sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Lembrando do que nunca aconteceu


O grande evento da FC internacional no momento não é o longa supervitaminado Avatar, de James Cameron. Nem um novo livro de Willian Gibson ou a nova HQ de Moebius. É a nova temporada de Lost, seriado televisivo norteamericano produzido pela ABC e exibido no Brasil pela AXN.
Desde a sua estreia em 2004, Lost vem intrigando os expectadores com sua história multifacetada, construída inicialmente a partir de flashbacks, com uma grande quantidade de personagens apaixonantes que, depois de sobreviver milagrosamente a um acidente aéreo numa ilha no Pacífico sul, além dos dramas convencionais das histórias de náufragos, encontram um ambiente exótico que mistura fantasia e ficção científica, a princípio um tanto casualmente, mas que vai ficando cada vez mais importante na trama.
Foi apresentada uma tal quantidade de mistérios nas duas primeiras temporadas, que muitos expectadores criticaram-na duramente, sugerindo que seu autor, o cineasta J. J. Abrams, nunca poderia dar uma explicação satisfatória para tudo o que foi mostrado.
Mas a maioria dos expectadores está se lixando para as explicações, porque o que realmente interessa é ver o que vai acontecer com aquele bando de maravilhosos infelizes.
Abrams usou o grande trunfo de não apresentar, logo de cara, a verdadeira natureza da ilha onde o avião despencou. Tal como nos longa metragens Alucinações do passado (Jacob's ladder, 1990), Clube da luta (Fight club, 1999) e A vila (The village, 2004), o enredo de Lost está subordinado a um dado prévio, deliberadamente omitido, que turva a compreensão que o expectador tem dos fatos. No caso destes filmes, a revelação final acrescenta brilho a trama, e é isso que se espera também de Lost.
Em sua sexta temporada, Lost assumiu o inegável rótulo de ficção científica, sendo provavelmente o melhor seriado de TV produzido desde Além da imaginação (Twilight zone). Suas ponderações sobre a natureza do tempo e do espaço avançam temerariamente sobre o imponderável plano da ciência quântica, algo que dito deste forma pode fazer parecer que ninguém vai mesmo entender seja lá qual for a solução apresentada. Mas não é o que está acontecendo.
O roteiro extremamente bem montado e inteligente, aos poucos vai refinando o foco na história que, no processo, faz uma infinidade de referências que levam os fãs à loucura.
Abrams também joga com uma série de possibilidades dramatúrgicas, espalhando peças de curta metragem para serem vistas em celulares ou na internet, que podem ou não revelar detalhes importantes.
Também ousou ferramentas narrativas inovadoras, como o flashfoward (lembranças do futuro) e o flashsideway, (recordações de uma outra realidade). Parece mesmo que Abrams está obcecado por viagens no tempo e universos paralelos, que ele também inseriu no seu outro seriado de TV, Fringe, e no longa que fez em 2009 para a franquia Star Trek.
A temporada promete explicar quase tudo nos 17 episódios desta que é sua temporada conclusiva. Cada capítulo conta um segredo, embora na maior parte da vezes não explique nada de verdade.
Os capítulos inéditos de Lost são exibidos pela AXN nas noites de terça-feira, às 21 horas.

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