom Garcia.
A série é formada por álbuns de 112 páginas, cada um com quatro capítulos de uma história no mundo dos cenobitas, em que reencontramos o cubo Lamento, Pinhead e seus amiguinhos. A editora promete a segunda edição para junho; a terceira ainda está por ser publicada nos EUA.
Outro título de interesse da editora Alto Astral, desta vez para quem gosta de ficção científica, é a minissérie Robocop: Beta, inspirada no novo filme da franquia, dirigido por José Padilha. Trata-se de uma coleção de 4 edições independentes, de 24 páginas cada, também publicada nos EUA pela Boom! e com um preço bem camarada. Vale a pena conferir.

Senna: Vinte anos do mito da velocidade

O Brasil tem poucos heróis. Dentre eles, os do esporte são os mais lembrados, principalmente aqueles que deram aos brasileiros a alegria de se sentirem os melhores do mundo, como Garrincha, Pelé, Romário, Ronaldo, Guga, Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet, por exemplo. Mas o fato é que a maior parte deles não é unanimidade. Talvez a única exceção seja Ayrton Senna, três vezes campeão da maior categoria do automobilismo mundial, a Fórmula 1, que em vida foi um fenômeno midiático do porte de um membro da família real britânica. Senna foi elevado a categoria de mito no dia 1º de maio de 1994, quando toda a sua habilidade não foi suficiente para vencer a curva Tamburello, no GP de Ímola.
Senna tornou-se personagem de quadrinhos ainda em vida, quando foi lançada a revista infantil Senninha – coisa que Pelé também já teve –, mas faltava ao leitor brasileiro o acesso a um quadrinho mais sofisticado, que desse dignidade a carreira vitoriosa desses atletas maiúsculos. Não que isso já não tenha sido feito. Durante sua passagem pela escuderia McLaren/Honda, Senna tornou-se ídolo no Japão, e lá recebeu uma série de quadrinhos muito bem feita, que segue inédita no Brasil.
Coube a editora Autêntica, através do selo Nemo, dedicado à publicação de quadrinhos europeus, a tarefa de trazer ao país um emocionante e bem realizado álbum semi-documentário sobre a careira de Senna, que talvez seja o único herói unânime no País. Criação de uma inspirada equipe franco-belga formada pelo jornalista Lionel Froissart no roteiro, e os ilustradores Christian Papazoglakis e Robert Paquet (ambos do estúdio Graton, responsável pelas histórias de Michel Vaillant), Ayrton Senna: A trajetória de um mito homenageia os vinte anos do desaparecimento de Senna, com uma história que inicia com ele, ainda criança, disputando as primeiras corridas de kart, sua eterna busca pela perfeição e a gana por sempre vencer, passando pela estreia na F1, na pequena equipe Toleman, debaixo da chuva torrencial do histórico GP de Mônaco de 1984, quando disputou a chegada com ninguém menos que Alain Prost que seria, dali em diante, seu maior rival no esporte.
A hq segue contando outros fatos importantes, incluindo o seu tricampeonato mundial, sempre com desenhos de uma precisão histórica, sem perder a dinâmica vertiginosa das corridas de automóveis, que lembram os melhores exemplos do gênero nos quadrinhos. Uma amostra do excepcional trabalho pode ser apreciada aqui.
Ayrton Senna: A trajetória de um mito tem 48 páginas em cores e é publicado sob parceria com o Instituto Ayrton Senna.

Zumbis atacam no Rio e em Sampa

Com o interesse criado na mídia por histórias com os misteriosos mortos-vivos antropófagos, que gerou no País pelo menos uma antologia de contos de autores nacionais (Zumbis: Quem disse que eles estão mortos?, 2010, All Print), entre outros títulos literários, nossos calados amiguinhos protagonizam agora dois álbuns de quadrinhos produzidos com todo o capricho.
Imagine (zumbis) na Copa é uma novela gráfica de Felipe Castilho e Tainan Rocha, publicada pelo novíssimo selo GiBiz da editora Giz. O título, que faz uma brincadeira com um meme da internet, já entrega mais ou menos o que o leitor vai encontrar, o que, certamente, é uma coisa que a Fifa não autorizaria, ainda mais durante a partida final num Maracanã lotado. Se é possível imaginar algo pior que o maracanazo de 1950, deve ser isso.
Apesar do cenário, ambos os artistas são de São Paulo. Castillho é autor de dois livros recentes que trabalham com mitologia brasileira: Ouro, fogo & megabytes e Prata, terra & Lua cheia , ambos pela editora Gutenberg. Rocha, que publicou de forma independente a coletânea poética Máquina de sujar, tem neste álbum seu primeiro trabalho autoral como ilustrador.
Imagine (zumbis) na Copa tem 48 páginas e pode ser encontrado nas gibiterias.
São Paulo dos mortos é uma coletânea de 96 páginas com cinco histórias curtas, cada uma delas com um tema e um ilustrador diferente, embora sejam todas de autoria do experiente e premiado roteirista Daniel Esteves, criador da série Nanquim descartável.
As histórias mostram episódios mais ou menos independentes, em uma São Paulo tomada pela praga, tendo entre seus cenários o Metrô, a Cracolândia, o Itaquerão e o Palácio dos Bandeirantes. O trabalho de arte foi distribuído entre Al Stefano, Alex Rodrigues, Ibraim Roberson, Laudo Ferreira, Omar Viñole, Samuel Bono, Wagner de Souza, Wanderson de Souza e Jozz.
A edição é assinada com o selo Petisco do Estúdio HQ em Foco, e foi financiada pelos leitores através do saite Catarse.

Pequena coleção de grandes horrores

Há algumas semanas, divulguei o lançamento de Pequena coleção de grandes horrores, coletânea de minicontos de Luiz Bras, mas não pude dizer muito sobre o livro propriamente dito porque ainda não o conhecia. Mas esse detalhe foi devidamente corrigido pelo autor, que prontamente remeteu um exemplar, a quem agradeço a gentileza.
A edição reúne mais de seis dezenas de textos curtos que vão de poucas palavras a cinco páginas, e montam uma panorâmica do mosaico de referências do autor. A maior parte deles evoca imagens da cultura pop, especialmente do cinema, que é uma das artes que mais influencia a fc do autor. Basta ver alguns dos títulos: "O homem sem sombra", "Corra, Lalo, corra", "Fast forward", "Total recall", "Alien", "The walking dead", só para citar os mais óbvios. Outros, dialogam com alguns de seus textos mais conhecidos, podendo até ser o gérmen do qual brotaram: "Sozinho no deserto extremo", "Máquina Macunaíma" e "Distrito Federal", entre outros.
A seleção é apresentada nas orelhas pelo editor, Renato Rezende, que tece elogios à ficção da quimera Luiz Braz/Nelson de Oliveira, que classifica como "alguns dos melhores textos publicados no Brasil", com o que concordo plenamente.
O livro, que tem 144, foi contemplado com o financiamento do Programa Petro­bras Cultural 2012, e foi publicado pela Editora Circuito.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Simone Saueressig em dose dupla

Dona de uma índole ativa e irriquieta, a escritora gaúcha Simone Saueressig não se acomoda nunca, e dá continuidade a sua obra literária com dois títulos simultâneos, ambos lançados durante a III Odisseia de Literatura Fantástica, recentemente realizada em Porto Alegre.
O coração de jade é o terceiro volume da série de fantasia Os sóis da América, com a saga do jovem Pelume, nativo de uma ilha perdida no Círculo Polar Antártico, em peregrinação por uma América mítica em busca da história que fará o Sol se levantar sobre sua gente. A história segue agora pela América Central, com Pelume e seus amigos confrontando criaturas da mitologia asteca.
Ao contrário do que eu pensava, não é a última parte: o título do volume 4 será A pedra da história, em que os heróis irão avançar pelo norte do continente.
O livro tem 184 páginas e, como nas edições anteriores, tem ilustrações de Fabiana Girotto Boff. Mais informações no blogue da série, aqui.
O outro livro de Simone é Padrão 20: A ameaça do espaço-tempo, ficção científica juvenil editada pela Besouro Box, na qual a protagonista, Maria do Céu, durante férias em Genebra, se depara com situações insólitas dignas de um episódio de Além da imaginação. Os títulos dos dezessete capítulos que compõem o romance são uma atração a parte, pois muitos deles fazem referência a outros textos do gênero, nacionais e estrangeiros. O livro pode ser encontrado em diversas livrarias.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Megalon 43

Está disponível para download gratuito a versão virtual do fanzine de ficção científica e horror Megalon número 43, publicado originalmente em fevereiro de 1997.
Em 40 páginas, a publicação apresenta ficções de Jorge Luiz Calife, Fabio Fernandes, Miguel Carqueija e Oswaldo Beresford, uma despedida a Carl Seagan (falecido em dezembro do ano anterior), artigos de Elisabeth Miller, Cesar Silva e Gerson Lodi-Ribeiro, entrevista com o escritor Ivan Carlos Regina, além de notícias e divulgação das atividades do fandom brasileiro naquele período.
Salta aos olhos a seção "Publicações recebidas", divulgando uma grande quantidade de fanzines em publicação na época, que contrasta com o editorial que lamenta o desparecimento dos livros de fc das livrarias. Hoje vivemos o quadro oposto, com muita oferta livreira e praticamente nenhuma produção interna do fandom. Certamente há algo a se aprender com isso.
Também pode ser baixado gratuitamente um arquivo bônus, com documentos da época relativos à atividade dos fandons mexicano e português, incluindo a programação do primeiro Encontro de Ficção Científica e Fantástico em Cascais, acontecido em 1996.

Quadrinhos de fc&f com força total

Enquanto os quadrinhos brasileiros lutam para sobreviver as custas de financiamentos coletivos e verbas públicas, as bancas e gibiterias têm sido recheadas com lançamentos de diversos títulos de quadrinhos estrangeiros de todos os tipos, e parece haver um interesse especial dos editores pela ficção científica e fantasia. Além dos títulos em publicação já comentados aqui, como Juiz Dredd, X-O Manowar (que se desdobrou na revista Valliant), The walking dead e o mangá Ataque dos titãs, estão chegando vários novos títulos de interesse aos fãs do gênero.
Entre os mais esperados está o mangá Pretty guardian Sailor Moon, de Naoko Takeuchi, pela JBC, com a versão em quadrinhos de um dos maiores clássicos do anime que, curiosamente, continuava inédita no Brasil. Talvez tenha sido a proximidade do lançamento de um novo filme para o cinema que animou a publicação, embora isso seja um tanto incomum. Afinal, outros mangás importantes tiveram filmes recentes e seguem inéditos em português.
Saillor Moon fez grande sucesso no Japão e várias temporadas do anime foram exibidas no Brasil nos anos 1990. Conta a história de uma estudante secundária intelectualmente prejudicada, cujo grande coração é sua maior qualidade. Herdeira de uma tradição mística, a menina é auxiliada por um gato falante e um grupo de amigas na luta contra o mal milenar que destruiu o mítico Reino da Lua.
Também dos mangás vem Soel & Larg: As aventuras de Mokona Modoki, do estúdio Clamp, pela
editora New Pop. Clamp é um dos mas bem sucedidos estúdios de quadrinhos do Japão, responsável por sucessos como As guerreiras Mágicas de Rayearth e Sakura Card Captor, entre outros. Os dois curiosos bichinhos protagonistas da história são uma assinatura do estúdio, presentes em várias de suas produções, que aqui ganham uma aventura solo num álbum de 220 páginas em cores, que dialoga com as muitas histórias em que já participaram, algo que os fãs do Clamp certamente vão amar.

Da Europa vem Aâma: O cheiro da poeira quente, de Frederik Peeters, pela Nemo. Primeiro de uma série de álbuns três números já publicados, conta a história de um homem amnésico perdido num planeta alienígena que tem num diário e na companhia de um gorila robô, as pistas para desvendar seu passado misterioso.
Para fechar esta seleção, a editora HQM anunciou que também vai distribuir nas bancas o coletivo periódico Dark Horse apresenta, com uma seleção de personagens dessa editora americana que tem nos quadrinhos cult uma especialidade.
A edição de estreia traz histórias de Concreto e Xerxes, uma estrevista com Frank Miller e arte de muita gente boa, como se pode ver pelas chamadas da capa. A revista tem 84 páginas e já está disponível em algumas lojas especializadas – embora ainda não apareça no site oficial da HQM. Certamente ocupará o vácuo deixado pelo recente cancelamento da série Vertigo, da Panini, e deve disputar leitores com a já citada Juiz Dredd, também da HQM.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Fanzines da Fanzinada

Dia 12 de abril aconteceu mais uma edição da Fanzinada na Gibiteca Eugênio Colonnese, em São Bernardo do Campo, comemorando três anos de atividades em diversas cidades do país. Estive presente para, mais uma vez, cumprimentar os heróis que, mesmo nestes tempos virtuais, insistem em produzir publicações artesanais em papel.
O evento recebeu diversas atividades e workshops, e participei de um batepapo com Carlos Rogério Amorim e Thina Curtis - a produtora do evento - sobre fanzines analógicos e digitais. Foram distribuídos vários fanzines e também estavam disponíveis para venda as revistas Picles Só Mulherada - que contou com a presença de uma de suas autoras, a cartunista Anita Costa Prado - e Super Nova, com quadrinhos de Daniel Oliveira.
Coincidentemente, o evento aconteceu no mesmo dia e hora da finalização de uma oficina de fanzines que coordenei na Gibiteca ao longo dos meses de março e abril, e rendeu três fanzines que foram montados e distribuídos por seus autores durante a Fanzinada.
Legião de anjos, de Carlos Alberto Conceição dos Santos, conta uma história sem balões sobre a eterna luta entre o bem e o mal; Os defensores de Ryosan, de Felipe Rossignoli do Carmo, é inspirado nos mangás de luta; e Anna, a zumbi, de Isabela Antonelli da Silva, mostra que nem mesmo um morto-vivo está livre de ser assombrado. Os fanzines também estão disponíveis em versão digital online. Para ler, basta acionar os links nos nomes dos mesmos.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Agenda: Três anos de Fanzinada

No próximo sábado, dia 12 de abril, acontece mais uma edição do Fanzinada, encontro de editores e leitores de fanzines, organizado pela editora e agitadora cultural Thina Curtis. O evento, que comemora três anos de atividades e antecipa o Dia Internacional do Fanzine (29/04), contará com uma ampla programação que mistura de várias linguagens:
- Oficina de quadrinhos, com Projeto Chroma.
- Exposição "Terra de Breasal Mundo Fantástico no Século XII" do desenhista Gonçalez Leandro (Bauru);
- Exposição "Quem Disse Não Foi Clarice" (Instalações, Fotografia, Poesia);
- Exposição "Instalação e Apropriação de Objetos", de David Parise;
- Exposição de ilustrações de Cledson Bauhaus;
- Oficina de estêncil com Patricia Rizka
- Oficina de xilogravura, com o artista plástico Marcos Rodolfo Da Silva Gamba;
- Mostra de Arte Postal "Coletivo 308";
- Lançamento da Exposição "Poemas Ilustrados" de Thina Curtis e Fabi Menassi (Poesias em Quadrinhos);
- Central Zine (fanzinoteca itinerante), de Carlos Rogério Amorim;
- Lançamento da revista Só Mulherada;
- Bate-papo com Anita Costa Prado e demais autoras da revista Só Mulherada;
- Bate papo “Os fanzines analógicos e digitais”, com Cesar Silva, Thina Curtis e Carlos Rogério Amorim;
- Exibição de documentários relacionados com fanzines;
- Lançamentos e distribuição de fanzines.
A Fanzinada acontece das 11 às 17 horas na Gibiteca Municipal Eugênio Colonnese (dentro da Cidade da Criança), Rua Tasman, 301, São Bernardo do Campo/SP. A entrada é franca.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Fanzine SBC Geek de abril

Está disponível aqui, para leitura e download gratuitos, a nova edição do Fanzine SBC Geek, detalhando as atrações do encontro do próximo sábado, dia 5 de abril. Uma programação eclética e divertida que inclui exibições de animes e produções da Disney, jogos eletrônicos, rpg, uma exposição interativa dedicada aos quadrinhos Disney e um batepapo com o professor Roberto Elísio dos Santos, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, sobre os 80 anos do pato mais ranzinza e amado do mundo.
Pegue, leia e compareça!

Somnium 108

Com uma nova apresentação gráfica, está disponível para download gratuito o número 108 do fanzine de ficção científica Somnium, editado por Ricardo Guilherme dos Santos para o Clube dos Leitores de Ficção Científica.
Em 52 páginas, a edição apresenta contos de Gerson Lodi-Ribeiro, Miguel Carqueija, Georgette Silen e Clinton Davisson, uma entrevista com escritor André Vianco, artigos de Roberto de Sousa Causo e João Vagos, e resenhas de livros de Clifford Simak (1904-1988) e Philip High (1914-2006). A capa traz uma ilustração de Marcelo Bighetti, cujo processo de criação é apresentado num detalhado making off.
O arquivo, disponível nos formatos pdf, epub e mobi, pode ser baixado aqui.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Resenha: Tabuleiro dos deuses, de Richelle Mead

O mercado internacional de literatura fantástica é uma bem-vinda novidade no Brasil. Como colônia cultural, o País sempre recebeu os produtos dessa indústria de forma irregular, em descompasso com os mercados estrangeiros melhor estabelecidos. Os romances chegavam por aqui com décadas de atraso, se chegavam, de forma que não se notavam suas peculiaridades sazonais de modo tão evidente quanto hoje.
Diferente da tradição local, em que o sucesso editorial depende apenas do carisma da pessoa do autor, a indústria editorial internacional pulsa ao ritmo dos bestsellers.
Quando o grande sucesso mundial era uma história de fantasia infantil (a série Harry Potter), surgiram dezenas de versões genéricas de maior ou menor qualidade. Nenhuma delas ombreou esse campeão de vendas, mas faturaram bem ou, pelo menos, o suficiente para justificar os investimentos das editoras. Em seguida, testemunhamos, já em primeira mão, o fenômeno da chiclit vampírica (a saga Crepúsculo), que detonou uma nova onda de lançamentos similares que, depois de algum tempo, acabou derivando para a chiclit erótica, afastando-se do mercado de fc&f.
O que se percebe é que existe uma corrida constante em busca do novo fenômeno comercial das livrarias. Atualmente, experimentamos o frenesi editorial pela ficção dita distópica, colocada em foco a partir do sucesso da série Jogos vorazes.
Cabe aqui um parêntesis. Apesar do sucesso de Jogos vorazes, o termo "ficção científica", gênero ao qual o romance inegavelmente pertence, foi desprezado em favor de "ficção distópica", que tem textura de novidade, "só que não", como dizem os jovens. Desde as suas origens, a ficção científica é movida pela tensão entre os polos utopia-distopia; este é o motor do gênero. Praticamente toda a produção do gênero pode ser dividida entre esses dois polos, com um avassalador predomínio da distopia, é claro, que é muito mais dramática e divertida. Dessa forma, que me perdoem os fãs, não vou evitar aqui o termo ficção científica, porque isso não faz nenhum sentido. Queiram ou não, ficção distópica nada mais é que um modo esnobe de dizer ficção científica. Fecha parêntesis.
Aos poucos, surgem no Brasil mais e mais títulos explorando a ficção científica, que andava em crise desde os anos 1980. Em 2012, a fc mostrou sinais de recuperação e voltou a crescer em 2013, assumindo a segunda posição na tríade 'fantasia-fc-horror'. Dentre os muitos romances surgidos no nicho, destaco Tabuleiro dos deuses, lançamento da Editora Companhia das Letras através do selo Paralela, primeiro volume da série A era de X, de autoria da norte-americana Richelle Mead, bastante conhecida entre os fãs de horror pela extensiva e bem sucedida série Academia dos vampiros. Temos aqui um bom exemplo de uma seguidora que superou a referência original.
A história de Tabuleiro dos deuses gira em torno da investigação de uma série de assassinatos de características ritualistas que assolam a República da América do Norte Unida (RANU), estado fechado e supertecnológico, ilha de progresso e conforto em meio ao caos econômico e climático que se abateu sobre o mundo. O governo da RANU praticamente aboliu a criminalidade a partir do controle genético e da implementação de um estado policial extremamente controlador. Contudo, ao perceber-se incapaz de identificar os criminosos, o governo decide convocar um de seus cidadão mais inteligentes, Justin March, que há quatro anos fora expulso do país por motivos misteriosos. Desde então, Justin reside no Panamá, lugar decadente e violento como é, enfim, qualquer lugar fora da RANU.
Para repatriá-lo, é convocada a pretoriana Mae Koskinen, supersoldado federal que, equipada com o mais avançado conjunto de recursos biotecnológicos de combate, é praticamente uma arma viva, característica que faz os pretorianos temidos por todos os cidadãos do mundo. Apesar dos implantes e do rigoroso treinamento, Mae está psicologicamente abalada pela morte de seu antigo amante, o que a torna especialmente vulnerável aos encantos de Justin, um canalha viciado em entorpecentes lícitos e ilícitos, com o histórico de manipular as pessoas para obter o que deseja.
Contudo, o que ninguém sabe é que Justin não é apenas inteligente, observador e desprezível. Ele está em contato direto com entidades sobrenaturais, os Corvos, seres incorpóreos que com ele dialogam mentalmente todo o tempo. E que a relação entre Justin e Mae vai muito além do amor – que logo vira ódio – e do sexo. Mae é uma espécie de gatilho que pode desencadear os eventos que permitirão que antigas divindades retomem o senhorio do planeta. Isso seria apenas uma singela história de fadas se a RANU não tivesse uma rigorosa política de repressão religiosa, que não permite que qualquer filosofia gnóstica prospere, controle este que cabia justamente a Justin executar.
Aos poucos, a autora vai revelando as peças que permitem ao leitor ter uma percepção maior desse mundo do futuro, assolado pela desigualdade social e pela carência de recursos, do misterioso histórico de Justin e da importância de Mae dentro desse intrincado plano cósmico.
Como se percebe por este rápido esboço, Tabuleiro dos deuses é muito mais sofisticado que Jogos vorazes, com um conjunto de personagens extremamente bem construídos, ambíguos e imprevisíveis, um ambiente mais rico e plausível, além de uma especulação procedente que une o impacto das tecnologias frente a uma discussão teológica relevante, a partir de um interessante blend de fantasia, cyberpunk e pós-humanismo, repercutindo a ficção científica pós-moderna tão pouco publicada por aqui, com generosas doses de sensualidade sem descambar para o apelativo.
Tabuleiro dos deuses é um livro que agrada ao leitor exigente que busca uma fc emocionalmente invasiva, de traços arrojados e texto maduro, que não opta pelo óbvio e ou pelo convencional. Altamente recomendável.