sábado, 1 de novembro de 2025

Resenha: A ilha do Dr. Shultz, Ataide Tartari

A ilha do Dr. Shultz
(Tropical shade), Ataide Tartari. 193 páginas. Santos: Do autor, 2013.

Em meados dos anos 1980, um achado movimentou a imprensa internacional. Foram encontrados, no Brasil, os restos mortais de Josef Menguele, o anjo da morte de Aushwitz que, desde o final da Segunda Grande Guerra, em 1945, vinha sendo procurado por todo mundo pelos caçadores de nazistas. É em torno desse fato histórico que o escritor paulistano Ataíde Tartari constrói o enredo de A ilha do Dr. Shultz que, há anos, estava na minha lista de leitura. 
A história acompanha as trajetórias de dois homens negros no Brasil recém redemocratizado. O primeiro, judeu africano, é uma espécie de agente secreto a soldo de uma instituição norte-americana que, a partir da descoberta do restos de Meguele, busca por pistas de outros nazistas escondidos no Brasil. O outro é um norte-americano afrodescendente que, farto da vida miserável que levava em seu país, vem ao Brasil em busca de um tratamento especial que prometia tornar branca a sua pele. O caminho desses dois homens, ambos em busca de redenção, vão se cruzar numa ilhota no litoral do Rio de Janeiro, conhecida como Ilha dos Negros Aço, onde vive um cientista que parece deter técnicas efetivas de branqueamento da pele negra. 
A história não é exatamente fantástica apesar da premissa de ficção científica; é quase realista para dizer a verdade. Não tem viradas dramáticas a cada capítulo, apenas segue em frente, sem barrigas. É um texto preciso e enxuto, que envolve e faz o leitor se importar com os personagens. 
A ilha do Dr. Shultz é surpreendente mesmo para os altos padrões do autor. É incrível sua capacidade em arredondar personagens usando poucos parágrafos, construir ambientes e manipular as tensões. O domínio sobre o enredo é preciso, com uma reconstrução histórica competente da São Paulo dos anos 1980. Possivelmente, este seja tecnicamente o melhor texto do autor. 
Tartari é um autor formado na Segunda Onda da Ficção Científica Brasileira, com diversos contos excelentes publicados nos fanzines. Seu primeiro livro foi o romance de fc  EEUU 2076, (1987, Edicon), publicado sob o pseudônimo de A. A. Smith. Também publicou a novela Sideral no buraco sem fundo de Parnarama (2012, Nova Espiral) e as coletâneas O triângulo de Einstein (2012, Nova Espiral), 17 histórias alternativas, cômicas e futuristas (2013, Virtual) e Veja seu futuro (2017), além dos romances originalmente escritos em inglês Amazon (iUniverse, 2001) e Tropical shade (iUniverse, 2003), sendo este último o original de A ilha do Dr. Shultz, traduzido pelo próprio Tartari.
Vale a pena buscar pelos textos do autor, muitos dos quais seguem disponíveis, como este A ilha do Dr. Shultz, aqui.

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