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quarta-feira, 29 de março de 2023

Resenha do Almanaque: Trilhas do tempo, Jorge Luiz Calife

Trilhas do tempo, Jorge Luiz Calife. 176 páginas. Capa de Vagner Vargas. São Paulo: Devir Livraria, 2012. Coleção Pulsar. 

Jorge Luiz Calife é um patrimônio da ficção científica brasileira. O nome do autor já se tornou marca de qualidade e sua literatura está entre as mais republicadas do gênero. Foi um dos autores brasileiros mais editados na Devir, com uma linha quase que exclusiva para seus romances, entre os quais estão a Trilogia padrões de contato (2009), reunindo os romances Padrões de contato, Horizonte de eventos e Linha terminal, mais a “prequência” Angela entre dois mundos (2011) e, publicado no finalzinho de 2012, a coletânea Trilhas do tempo, a segunda do autor. A primeira foi As sereias do espaço, publicada em 2001 pela editora Record.
Trilhas do tempo reúne textos que Calife escreveu para diversas revistas ao longo dos anos 1990, principalmente as masculinas EleEla e Playboy, o que a princípio pressupõe um livro com forte pendão erótico. Contudo, também aparecem textos vistos nas revistas Isaac Asimov Magazine e SciFi News Contos, ambas especializada em fc, e até uma novela inédita exclusiva da edição.
Ao todo são sete ficções, mais um posfácio e um levantamento cronológico para a série Padrões de contato, também escritos por Calife. A seleta é apresentada por Clinton Davisson, autor do romance Hegemonia: O herdeiro de Basten, que confessa ser fã de Calife e o cobre de elogios, como não poderia deixar de ser. Embora não o sejam necessariamente, todos os textos parecem inseridos no universo de Padrões de contato, pois dele guardam as mesmas característica e textura geral.
Abre a coletânea o conto “O primeiro voo para as estrelas”, originalmente publicado na revista EleEla em 1987. Conta a história da primeira viagem a um planeta distante, realizado por uma grande tripulação a bordo uma espaçonave convencional. A viagem é feita em velocidades relativísticas e, quando finalmente chega ao seu destino, encontra o lugar habitado por homens que chegaram lá muito antes deles.
“Trajetória de fuga”, publicado nem 1984 na mesma revista, conta a história de uma jovem e promissora atriz de cinema que, por causa de um defeito numa espécie de simulador de realidade virtual, tem sua alma absorvida por uma espaçonave e, dessa forma, avança imortalizada rumo ao infinito.
“A sereia do espaço”, primeiro publicado em 1992 na extinta Isaac Asimov Magazine, conta a aventura de uma jovem astronauta que, em missão burocrática nas luas de Netuno, tem um inesperado contato imediato com uma entidade alienígena que a modifica definitivamente. Tornada em uma trans-humana imortal, ela volta à Terra para resgatar seu amante e levá-lo em sua companhia para viajar eternamente pelas estrelas.
A história se repete em “A espada de Herschel”, noveleta assumidamente inserida na série Padrões de contato, releitura para o clássico 2001: Uma odisseia no espaço, de Arthur C. Clarke. Conta a aventura de uma adolescente em missão às luas de Saturno a bordo de uma espaçonave movida por bombas atômicas. Chegando lá, a garota, e somente ela, entra em um portal que a leva para mil anos no futuro, de onde volta em seguida para alertar a humanidade contra uma grande catástrofe cósmica que se aproxima. A primeira publicação desta novela aconteceu em 2001 na também extinta SciFi News Contos.
O conto seguinte é “Viagem ao interior do Halley”, que a Playboy publicou em 1985, explorando o interesse pela passagem do famoso cometa. Este é único conto pessimista de toda a antologia e provavelmente de toda a carreira do autor. Conta o destino de uma malfadada missão de salvamento ao Halley, prestes a se fragmentar e desaparecer para sempre. Calife sugere que a tragédia não foi um acidente, mas uma manobra calculada pela inescrupulosa megacorporação Norland (o que mais se aproxima de um vilão na saga de Padrões de contato), tão somente para explorar os recursos minerais do Halley em seu próprio benefício.
“A estrela e o golfinho” é uma noveleta inédita, também inserida na cronologia de Padrões de contato. Enquanto Angela Duncan faz sucesso intergaláctico como cantora de um conjunto musical, a Terra está sendo visitada por uma entidade alienígena que parece manipular a radiação solar. Este texto contrasta asperamente com o anterior, porque Calife parece ter se arrependido ao vilanizar a Norland. Num diálogo final, uma executiva da empresa, que nesta história já não é mais uma simples iniciativa privada, mas o governo central da humanidade, faz um discurso positivista que não soa muito bem.
O último conto do livro é “A derradeira paixão”, uma história quase mística, se é que podemos usar esse termo para descrever um texto de Calife. Publicada em 1984 na EleEla, conta também sobre uma tragédia, esta fortuita, causada pela incapacidade humana de entender completamente o universo – um conceito também pouco comum na ficção do autor. A bordo de uma nave capturada por um buraco negro, um casal de jovens amantes tem sua última relação sexual estendida pela eternidade por conta do efeito relativístico.
Completa o volume o ensaio “Arthur C. Clarke, mulheres nuas e a ficção científica”, no qual Calife contextualiza os textos reunidos na coletânea.
Apesar das tentativas explícitas, os textos de Calife aqui reunidos não são mais eróticos que a ficção científica corrente que lemos em toda parte. As longas e detalhadas descrições das espaçonaves e suas tecnologias, bem como a beleza estonteante dos fenômenos cósmicos frente às recatadas cenas de sexo e nudez feminina, revelam onde está a verdadeira paixão destes textos.
Trilhas do tempo é um tributo de Calife à ciência redentora e à imortalidade que um dia, ele acredita, a tecnologia permitirá de uma forma ou de outra.

segunda-feira, 27 de março de 2023

Resenha do Almanaque: A sombra dos homens, Roberto de Sousa Causo

A saga de Tajarê, Livro 1: A sombra dos homens, Roberto de Sousa Causo. Introdução de Bráulio Tavares. 120 páginas. São Paulo: Devir, 2004.

Romance de aventura mitológica e especulativa de Roberto de Sousa Causo, escritor nascido em São Bernardo do Campo que desde muito jovem optou pelos temas fantásticos, principalmente a ficção científica. São seus livros a antologia A dança das sombras (Caminho Editorial, Lisboa, 1999), o romance Terra verde (editora Cone Sul, São Paulo, 2000) e o ensaio Ficção científica, fantasia e horror no Brasil: 1875-1950 (editora UFMG, Belo Horizonte, 2003).
A sombra dos homens reúne dois contos já vistos na revista Dragão Brasil (ed. Trama) mais uma noveleta inédita, resultando num dos poucos exemplos autênticos de fix-up na literatura fantástica brasileira, uma vez que não é comum no Brasil a publicação avulsa de contos em revistas (fix-up é um romance que resulta da compilação de contos originalmente independentes que, justapostos, formam uma trama única e coerente).
Tajarê, o protagonista da história, é um indígena sul americano que vive numa época pré-cabralina. Dotado de poderes espirituais e mágicos, Tajarê é usualmente convocado pelas forças da natureza para dar cabo de qualquer ameaça à integridade da mesma, as quais sempre atende embora não aprecie o uso da força que tem de lançar mão para cumprir a tarefa, principalmente quando por conta disso possam acontecer mortes. Portanto Tajarê é um herói infeliz na sua condição de protetor.
A história do primeiro conto, que dá nome ao livro, inicia-se quando Tajarê é convocado a defender sua terra de invasores perigosos vindos de outro continente. Ele é conduzido pelos seres mágicos até uma praia, onde vê desembarcar um grupo pequeno de guerreiros vikings. Eles protegem Sjala, sacerdotisa que pretende localizar e libertar o deus Loki que está aprisionado em algum lugar na Amazônia. Fazendo uso de seus atributos físicos surpreendentes, Tajarê derrota todos os guerreiros vikings e captura a sacerdotisa, pela qual se apaixona.
O segundo conto é o mais curto do livro. "A benção das águas" é a narrativa de um monólogo interior de Sjala. Algum tempo adiante e ainda cativa, ela vive com Tajarê em sua aldeia e dele espera um filho. Apesar de ser prisioneira e sentir um amor paradoxal por seu captor, a sacerdotisa espera a oportunidade ideal para escapar e cumprir a missão que a trouxe para tão longe de sua terra.
A noveleta a seguir é divida em duas partes. A primeira, chamada "Sangue no Grande Rio", mostra exatamente o momento em que a oportunidade da fuga se apresenta a Sjala, anos mais tarde. Niadorã, o filho de Sjala e Tajarê, já é um curumim crescido. Ao pressentir o ataque de uma onça ao seu filho, Sjala usa seus poderes para salvá-lo, irritando a tribo que já não via com muito gosto a presença da cativa branca entre eles. A decisão do chefe tribal, aproveitando a presença de uma comitiva comercial de guerreiras brancas — as ferozes icamiabas — é o banimento de Sjala, que é entregue às amazonas.
Tajarê, que não estava na aldeia, retorna quando o fato já está consumado. Tomado de angústia, parte imediatamente em busca da mãe de seu filho. Depois de uma perseguição exaustiva muitos quilômetros rio acima e com a ajuda de algumas entidades mágicas da natureza, Tajarê ataca o barco das icamiabas que leva Sjala, mas as guerreiras reagem fazendo uso de atributos mágicos, ferindo o guerreiro gravemente. Ainda assim, Tajarê insiste na batalha mas, no momento em que imaginava ter conseguido resgatar Sjala, ela se transforma numa garça e literalmente foge de seus braços, voando em direção da aldeia fortificada das icamiabas, a montante do grande rio. Tajarê não sabe que, apesar de todo o seu amor por ele e Niadorã, Sjala agora está decidida a cumprir sua missão original: libertar Loki e promover o Ragnarok.
A segunda parte da noveleta, chamada "Olhos de fogo", arremata o volume em grande estilo, não deixando nada a dever aos grandes momentos de ação dos grandes livros estrangeiros de fantasia. Sjala, ainda transformada em garça, chega a aldeia das icamiabas, uma cidadela fortificada construída sobre o rio. É recebida pelas guerreiras com um misto de desconfiança e fascinação. As amazonas, que dizem ser descendentes dos atlantes, dominam uma série de instrumentos de tecnologia desconhecida, trunfos contra os muitos inimigos que têm. Mas agora cobiçam o talento de se transformar em ave demonstrado por Sjala que, por isso, é aprisionada até que se recupere o bastante para ensinar-lhes o encanto. Mesmo contida pela magia da cidadela, Sjala elabora um novo plano de fuga, convocando mentalmente para ajudá-la o monstro do mar Kraken. Enquanto as icamiabas esperam que a sacerdotisa viking se recupere, Tajarê planeja o ataque definitivo à cidadela. Para isso, usa todos o expediente de magia que tem a sua disposição, arregimentando um grande número de entidades da natureza, entre elas o poderoso Mboitatá, uma gigantesca cobra que lança fogo pelos olhos. Mas nada lhe será dado sem um preço, e Tajarê sabe que pode não sobreviver a esse custo. Mas seu amor a Sjala e a Niadorã fala mais alto; com o coração apertado pelas mortes que irá causar, Tajarê aceita seu destino, seja qual for.
Causo mostra competência na construção deste enredo, que é dramático sem ser piegas e violento sem ser gratuito. Explora com competência uma mancheia de lendas e mitologias indígenas, dando ao livro um sabor brasilianista poucas vezes visto na fc&f. O excesso de ufanismo que isso poderia sugerir é compensado com referências à mitologia nórdica que, felizmente, não sobressaem. A forma como o autor aproveitou uma variedade de animais nativos da Amazônia, incorporando-lhes atributos mitológicos, é uma das melhores qualidades da obra. Não é definitiva, mas dá um bom exemplo aos demais autores brasileiros das ricas possibilidades por explorar.
Entretanto, apesar do que a apresentação gráfica do volume sugere, com a ilustração de capa assinada por Lourenço Mutarelli, ilustrações e vinhetas gráficas do próprio autor ao longo de todas as páginas internas, e a própria narrativa de fantasia heróica, A sombra dos homens não é um livro infantojuvenil. O texto não apresenta leitura fácil, com a fluidez adequada para crianças e jovens, pois Causo elaborou uma estrutura linguística criativa para modular a identidade dos diversos personagens e culturas, usando palavras incomuns e construções gramaticais exóticas em maior ou menor grau conforme a "indianização" dos mesmos. Resultou, mas esse instrumento exige uma concentração de leitura que pode dificultar a aceitação do texto por leitores pouco tolerantes. A complicada gramática criada pelo autor não é muito elegante, além de ser contraditória em si. Uma língua que não gerou a ideia de uma primeira pessoa do singular não iria permitir insigts de individualidade por parte de seus interlocutores.
Um problema adicional que pode incomodar o leitor exigente é a falta de profundidade do protagonista. Uma vez que Tajarê segue o arquétipo do herói, isso já lhe dá dificuldades para ser "redondo", pois um arquétipo que ganha profundidade deixa imediatamente de ser um arquétipo. Mas o mais visível é que, apesar de ser obviamente um indígena, Tajarê não apresenta nacionalidade específica. É um "índio genérico", que tanto poderia ser Tupi-Guarani, Tapajó, Xavante ou Caiapó. É de esperar que, aos olhos dos homens brancos, os indígenas pareçam todos iguais, mas eles não são. Elaborar um indígena brasileiro autêntico é tão difícil quanto um viking, talvez mais. Isso não implicaria em conspurcar o arquétipo do protagonista, pois os traços culturais indígenas mais visíveis estão na arquitetura das moradias, na religião, na língua, nos costumes sociais e alimentares, etc. Causo deu pouca atenção a isso, infelizmente, passando muito rápido pelas descrições que poderiam colaborar no estabelecimento dessa identidade, dando ainda ao trabalho alguma profundidade antropológica. Esse descuido não atrapalha a narrativa, mas enfraquece o valor da obra, que poderia ter sido muito enriquecida por uma pesquisa mais profunda.
Ainda assim, superada a dificuldade inicial com a gramática heterodoxa, A sombra dos homens é um trabalho que se lê com prazer e que se reveste de dimensão significativa no panorama da fc&f brasileira; um trabalho que deve ser lido e discutido por suas muitas contribuições e sugestões ao gênero.
Ainda vale ressaltar a introdução luxuosa que o jornalista, compositor e escritor Braulio Tavares cedeu ao volume, um ensaio sobre o mito do herói, o herói realista, o herói brasileiro e o aproveitamento que Roberto Causo faz disso no texto que se segue.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

As melhores histórias brasileiras de horror em entrevista

Há alguns dias, fui procurado por Bruno Flores, editor do blogue Literatura das Sombras, para uma rápida entrevista sobre a antologia As melhores histórias brasileiras de horror que organizei ao lado de Marcello Simão Branco para a Devir Livraria. E é rápida mesmo, apensa três perguntinhas, que dão conta do processo de seleção das histórias e dos trâmites até sua publicação no final de 2018.
Agradeço ao Bruno a oportunidade de falar sobre esse importante compêndio do horror nacional, um projeto antigo e muito acalentado, enfim viabilizado pelo idealismo do saudoso editor Douglas Quinta Reis, a quem nunca serie suficientemente grato.
A entrevista pode ser lida aqui.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Mestre das marés

Neste sábado, dia 2 de fevereiro, a partir das 16 horas, o escritor Roberto de Sousa Causo e a Devir Livraria estarão recebendo leitores e amigos na Omniverse Livraria e Hobby Store para o lançamento oficial do livro O mestre das marés, romance de ficção científica no mesmo universo de Glória sombria, livro anterior do mesmo autor. À venda desde outubro de 2018,  este novo romance leva o protagonista Jonas Peregrino em uma missão de guerra num planeta distante contra uma raça alienígena poderosa que detém tecnologias desconhecidas pelo homem e podem desequilibrar o conflito ao seu favor.
Além de Causo, também estará presente ao evento o ilustrador Vagner Vargas, que assina a capa do volume e autografará o poster exclusivo com sua arte que será ofertado a todos os compradores do livro.
A Omniverse fica na rua Teodureto Souto, 624/630, Cambuci, em São Paulo.
Mais informações sobre o trabalho do autor podem ser obtidas no saite Galaxis. O livro também pode ser adquirido pela internet, aqui.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

As melhores histórias brasileiras de horror

Este é um convite oficial para o lançamento do livro que ajudei a organizar, As melhores histórias brasileiras de horror, publicado pela Devir Livraria.
As melhores histórias brasileiras de horror tem a intenção de mostrar o quão rica e assustadora é esta trajetória, com uma seleção caprichada que vai de 1870 a 2014, ou seja, cobre 144 anos, quase toda a trajetória independente da vida nacional. Procuramos escolher histórias representativas, em especial as que abordam mais de perto a cultura brasileira, além de se destacar pela qualidade literária. Nesse sentido o conjunto dos autores selecionados é demonstrativo do interesse de parte dos melhores autores brasileiros, de diferentes épocas: Machado de Assis, Aluísio Azevedo, Inglês de Sousa, Afonso Arinos, João do Rio, Gastão Cruls, Thomaz Lopes, Tabajara Ruas, Braulio Tavares, Márcia Kupstas, Roberto de Sousa Causo, Júlio Emílio Braz, Carlos Orsi, M. Deabreu, Walter Martins e Gustavo Faraon.
Um mosaico do que a ficção de horror brasileira já fez de mais interessante em cada época, permitindo uma experiência de leitura rica e diversificada. Aparecerão temas como canibalismo, feitiçarias e misticismos, catalepsia, erotismo sobrenatural, fantasmas e assombrações, fim dos tempos, epidemia, rituais pagãos, pactos e possessões, paranoias e conspirações. Um variado leque para despertar a imaginação e deixar os sentidos alertas. Pois o horror poderá estar à espreita em cada linha, em cada página. E certamente em todas as histórias.
Ficaremos felizes com a sua presença.

domingo, 19 de março de 2017

Mistério de Deus

Há anos esperava que o meu amigo Roberto de Sousa Causo trouxesse à luz a história de Mistério de Deus, do qual fui leitor beta. A espera finalmente acabou em 2017, com o lançamento do romance pela Devir Livraria.
Mistério de Deus não é continuação nem spin-off de Um anjo de dor, romance de horror de Causo publicado em 2009 pela mesma Devir Livraria. Mas há pontos de contato entre as duas histórias, a começar pelo cenário de Sumaré, cidade no interior paulista onde o autor passou boa parte de sua juventude.
Tenho na memória, muito nitidamente, a maioria das cenas do romance, que conta a história de um ex-presidiário, leão de chácara num inferninho de Sumaré nos idos de 1991, que é levado pelas circunstâncias e por um profundo senso de justiça, a intervir nas ações de um grupo criminoso que aterroriza a região a bordo de um maverick preto envenenado. Mas não é só isso, há algo sobrenatural em torno das ações do bando, e o rapaz vai ter que levar sua determinação ao limite para tirá-los de cena.
A história tem um contorno realista que dialoga com um modelo literário que está muito em voga, como o do romance indicado ao Jabuti Barba ensopada de sangue, de Daniel Galera (Companhia das Letras, 2012), um drama policial de contornos regionalistas que aos poucos assume os protocolos das histórias de horror.
Seguindo as orientações de mestres do gênero, especialmente de Stephen King, Causo não se furta a mostrar a cara do monstro no momento adequado e com toda a crueza possível. Porém, a elegância narrativa não permite que a história assuma caminhos demasiadamente apelativos, com sangue e tripas espirrando na cara do leitor, como seria de se esperar no estilo brutalista tão popular no gênero atualmente.
O livro tem 600 páginas – é provavelmente o livro mais volumoso já publicado pelo autor – e traz na capa uma ilustração agressiva de Vagner Vargas, que tem sido parceiro constante de Causo em suas publicações. 
Roberto de Sousa Causo é Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo e mantém um intensivo trabalho como autor de ficção especulativa, com diversos livros de ficção e não ficção publicados no Brasil – alguns deles premiados – e dezenas de contos publicados no exterior em países como Portugal, Argentina, França, China e Cuba. Entre seus trabalhos mais importantes, está o ensaio Ficção científica, fantasia e horror no Brasil - 1875 a 1950 (UFMG, 2003).
Mistério de Deus vai agradar vários tipos de público: desde o leitor de horror, que é óbvio, mas também os de histórias de mistério policial e principalmente os fãs de muscle cars, um público ainda pouco explorado pela literatura nacional.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Resenha: A Bandeira do Elefante e da Arara

A Bandeira do Elefante e da Arara (The elephant and macaw banner), Christopher Kastensmidt. 330 páginas. Tradução de Roberto de Sousa Causo & Christopher Kastensmidt. Editora Devir Livraria, São Paulo, 2016.

Este é mais um dos casos incomuns em que não é possível definir com precisão se estamos diante de uma obra nacional ou estrangeira. Isso porque ambas as origens concorrem neste romance. O autor, Christopher Kastensmidt, é texano e está radicado no Brasil desde 2001. Sua origem norte-americana não é nenhum segredo, mas é preciso que ele o diga para que a gente descubra, porque fala português com fluência perfeita, sem esquecer que compôs praticamente toda sua obra literária em solo tupiniquim. Por outro lado, o texto foi originalmente redigido em inglês e precisou ser traduzido, trabalho brilhantemente desenvolvido pelo escritor Roberto de Sousa Causo, com a supervisão do próprio autor. Isso porque Kastensmidt não se sente suficientemente a vontade com o português para escrever diretamente na Flor do Lácio, que é considerada por muitos linguistas como um dos idiomas mais difíceis do planeta. Mas a pendenga não para aí: o tema do romance não poderia ser mais brasileiro, pois toda a história se passa nas selvas de um Brasil colonial mítico, em que seres fantásticos têm existência real e palpável, para desespero dos colonos portugueses.
O modelo não é inédito, autores nativos já se aventuram por esse tema espinhoso com ótimos resultados, como Ivanir Calado (A mãe do sonho) Simone Saueressig (aurum Domini: O ouro das missões), Felipe Castilho (Ouro, fogo e magabytes), Tabajara Ruas (O fascínio), e o já citado Roberto de Sousa Causo (A sombra dos homens). Contudo, essa não é a regra. Entre os autores brasileiros de fantasia e ficção científica, ainda domina o preconceito em relação a nossa própria cultura e história, bem como dificuldades com a pesquisa, e a insegurança em desrespeitar a tradição folclórica, o que até se justifica em alguns casos. Talvez tenha sido justamente por não ser brasileiro e não compartilhar dessas amarras, que o autor de A Bandeira do Elefante e da Arara ousou embrenhar nesse ambiente difícil.
O resultado é favorável: não há nada a reprovar em A Bandeira do Elefante e da Arara. A história é movimentada e com muita ação, os personagens são redondos e sem cacoetes, os seres mitológicos são fiéis aos originais e há um tratamento responsável e respeitoso com relação a todos os protagonistas e suas origens, sem preconceitos ou estereótipos.
O romance é o que se chama, nos EUA, de fix-up, ou seja, a reunião de textos independentes que formam um todo coerente. Tanto é que os três primeiros capítulos de A Bandeira do Elefante e da Arara, "O encontro fortuito de Gerad van Oost e Oludara", "A batalha temerária contra o capelobo" e "O desconveniente casamento de Oludara e Arani" tiveram anteriormente, de fato, edições independentes na coleção Duplo Fantasia Heroica, publicada pela mesma Devir Livraria, e já comentados aqui.
Kastensmidt explora com habilidade a construção do ambiente selvagem brasileiro. A abertura de cada capitulo apresenta um animal típico de nossa fauna, que também é lembrado no final. Para um brasileiro pode parecer pouco relevante, mas imagino a sensação que as descrições precisas e coloridas causam nos leitores estrangeiros, que nunca viram animais como esses. Não é por acaso que o primeiro capítulo, "O encontro fortuito de Gerad van Oost e Oludara", foi indicado ao prestigioso Prêmio Nebula em 2011.
Nas primeiras histórias, somos apresentados aos protagonistas, Gerad e Oludara, bem como ao seu nêmesis, o bandeirante Antônio Dias Caldas, que vai aparecer em diversos momentos da trama.   Acompanhamos como o aventureiro holandês Gerad conhece o príncipe africano escravizado Oludara e, juntos, fundam a sua bandeira de dois homens, o primeiro encontro com o Saci Pererê, a feroz luta contra o Capelobo, o confronto com o Curupira e seu gigantesco porco do mato, além da tribo dos Tupinambás, a segunda casa dos protagonistas, onde Oludara conhece, se apaixona e casa com a nativa Arani.
Em seguida, temos outras sete noveletas, cujos títulos, além de toda pompa e circunstância, são por si bastante reveladores: "O impropício retorno de Antônio Dias Caldas", "Uma série inconcebível de capturas e calamidades", "Uma tumultuosa convergência de desajustados, monstros e franceses", "A ameaçante aparição da Mula sem Cabeça", "O doloroso nascimento de Tainá", "Um caso audacioso em Olinda" e o impactante "O catastrófico final das façanhas brasileiras de Gerard e Oludara", que fecha o romance com um grande clímax onde não falta destruição, lutas e surpresas que vão colocar em cheque a boa relação entre os heróis. Nessas histórias, vamos também conhecer versões assustadoras dos mitos brasileiros, que não deixam de fora nem mesmo a Cuca e o beligerante Pai do Mato; mas percebe-se que ficaram muitos outros monstros de reserva para o futuro. Por certo que Kastensmidt não contou tudo de propósito. Além das adaptações para os quadrinhos – cujo primeiro volume foi publicado pela Devir Livraria em 2014 –, aguarda-se para breve um jogo de tabuleiro no universo do livro que, tudo indica, ser fato inédito no Brasil. Além de escritor, Kastensmidt é especialista em jogos e o protótipo já está em fase de testes. Mais informações sobre isso podem ser obtidas no saite oficial do romance, aqui.
E, como não podia deixar de ser, A Bandeira do Elefante e da Arara já chamou a atenção de editores pelo mundo. Recentemente, a editora espanhola Sportula licenciou a série para o espanhol, sendo este o sétimo idioma que a Bandeira vai falar: ela já tem traduções para chinês, tcheco, romeno e holandês, além do inglês e o português, é claro.
Por tudo isso é que A Bandeira do Elefante e da Arara é um livro obrigatório não só para os que gostam de boas aventuras, mas também para que autores e editores descubram que não há nada de errado com a mitologia brasileira. Assim como os nomes dos personagens em português, que ainda é tabu para alguns autores brasileiros, a cultura, os cenários, a história e a mitologia nacionais são ambientes ricos e interessantes, que devem e precisam ser melhor aproveitados.
Longa vida a A Bandeira do Elefante e da Arara!

domingo, 3 de julho de 2016

Quadrinhos de fc da Devir

A Devir Livraria anunciou recentemente um grande pacote de novas publicações de quadrinhos de ficção fantástica cujas sinopses são de entusiasmar qualquer apreciador do gênero.
Para começar, uma nova edição do primeiro volume da multipremiada série Saga, que estava esgotada há algum tempo. Saga é uma space opera de autoria de Brian K. Vaughan e Fiona Staples, originalmente editada pela Image Comics. Diz a sinopse: "Saga conta a história de Alana e Marko, soldados de lados opostos numa longa e devastadora guerra intergalática, que se apaixonam e lutam para garantir que Hazel, sua filha recém-nascida, continue viva".
Também vem a luz o segundo volume de Criminosos do sexo: Dois mundos, uma polícia, reunindo os volumes 6 a 10 desta também premiada série, criação de Matt Fraction e Chip Zdarsky para a Image Comics. No primeiro volume, Uma estranha habilidade, vimos que "Jon e Suzie têm um lance. Quando eles fazem sexo, o tempo para. Não, não é uma metáfora. O tempo realmente para, congela. Mas o casal também tem um problema. Enquanto Jon odeia o seu trabalho no banco, Suzie odeia o banco por ter fechado sua biblioteca. A solução surge muito facilmente: unindo o útil ao mais do que agradável, eles fazem muito sexo e começam a roubar o banco". Nesta segunda edição, "surge a Polícia do Sexo, que monitora todos aqueles dotados dos mesmos poderes do nosso jovem casal de parar o tempo".
Mais uma série premiada que recebe seu segundo volume é Umbrella Academy: Dallas, de Gerard Way (ex-vocalista da banda My Chemical Romance) e do ilustrador brasileiro Gabriel Bá, para a Dark Horse Comics. Diz o texto de divulgação: "Os tempos estão difíceis para a família disfuncional de super-heróis conhecida como Umbrella Academy. Na esteira do quase apocalipse criado por um de seus pares, e depois da morte do seu querido mentor, Pogo, o grupo se encontra bastante desesperançado. Cada membro da equipe desperta lentamente da sua apatia quando o perigo de outra catástrofe ameaça alterar a história ou destruir o mundo".
Agora as novidades: A floresta: A seta, é o primeiro volume de uma nova série de ficção científica criada por James Tynion IV e Michael Dialynas para a Boom! Studios. Diz a sinopse: "No dia 16 de outubro de 2013, 437 alunos, 52 professores e 24 integrantes da equipe complementar da Escola Preparatória de Bay Point, nos subúrbios de Milwaukee, Wisconsin, EUA, desapareceram sem deixar vestígios. A incontáveis anos-luz de distância, muito além das fronteiras do universo conhecido, 513 pessoas se veem no meio de uma selva antiga e primitiva. Onde elas foram parar? Por que estão lá? As respostas serão bem mais estranhas do que alguém poderia imaginar". A série já teve seus direitos adquiridos para a produção de um seriado de tv.
Outra que pode virar seriado de tv em breve é Carta 44: Velocidade de escape, criação de Charles Soule e Alberto Jiménez Alburquerque para a ONI Press. É também o primeiro volume de uma série de ficção científica na tradição das histórias de invasão alienígena. Diz a divulgação: "No seu primeiro dia no gabinete, o recém-eleito presidente dos Estados Unidos Stephen Blades esperava mergulhar de cabeça nos vários temas críticos que assolam a nação: guerra, iminente colapso econômico e um sistema de saúde deficitário – ou seja, uma típica presidência. Mas, no fim desse primeiro dia, Blades descobriu uma verdade: sete anos antes, a NASA detectou uma presença alienígena potencialmente agressiva no cinturão de asteroides e seu antecessor decidiu manter isso em absoluto segredo".
Um belo pacote de leituras para as férias, não é mesmo, amiguinhos?

quinta-feira, 23 de junho de 2016

A volta de um clássico do horror

Um dos primeiros textos da literatura fantástica mundial, O manuscrito de Saragoça volta a estar disponível, agora pela Devir Livraria.
De autoria do escritor polonês Jan Potocki (1761-1815), o romance é formado por uma série de textos curtos levemente interligados, que trafegam pelo sobrenatural e pelo gótico, enfiando uma história na outra, numa perturbadora aura de suspense e pesadelo.
Originalmente publicado no Brasil pela lendária editora GRD nos anos 1960, esta nova edição mantém a tradução de José Sanz , bem como o selo da editora que primeiro o publicou no país.
O lançamento acontece em São Paulo, no dia 29 de junho, quarta-feira, das 18h30 às 21h30 na Livraria Martins Fontes (Av. Paulista, 509).

sábado, 16 de abril de 2016

Para ler e ver agora

Shiroma, matadore ciborgue é o novo livro de Roberto de Sousa Causo, publicado pela Devir Livraria, uma coletânea de onze histórias dessa personagem de space opera que tem aparecido em várias antologias recentes do gênero. O livro foi enfaticamente recomendado, ao lado de vários outros livros recentes de autores nacionais e estrangeiros, na palestra que Luiz Braz cedeu ao programa Café Filosófico, produzido pelo Instituto CPFL Cultura e gravado na noite do último dia 14 de abril, em Campinas, disponível aqui.
Outro volume que merece atenção especial é Treze, nova coletânea editava pela Avec com contos de horror de Duda Falcão, autor gaúcho e editor do selo Argonautas, que investe no estilo das antigas revistas em quadrinhos do gênero, com direito até a um sinistro mestre de cerimônias. Duda também falou longamente no último dia 14 sobre este e outros trabalhos seus num hangout promovido pelo canal Estante Etérea, que pode ser visto aqui.
Embora seja um tanto difícil de obter no Brasil, quero também divulgar o novo livro do português António de Macedo, A provocadora realidade dos mundos imaginários, coletânea de ensaios publicada pela editora Épica, na qual este experiente autor de ficção fantástica discorre sobre cidades e manuscritos misteriosos que, apesar de lendários, são muito reais no imaginário humano.
Ficção científica, horror e fantasia em doses generosas para que gosta de ser surpreendido.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Devir gourmet

A editora Devir Livraria que, apesar da crise, não deixou de publicar boas opções em quadrinhos autorais, apresentou  no último Festival Internacional de Quadrinhos-FIQ, em Belo Horizonte, quatro lançamentos de dar água na boca.
Liga Extraordinária: Século integral é o álbum definitivo deste arco de histórias da cultuada série criada por Alan Moore e Kevin O'Neil, reunindo num só volume os episódios 1910, 1969 e 2009 – anteriormente publicados em separado –, contando a derrocada do virtuoso, porém disfuncional, grupo de celebridades formado por Mina Murray, Allan Quatermain, Orlando, Thomas Carnacki e A. J. Raffles. A edição ainda traz extras de interesse ao fã.
Sincity: De volta ao inferno é mais um episódio da aclamada série de Frank Miller que já rendeu dois longa-metragens no cinema. Mais uma vez, trata-se de um conto de amor e violência, no qual um herói de guerra busca por sua linda namorada que foi raptada, mas vai encontrar muito mais pelo caminho.
Saga 2 dá sequência a instigante ficção científica do roteirista Brian K. Vaughan. Os desenhos de Fiona Staples dão forma a bizarra história de uma garotinha que, depois de sobreviver a toda sorte de ameaças, agora terá de enfrentar sua própria família.
Umbrella Academy: Suite do apocalipse é o segundo volume da obra prima de Gerard Way e Gabriel Bá, que conta a história de sete crianças misteriosas que, adotadas por um figurão, formam um bizarro grupo de super heróis, dez anos depois de sua primeira aventura.
A edição também traz extras, como histórias curtas e um caderno de esboços dos artistas que colaboram na obra.
Os títulos ainda não aparecem no saite da editora, mas já podem ser encontrados nas lojas especializadas.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Novos quadrinhos de fc na Devir

A  ficção científica segue sendo objeto de interesse da Devir Livraria em dois novos álbuns em quadrinhos.
Automatic lover, de Guilherme Fonseca, é uma coletânea de histórias curtas escritas pelo autor e ilustradas por um time de ilustradores escolhidos a dedo, para contar sobre um futuro em que as máquinas se tornaram tão semelhantes ao seres humanos que apresentam até os mesmos defeitos.
Nemo: Coração de gelo, de Alan Moore e Kevin O'Neil, é um spinoff da aclamada série A Liga Extraordinária, com uma história sobre a herdeira do famigerado Capitão Nemo, situada em 1925, na Antártida. Como se pode imaginar, a história homenageia o romance O estranho relato de Arthur Gordon Pyn, de Edgar Alan Poe, entre outros clássicos da fc&f, como é praxe de Moore.

sábado, 27 de dezembro de 2014

Repercutindo o Anuário 2013

No dia 16 de dezembro foi lançada em São Paulo a edição 2013 do Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica. Os autores Cesar Silva e Marcello Simão Branco (foto) receberam leitores e amigos num evento na Livraria Martins Fontes Paulista, numa noite quente de terça-feira.
A edição, de mais de 400 páginas, integraliza as efemérides da fc&f nacional, que eram apresentadas segmentadamente nas edições anteriores, com a publicação de mais de 80 resenhas, entre clássicos e lançamentos dos gêneros no país.
Eis aqui dois comentários publicados nas redes sociais a respeito do Anuário 2013:

"De longe, a melhor e mais completa publicação do gênero no Brasil. Tem tudo. Padrão internacional. Permanece um mistério, há uma década, como seus autores conseguem coletar e organizar tanta informação e ainda exercerem outras atividades extra-Anuário. A edição normal já é leitura obrigatória pra qualquer fã de fc em particular e literatura fantástica em geral. Imagina essa edição especial consolidada. Diria que já está na esfera das edições históricas de colecionador. Corram logo pra comprar antes que esgote."
Eduardo Torres é moderador da Lista de Discussões do Clube de Leitores de Ficção Científica-CLFC.

"Num sarau organizado pelo mestre Ferréz, no Capão Redondo, sugeri que no Brasil há pelo menos duas marginalidades literárias. A primeira, mais conhecida, é a dos escritores da periferia social e econômica, que escrevem sobre sua vivência dramática. A segunda, menos prestigiada pela grande imprensa e pela academia, é a dos escritores de ficção científica, fantasia e terror.
Considero-me um ficcionista marginal por esse motivo: escrevo ficção científica e meus livros saem por atrevidas editoras alternativas. Essa segunda marginalidade pode até ser invisível para o leitor menos atento, mas não é, de maneira alguma, pequena. Ela é formada por milhares de guerrilheiros (autores, editores e fãs) agindo clandestinamente nos subterrâneos da cultura botocuda.
Se você quiser conhecer os detalhes mais significativos dessa guerra secreta, o Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica, dos incansáveis Marcello Simão Branco e Cesar Silva, é um ótimo começo."
Luiz Bras é autor dos livros Pequena coleção de grandes horrores e Distrito Federal.

O Anuário 2013 está disponível para venda nas lojas virtuais da Devir Livraria e da Martins Fontes Paulista. Mais informações sobre o Anuário 2013, aqui.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2013

Já está disponível no saite da Devir Livraria o Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2013: Os primeiros dez anos.
Numa iniciativa dos jornalistas e pesquisadores de ficção científica e fantasia Marcello Simão Branco e Cesar Silva, o Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica foi publicado pela primeira vez em 2005. Apresenta um amplo e profundo panorama do cenário fantástico nacional, em suas três manifestações principais, a ficção científica, a fantasia e o horror, além de contemplar também as criações híbridas entre estes gêneros e os chamados trabalhos de “fronteira”, isto é, o fantástico abordado a partir da perspectiva do mainstream literário. Contém notícias sobre prêmios e personalidades, artigos sobre o mercado editorial, listas dos livros recomendados lançados durante o ano e uma seção histórica com datas e resenhas de livros importantes.
Anuário tem por meta realizar um registro do estado desses gêneros no país, além de auxiliar tanto os leitores em busca do que há de novo, como os escritores que desejam destrinchar as tendências do mercado. E também a editores e pesquisadores que estão a procura de um conhecimento mais sistematizado e amplo do que está surgindo e das perspectivas para o fantástico no Brasil.
Esta edição, em especial, se reveste de um caráter único, pois realiza um amplo levantamento e balanço crítico sobre a fc&f brasileira nos últimos dez anos, ou seja, desde a primeira edição, em 2004. Afora as seções tradicionais, tem um artigo de análise sobre as características, virtudes, problemas e perspectivas para a ficção científica, fantasia e horror brasileiros. Também uma seleção das resenhas dos 39 melhores livros da década e um amplo debate com algumas das principais personalidades dos gêneros fantásticos entre o final do século passado e as primeiras décadas deste.
A seção “Efemérides”, que trata da parte histórica da fc&f no Brasil, consolida suas listagens de datas de publicações e eventos, de 1826 a 1993. Cento e sessenta e oito anos de registro em literatura, histórias em quadrinhos e cinema. Completa esta seção a publicação de todas as 32 resenhas de livros clássicos e tradicionais da fc&f publicados nas edições anteriores, e um artigo sobre o histórico Simpósio Internacional de Ficção Científica, realizado no Rio de Janeiro em 1969. A edição tem 408 páginas e, na capa, apresenta um desenho do ilustrador Teo Adorno.
O Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica recebeu, em 2010, o Prêmio “Melhores do Ano”, na categoria “Melhor Não-Ficção”, concedido pelo site Ficção Científica e Afins, da escritora Ana Cristina Rodrigues.

Repercussões:
“Embora a literatura fantástica enfrente muitos desafios no Brasil, um trabalho árduo de crítica e pesquisa como o do Anuário permite uma base sólida para o desenvolvimento de pesquisas e publicações.”
—Rachel Haywood Ferreira, Iowa State University.

 “As suas carreiras críticas — existentes há anos em várias publicações, e há seis anos no Anuário —, são o balanço global dos gêneros literários que vocês analisam, o mais competente, sério e abrangente, dentro do universo crítico brasileiro.”
—André Carneiro, autor de Confissões do Inexplicável e O Teorema das Letras.

“O Anuário é uma das publicações de crítica de ficção especulativa mais independentes e de maior personalidade no país. Editores, pesquisadores, colecionadores de livros, escritores e fãs devem encontrar uma fonte de consulta, de avaliações e de opiniões críticas inestimável para dar perspectiva ao momento atual.”
—Roberto de Sousa Causo, Terra Magazine.

“Um projeto raro e ambicioso, que apresenta uma perspectiva global e sistematizada a respeito do mercado no Brasil e confere-lhe uma unidade na qual os autores poderão posicionar-se. Além disso, contribui para o crescimento da crítica profissional e do estudo acadêmico, essenciais ao desenvolvimento de qualquer literatura.”
—Luís Filipe Silva, site Efeitos Secundários (Portugal).

Sobre o selo Enciclopédia Galáctica:
Em 2010, a Devir Livraria inaugurou o selo Enciclopédia Galáctica, destinado a obras de não-ficção voltadas para a discussão, análise e registro dos gêneros ficção científica, fantasia e horror na literatura, quadrinhos, jogos, cinema e televisão. O selo busca fomentar a produção crítica a respeito desses gêneros e formas de expressão, em um momento em que cresce muito o interesse pela literatura de ficção científica, fantasia e horror no ambiente acadêmico e literário nacional. O primeiro livro do selo foi Visão Alienígena: Ensaios sobre Ficção Científica Brasileira, de M. Elizabeth Ginway, brasilianista e professora de língua portuguesa e literatura e cultura brasileira na Universidade da Flórida (em Gainesville).

domingo, 2 de novembro de 2014

A Bandeira do Elefante e da Arara em quadrinhos

Uma das mais interessante séries de fantasia a ter o Brasil como cenário é criação de Christopher Kastensmidt, texano radicado em Porto Alegre, que percebeu o potencial das mitologias brasileiras para a construção de um contexto diferenciado no gênero. Não que inexistam autores brasileiros que já fizeram o mesmo, pelo contrário. Desde as suas origens, a literatura brasileira registra autores que enveredaram pelo indianismo e suas mitologias, e mesmo no fandom brasileiro, historicamente resistente a esse tipo de solução, há autores como Roberto de Sousa Causo, Simone Saueressig e Ivanir Calado, entre outros, que não tiveram receio de a trilhar. O que diferencia o trabalho de Kastensmidt é seu alcance. Sendo um autor de língua inglesa, com acesso ao concorrido mercado anglo-americano, sua obra espraia-se por ambientes virtualmente inacessíveis aos autores brasileiros e, dessa forma, funciona como divulgador do imaginário e da ficção brasileiros naquele mercado.
A Bandeira do Elefante e da Arara surgiu na forma da noveleta "O encontro fortuito de Gerard van Oost e Oludara", indicado ao prestigioso prêmio Nebula e publicado no Brasil em 2010, no primeiro volume da coleção Asas do Vento, da Devir Livraria. Conta a história de um holandês Gerard, que chega ao Brasil dos tempos coloniais em busca de fama e fortuna. Aqui, acaba por libertar o escravo Oludara, e ambos associam-se na empreitada de explorar o novo continente numa expedição de dois homens, a dita Bandeira do Elefante e da Arara. Em suas aventuras pelas matas, ambos têm de lidar com as gentes nativas, de hábitos estranhos para os estrangeiros, além da fauna, flora e entidades mágicas ferozes que se manifestam seguidamente no seu caminho.
Agora, a mesma Devir anuncia o lançamento dea versão em quadrinhos desse trabalho, A bandeira do Elefante e da Arara: O encontro fortuito, com roteiro do próprio Kastensmidt e desenhos de Carolina Milyus, uma jovem ilustradora de Porto Alegre. O álbum tem 112 páginas coloridas por Ursula Dorada, e já está disponível na loja da editora, aqui. Amostras da arte pode ser vista na página da publicação, aqui.
E está rolando um concurso cultural cujo prêmio é justamente um exemplar autografado deste álbum. Para participar, basta responder criativamente a pergunta "Se você fosse um explorador, de qual aventura gostaria de participar?". As respostas mais originais serão premiadas. O formulário e as regras da promoção estão disponíveis aqui.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Atmosfera rarefeita

A coleção Enciclopédia Galáctica, de Devir Livraria, selo que chancela os Anuários, acaba de receber mais um título significativo, Atmosfera rarefeita: A ficção científica no cinema brasileiro, não-ficção do Prof. Dr. Alfredo Suppia que, como o próprio nome revela, se debruça no mapeamento do gênero dentro da produção cinematográfica nacional, seara de poucos mas importantes trabalhos.
Diz o texto de apresentação do livro: "...para além de uma noção conservadora de gênero cinematográfico, a ficção científica se oferece como interface de análise de um amplo conjunto de filmes, uma arena de debates sobre a sociedade brasileira, sua relação com a ciência e a tecnologia e a produção nacional de artefatos culturais. Nesse sentido, o cinema brasileiro de ficção científica se apresenta como importante plataforma para a investigação da 'cultura nacional', da história do país e de suas mais notórias contradições, produto de uma 'modernização conservadora' assombrada pelo antagonismo entre vetores arcaicos e ondas progressistas".
Suppia colaborou no Anuário 2011 com o ensaio "Cinema e literatura de ficção científica no Brasil: Apontamentos sobre uma tímida relação", que já revelava a profundidade com que domina o tema. Atmosfera rarefeita avança na análise crítica do cinema de fc brasileiro, em curta e longa metragens, de seus primeiros exemplos até os mais recentes. Entre suas 348 páginas, traz um caderno de 16 páginas com imagens em cores de raras produções nacionais nele comentadas.
Suppia é professor de Cinema na Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF, e tem em sua bibliografia os livros A metrópole replicante: Construindo um diálogo entre Metropolis e Blade Runner (2011) e Cinema(s) independente(s): Cartografias para um fenômeno audiovisual global (2013), além de ser fundador e editor da revista eletrônica Zanzalá.
Atmosfera rarefeita é, sem dúvida, um dos mais importantes ensaios sobre fc já publicados no País. Recomendadíssimo.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Como foi o lançamento do Anuário 2012

A noite da sexta-feira, 13 de setembro de 2013, foi assombrada pelo lançamento da 9ª edição do Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica, publicação de pesquisa e registro editorial dedicada a acompanhar a edição dos livros de fantasia, ficção científica e horror no Brasil, neste caso, ao longo do ano de 2012.
Fruto de um ano inteiro de trabalho, o Anuário 2012 tem 184 páginas e reúne uma série de informações sobre o momento editorial, com listas de títulos recomendados, resenhas de livros nacionais e estrangeiros – algumas delas assinadas pelo resenhista convidado Álvaro Domingues –, artigos avaliativos, informações sobre os principais prêmios do segmento e uma seção de efemérides que contextualiza o ano de 2012 na tradição histórica do gênero.
A edição ainda traz uma minuciosa entrevista com a fantasista Simone Saueressig e um artigo sobre a ficção científica nos quadrinhos brasileiros, escrita pelo escritor e acadêmico Gian Danton, assinando seu nome real, Ivan Carlo Andrade de Oliveira. A capa tem uma ilustração de Silvio Ribeiro.
O evento aconteceu no piso térreo da livraria Martins Fontes, na Avenida Paulista, com direito a exibição destacada do Anuário na vitrine e um anúncio, ao estilo bistreaux, ao lado da porta de entrada. Na área de lançamentos, uma mesa sustentava um exemplar do Anuário apoiado em um suporte de acrílico.
Logo que cheguei, por volta das 18h, encontrei com Marcello Branco, meu parceiro na autoria do Anuário, que observava os livros na vitrine, e Douglas Quinta Reis, publisher da Devir Livraria, editora  do Anuário desde o volume de 2009. Ficamos no confortável café da livraria até a hora do início do evento, marcado para às 18h30, e quando finalmente nos dirigimos para o local, encontrei circulando pela livraria o lendário editor Gumercinco Rocha Dorea, acompanhado do escritor Roberto de Sousa Causo e sua esposa, a também escritora Finisia Fideli. Aproveitamos para conversar rapidamente com GRD – que foi entrevistado no Anuário em sua edição de 2011 –, pois ele teria de sair cedo para comparecer a outro compromisso.
Logo começaram a aparecer leitores com o Anuário nas mãos, para pegar nossos 'indispensáveis' autógrafos, entre eles, vários amigos que têm apoiado o projeto ao longo dos anos, como Luiz Brás, Adriano Siqueira, Alexandre Yudenitsch, bem como meus amigos pessoais Sandra Monte, Elise Garcia e Alan Flamer.
No momento mais concorrido do encontro, rolou um improvisado debate entre os presentes sobre as polêmicas que agitaram o fandom nas últimas semanas, como a proposta de instrumentalização da literatura a serviço dos resultados comerciais sugerida por um jovem escritor de fantasia, que suscitou uma série de questões relevantes ligadas a demandas coletivas específicas, mas que, infelizmente, passaram longe do ideal da busca por qualidade e autenticidade artística, discussão esta que não é nova e caracterizou, por exemplo, o surgimento da chamada 'Terceira Onda' da fcb. Se tivéssemos programado esse debate, o resultado certamente não teria sido melhor.
A Martins Fontes manteve, durante toda a atividade, um serviço de coquetel com águas e vinho branco, que foi valioso no calor daquela noite do veranico paulistano. Por volta das 21h, já com os trabalhos praticamente encerrados, aproveitamos para discutir detalhes da edição 2013, já em produção, que vai apresentar uma série de novidades.
O final do evento, na verdade, teve sabor de fim de primeiro tempo pois, em alguns dias, mas exatamente no dia 21, teremos o Fantasicon, congresso anual de escritores e editores de fc&f, no qual o Anuário também pretende comparecer. Muitos amigos de localidades mais distantes nos avisaram previamente que iriam lá procurar por ele. Então, ainda que não seja um outro 'lançamento', lá estaremos, mas uma vez, se Deus quiser, para rever e cumprimentar os amigos.
¡Hasta la vista, baby!

domingo, 18 de agosto de 2013

Anuário 2012

Está na reta final a produção do Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2012.
Fruto do trabalho dos pesquisadores Marcello Simão Branco e Cesar Silva, o Anuário 2012 é o nono volume da série – o quarto pela Devir Livraria – e tem por meta registrar o estado da literatura fantástica no País, além de auxiliar leitores em busca do que há de novo, escritores que desejam destrinchar as tendências do mercado, e editores e pesquisadores à procura das perspectivas do fantástico através de um conhecimento mais sistematizado e amplo.
A edição traz notícias sobre os prêmios e as personalidades do meio, análises do mercado editorial, listas dos livros recomendados lançados em 2012 e uma seção histórica com datas e resenhas de livros importantes.
O escritor Álvaro Domingues, do Blogue do Pai Nerd, comparece como resenhador convidado, somando seus comentários aos dos autores do Anuário sobre mais de duas dezenas dos principais livros de autores brasileiros e estrangeiros publicados no ano: Além do deserto, O alienado, Contos do sul, Delenda, Descobrimentos, Estranhas invenções, Fantasias urbanas, Geração subzero, O grito do Sol sobre a cabeça, História fantástica do Brasil: Inconfidência Mineira, Kaori e o samurai sem braço, A Liga de Urântia, Os deuses do mar, Protetores, Sideral no buraco sem fundo de Parnarama, Sozinho no deserto extremo, Todos os Portais, Trilhas do tempo, A cidade e as estrelas, A Companhia Negra, A máquina diferencial e O último livro, além dos clássicos Cristoferus, Pequenas portas do eu e Sombras de reis barbudos.
Apresenta também um ensaio exclusivo do acadêmico Ivan Carlo Andrade de Oliveira, sobre a ficção científica nas histórias em quadrinhos brasileiras, e destaca, como Personalidade do Ano, a escritora Simone Saueressig, autora do romance Aurum Domini: O ouro das Missões, Livro do Ano em 2011 pela Associação Gaúcha de Escritores.
A capa da edição traz um desenho de Silvio Ribeiro – o mesmo artista da edição 2010 –, com uma imagem que tem tudo a ver com a literatura fantástica nacional, na paisagem e no tema, que é um dos mais praticados pela ficção científica nacional.
O Anuário 2012 tem 184 páginas e faz parte da coleção Enciclopédia Galáctica. O livro estará à venda em breve e, assim como as três edições anteriores, poderá ser adquirido na loja da Devir, aqui.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Sci-fi Punk Projects

Aproveitando o sucesso que obteve a partir de uma coleção estampas de camisetas comercializadas desde 2003 em Tóquio e Londres, o designer mineiro Martielo Toledo transpôs para os quadrinhos todo o charme do universo futurista criado para a moda. O resultado é uma série de três álbuns, cujo primeiro volume acaba de ser publicado no Brasil pela Devir Livraria sob o título de Sci-fi Punk Projects, que conta ainda com uma trilha sonora exclusiva, composta pelo dj Anderson Noise, e um videoclipe.
Inspirado nas descobertas da Nasa em Marte e no som de grupos como Ramones, Sex Pistols, The Clash e Misfits, Sci Fi Punk Projects conta a luta de um grupo de super-heróis mascarados – financiado pelo Martian Secret Society com o apoio da Onu – contra os vilões da sociedade criminosa Transmutação Caveira.
Sci-fi Punk Projects tem 152 páginas em cores, e custa R$58,00. Mais informações sobre a obra podem ser obtidas no saite do autor, aqui.

Pipa ou papagaio

A Devir Livraria tem sido uma editora importante no que se refere a publicação de quadrinhos e literatura fantástica no Brasil, formatos que considero apropriados para os leitores jovens. Independente da minha opinião a respeito do alcance desses formatos, agora podemos dizer que a Devir está, sim, publicando para o mercado infanto-juvenil com o lançamento do belo volume Pipa ou papagaio, de Stella Elia, livro de 32 páginas com amplas e coloridas ilustrações de Weberson Santiago.
O livro trabalha um dos mais populares brinquedos infantis, a pipa, sem dúvida um tema excelente para falar aos jovens. Inventado pelos chineses, esse brinquedo voador feito com papel de seda e varetas de bambu, também é conhecido como papagaio, maranhão, arraia, quadrado, pandorga e muitos outros nomes, conforme a região do País.
Diz o relise distribuído pela editora: "O vento rompe a linha da pipa do garoto que brincava sozinho na rua de casa e, ao perseguir o brinquedo que escapou de suas mãos, ele se depara com um lugar desconhecido. Ali, o menino descobre uma nova amizade".
Apesar de seu talento obviamente infantil, tal como o brinquedo, Pipa ou papagaio certamente vai agradar a leitores de todas as idades.