quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Argos 2016 em números

O Clube de Leitores de Ficção Científica-CLFC divulgou há poucos dias a planilha final dos votos recebidos para o prêmio Argos 2016, que aponta, na opinião de seus membros, os melhores trabalhos nacionais publicados no Brasil em 2015 nas categorias Romance, Conto e Antologia.
É possível ver a relação sem nenhum filtro, mas é preciso um pouco de atenção para entender o que ela mostra. Interessado que sou pelos números, mais exatamente pelas informações estatísticas ligadas ao fandom, estudar uma planilha como essa revela muitas coisas para além dos escolhidos, conhecidos numa cerimônia de premiação no Rio de Janeiro, no último dia 26 de novembro.
Os vencedores foram, na categoria Romance, O império de diamante, de João Beraldo; "O último caçador branco", de Luiz Felipe Vasques, e Monstros Gigantes: Kaiju, de Luiz Felipe Vasques e Daniel Ribas, levaram os prêmios nas outras duas categorias. A grande vencedora da premiação, contudo, foi a Editora Draco, publicadora de todos os três premiados. Não foi a primeira vez que aconteceu, pois em 2012, quando o Argos tinha apenas as categorias Romance e Conto, isso já havia ocorrido. O que reforçou a hegemonia neste ano foi  que o seu editor, Erick Sama, também foi homenageado com um prêmio especial.
Mas vamos aos números.
Houve um total de 48 votantes, e variou muito a composição dos votos. Nenhuma categoria teve participação total e houve uma grande quantidade de votos em branco. Cada categoria pede o voto de dois títulos, em primeira e segunda posições. A contagem dos pontos – se segue os mesmos critérios de 2012 – é de 2 pontos para o voto em primeira posição e 1 ponto para o voto em segunda posição.
A categoria Romances recebeu um total de 62 votos: 34 para 1º, 25 para 2º e 3 votos inválidos (livros de autores estrangeiros que não participam do certame). O vencedor, O império de diamante, recebeu 15 pontos, com seis primeiros lugares. O segundo colocado foi Estação Terra, de Odimer Nogueira (12 pontos, quatro primeiros lugares); o terceiro foi E de extermínio, de Cirilo Lemos (11 pontos, três primeiros lugares); em quarto, empatados Encruzilhada, de Lúcio Manfredi e Estranhos no paraíso, de Gerson Lodi-Ribeiro (9 pontos, quatro primeiros lugares cada). Outros 20 títulos aparecem na sequência. Percebe a ausência dos grandes nomes do gênero, embora Eduardo Spohr e Leonel Caldela tenham sido lembrados em posições de fundo.
A categoria Contos foi a mais concorrida: recebeu 64 indicações, sendo 33 para primeira colocação, 28 para a segunda e 3 votos inválidos (um texto de 2016, um romance e um texto estrangeiro). O vencedor, "O último caçador branco", recebeu 14 pontos (seis primeiros lugares). Em segundo, Diamante truncado, de Carlos Orsi (8 pontos, três primeiros lugares); em terceiro A invasora, de Fabio Barreto (6 pontos e três primeiros lugares); em quarto lugar, "Lolipop", de Claudia Duguin (5 pontos, um primeiro lugar), e em quinto, empatados, "Fita de Moebius", de Valter Cardoso, "A noiva diminuta", de Clara Madrigano, "Cruzeiro do Sol", de Edgar Smaniotto, O tesouro de mares gelados, de Ana Lucia Merege e "Dandara, rainha guerreira de Palmares", de Newton Nitro (todos com 3 pontos e um primeiro lugar). Aqui cabe uma observação: apesar do empate quíntuplo, apenas "Fita de Moebius" e O tesouro de mares gelados figuraram entre os finalistas divulgados antecipadamente. Talvez houvesse alguma invalidade nos demais títulos ou este contador incompetente tenha errado nos cálculos. De qualquer forma, isso não mudaria o resultado pois a votação já estava encerrada. Seguem-se mais 28 títulos, que denotam uma pulverização bem maior que na categoria Romances. Ana Lúcia Merege, Edgar Smaniotto, Sid Castro e Gilson Cunha foram lembrados com dois títulos cada.
A categoria Antologias foi a menos votada: recebeu apenas 45 indicações, 23 em primeiro lugar, 16 em segundo e 6 votos inválidos (uma hq, um conto e três livros publicados em outros anos). O vencedor foi Monstros gigantes: Kaiju (22 pontos, dez primeiros lugares), sendo de longe a maior unanimidade do certame. Em segundo vem Estranhas histórias de seres normais (6 pontos, três primeiros lugares); em terceiro Space Opera 3 (6 pontos, dois primeiros lugares), em quarto Samurais e ninjas (6 pontos, nenhum primeiro lugar). Na quinta posição, Herdeiros de Dagon (4 pontos, dois primeiros lugares). Na sexta posição, empatados, Tempos de fúria, de Carlos Orsi, e o periódico Imaginários 6. Apesar do empate, Tempos de fúria, única coletânea (seleta de um único autor) citada na categoria, não figurou entre os finalistas divulgados antecipadamente, porque a organização contabilizou um voto inválido para Imaginários 6 (esse voto foi dado nominalmente para o volume número 2). Seguem mais sete títulos, revelando que os leitores de hoje, apesar de ainda darem atenção especial à categoria Contos, não parecem tão interessados em antologias como em outros tempos.
É claro que não podemos tirar desta pesquisa em um universo limitadíssimo, conclusões para o fandom como um todo. Num ano de ampla variedade de editoras trabalhando a fc&f, inclusive algumas grandes, todos os votos serem conduzidos a uma única casa é algo bastante incomum. Por certo, revela que as pessoas ligadas ao CLFC dão preferência ao que essa editora em especial tem publicado, e não mais do que isso. Afinal, cada editora tem seu público, e acontece da Draco ter no CLFC uma fidelidade incontestável, maior até que a seu próprio veículo, o fanzine Somnium, que não emplacou nenhum conto entre os finalistas.
Para checar estas informações e tecer suas próprias conclusões, visite a planilha aqui.

6 comentários:

  1. A Draco também se destaca pelo marketing... Pessoalmente eu não lembro do nome de nenhuma outra editora que dá destaque à suas publicações nacionais quanto à Draco. Sei que existem outras, mas o fato deu não lembrar do nome, já diz algo a respeito.

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    1. A Draco só tem publicações nacionais, não trabalha com traduções. De estrangeiros, apenas alguns portugueses nas coletâneas e um americano que mora no Brasil e escreve em português.

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  2. Olá! Só para esclarecer que a antologia Monstros Gigantes - Kaiju foi organizada por mim e Daniel Russel Ribas, e que, de nós dois, foi quem deu a ideia. Gostaria que esta informação fosse corrigida e o crédito dado a nós dois.

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    1. Obrigado pela observação, Luiz Felipe. Já está creditado.

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  3. Pessoal, a coletânea Medieval saiu este ano, foi lançada na Bienal de São Paulo. Eu acho que ela deve ser considerada para o ano que vem!

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    1. Obrigado pela observação, Ana. Já corrigi o texto quanto a isso.

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