Esta semana, recebi mais uma edição do fanzine Quadrinhos Independentes, editado por Edgard Guimarães, referente a maio/junho de 2011. Trata-se de um dos últimos fanzines dos anos 1990 ainda em publicação em papel. Não que haja muitos outros fanzines dessa época em publicação, mas pelo menos um, o Juvenatrix de Renato Rosatti, também se sustenta, contudo em edição virtual há uns três anos.
O caso é que a era dos fanzines parece ter mesmo se encerrado. Quase não são mais publicados e até o catálogo de edições independentes, que era o foco principal do QI em seus primeiros 15 anos de publicação, não tem mais relevância: nesta edição, acupa apenas duas das 20 páginas do fanzine.
O QI parece sofrer do mesmo mal que tem acometido algumas das principais referências dos quadrinhos do Brasil, como o site Bigorna, que anunciou há poucas semanas o encerramento de suas atividades, e o Prêmio Angelo Agostini, que pode ser descontinuado com a aposentadoria de seu principal articulador, Worney Almeida de Souza, não por acaso, também um dos articulistas do QI.
Pouco a pouco, as minhas mais nefastas previsões, feitas ainda no século XX, estão se concretizando. Com a falta de leitores e de publicações, restrito as livrarias e a um público elitista, os quadrinhos nacionais experimentam seus últimos suspiros. Não devem demorar muito mais, já que a maior parte do que é publicado tem sido fruto de incentivos públicos.
Mas, voltando ao QI, esta edição traz artigos de Edgar Indalécio Smaniotto, Marcelo Marat, do já citado Worney e do próprio editor, além das seções fixas "Fórum", com cartas dos leitores, o catálogo de publicações do bimestre e mais quatro páginas da hermética série "Fazenda de robôs", de Guimarães, que há algum tempo não tem mais nada de fazenda nem de robôs, mas na falta de um nome melhor, continuo chamando assim.
A sensação que tenho ao receber e ler as edições do QI é boa, mas está cada vez mais carregada de um desagradável travo de nostalgia, lembranças de um tempo em que as coisas pareciam não estar tão irremediavelmente perdidas, embora as sementes do destino fatal que hoje observamos já estivessem enraizadas.
Edgard Guimarães não é de desistir fácil. Neste momento, o seu fanzine já é um sobrevivente. Mas quando iniciativas como as citadas acima mostram que chegaram ao limite, temo que o QI não dure muito mais.
Gostaria de dizer que vale a pena aproveitar enquanto ele ainda dura, mas o QI se parece cada vez mais com um daqueles monumentos em homenagem a um personagem que ninguém mais se lembra, e que virou apenas um marco perdido no meio de uma velha praça mal cuidada, a qual ninguém mais dá atenção.
O QI só é vendido em forma real e por assinatura. Mais informações com o editor, pelo email edgard@ita.br.
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