quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Resenha do Almanaque: Incidente no Caribe, Denise Reis

Incidente no Caribe, Denise Reis. Prefácio de André Valente. 128 páginas. Rio de Janeiro: da autora, 2005.

Incidente no Caribe, de Denise Reis, é uma novela que se insere no tema da transmigração de um personagem contemporâneo para uma utopia tecnológica, uma tradição desde a proto-ficção científica que caracteriza boa parte dos primeiros exemplos da literatura do gênero e, principalmente, aquela feita no Brasil. Porém, Incidente no Caribe não é exatamente uma obra de ficção científica, mas uma fantasia esotérica.
Dr. Renato Di Cosmo é um renomado físico brasileiro em férias no Caribe. Ele mergulha sozinho no mar da Ilha de Bimíni e ali encontra submersas ruínas de uma construção antiga em ouro e cristal. No mesmo instante, é arremessado para uma outra realidade, na qual emerge nu e desorientado numa praia deserta com duas luas no céu. Depois dos primeiros momentos de pânico, começa a explorar a região e localiza água e alimento mais que suficientes para manter-se vivo.
Muito tempo depois, Renato encontra uma aldeia vivendo uma utopia de conforto e fartura. São cidadãos de Aztlan, uma grande metrópole insular que está em guerra contra um inimigo distante. Em breve, seus dirigentes vão acionar a arma suprema, recentemente desenvolvida, que derrotará para sempre todos os seus inimigos. Porém, Renato é alertado por um sábio resignado que alienígenas amistosos previram que o disparo dessa arma vai também arrasar o planeta e destruir a humanidade. Eles têm um plano de evacuação em suas espaçonaves para uns poucos escolhidos, mas o nome de Renato não está nessa lista. Sua única esperança de sobrevivência é encontrar o portal que o trouxe até ali e fazer o caminho inverso, retornando ao seu próprio tempo antes da catástrofe.
Este é o resumo da novela que parece ter sido o primeiro e único trabalho de Denise Reis no gênero. Nas orelhas da capa do volume descobrimos que a autora é engenheira, jornalista e ex-sócia da Editora Leviatã, do Rio de Janeiro.
Denise Reis tem um texto leve que se lê com facilidade, não utiliza vocabulário rebuscado nem pratica exercícios formais intrincados, narrando a história com simplicidade, o que é ótimo para qualquer tipo de literatura e muito desejável para atingir o público jovem. Um bom caminho para qualquer autor dar sequência ao seu trabalho literário mas que, infelizmente, parece não ter encontrado sequência neste caso. 
O prefácio é assinado pelo linguista André Valente, que comete uma gafe logo nas primeiras linhas, quando diz: "A autora extrapola os limites do romance de ficção científica e nos oferece um texto profundamente humanístico".  Não era necessário que, para elogiar a autora, o prefaciador tivesse que desqualificar o gênero em que a obra se insere. Fica patente o preconceito ao sugerir que só extrapolando as fronteiras da ficção científica uma obra possa atingir o humanismo. 
Ainda bem que a autora não compartilhou desse preconceito ao fazer constar "Ficção Científica" na capa do volume. Ponto para ela. 

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