quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Ondas não bastam

Todas as vezes que sou questionado a respeito da história da fc&f brasileira, fico perdido nas classificações cronológicas porque, nesta altura dos acontecimentos, o mapeamento já ultrapassou os limites das três "ondas" que antes pareciam ser suficientes para definir e entender a evolução da arte.
Há vasto material anterior à organização do fandom e, mesmo durante o período de ação deste, pelo menos um importante momento da fc&f nacional não fez parte de nenhuma das ditas ondas. Estas só fazem sentido de fato no restrito escopo da produção dos fãs e dos autores que se identificaram com sua ação.
Por mais que isso desagrade determinados grupos, a história da fc&f transcende o antes e o durante do fandom. Assim sendo, e por falta de uma classificação mais conveniente, montei a seguinte proposta, que conta com seis subdivisões principais:
Clássicos: refere-se aos autores dos primeiros exemplos da fc&f nacional, anteriores ao Movimento Modernista. Exemplos: Álvares de Azevedo, Augusto Zaluar, Machado de Assis, Joaquim Manuel de Macedo, Coelho Netto, Monteiro Lobato, Aluísio de Azevedo etc
Modernistas: autores contemporâneos e/ou identificados ao Movimento Modernista: Exemplos: Mário de Andrade, Menotti Del Picchia, Gastão Cruls, Humberto de Campos, João do Rio, Malba Tahan, Guimarães Rosa, Afonso Schimidt, Beliro Neves, Murilo Rubião etc.
Primeira onda ou Geração GRD: Autores claramente identificados com o movimento autoral e editorial de literatura de gênero, cuja obra apresenta vínculos claros com os protocolos da fc&f pulp. Exemplos: Jerônymo Monteiro, Rubens Teixeira Scavone, Fausto Cunha, Dinah Silveira de Queiroz, André Carneiro, Nilson Martello, Levy Menezes, Rubens F. Lucchetti etc.
Não alinhados: Autores contemporâneos não participantes da primeira e segunda ondas, cujas obras vinculam-se perifericamente aos gêneros e estão mais identificadas ao mainstream literário. Exemplos: José J. Veiga, Chico Buarque, Ariano Suassuna, Vitor Giudice, Érico Veríssimo, Paulo Leminski, Cassandra Rios, Ligia Fagundes Telles, Ignácio de Loyola Brandão, Ruth Bueno, Moacyr Scliar, Nilza Amaral, Herberto Sales, Julio Emilio Braz, João Ubaldo Ribeiro, Fausto Fawcett, Domingos Pelegrini, João Batista Melo, Neil de Castro, Nelson de Oliveira, etc.
Segunda onda ou Geração dos fanzines: Autores claramente vinculados ao fandom organizado nos anos 1980, cujos trabalhos desenvolveram-se especialmente em publicações amadoras. Exemplo: Daniel Fresnot, Jorge Luiz Calife, Roberto Schima, Roberto de Sousa Causo, Simone Saueressig, H. V. Flory, Braulio Tavares, Max Mallmann, José dos Santos Fernandes, Ivanir Calado, Gerson Lodi-Ribeiro, Fábio Fernandes, Carlos Orsi, Ivan Carlos Regina, Martha Argel, Miguel Carqueija, Carlos Patati, Gian Danton, Ataíde Tartari, Finisia Fideli etc
Terceira onda ou Geração internet: Autores surgidos no século 21, principalmente a partir da ação dos fãs em saites e redes sociais. Exemplo: Tibor Moricz, Ana Cristina Rodrigues, Giulia Moon, Cristina Lasaitis, Helena Gomes, Clinton Davisson, Andre Vianco, Luiz Bras etc.
É claro que há interstícios que podem agrupar autores identificados com mais de uma classificação, bem como grupos restritos de ação pontual mas, por hora, fiquei satisfeito com estas subdivisões. Seria interessante iniciar um amplo debate a respeito disto, para acertar arestas e afinar definições, identificando também as obras mais relevantes da cada ciclo e os temas mais praticados em cada uma, se houver.

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