Ainda pode ser encontrado nas bancas este surpreendente lançamento da Editora Mythos, que reúne em uma única edição de 100 páginas, totalmente em cores, duas histórias completas deste personagem que faz parte do universo da revista britânica 2000 AD, a mesma que publica o sempre interessante Judge Dredd.
Com roteiros de Mark Millar e Kek-W e a arte exuberante de Chris Weston, A lei de Canon – Canon Law!, no original – conta a história de um violento e casca-grossa padre inquisidor que pune os pecadores mais ou menos da mesma forma que Dredd faz com os criminosos. Contudo, Canon não vive no mundo futurista de Dredd, mas numa realidade alternativa na qual o dia do juízo final chegou, todos os mortos ressuscitaram mas Deus não apareceu para julgar a humanidade. Um ano depois, enquanto os ressurretos aguardam a definição de suas sentenças, o mundo tornou-se um lugar caótico, super populoso, no qual convivem anônimos e famosos de todas as épocas. Na primeira aventura, Shelock Holmes e seu arqui-inimigo Moriarty suicidam-se juntos para ir ao céu matar Deus. Canon, com a ajuda de Watson e do gênio psicopata Microft, irmão de Sherlock, seguem-nos através de um portal místico para evitar que eles cumpram seu intento. Mas o céu se revela um lugar bem pouco hospitaleiro para o grupo.
Na segunda história, um Canon em crise de fé depois de uma operação mal-sucedida, é convocado por um velho conhecido para ir a outro plano da existência, o Inconsciente Coletivo, e impedir que o irresistível monstro da maldade humana assuma o controle da realidade. Com a ajuda do Diácono Blue – um colega de Canon tão irascível quanto o próprio – e os ressuscitados Sigmund Freud, Albert Eisntein e Júlio Verne, Canon terá de enfrentar algo virtualmente invencível: sua própria maldade.
A ousadia do argumento, apresentada por um roteiro econômico que deixa milhões de perguntas no ar, só é superada pelos espetaculares desenhos de Weston, de um realismo que beira o doentio. A estética trafega entre a dark fantasy, o steampunk e o New Weird, e as imagens, repletas de referências da cultura pop, são um show pirotécnico delirante como uma viagem de ácido. O contexto das aventuras de Canon Law! é instigante e é uma pena que não haja mais histórias: tudo o que foi criado para o personagem está nesta edição.
Nas páginas centrais, a publicação encarta um poster de duas faces com imagens de cada uma das aventuras que, provavelmente, foram capas de suas edições originais. Uma delas, de fato, ilustra a capa da edição brasileira.
Uma obra de leitura obrigatória para os apreciadores do bom quadrinho e uma edição de luxo, em capa dura, estaria mais de acordo com sua singularidade artística. Mas, enquanto ela não vem, o preço camarada de R$16,40 vale cada centavo, com folga. Dificilmente 2014 verá outro lançamento com tanta originalidade e conteúdo.
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