terça-feira, 24 de novembro de 2009

Anno Dracula

Em 1997, quando eu e meus colegas estávamos estruturando o projeto da editora Ano-Luz, discutimos quais seriam os títulos estrangeiros pelos quais pretendíamos batalhar. O primeiro título sempre fora Starship Troopers, de Robert Heinlein que inaugurou nossos trabalhos no início do ano seguinte, mas naquele momento ainda não sabíamos o tamanho da encrenca que é publicar um livro estrangeiro, o que só aprenderíamos a duras penas meses depois.
Como sonhar era de graça, estávamos dispostos então a adquirir pelo menos dois outros títulos: The postman, de David Brin, autor que havia construído alguma fama devido aos contos que apareceram na Isaac Asimov Magazine, e Anno Dracula, de Kim Newman, um escritor britânico então completamente desconhecido que desenvolvera um trabalho interessante de ficção fantástica.
O primeiro caiu da pauta assim que o filme estreou nos EUA e faturou meia dúzia de imerecidas Framboesas de Ouro, e o segundo depois que descobrimos que não sabíamos vender livros. Desde então, todos nós esperamos que alguma editora de porte descobrisse esses títulos e os disponibilizasse aos leitores brasileiros.

Finalmente, a editora Aleph, que nos últimos anos tem reforçado seu catálogo com diversos títulos de FC&F, especialmente republicações como os clássicos A laranja mecânica, de Antony Burgess, O homem do Castelo Alto, de Philip K. Dick e Fundação, de Issac Asimov, atendeu aos constantes pedidos de uma legião de fãs de horror e FC e colocou nas livrarias brasileiras a tradução de Anno Dracula, um romance icônico da moderna FC britânica, sequência direta do clássico de Bram Stocker, que conta a história intrigante de uma realidade em que o Conde Drácula realmente existe e, através de sua influência poderosa, assume o poder na Grã Bretanha do final do século XIX ao desposar a Rainha Vitória. Daí parte uma grande quantidade de alterações históricas que levam os fatos desse universo alternativo a uma escalada de dramas bizarros surpreendentes, que envolvem ainda o famoso assassino serial Jack o Estripador.
Devido ao seu formato incomparável, Anno Dracula é um romance difícil de classificar, não porque não se possa descobrir o que ele é, mas porque é difícil definir o que ele não é. Trata-se de ficção científica na medida em que se insere no espaço de influência da história alternativa, com o qual se identifica de imediato devido aos muitos personagens reais que utiliza. Pode ainda ser visto como um trabalho steampunk, devido a sua ambientação vitoriana. Também é uma ficção alternativa, já que apresenta como protagonista um personagem de ficção reinterpretado e que, não por acaso, é um vampiro, o que permite ao texto a legítima classificação no gênero horror, como aliás a editora o está apresentando aos leitores. Alguns ainda podem ousar classificá-lo com o indevassável rótulo de new weird, que muita gente gosta mas ninguém consegue explicar direito o que é.
Mas tudo isso não importa, desde que a história empolgue os leitores brasileiros da mesma forma que encantou os leitores britânicos.
Anno Dracula já está a venda no site da editora Aleph, pela singela quantia de R$49,90. Bela opção para um auto-presente de Natal.

Um comentário:

  1. Não conhecia Anno Dracula mas me interessei, vou procurar pra comprar. Isso de ser um livro difícil de classificar me lembrou os livros de Tim Powers publicados pela editora 34, que eram uma mistura de gêneros que tornava a leitura extremamente prazerosa (tanto que já li os dois umas três vezes...)

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