Na manhã do dia 9 de janeiro, uma segunda feira, tive o privilégio de assistir à uma exibição especial para a imprensa do novo filme de Steven Spielberg, As aventuras de Tintim: O segredo do Licorne (The adventures of Tintin: The secret of the Unicorn). O evento aconteceu numa das salas de cinema do Shopping Bourbon, em São Paulo, dotada de tecnologia de projeção 3D IMAX, que é um dos mais expressivos apelos da indústria para motivar os espectadores a assistirem filmes fora de suas casas. Até é legal, mas muito mais que a magia do 3D, o que realmente impressiona é o gigantismo de tela. Nem mesmo no tempo do Cinemascope do saudoso Cine Comodoro a tela foi tão grande.
Mas no caso de um filme de Spielberg, todos esses apelos são secundários. O que realmente faz a diferença é a qualidade do trabalho do diretor, suficiente para sustentar qualquer filme, mesmo numa tela pequena.
Tintim conta uma história movimentadíssima estrelando o famoso personagem dos quadrinhos, um jornalista adolescente criado pelo quadrinhista belga Hergé – ou Georges Prosper Remi (1907-1983) –, que viaja pelo mundo investigando mistérios para um jornal de Bruxelas.
Desde 1981, Spielberg sonhava em fazer um filme com Tintim, pois muita gente havia comentado com ele as inúmeras similaridades entre o personagem belga e a sua criação, o arqueólogo Indiana Jones. Spielberg até havia negociado alguma coisa diretamente com Hergé, antes da sua morte em 1983, mas o licenciamento final só foi obtido em 2007. Com o apoio do neozelandês Peter Jackson, diretor da premiada trilogia O senhor dos anéis, Spielberg preparou roteiros para três filmes com o personagem e, desde então, vinha produzindo o primeiro longa metragem com grande expectativa do público.
As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne foi lançado em outubro de 2011, na Bélgica, inaugurando um novo conceito em animação que eleva a arte a um patamar inédito de realismo e deve indicar um novo rumo para as adaptações dos quadrinhos no cinema.
Apesar de uma textura "live action", Tintim é de fato um filme de animação, produzido através de uma tecnologia de captação de movimentos reais, conhecida como "motion capture", com movimentos extremamente naturais somados a uma produção de arte hiper realista, na qual apenas as fisionomias propositalmente caricatas dos personagens revelam tratar-se de uma animação.
Combinando trechos de pelo menos quatro aventuras independentes do personagem, a história inicia seguindo, passo a passo, o roteiro do álbum homônimo, O segredo do Licorne, com direito a uma ponta do próprio Hergé logo na primeira cena, fazendo a caricatura de Tintim numa feira de antiguidades ao ar livre numa praça do romântico centro de Bruxelas, em alguma época próxima a 1940. Ali, Tintim compra a bela miniatura de uma caravela, o Licorne do título, que imediatamente passa a ser disputada por mais dois homens. O interesse deles não é ocasional pois, sem que Tintim saiba, a miniatura esconde em um dos mastros a pista da localização de um tesouro histórico. Tintim é envolvido numa trama patrocinada pelo diabólico Saccarin, descendente do malvado pirata Rackham o Terrível, que pretende recuperar o tesouro perdido a qualquer custo.
A partir daqui, a história segue o roteiro de O caranguejo das pinças de ouro. Seqüestrado pelos asseclas de Saccarin e aprisionados no cargueiro Karabudjan, Tintim e seu cachorrinho Milu conhecem Haddock, o alcoólatra porém inocente capitão do navio. Juntos, eles vão lutar para impedir a concretização dos planos nefastos do vilão. A aventura os levará do meio do Oceano Atlântico ao deserto do Saara, de uma perseguição alucinante pelas ruas de uma cidade árabe no melhor estilo Indiana Jones – que parece ter sido inspirada num trecho de O cetro de Ottokar –, ao duelo final entre Haddock e Saccarin esgrimindo com guindastes enormes no porto de Bruxelas, uma cena que não me lembro de ter visto em nenhuma das aventuras originais. O desfecho da história utiliza a conclusão de O tesouro de Rackham o Terrível.
Um gancho óbvio antecipa a seqüência que, desde o início, está prometida para Peter Jackson e será baseada nas histórias As sete bolas de cristal e O templo do sol. A terceira e última parte será dirigida pelos dois cineastas, contando as histórias de Rumo à Lua e Explorando a Lua, o maior clássico da carreira do personagem.
Mesmo quem nunca ouviu falar de Tintim não terá dificuldade para aproveitar o filme, que se sustenta por si, mas aqueles que já o conhecem vão encontrar inúmeras referências espalhadas pelas cenas, que tornam a experiência cinematográfica ainda mais divertida.
As Aventuras de Tintim: O segredo do Licorne é um delicioso filme de ação, mas também é uma homenagem emocionante ao gênio de Hergé, recuperando legitimamente para as novas gerações uma das obras primas da arte dos quadrinhos.
Mais informações sobre Tintim no Um Blog! no Planeta Mongo.
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