Paulinho Sideral é um jovem cosmopolita dos nossos dias, que ama a ciência. Por isso, ele gosta de discutir com seu tio Roque, major da Aeronáutica cujo trabalho é investigar todo tipo de ocorrências estranhas. Desde muito criança, Paulinho se acostumou a escutar as histórias malucas do tio, sobre objetos voadores não identificados e outras coisas misteriosas, e, ao mesmo tempo que se encantava, questionava a autenticidade dos relatos, pois Paulinho é, acima de tudo, um cético. E é por causa de seu ceticismo somado ao conhecimento científico – que adquiriu lendo vorazmente todo tipo de livros – que, certo dia, seu tio o convidou para ajudá-lo numa investigação, coisa que o jovem logo se interessou. Resolvidos os problemas com a família, Paulinho e o tio embarcam num avião que os leva diretamente a uma região entre o Maranhão e Piauí, onde se localiza o município de Parnarama, área de muitas ocorrências fenomenológicas desconhecidas. Depois de uma viagem cansativa e tribulada, na companhia de uma equipe de técnicos da Aeronáutica, Paulinho se vê diante de um caso realmente bizarro. No meio de um matagal, onde há alguns dias foi avistada uma grande luz, está um buraco aparentemente sem fundo. O que é esse buraco e para onde ele leva é o que o tio quer saber, e Paulinho vai ter que usar todo o seu conhecimento para desbravar as profundezas desse abismo e enfrentar os eventos estranhos que ainda estão em curso naquele lugar.
Esta noveleta, que se lê com agilidade e prazer, está entre uma das mais interessantes ficções ufológicas publicadas no período da Segunda Onda da Ficção Científica Brasileira. Apareceu primeiro na edição número 69 no fanzine de ficção científica Megalon, em junho de 2003, com boa acolhida entre os leitores. O que mais surpreende no texto de Tartari, autor de amplos recursos técnicos, é o discurso em primeira pessoa emulando um “causo” narrado pelo próprio protagonista, usando a linguagem dos jovens com muitas expressões pitorescas próprias de um adolescente. O personagem é consistente e o relato soa deliciosamente natural.
Tartari confidenciou-me que, quando escreveu essa história, tinha a real intensão de fazer um texto juvenil e a adoção da linguagem foi um recurso que então julgou apropriado:
“Eu tinha recentemente desenvolvido esse estilo de prosa – que chamei de 'voz do garoto' – para a antologia Estranhos contatos, organizada por Roberto de Sousa Causo (editora Caioa, 1998). A partir daí, escrevi Sideral justamente com a intenção de entrar no mercado juvenil. Ingenuamente, eu não sabia que a voz de um garoto era imprópria para garotos”. Explico: para ser publicado, a editora Nova Espiral fez uma série de intervenções no texto, de modo a suavizar as opiniões e o linguajar do narrador, talvez não muito adequadas às exigências do mercado.
Também não há nenhum segredo sobre o livro inspirador do trabalho. Já em sua publicação original, em 2003, o autor fez constar uma referência ao livro de Villarrubia, publicado em 1997 pela Editora Mercuryo. Tartari continua: “A ideia era escrever uma série com o mesmo personagem e com o mesmo material de pesquisa, o livro Mistérios do Brasil de Pablo Villarrubia Mauso.” Contudo, até onde eu saiba, não foram publicadas outras histórias com Paulinho Sideral e seu tio.
Ataide Tartari tem uma larga experiência na literatura. Seu romance de estreia foi EEUU 2076 D.C., publicado pela Edicon em 1987, assinado com o pseudônimo A. A. Smith. Participou de diversas antologias e foi cronista do Jornal da Tarde, de São Paulo. Também publicou dois romances para o mercado estrangeiro, Amazon (iUniverse, 2001) e Tropical shade (iUniverse, 2003), ambos sem tradução no Brasil.
Além de Sideral no buraco sem fundo de Parnarama, a editora Nova Espiral publicou simultaneamente a coletânea O triângulo de Einstein, reunindo alguns dos contos de Tartari vistos em antologias, um volume que, sem dúvida, também merece toda a recomendação.
Além de Sideral no buraco sem fundo de Parnarama, a editora Nova Espiral publicou simultaneamente a coletânea O triângulo de Einstein, reunindo alguns dos contos de Tartari vistos em antologias, um volume que, sem dúvida, também merece toda a recomendação.
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