Time out: Os viajantes do tempo, Ademir Pascale, org. 120 páginas. Apresentação de André Carneiro. Belo Horizonte: Estronho, 2011.
Seguindo a tendência iniciada em 2009, 2011 continuou a trazer à luz uma grande quantidade de antologias temáticas, que não deixam de ser uma tradição na fc&f brasileira. Algumas editoras têm de fato se especializado nisso, produzindo antologias em quantidade, embora de tiragens pequenas e memória ainda menor. A maior parte das dezenas de antologias publicadas no período receberam pouquíssimas resenhas e já nem são mais lembradas. Mesmo assim, o ambiente de antologias continua aquecido, com muitos projetos em fase de montagem por diversas editoras, apresentando novos autores, ao lado de veteranos que também precisam de espaço para mostrar seus escritos. Afinal, a quantidade de lançamentos não significa que os mais experientes já tenham estabilidade editorial – pelo contrário, tudo continua incerto e imprevisível, e é preciso aproveitar as oportunidades.
A mineira Estronho é uma das editoras que têm trabalhado fortemente no segmento das antologias temáticas, e em 2011 investiu alguns cartuchos na ficção científica, mas exatamente no subgênero da viagem no tempo, com a antologia Time out: Os viajantes do tempo.
Organizada pelo escritor Ademir Pascale, um dos campeões em organização de antologias temáticas em todos os tempos, Time out reúne oito contos de autores brasileiros, complementados por um ensaio sobre o tema e a apresentação do veterano escritor André Carneiro, uma autoridade no que se refere a ficção especulativa no Brasil.
O conto que abre a antologia é “Déjà-vu: O forte”, de Roberto de Sousa Causo, o texto de ficção mais elaborado do livro. Conta a história de uma mulher diagnosticada com doença terminal, que faz uma viagem sentimental pelo Brasil. Durante visita a um forte histórico, ela tem sua consciência arremessada para o passado, incorporando um soldado naquele mesmo lugar, durante o ataque de uma frota naval.
“A velha canção do marinheiro do futuro”, do próprio organizador, relata a situação incomum de um marinheiro que ficou preso num fenômeno espaço-temporal depois do navio em que estava ter sido usado em uma experiência mal-sucedida: o famoso experimento do USS Philadelphia, integrante da mitologia ufológica. Durante um de seus surtos, ele observa a distopia do mundo de 2075.
O melhor conto da antologia é “A difícil arte de lidar com os patrulheiros do tempo”, de Miguel Carqueija (autor de Farei meu destino; Giz, 2009), devido ao viés cômico que o autor manuseia muito bem. Um cientista meio maluco recebe, em pleno processo criativo, a visita de um jovem que se diz patrulheiro de uma polícia do futuro, que anuncia que vai matá-lo para evitar que invente alguma coisa muito ruim. Sem perder a fleuma, o cientista argumenta de forma a confundir seu assassino e mandá-lo de volta para onde veio.
“Pelas badaladas do tempo”, de Luciana Fátima, é o texto mais curto da antologia. Em clima de poesia, conta as visões de uma mulher ao escutar os sons de um sino.
Álvaro Domingues (autor de Sombras e sonhos; Balão, 2010) também envereda pelo humor em tons farsescos em “Modelo do ano”, em que dois amigos “nerds” que, quando jovens, sonhavam em construir uma máquina do tempo, reencontra-se depois de um afastamento de alguns anos. Um texto leve, mas com um travo machista que certamente não vai agradar as mulheres.
Ecos de Carl Sagan e H. P. Lovecraft se apresentam em “A máquina da insanidade”, de Estevan Lutz (o autor de O voo de Icarus, Novo Século, 2010), no qual um cientista enlouquecido que testou sua própria máquina do tempo, tenta contar sua história para a psicóloga do sanatório onde está internado.
Em “O último trem para as Plêiades”, de Allan Pitz (que escreveu A morte do cozinheiro, Above, 2010), um rapaz conta ao amigo incrédulo o sonho que teve no qual alienígenas o conduziram a uma viagem pelo espaço e pelo tempo, para mostrar-lhe que o fim do mundo está próximo. Texto pessimista e desesperançado, que contrasta com o tom galhofeiro da narrativa.
O último conto da antologia é “Contra o apagar das luzes”, de Mariana Albuquerque (autora de Coração de demônio, Writers, 1999), no qual um grupo de astronautas que testemunhou o fim do mundo cria uma máquina do tempo para voltar cinco anos no passado e tentar impedir a tragédia. Trata-se da mesma premissa do seriado de televisão Odyssey 5; uma fanfic, portanto.
Fecha a edição o breve ensaio “Viagens no tempo na ficção científica brasileira”, de autoria do pesquisador acadêmico Edgar Indalécio Smaniotto, que cita Monteiro Lobato, Erico Verissimo e Jerônymo Monteiro, destaca a noveleta “A ética da traição” (1993), de Gerson Lodi-Ribeiro, e a antologia Intempol, além de outros textos de menor expressão, o que revela a pouca intimidade da fcb com o tema, embora o ensaísta afirme o contrário.
Da mesma forma, a antologia Time out: Os viajantes do tempo é tão leve e despretensiosa que mal arranha o tema. De suas 120 páginas, apenas 80 realmente têm texto, o restante é ocupado por imagens e vinhetas em uma apresentação gráfica sofisticada que merecia a companhia de mais conteúdo.
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