Um dos fatos mais esperados para 2019 era que a obra de Monteiro Lobato, escritor que o Brasil perdeu em 1948, caíssem em domínio público pois, pela lei brasileira, a obra de um autor deixa de ser propriedade privada de seus herdeiros a partir do dia 1 de janeiro do ano subsequente aos 70 anos da morte do mesmo. Há muito tempo que autores que cresceram lendo os livros de Lobato tinham intenções em citar, homenagear, reler ou mesmo samplear suas histórias, especialmente aquelas do ciclo do Picapau Amarelo, que se tornou uma franquia de sucesso para várias gerações.
E 2019 não deixou por menos. Por exemplo, Narizinho: A menina mais querida do Brasil, do escritor Pedro Bandeira, oferece uma versão atualizada das histórias do Picapau Amarelo, retirando expressões racistas, empretecendo Narizinho e deliberadamente excluindo Pedrinho das histórias. E nos quadrinhos, tivemos o Rancho do Corvo Dourado, que levou os personagens a uma distopia apocalíptica.
O fandom literário de ficção fantástica também debruçou-se na obra lobatiana com a antologia O lado sombrio do sítio, organizado por Felipe S. Mendes para a editora Lura. Como o título já revela, trata-se de uma releitura de Lobato em tons de horror. O volume de 288 páginas traz 43 textos de autores como Mayara de Godoy, Rômulo Baron, João Peçanha, Wanise Martinez e André Vianco.
Resta saber o que os administradores da propriedade intelectual de Lobato acham disso tudo. Como se pode ver no episódio 56 do podcast Poranduba, "Folclore e direitos autorais", a exploração de obras em domínio público pode não ser tão livre quanto se acredita.
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