Incidente no Caribe, Denise Reis. Prefácio de André Valente. 128 páginas. Rio de Janeiro: da autora, 2005.
Incidente no Caribe, de Denise Reis,
é uma novela que se insere no tema da transmigração de um personagem
contemporâneo para uma utopia tecnológica, uma tradição desde a proto-ficção
científica que caracteriza boa parte dos primeiros exemplos da literatura do
gênero e, principalmente, aquela feita no Brasil. Porém, Incidente no Caribe não é
exatamente uma obra de ficção científica, mas uma fantasia esotérica.
Dr. Renato Di Cosmo é um renomado
físico brasileiro em férias no Caribe. Ele mergulha sozinho no mar da Ilha de
Bimíni e ali encontra submersas ruínas de uma construção antiga em ouro e
cristal. No mesmo instante, é arremessado para uma outra realidade, na qual
emerge nu e desorientado numa praia deserta com duas luas no céu. Depois dos
primeiros momentos de pânico, começa a explorar a região e localiza água e
alimento mais que suficientes para manter-se vivo.
Muito tempo depois, Renato encontra uma
aldeia vivendo uma utopia de conforto e fartura. São cidadãos de Aztlan, uma
grande metrópole insular que está em guerra contra um inimigo distante. Em
breve, seus dirigentes vão acionar a arma suprema, recentemente desenvolvida,
que derrotará para sempre todos os seus inimigos. Porém, Renato é alertado por
um sábio resignado que alienígenas amistosos previram que o disparo dessa arma
vai também arrasar o planeta e destruir a humanidade. Eles têm um plano de
evacuação em suas espaçonaves para uns poucos escolhidos, mas o nome de Renato
não está nessa lista. Sua única esperança de sobrevivência é encontrar o portal
que o trouxe até ali e fazer o caminho inverso, retornando ao seu próprio tempo
antes da catástrofe.
Este é o resumo da novela que parece
ter sido o primeiro e único trabalho de Denise Reis no gênero. Nas orelhas da capa do
volume descobrimos que a autora é engenheira, jornalista e ex-sócia da Editora
Leviatã, do Rio de Janeiro.
Denise Reis tem um texto leve que se lê
com facilidade, não utiliza vocabulário rebuscado nem pratica exercícios formais
intrincados, narrando a história com simplicidade, o que é ótimo para
qualquer tipo de literatura e muito desejável para atingir o público jovem. Um bom caminho para qualquer autor dar sequência ao seu trabalho
literário mas que, infelizmente, parece não ter encontrado sequência neste caso.
O prefácio é assinado pelo linguista André Valente, que comete uma gafe logo nas primeiras linhas, quando diz: "A autora extrapola os limites do romance de ficção científica e nos oferece um texto profundamente humanístico". Não era necessário que, para elogiar a autora, o prefaciador tivesse que desqualificar o gênero em que a obra se insere. Fica patente o preconceito ao sugerir que só extrapolando as fronteiras da ficção científica uma obra possa atingir o humanismo.
Ainda bem que a autora não compartilhou desse preconceito ao fazer constar "Ficção Científica" na capa do volume. Ponto para ela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário