sexta-feira, 19 de março de 2010

Torre Negra - Até aqui tudo bem


Acabei de ler o terceiro volume da heptalogia de Stephen King, subtitulado As terras devastadas (The waste lands). King não nega, pelo contrário, afirma peremptoriamente que se inspirou em O senhor dos aneis para desenvolver sua obra prima. Também não cansa de citar o poema “Childe Roland to the Dark Tower came”, de Robert Browning, como a base de toda a história.
No primeiro volume, O pistoleiro (The gunslinger), somos apresentados ao Mundo Médio, mistura de medievalismo, faroeste e pós-apocalipse, onde Roland Deschain, um pistoleiro juramentado do extinto baronato de Gilead, persegue o misterioso Walter, o homem de preto, através de um deserto interminável. Ele pretende obrigar Walter a lhe revelar como chegar à mítica Torre Negra, onde Roland acredita poder recolocar seu mundo nos eixos.
Lá pelas tantas, Roland encontra um garoto meio morto, Jake Chambers, que diz ter sido atropelado em Nova York e depois aparecido nesse lugar. Roland e Jake seguem juntos na pista do estranho homem que vai adiante, entram por um metrô em ruínas repleto de mutantes perigosos em direção ao confronto final.
No segundo volume, A escolha dos três (The drawing of the three), Roland está novamente sozinho. Ele chega a uma praia dessa terra moribunda e ali é vítimado por uma espécie de crustáceo carnívoro, que lhe devora parte da mão direita, causando uma infecção mortal. Ferido e febril, o pistoleiro caminha pela orla, onde encontra portas que levam a outras realidades. A primeira o leva para o interior da mente de Eddie Dean, um viciado em heroína que está prestes a ser capturado pela polícia. A presença de espírito de Roland salva Dean de vários problemas e, no final, acaba por levá-lo também para seu mundo.
Ambos seguem pela praia até uma segunda porta, que desta vez leva Roland a mente de Odetta Holmes, uma negra rica, paraplégica e esquizofrênica. Cada vez mais doente e fraco, Roland também resgata Odetta para sua realidade, mas ainda há uma terceira porta, que vai colocá-lo na mente do covarde assassino Jack Mort, cujas ações se desdobram para o passado e para o futuro dos escolhidos... mas, afinal quem é o terceiro escolhido? E escolhido para quê?
Estas perguntas começam a ser respondidas em As terras devastadas.
Algo muito estranho aconteceu com Roland quando esteve na mente de Jack. Ainda que curado da dura infecção que o acometeu ao longo do volume anterior, sua intervenção na pele do assassino impediu que Jake, o menino do primeiro livro, fosse atropelado. Dessa forma, agora Roland tem a memória de dois passados: um em que Jake o acompanhou no deserto, e outra em que ele caminhou sozinho. E isso o está enlouquecendo. Eddie e Odetta, agora chamada Susannah, não sabem o que fazer, mas Eddie tem sonhos estranhos com a Torre Negra que parecem algo premonitórios. Em outra linha narrativa, o agora salvo Jake também está com problemas. Sua mente está confusa e ele sente que deve ir embora dali, voltar para um lugar de onde ele nunca devia ter saído. Ao longo da primeira metade do volume, vamos ver como Roland e Jack vão recuperar suas sanidades.
A segunda metade do romance leva Roland, Eddie, Susannah, Jake e Oi, uma espécie de cão falante que adotou o grupo como seu bando, à cidade de Lud, uma monstruosa ruína ainda habitada por homens em uma guerra sem fim e sem sentido. Lá, o grupo pretende pegar uma carona com Blaine, um monotrilho supersônico com inteligência artificial que é uma das maravilhas remanescente do mítico tempo dos Grandes Antigos. Ele é provavelmente o único que pode levá-los para mais perto da Torre Negra. Porém, Blaine não é um cara muito legal...
Dessa forma, vemos que a saga de Roland é uma salada mista de gêneros. O primeiro volume é uma dark fantasy mesclada com faroeste. O segundo uma fantasia urbana, bem mais aproximada ao tipo de horror que Stephen King costuma contar. A primeira parte de As terras devastadas volta a ser uma dark fantasy pastoral na linha narrativa do Mundo Médio, mas continua sendo uma fantasia urbana na linha narrativa de Jake, em Nova York. E a segunda parte é claramente uma ficção científica pós-apocalíptica, com toda a tecnologia que tem direito, além de ser o trecho mais acelerado e emocionante de toda a história até o momento, com revelações vertiginosas sobre a natureza do Mundo Médio. Este terceiro volume termina algo inconclusivo, e o próprio King faz comentários a esse respeito no posfácio.
O quarto volume, Mago e vidro (Wizard and glass), já está em minhas mãos. Estou lendo a saga ao ritmo de um volume por ano, mas acho que não vou conseguir esperar para ler este, que é o mais volumoso dos quatro primeiros livros. Diz, quem já leu os sete volumes, que um deles é um tanto acessório e tenho impressão que se trata exatamente deste quarto volume, que conta o passado de Roland. Tudo bem, vou ler do mesmo jeito.
Também estou sabendo de um episódio avulso de A torre negra que se encontra na antologia Tudo é eventual (Everything is eventual), chamado "As irmazinhas de Eluria", muito bem recomendado por sinal. Está na minha alça de mira.
Enfim, A Torre Negra é um daqueles eventos literários que vale a pena experimentar. Eu não estou nada arrependido de ter embarcado nessa viagem com Roland e seus amigos. Portanto, não poderia dizer outra coisa: recomendo!

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