sexta-feira, 3 de julho de 2009

Cia. das Letras e o fantástico

Recebi há poucos dias a newsletter da editora Companhia das Letras, promovendo seus lançamentos na FLIP deste ano. Corre na boca do povo o conceito que essa grande editora desprezaria a ficção fantástica e até mesmo atuaria deliberadamente como obstáculo ao estebelecimento da literatura de gênero no país, impondo o seu padrão editorial ao mercado. Mas desde que assinei sua newsletter há uns dois anos, não é o que tenho percebido.
Ainda que a figura de uma empresa hegemônica seja antipática aos representantes de um gênero que não consegue se impôr comercialmente - como acontece com a literatura fantástica no Brasil - as agruras e descaminhos da FC&F brasileira não me parecem derivadas de qualquer responsabilidade dessa editora. Tanto é que, apenas neste relise, percebi pelo menos três títulos bastante afinados com os interesses dos leitores de ficção fantástica, e mais um que se não é,
pode estar em seus contrafortes (os comentários foram extraidos do próprio relise da editora):


O escorpião encalacrado, Davi Arrigucci Jr.
Uma interpretação exemplar da obra do escritor argentino Julio Cortázar. Enquanto deslinda as linhas mestras da ficção cortazariana, Arrigucci investiga questões colocadas pela melhor literatura contemporânea. Reedição de uma das obras máximas do ensaísmo brasileiro.

O medo e o mar, Maria Camargo

Dois jovens irmãos voltam a Paraty pela primeira vez depois da morte da mãe. Enquanto tentam adequar-se à nova vida, as crianças tornam-se protagonistas de uma história de fantasmas e piratas, tesouros e aventura, ambientada na Paraty dos dias de hoje.


Tempo de travessia, Eliana Martins e Rosana Rios
Depois de O último portal, e dando continuidade à série O segredo das pedras, Tempo de travessia é mais do que uma aventura emocionante: personagens e mundos imaginativos transmitem ao leitor importantes informações a respeito da ciência, da mitologia e da história do mundo todo.

Órfãos do Eldorado, Milton Hatoum

Com a novela Órfãos do Eldorado, na pele de personagens como Arminto e Dinaura, Florita e Estiliano, Milton Hatoum concentra - num relato de sonho e pesadelo, ambientado no final do ciclo seringueiro na Amazônia - a vasta matéria que vem explorando desde Relato de um certo oriente, Dois irmãos e Cinzas do norte.

Bom saber que até autores identificados com o fandom, como a veterana Rosana Rios, está emplacando seus trabalhos por esse prestigiosa editora. Um sinal inequívoco de que a era de combates entre o mainstream e a literatura de gênero passou, se é que, como eu sempre desconfiei, isso nunca tenha passado de uma mitologia entre os colecionadores de livros de FC.

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