quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Um Jabuti para a fantasia brasileira

Já há muito tempo que o fandom brasileiro espera que o mainstream literário reconheça o valor de seus autores. Durante um tempo, fizemos nossos próprios prêmios - como o Prêmio Nova, que ajudei a promover durante alguns anos - na expectativa que a divulgação dos ganhadores pudesse influir de alguma forma nessa relação. Funcionou apenas internamente e, mesmo assim, durante pouco tempo, sem ter chegado a causar interesse fora dos muros do fandom.
Encerrada a aventuras dos prêmios, os olhos dos fãs voltaram-se para os prêmios literários consagrados, como o Prêmio Jabuti, o mais importante do país. Como alguns de nossos autores começaram a ser publicados em grandes editoras, renovou-se a esperança que a FC&F brasileira finalmente ganhasse visibilidade e pelo menos ombreasse o sucesso dos autores da chamada primeira onda da ficção científica brasileira. Fausto Cunha, um dos líderes daquela geração, escritor, tradutor e editor, ganhou um Jabuti em 1971 pelo ensaio O Romantismo no Brasil. E eu gosto de pensar que a ficção científica brasileira ganhou um Jabuti em 1977, quando Herberto Sales levou o prêmio pelo romance O fruto do vosso ventre, ainda que se possa questionar se ele e seus pares reconheciam que o romance era ficção científica de fato.

Enfim, como não me incomodo com essas polêmicas, pra mim não há nenhuma ansiedade. O fandom já ganhou pelo menos dois Jabutis - sem falar nos de ilustração, que são importantes mas não contam aqui porque são do pessoal dos quadrinhos, não da literatura.
Mesmo assim, não posso deixar de festejar efusivamente esta grande notícia: Braulio Tavares, um dos mais convictos e expressivos autores do fandom, ganhador de diversos Prêmios Nova, acaba de levar um Jabuti na categoria livro infantil pelo conto de fantasia A invenção do mundo pelo Deus-Curumim, publicado pela editora 34 Letras, que há alguns anos até tentou emplacar uma coleção de FC, mas infelizmente só ficou em duas edições. A história é inspirada em lendas indígenas e vem acompanhada pelas ilustrações de Fernando Vilela.
Braulio Tavares é paraibano de Campina Grande, há anos radicado no Rio de Janeiro. Escritor, poeta, compositor e jornalista, autor dos livros O que é ficção científica, A espinha dorsal da memória/O mundo fantasmo e A máquina voadora, entre outros. Mantém uma coluna diária no Jornal da Paraíba, na qual fala de um bocado de coisas, inclusive ficção científica. Acompanho há anos esses textos divertidos, muitas vezes geniais, através de pacotes periódicos que Braulio gentilmente encaminha a minha caixa postal.

Braulio gosta de trabalhar com literatura infanto-juvenil e o faz muito bem. Em 1998 publicou, pela mesma editora, o livro infantil A pedra do meio-dia ou Arthur e Isadora, em que narra na forma de poemas de cordel uma aventura no estilo das histórias de fadas. Já merecia um Jabuti por ele, mas como se diz, o que é do homem o bicho não come. O prêmio é mais do que merecido.
Uma curiosidade – e não posso deixar de dizer que é motivo de orgulho para mim – é que o Hiperespaço foi a primeira publicação a veicular a ficção de Braulio Tavares, em sua edição 11, especial de contos, de 1986.
É bom saber que um autor que viajou no Hiperespaço e que acima de tudo é um amigo pessoal, realizou um feito dessa categoria.
Parabéns Braulio.


Cesar Silva e Braulio Tavares durante a III FantastiCon, em 2009.

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