Do alto de suas 496 páginas, Fractais tropicais posta-se como pedra fundamental para um cânone da fc nacional, pois faz um levantamentos técnico, estilístico e histórico do gênero a partir das "Ondas" de autores vinculados ao movimento dos fãs (fandom), conceito consagrado entre os estudiosos do gênero. Dessa forma, o volume se divide em três partes correspondendo a cada uma das ondas, apresentadas em ordem cronológica inversa, ou seja, iniciando pela terceira e voltando no tempo, como numa viagem ao passado, o que faz todo o sentido num livro de fc.
Dessa forma, o volume se inicia com a "Terceira Onda", formada pelos autores que exercitam o gênero a partir do estabelecimento das redes sociais da internet na virada para o século 21, com textos de Cristina Lasaitis, Ana Cristina Rodrigues, Lady Sybilla, Cirilo Lemos, Alliah; Santiago Santos, Márcia Olivieri, Andréa del Fuego, Luiz Brás (heterônimo do próprio organizador), Ademir Assunção, Tibor Moricz e Ronaldo Bressane.
Na "Segunda Onda", também chamada de Geração dos Fanzines, aparecem os autores que produziram seus trabalhos ao longo dos anos 1980 e 2000 nas páginas das publicações independentes – período em que o gênero não tinha nenhum espaço no mercado formal –, dentre os quais Oliveira selecionou textos de Braulio Tavares, Ivanir Calado, Carlos Orsi, Lucio Manfredi, Fabio Fernandes, Ataíde Tartari, Finísia Fideli, Gerson Lodi-Ribeiro, Jorge Luiz Calife, Roberto de Sousa Causo, Ivan Carlos Regina, Octávio Aragão e Fausto Fawcett.
Finalmente, a "Primeira Onda", com uma seleta de autores clássicos publicados nos anos 1960 e 1970: André Carneiro, Dinah Silveira de Queiroz, Fausto Cunha, Jeronimo Monteiro e Rubens Teixeira Scavone. Poderia continuar ainda mais ao passado, recuando à era pré-fandom que tem exemplos importantes desde o século 19, mas isso por certo enfraqueceria os objetivos mais imediatos do volume.
Percebe-se que, ainda que o organizador tenha se empenhado em dar alguma representatividade aos gêneros, sempre, e ainda hoje, predomina a presença masculina entre os autores. Embora nos demais gêneros da literatura fantástica, como a fantasia e o terror, haja uma presença feminina mais expressiva, e a Terceira Onda realmente mostre um aumento na variedade autoral, a fc continua sendo o Clube do Bolinha da literatura, fantástica, e esse será um panorama difícil de mudar, pois os protocolos do gênero, estabelecidos nos anos 1940 e 1950 nas revistas pulp americanas, privilegiavam o público adolescente masculino.
Outras análises podem ser obtidas, mas é conveniente deixá-las para outra oportunidade. O importante agora é destacar que, com Fractais tropicais, a ficção científica dá um passo importante em direção ao estabelecimento de um campo respeitável na literatura nacional.
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