O fanzineiro Renato Rosatti, editor do tradicional Juvenatrix, resistiu o quanto pode, mas abandonou há alguns anos a pratica de editar fanzines em papel. Juvenatrix foi um dos últimos fanzines de fc&f que saíram em papel, e parece ter se dado bem no formato virtual, uma vez que Rosatti continua firme publicando uma nova edição a cada 60 dias.
Mas, como todo fanzineiro das antigas, Rosatti deve sonhar com os velhos tempos e talvez tenha sido por esse motivo que, junto com Marcelo Milici, decidiram lançar, em papel, o fanzine Boca do Inferno, que também é um saite de referência na área do horror.
O fanzine é modesto: tem apenas 4 páginas em preto e branco, com artigos sobre cinema alternativo como A Morte e a morte de Johnny Zombie, Vermibus, Vontade, Sozinho, Coleção de humanos mortos e 6 tiros, 60 ml. Meu exemplar veio recheado com os encartes das mostras Espantomania 3 e Spaghetti Zombies, ambas realizadas em 2012.
O fanzine tem edição exclusivamente em papel e é distribuído gratuitamente em eventos.
Mais informações, pelos emails marcelomilici@yahoo.com.br e renatorosatti@yahoo.com.br.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
Resenha: A ordem dos arquivistas: Centésimo
Geralmente não escolho um livro pela capa, mas esta novela, estreia de Ricardo Sodré Andrade na literatura, publicada em 2012 pela Editora Literata, me chamou a atenção justamente por causa dela, mas não pelos motivos que se pode imaginar a princípio. Na verdade, a bela ilustração de Yuji Schmidt me remeteu ao conto "O longo caminho de volta", de Ana Cristina Rodrigues, um dos melhores textos antologia As cidades indizíveis publicado em 2011 pela Llyr Editorial.
Motivado por esse experiência positiva, iniciei a leitura de A ordem dos arquivistas: Centésimo, cujo exemplar me foi cedido pelo próprio autor, que é graduado em Arquivologia, mestre em Ciência da Informação e doutorando em Comunicação e Culturas Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia, o que antecipava um discurso metalinguístico que, entretanto, não procede.O trabalho apresenta influências do clássico Crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis, mas sem o mesmo corre-corre da série britânica. Apesar de ser situado num mundo alternativo, não se trata de um romance planetário nem de uma história alternativa.
Centésimo conta a aventura de Eli Saridem, jovem recém-formado na universidade, que busca por notícias de um tio querido, cujas cartas pararam misteriosamente de chegar. O tio desaparecido é um dos muitos filiados a Ordem dos Arquivistas, organização quase monástica dedicada a preservação de livros e documentos oficiais do reino de Astoril. O jovem empreende então uma longa viagem a sede da Ordem, onde acredita que poderá obter informações ou até mesmo encontrar o parente sumido. O lugar é um antigo castelo de medieval, como aliás o autor estruturou todo o universo da novela.
Eli tem os olhos cinzentos, uma característica rara que parece ter algo a ver com o mistério. A princípio, ele está unicamente interessado em localizar o tio, mas conforme vai se envolvendo no cotidiano da Ordem dos Arquivistas, começa a se interessar em tornar-se, ele mesmo, um membro dela.
Suas investigações o levam à um livro antigo escrito num alfabeto estranho, que parece ter relação com sua família e com os mistérios que cercam a Ordem, além de lendas sobre uma ilha mitológica onde se encontraria um portal para uma outra realidade de perfeição utópica.
A novela é despretensiosa, pausada, sem muitas reviravoltas e brutalismos, e sustenta bem o mistério, embora ele seja resolvido de uma forma um tanto rápida. O autor demonstra boa técnica na construção trama, seguindo a risca a premissa que todos os detalhes apresentados ao leitor devem ser úteis em algum momento, mas faltou uma revisão mais apurada ao texto, que apresenta repetições incômodas que poderiam ter sido corrigidas antes da publicação. Isto feito, qualificaria à novela aos leitores em idade escolar, devido a boa fluidez e acessibilidade que já estão presentes na narrativa. O volume é decorado com algumas gravuras belíssimas que não são creditadas, mas parecem ter origens diversas por conta do estilo variado.
Não há um gancho explícito para uma sequência, mas está claro que o universo de A Ordem dos Arquivistas: Centésimo tem potencial para ser explorado com mais profundidade.
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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
Lançamentos 2011
Como todo mundo já sabe, o Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica, a partir de sua edição para 2011, passou a publicar apenas uma relação parcial de recomendações de livros de ficção científica, fantasia e horror publicados no País durante o ano. A lista completa, bem como as análises estatísticas que caracterizaram a publicação em suas sete primeiras edições, deixaram de aparecer.
A decisão de não mais publicar a lista completa dos lançamentos teve como objetivo dar ao volume uma agilidade maior, tanto na produção como em sua leitura, investindo nas demais seções, especialmente as resenhas. Mas não há dúvida que a lista completa tem valor e faz falta. Para mim mesmo, a lista de lançamentos é a seção que mais frequento nas edições do Anuário.Tanto que, em 2012, publiquei aqui, numa sequência de diversos posts, a lista completa dos lançamentos que não saiu no Anuário 2011. Mas concordo que não é um documento fácil para o pesquisador.
Há alguns dias, recebi do amigo Alexandre Yudenitsch, a cópia impressa de um caderno que ele mesmo montou usando aquelas listas. Confesso que fiquei agradecido pela iniciativa dele, porque o caderno se provou utilíssimo e já me facilitou a vida algumas vezes.
Então, decidi oferecer aos colegas um documento um pouco mais organizado, com a lista completa dos lançamentos de literatura fantástica de 2011 montada exatamente como se fosse para a edição do Anuário, contudo, em arquivo pdf que pode tanto ser visualizado online quanto baixado para o hd do computador.
É claro que dizer que a lista é "completa" é um pouco de exagero, porque não é possível garantir que tudo tenha sido relacionado. Muitas vezes topamos com títulos desconhecidos anos depois de publicados, mas acredito que as ausências são poucas.
O Anuário impresso continuará a publicar apenas a lista de recomendados, mas vou tentar manter, em pdf, a edição da lista integral dos lançamentos, de forma a complementar o Anuário e facilitar a vida dos pesquisadores que, de mesma forma que eu, gostam de ter um acesso rápido à informação de referência.
O arquivo pode ser baixado gratuitamente aqui. Use a abuse.
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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Resenha: Fantasia com sabor de caju e medo
Entre os muitos lançamentos de fantasia de 2012, recebemos o terceiro volume da série Duplo Fantasia Heroica, da coleção de livros de bolso Asas do Vento, da Devir Livraria. Como nas edições anteriores, trata-se de um volume com duas histórias de fantasia de autores diferentes, ambas com predominantes aspectos brasilianistas.
No primeiro número, lançado em 2010, foram publicadas as noveletas "O encontro fortuito de Gerard van Oost e Oludara", que inaugurou a série A Bandeira do Elefante e da Arara de Christopher Kastensmidt, autor norteamericano radicado no Brasil, e "A travessia", de Roberto de Sousa Causo, uma história da série do índio Tajarê, iniciada no livro A sombra dos homens (Devir, 2004).
O número dois, lançado no finalzinho de 2011, trouxe "A batalha temerária contra o capelobo", sequência da história de Kastensmidt com a dupla de aventureiros Gerard e Oludara no Brasil colonial, e "Encontros de sangue", de Causo, também uma sequência à aventura de Tajarê vista no primeiro volume.Nesta terceira edição, aparece mais um episódio da série de Kastensmidt, "O desconveniente casamento de Oludara e Arani", fazendo par com a novela "O relato do herege", da experiente fantasista gaúcha Simone Saueressig.
Uma pequena correção talvez deveria ser aplicada a descrição que Gerard faz do caju, fruta natural do Brasil que todos nós conhecemos muito bem, mas que deve ter parecido realmente estranha para um europeu do século 16. Quando Gerard vê a fruta no pé, o autor a descreve como "uma fruta vermelha com um estranho caracol marrom crescendo no topo." A descrição até que está bem próxima da visão que um estranho teria de um caju numa bandeja mas, no pé, o "caracol" deveria ser visto em baixo, e não no topo da fruta. No mais, está tudo muito bem, e o texto é bastante satisfatório para o leitor brasileiro.
O texto leve e bem humorado de Kastensmidt contrasta fortemente com o conto de Simone Saueressig, que deixa bem claro, logo de cara, que não está para brincadeiras. Trata-se de uma história de horror sobrenatural, território muito familiar da autora, que estreia na Devir, mas tem uma sólida carreira literária. Simone já publicou dezenas de títulos por editoras como a L&PM e Scipione, sendo que tem em seu currículos alguns títulos de grande vendagem, como A noite da grande magia branca e A máquina fantabulástica. Em 2012, Simone publicou a antologia Contos do Sul, com cinco histórias de horror apoiadas no folclore brasileiro, linha na qual "O relato do herege" também está inserida.
A história conta, em forma de diário, o drama de Indigo Ruiz Lopes, um herege espanhol desterrado no sul do Brasil, em 1637. Em meio a um cenário desolador, ele testemunha a truculência do ambicioso capitão de uma missão, que abusa de sua autoridade na exploração de seu pequeno império, sustentado com mão de ferro. O odioso líder sabe das acusações que pesam sobre o herege e, quando descobre que ele realmente pode conjurar demônios, manobra as coisas de forma a tê-lo em suas mãos para chamar a maior de todas a entidades sobrenaturais da mitologia indígena e usá-la em seu próprio benefício.
O tom da novela de Simone é trágico e perturbador, como numa história de H. P. Lovecraft, em que a simples visão de um desses seres poderosos pode levar a loucura, na melhor das hipóteses. O cenário insalubre, gelado, úmido e miserável, contribui para que o leitor se sinta ainda menos confortável com toda a situação do pobre herege que, por si, já seria suficientemente desagradável. Mas as cenas de ação são tão poderosas e impactantes que fazem valer todo o desconforto da situação.
Duplo fantasia heroica afirma-se como um projeto editorial consistente e interessante, muito bem conduzido pelo editor Douglas Quinta Reis, e deve ser privilegiada na lista de leituras de todos aqueles que desejam conhecer uma das melhores propostas já apresentadas para uma ficção fantástica autenticamente brasileira.
No primeiro número, lançado em 2010, foram publicadas as noveletas "O encontro fortuito de Gerard van Oost e Oludara", que inaugurou a série A Bandeira do Elefante e da Arara de Christopher Kastensmidt, autor norteamericano radicado no Brasil, e "A travessia", de Roberto de Sousa Causo, uma história da série do índio Tajarê, iniciada no livro A sombra dos homens (Devir, 2004).
O número dois, lançado no finalzinho de 2011, trouxe "A batalha temerária contra o capelobo", sequência da história de Kastensmidt com a dupla de aventureiros Gerard e Oludara no Brasil colonial, e "Encontros de sangue", de Causo, também uma sequência à aventura de Tajarê vista no primeiro volume.Nesta terceira edição, aparece mais um episódio da série de Kastensmidt, "O desconveniente casamento de Oludara e Arani", fazendo par com a novela "O relato do herege", da experiente fantasista gaúcha Simone Saueressig.
Na história de Kastensmidt, o escravo liberto Oludara está ansioso para se casar com a tupinambá Arani, mas ela hesita, embora também o ame. De fato, todos os membros da aldeia ficam perturbados com a notícia do casamento, mas ninguém revela o por quê. Irredutível, Oludara insiste e o casamento é marcado. Em clima de apreensão, a cerimônia começa, para logo ser interrompida pela aparição assustadora e violenta de uma nova entidade da natureza, o Curupira, que reivindica a primazia no casamento com Arani. As feras que o acompanham quase acabam com as vidas de Gerard e Oludara, mas Arani os salva aceitando desposar o Curupira, porém pede dois dias para se preparar. O monstro aceita, e esse é o tempo que os dois amigos terão para evitar que a promessa de Irani se cumpra. Para isso, terão de invadir os domínios de um ser ainda mais terrível, a Iara, no que serão auxiliados pela tímida Flor-do Mato, uma outra entidade das florestas.
Tal como os episódios anteriores, trata-se de uma história movimentada e divertida, com ambientação bem articulada e realista quanto às florestas brasileiras e sua fauna. Os seres mágicos, contudo, estão bem menos ferozes, e o Saci, assustador em sua primeira aparição, está até meio similar aquele que nos acostumamos a ver nas histórias de Monteiro Lobato.Uma pequena correção talvez deveria ser aplicada a descrição que Gerard faz do caju, fruta natural do Brasil que todos nós conhecemos muito bem, mas que deve ter parecido realmente estranha para um europeu do século 16. Quando Gerard vê a fruta no pé, o autor a descreve como "uma fruta vermelha com um estranho caracol marrom crescendo no topo." A descrição até que está bem próxima da visão que um estranho teria de um caju numa bandeja mas, no pé, o "caracol" deveria ser visto em baixo, e não no topo da fruta. No mais, está tudo muito bem, e o texto é bastante satisfatório para o leitor brasileiro.
O texto leve e bem humorado de Kastensmidt contrasta fortemente com o conto de Simone Saueressig, que deixa bem claro, logo de cara, que não está para brincadeiras. Trata-se de uma história de horror sobrenatural, território muito familiar da autora, que estreia na Devir, mas tem uma sólida carreira literária. Simone já publicou dezenas de títulos por editoras como a L&PM e Scipione, sendo que tem em seu currículos alguns títulos de grande vendagem, como A noite da grande magia branca e A máquina fantabulástica. Em 2012, Simone publicou a antologia Contos do Sul, com cinco histórias de horror apoiadas no folclore brasileiro, linha na qual "O relato do herege" também está inserida.
A história conta, em forma de diário, o drama de Indigo Ruiz Lopes, um herege espanhol desterrado no sul do Brasil, em 1637. Em meio a um cenário desolador, ele testemunha a truculência do ambicioso capitão de uma missão, que abusa de sua autoridade na exploração de seu pequeno império, sustentado com mão de ferro. O odioso líder sabe das acusações que pesam sobre o herege e, quando descobre que ele realmente pode conjurar demônios, manobra as coisas de forma a tê-lo em suas mãos para chamar a maior de todas a entidades sobrenaturais da mitologia indígena e usá-la em seu próprio benefício.
O tom da novela de Simone é trágico e perturbador, como numa história de H. P. Lovecraft, em que a simples visão de um desses seres poderosos pode levar a loucura, na melhor das hipóteses. O cenário insalubre, gelado, úmido e miserável, contribui para que o leitor se sinta ainda menos confortável com toda a situação do pobre herege que, por si, já seria suficientemente desagradável. Mas as cenas de ação são tão poderosas e impactantes que fazem valer todo o desconforto da situação.
Duplo fantasia heroica afirma-se como um projeto editorial consistente e interessante, muito bem conduzido pelo editor Douglas Quinta Reis, e deve ser privilegiada na lista de leituras de todos aqueles que desejam conhecer uma das melhores propostas já apresentadas para uma ficção fantástica autenticamente brasileira.
Ano novo a todo vapor
Que carnaval que nada! A Editora Novo Século não quis saber de folia e já divulgou um pacote de lançamentos de janeiro em sua coleção Novos Talentos da Literatura Brasileira, que há anos tem recheado as listas de publicações do Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica.
Pelo jeito, o ímpeto editorial não arrefeceu por causa da mudança do calendário e a editora apresenta nada menos que sete títulos nacionais inéditos de fc&f em janeiro.São eles: os romances de fantasia Os segredos de Landara: Redescobrindo o passado, de B. Camporezii, A rosa e o dragão, de Vanessa Pereira, A linhagem, de Camila Dornas, e A ordem perdida, de Gabrile Schmidt, a ficção científica Rio 2054: Os filhos da revolução, de Jorge Lourenço, e o horror Demônios da noite, de M. K. Takenada. E ainda, a coletânea de contos fantásticos Corpos para um vitral, de Ana Julia Poletto.
Todos os títulos contam com amostras gratuitas para degustação, basta acionar o link, experimentar e escolher aquele que irá preencher suas próximas horas de leitura. Bom apetite!
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domingo, 20 de janeiro de 2013
Saga de Xam
Durante algumas semanas, tive a sorte de usufruir da guarda de um exemplar original da raríssima novela gráfica Saga de Xam, publicada originalmente em 1967 por Eric Losfeld Éditeur, de Paris. Com roteiro de Jean Rollin e desenhos de Nicolas Devil, trata-se de um livro enorme, formato 250 por 320 mm, com 58 páginas em cores, em papel de alta gramatura – aproximadamente 300g – encadernadas com capas duras sem qualquer identificação externa além de uma resistente sobrecapa em cuchê; uma apresentação gráfica incomum, que poucas obras dos quadrinhos igualaram.
Herdeira direta de Barbarella, de Jean-Claude Forest, Saga de Xam foi revolucionária porque ousou perverter todas as regras dos quadrinhos, tanto no conteúdo quanto nas técnicas. Tratou do liberalismo feminino com ousadia, colocando em foco uma linda humanóide alienígena de exuberante corpo azul, inspirado na modelo Handa Humbert, que aparece desnuda por quase toda a narrativa. A personagem é independente, toma suas próprias as decisões e sustenta uma relação homossexual durante boa parte da história.Os desenhos são psicodélicos, complexos e detalhistas, e os balões enormes, com textos longos em letras bizarras. Muitos balões são sequer legíveis, sendo preenchidos com símbolos indecifráveis. As letras variam muito de tamanho dentro do mesmo balão, sendo às vezes tão pequenas que se faz necessário algum esforço na leitura. Dizem as lendas que as edições originais eram vendidas acompanhadas de uma lupa. As cores também são um elemento a parte, mudando bastante de um capítulo para o outro. Três coloristas trabalharam na edição: Jean-Pierre Gressin, Annie Merlin e Jacqueline Sieger.
A história está dividida em oito capítulos, nos quais o acabamento gráfico e a técnica narrativa mudam radicalmente entre si. Apesar do experimentalismo exacerbado já se apresentar desde as primeiras páginas, o capítulos iniciais ainda contam uma história inteligível.
Saga vem do planeta-mar de Xam, enviada por sua soberana para estudar a Terra e desenvolver uma proteção psíquica contra os invasores que ameaçam o seu planeta. Ela chega em meio a um grupo de cavaleiros medievais que acabaram de devastar uma aldeia. Capturada, é levada a um castelo onde as mulheres sofrem todo tipo de violência. Entregue ao feiticeiro Abdul Alhazred, Saga escapa mas é recapturada e amarrada a um poste de pedra onde será queimada viva. Mas ela descobre um botão oculto que, ao ser pressionado, transforma o poste de pedra em um veículo futurista com o qual Saga foge para o mar.
Enquanto manobra pelas ondas, Saga encontra um barco de guerreiros vikings com uma carga de mulheres sequestradas. Uma delas, chamada Zo, está sendo torturada amarrada a quilha do barco. Saga a liberta e ambas atacam os vikings, matando-os e assumindo o controle da embarcação. Saga decide partir, mas Zo se revela apaixonada por ela e ambas embarcam no veículo de Saga, deixando o barco viking entregue às mulheres. Nos saltos seguintes, Saga e sua amante passam por várias épocas e ficam algum tempo no antigo Egito. A partir de então, são acompanhadas em suas viagens pelo faraó Kractarus. Mais tarde, Saga retornará para sua dimensão, onde irá confrontar seus inimigos. A partir de então, a história fica ainda mais experimental e hermética: abandona os entrequadros, utiliza diagramações incomuns nos textos e até alguns códigos, cuja chave está disponível nas páginas finais do volume, para quem quiser decifrá-los.
Saga de Xam foi o divisor de águas entre o quadrinhos clássico e a moderna escola narrativa, abrindo o caminho para obras como Paulette, de Wolinski e Pichard, Valentina, de Guido Crepax, 5 x Infinitus, de Steban Maroto, Delirius, Philip Druillet, e toda a escola ligada a revista Métal Hurlant. Saga de Xam teve uma única tiragem de 5 mil exemplares e nunca foi republicada; elevada a categoria de obra de arte, seus exemplares são raros e valiosos.
Visto pelo distanciamento do século 21, Saga de Xam pode até parecer um tanto recatado e seu experimentalismo algo convencional, mas naqueles tempos reacionários e de violenta contestação social, era uma obra afinadíssima e relevante, sendo ainda hoje um mito na história dos quadrinhos.
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sábado, 19 de janeiro de 2013
Resenha: Idade da decadência, Inferno em Khallah
Idade da decadência: Inferno em Khallah é um romance de ficção científica escrito pelo método round robin, sob organização de Rogério Amaral de Vasconcellos que, além do próprio organizador, envolveu os autores Cláudia Furtado, Diva Bernardes Sepulveda, Edison Luis Raffi Silveira e Marco A. M. Bourguignon.
Round robin é uma brincadeira cultural entre amigos, na qual cada autor é responsável pela redação de um capítulo de uma história proposta pelo organizador, com liberdade para acrescentar o que bem entender e deixar um desafio para ser resolvido pelo autor seguinte, sempre preocupando-se em manter alguma coerência narrativa. Em tempos de baixa tecnologia, esse procedimento era realizado pelo correio e nem sempre funcionava a contento, mas com o advento da Internet foi muito facilitado. O processo que viabilizou a composição da obra foi batizado de Slev, sigla que significa Suruba Literária Experimental Virtual, nascida no saite Oficina de Escritores.A novela, dividida em três partes, tem cerca de 65 mil palavras no total e foi publicada no ano 2001 em formato digital e cópias por demanda. O exemplar analisado aqui foi impresso em jato-de-tinta e encadernado com espiral. Suas 146 páginas trazem também um glossário de neologismos, um quadro cronológico do planeta Khallah e um texto explicativo sobre sua história e geografia, acompanhado de um mapa do continente principal. O volume é apresentado como o livro dois de uma trilogia.
Trata-se de uma space-opera com muitas referências não disfarçadas a Duna (Frank Herbert), O senhor dos anéis (J. R. R. Tolkien), O mundo do rio (Phillip Jose Farmer), Crônicas de Majipoor (Robert Silverberg), O planeta dos dragões (Anne McCaffrey), diversos seriados de tv e filmes de cinema.
Conta a história de Lorn Cleópatra, clone da rainha Cleópatra do Egito, construída num planeta-babel chamado Khallah, no qual uma raça antiga e já desaparecida de alienígenas chamada Os Atemporais, instalou, por volta de 7900 AC, uma carrada de espécies sencientes coletadas de vários mundos destruídos por uma ameaça pouco explicada chamada Os Anéis.
Em Khallah, essas raças adaptaram-se e amalgamaram uma sociedade tribal por vários milênios, até a chegada da humanidade ao planeta, em 2390 DC. Mais avançados tecnologicamente, os humanos ali instalaram um gigantesco espaçoporto, construíram a cidade fortificada de Robotróia, considerada a jóia do universo, e impuseram aos autóctones um regime imperial de exploração e escravismo. Mas as viagens frequentes dos humanos acabaram por trazer a Khallah uma praga espacial chamada Fogo Alucinante, que matou dois terços da população, incluindo a humana, e jogou o planeta numa era de decadência política e tecnológica a partir de 2500 DC, isolando-o do universo.
A história relata os fatos a partir de 2575 DC, quando Robotróia passa por dificuldades políticas devido a atividades de guerrilheiros e terroristas. Essa nova Cleópatra, líder de um pelotão militar de elite a serviço da Imperatriz Numa de Robotróia, recebe ordens de atacar a comunidade paupérrima conhecida por Cinturão de Favelas, que cerca a cidade fortificada e abriga alguns desses guerrilheiros. O pelotão é formado exclusivamente por clones de personagens históricos como Mahatma Gandhi, Santos Dumont, John Lennon, e outros. Cleópatra vai envolver-se com alguns personagens alienígenas, principalmente Sykes, um nativo de aparência humanóide, ao ponto de converter-se a causa rebelde e enfrentar, ela mesma, a corrupta e devassa Imperatriz Numa e o poderio humano que dá suporte ao seu Governo.
Diga-se ainda que os Atemporais também foram os responsáveis pela coletagem das amostras de DNA humano ao longo da história da Terra. Os homens trombaram no espaço com uma nave abandonada pelos Atemporais e dela subtraíram boa quantidade de amostras, o que permitiu a clonagem desses personagens.
Apesar do cenário razoavelmente bem preparado, a equipe de escritores da Slev cometeu alguns pecados na construçâo do enredo de Idade da decadência: Inferno em Khallah. O principal deles talvez seja a escolha de um panorama clássico de space-opera, subgênero capa-e-espada bastante explorado no período dourado da fc americana (décadas de 1940/1950) e praticamente esgotado do ponto de vista dramático, com poucos exemplos de qualidade na fc moderna.
A ambientação space-opera mascarou a sensibilidade dos autores para o fato que essa caracterização simplista não basta para suspender a incredibilidade do leitor. Os autores esforçam-se tanto em demonstrar que o poderio bélico humano estava de tal forma decadente que soa absurdo o fato de Robotróia manter sob controle político todo um planeta até aquele momento. Decadente como estava, Robotróia mal podia manter-se, quanto mais governar. O poder político já deveria estar longe de Robotróia e da Imperatriz há tempos, e essa situação irreal tira a verossimilhança do ambiente.
Outro problema é a dispersão dramática na metade inicial da narrativa, na qual grande quantidade de personagens superficialmente caracterizados não dão conta de quem é o quê. A história ganha fôlego somente quando os autores optam por centrar a ação na dupla Cleópatra/Sykes, cujo envolvimento romântico chega as vias de fato. Assim como quando a Imperatriz ganha função antagônica, juntamente com o bruxo Surabakh que, apesar de seu poder enorme, é vencido com facilidade pelo protagonista. Apesar disso, Surabakh não chega a morrer e os autores reservam a ele um epílogo dispensável, gancho para a sequência da história na Terra, estranhamente num futuro bastante próximo da nossa época.
Também soa estranho o modo pouco natural com que os personagens tratam-se em alguns momentos, como se os autores não soubessem seus nomes inteiros. Por exemplo, quando Cleópatra encontra com Santos Dumont no deserto de Khallah, o trata por Santos. Ora, militares, em geral, tratam-se pelo sobrenome, portanto seria mais natural se Cleópatra dirigir-se ao seu comandado por Dumont. Mas se o autor queria de fato dar ao encontro um caráter intimista, deveria ter usado Alberto, o primeiro nome de Santos Dumont, não o seu nome do meio.
Em alguns momentos na parte final da novela, o texto chega a empolgar, mas sua irregularidade geral (por conta do estilo fragmentado comum a todos os round-robins), da inexperiência dos autores (apenas Rogério teve experiência editorial anterior) e do objetivo da obra (ser uma espécie de jogo), faz com que toda a novela caia em um sem número de lugares comuns, com muitos personagens sem utilização adequada, perdidos na trama confusa. Uma boa enxugada poderia ser valiosa para tornar a leitura mais palatável, mas esse não era o objetivo das autores.
Mesmo assim, vale a pena conhecer o trabalho dessa turma, que está vários furos acima dos fanfics que abundam na internet e revistas especializadas.
Idade da decadência: Inferno em Khallah
Rogério Amaral de Vasconcellos, Cláudia Furtado, Diva Bernardes Sepulveda, Edison Luis Raffi Silveira e Marco A. M. Bourguignon. 146 páginas. Editora Mitsukai, Projeto Slev, 2001.
(Resenha originalmente publicada no Hiperespaço nº50, março de 2002)
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Resenha: Vaca profana: Encruzilhadas
O projeto Slev é conhecido pelos leitores brasileiros de ficção científica, pois é o projeto literário mais extensivo do escritor-fã carioca Rogério Amaral de Vasconcellos, colaborador frequente dos principais fanzines brasileiros de ficção científica e fantasia. Vasconcellos é formado em física e estreou em 2000 com o romance Campus de Guerra, pela Editora Writers.
A princípio, a sigla Slev significou "Suruba Literária Experimental Virtual", uma oficina de literatura criativa com foco de ação na internet, a partir de um saite que aglutinava vários escritores amadores. Em 2001, o projeto publicou seu primeiro livro, Idade da decadência: Inferno em Khallah, um romance em edição por demanda assinado por Vasconcellos e mais quatro autores, cujos manuscritos foram discutidos em conjunto dentro do projeto.Depois disso, a Slev foi rebatizada para "Sistema Literário Experimental Virtual" e, também a partir da internet, iniciou outra fase de criação, propondo aos seus autores filiados um universo compartilhado com viagens no tempo e no espaço. Os resultados dessa atividade foram publicados pela Slev a partir de 2003, com nada menos que trinta volumes em edição virtual – os conhecidos e-books – sendo que os dois últimos saíram no início de 2005.
Vaca profana: Encruzilhadas, é o primeiro título dessa coleção a ganhar edição física convencional, em papel. Junto com o segundo título Vaca profana: A nave – só disponível em formato virtual – forma a introdução básica que foi primariamente apresentada aos autores do projeto e que definiu personagens e parâmetros com os quais todos deveriam trabalhar. Nessa introdução, Vasconcellos apresenta doze personagens principais que apareceram sozinhos ou em grupo nas histórias que foram escritas posteriormente, sendo que em Vaca profana: Encruzilhadas, são apresentados seis deles.
O primeiro é Benedito Raimundo Alves da Silva, um bem sucedido corrupto brasileiro que, ao perceber que seu esquema está prestes a ser desmontado pela Polícia Federal, embarca num voo só de ida para Miami. Porém, no meio da viagem, percebe que algo estranho aconteceu com os demais passageiros: não são mais os mesmos que embarcaram com ele e o próprio avião é diferente. Num jornal ele descobre que não está mais em 2000, mas um ano adiante, mais exatamente no mês de setembro de 2001. Com a aeromoça ele se informa que o voo, um avião da American Airlines, não vai mais para Miami. Na verdade, ele não irá para parte alguma...
Depois conhecemos Nahed Al-Shamalia, indiano, navegador estelar comissionado na espaçonave Altamira em 2285, em missão no espaço profundo, que passa a ser acometido por delírios em torno de seu pênis, numa fantasia erótica de proporções cosmológicas.
Também somos levados ao planeta Giron'dha, no sistema Epsilon-Eridani. Ali vive uma raça de sencientes vegetais, entre os quais destaca-se a fêmea plebéia Zandra de Harboor, chefe de um projeto científico importante, que desperta a inveja do grão-duque Alguroom de Refroom. Este planeja e põe em prática um esquema maquiavélico para livrar-se dela e, ao mesmo tempo, herdar seu prestígio e poder.
Finalmente, conhecemos o criacionista russo Dimitri Diogovitch Rosenkovski e o evolucionista grego Andreas Nikolos Papandriou, arqueólogos rivais que discutem calorosamente durante uma escavação no deserto de Gobi, na Mongólia, em 1866. Eles mal têm tempo de reagir quando percebem-se atacados por uma manada de animais desconhecidos, verdadeiros elos perdidos na escala da evolução. As feras são predadoras e estão famintas...
Os fragmentos não chegam a se concluir e são alinhavados frouxamente por um interlúdio final que nos apresenta o Barqueiro e o Zelador, seres de origem desconhecida que cuidam das celas em que os abduzidos estão confinados. Onde, para quê e por quê não se esclarece neste volume, o que parece ser uma estratégia do autor para motivar a criatividade dos colaboradores do projeto Slev.
Como se vê, Vaca profana: Encruzilhadas tem idéias boas e o texto de Rogério Amaral Vasconcellos apresenta correção técnica e algum estilo, entretanto é pesado e difícil de ler. A narrativa sincopada repleta de derivações, que também caracteriza outras obras do autor, exige muito do leitor, tornando a leitura lenta e sem variações de ritmo. Esse estilo é muito utilizado por autores introspectivos e funciona bem em narrativas estáticas com solilóquios ou monólogos, mas prejudica as cenas de ação, que Vasconcellos usa com frequência.
Vaca profana: Encruzilhadas foi publicado ainda no primeiro semestre de 2005 e, desde então, Rogério Amaral de Vasconcellos não anunciou mais nenhum outro título da coleção no formato convencional, mas sabe-se que há interesse do autor em levar às livrarias todos os trinta volumes publicados virtualmente.
Vaca profana: Encruzilhadas
Rogério Amaral de Vasconcellos.
Prefácio de André Carneiro.
Coleção Slev, Fase 1, nº zero.
Do autor, Rio de Janeiro. 82 páginas.
Resenha originalmente publicada no Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2005
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Coleção Nave Profana
Há alguns dias, publiquei aqui o necrológico de Maria Helena Bandeira, escritora de fc&f muito querida no fandom. A autora publicou em muitas antologias e até na extinta Isaac Asimov Magazine, mas não teve em vida nenhum livro individual no país, exceto dois volumes da Coleção Nave Profana. Mas, que coleção é essa?
A Coleção Nave Profana foi produto da oficina literária Slev – sigla que no primeiro momento significava Suruba Literária Experimental Virtual, depois mudada para Sistema Literário Experimental Virtual.
A oficina Slev foi realizada pela internet por iniciativa do escritor Rogério Amaral de Vasconcellos, autor do romance de fc Campus de guerra (Writers, 2000). O primeiro fruto da oficina foi o romance de ficção científica Idade da decadência: Inferno em Khallah, escrito por muitas mãos e publicado 2001 pela Editora Mitsukai, cuja resenha pode ser lida aqui.
Já os livros da Coleção Nave Profana começaram a ser publicados em 2003. Foram escritos por autores voluntários, discutidos em grupo e editados em arquivo digital disponibilizados num saite exclusivo da oficina.
A proposta era construir um universo compartilhado em que cada autor teria liberdade de desenvolver seus próprios personagens e enredos, que poderiam ser aproveitados pelos demais em suas próprias histórias. A base era um ambiente de história alternativa em que épocas e realidades se chocavam.
Os livros eram vendidos a preços bastante acessíveis mas, na época, a internet era incipiente, difusa e nada popular: depois de algum tempo, a iniciativa esgotou-se. Com a desativação do saite, a coleção ficou indisponível e foi rapidamente esquecida.
O projeto da Coleção Nave Profana previa mais de 50 volumes, mas foram publicados apenas 30, o que ainda assim é uma marca considerável.
A coleção tem algumas curiosidades. A primeira é que o número 18 nunca foi distribuído. A título de divulgação, os volumes zero, quatro e seis tiveram distribuição gratuita. Os arquivos vinham com trava de impressão, de forma que só era possível ler no monitor. Vários volumes foram assinados por pseudônimos cujos autores verdadeiros nunca se revelaram, mas desconfia-se que eram todos do próprio Vasconcellos.
Fazem parte da Coleção Nave Profana os seguintes títulos:
1 - Vaca profana: Encruzilhadas, Rogério Amaral de Vasconcellos (2003)
2 - Vaca profana: A nave, Rogério Amaral de Vasconcellos (2003)
3 - Três reis magos, Larissa Redeker (2003)
4 -Tempo dos animais, Paffomiloff der Engel (2003)
5 - Dom Pedro I e... último, Gabriel Bozano (2003)
6 - Prova oral, Rogério Amaral de Vasconcellos (2003)
7 - Iroha, Ernesto Nakamura (2003)
8 - Maya, Alexis Lemos (2003)
9 - Tempo e templos, Maurício Wojciekowski (2003)
10 - A batalha dos egos reais, Cláudia Furtado (2003)
11 - Mahavira, memórias vegetais, Ernesto Nakamura (2003)
12 - Operação Britânia, Ricardo E. Caceffo (2003)
13 - Ahnk, Alexis Lemos (2004)
14 - Deserto, Roderico Reis (2004)
15 - A lei dos seios, Maria Helena Bandeira (2004)
16 - No templo da loucura, Rogério Amaral de Vasconcellos (2004)
17 - Uma janela para o nada, Rogério Amaral de Vasconcellos (2004)
18 - Edição não publicada
19 - Onze dias, Natalia Yudenitsch (2004)
20 - O último profeta, Ricardo Caceffo (2004)
21 - Pavão misterioso, Alexis Lemos (2004)
22 - A forja de Aliq, Ernesto Nakamura (2004)
23 - Guerra das Shetlands, Miguel Angel Pérez Correa (2004)
24 - Memórias de um sociopata, Cláudia Furtado (2004)
25 - Pax, Jaime da Conceição Araujo (2004)
26 - Talvez Helena, Maria Helena Bandeira (2004)
27 - Startrap, Rogério Amaral de Vasconcellos (2004)
28 - A flor improvável, Paffomiloff (2004)
29 - Sepulturas na eternidade, Rogério Amaral de Vasconcellos (2005)
30 - A espada de Dâmocles, Jaime da Conceição Araujo (2005).
Em julho de 2003 foi distribuída a única edição do Ciclope News Slevzine, fanzine virtual de divulgação da Coleção Nave Profana que, em suas 23 páginas, publicou contos e artigos sobre cinema e literatura.
E em 2005, o primeiro volume da coleção, Vaca Profana: Encruzilhadas, escrito por Vasconcellos, ganhou edição real editada pelo autor, com a promessa de, a partir de então, publicar todos os volumes nesse formato, mas o projeto não foi adiante. Uma resenha a esta edição, vista no Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2005, pode ser lida aqui.
A Coleção Nave Profana foi produto da oficina literária Slev – sigla que no primeiro momento significava Suruba Literária Experimental Virtual, depois mudada para Sistema Literário Experimental Virtual.
A oficina Slev foi realizada pela internet por iniciativa do escritor Rogério Amaral de Vasconcellos, autor do romance de fc Campus de guerra (Writers, 2000). O primeiro fruto da oficina foi o romance de ficção científica Idade da decadência: Inferno em Khallah, escrito por muitas mãos e publicado 2001 pela Editora Mitsukai, cuja resenha pode ser lida aqui.
Já os livros da Coleção Nave Profana começaram a ser publicados em 2003. Foram escritos por autores voluntários, discutidos em grupo e editados em arquivo digital disponibilizados num saite exclusivo da oficina.
A proposta era construir um universo compartilhado em que cada autor teria liberdade de desenvolver seus próprios personagens e enredos, que poderiam ser aproveitados pelos demais em suas próprias histórias. A base era um ambiente de história alternativa em que épocas e realidades se chocavam.
Os livros eram vendidos a preços bastante acessíveis mas, na época, a internet era incipiente, difusa e nada popular: depois de algum tempo, a iniciativa esgotou-se. Com a desativação do saite, a coleção ficou indisponível e foi rapidamente esquecida.
O projeto da Coleção Nave Profana previa mais de 50 volumes, mas foram publicados apenas 30, o que ainda assim é uma marca considerável.
A coleção tem algumas curiosidades. A primeira é que o número 18 nunca foi distribuído. A título de divulgação, os volumes zero, quatro e seis tiveram distribuição gratuita. Os arquivos vinham com trava de impressão, de forma que só era possível ler no monitor. Vários volumes foram assinados por pseudônimos cujos autores verdadeiros nunca se revelaram, mas desconfia-se que eram todos do próprio Vasconcellos.
Fazem parte da Coleção Nave Profana os seguintes títulos:
1 - Vaca profana: Encruzilhadas, Rogério Amaral de Vasconcellos (2003)
2 - Vaca profana: A nave, Rogério Amaral de Vasconcellos (2003)
3 - Três reis magos, Larissa Redeker (2003)
4 -Tempo dos animais, Paffomiloff der Engel (2003)
5 - Dom Pedro I e... último, Gabriel Bozano (2003)
6 - Prova oral, Rogério Amaral de Vasconcellos (2003)
7 - Iroha, Ernesto Nakamura (2003)
8 - Maya, Alexis Lemos (2003)
9 - Tempo e templos, Maurício Wojciekowski (2003)
10 - A batalha dos egos reais, Cláudia Furtado (2003)
11 - Mahavira, memórias vegetais, Ernesto Nakamura (2003)
12 - Operação Britânia, Ricardo E. Caceffo (2003)
13 - Ahnk, Alexis Lemos (2004)
14 - Deserto, Roderico Reis (2004)
15 - A lei dos seios, Maria Helena Bandeira (2004)
16 - No templo da loucura, Rogério Amaral de Vasconcellos (2004)
17 - Uma janela para o nada, Rogério Amaral de Vasconcellos (2004)
18 - Edição não publicada
19 - Onze dias, Natalia Yudenitsch (2004)
20 - O último profeta, Ricardo Caceffo (2004)
21 - Pavão misterioso, Alexis Lemos (2004)
22 - A forja de Aliq, Ernesto Nakamura (2004)
23 - Guerra das Shetlands, Miguel Angel Pérez Correa (2004)
24 - Memórias de um sociopata, Cláudia Furtado (2004)
25 - Pax, Jaime da Conceição Araujo (2004)
26 - Talvez Helena, Maria Helena Bandeira (2004)
27 - Startrap, Rogério Amaral de Vasconcellos (2004)
28 - A flor improvável, Paffomiloff (2004)
29 - Sepulturas na eternidade, Rogério Amaral de Vasconcellos (2005)
30 - A espada de Dâmocles, Jaime da Conceição Araujo (2005).
Em julho de 2003 foi distribuída a única edição do Ciclope News Slevzine, fanzine virtual de divulgação da Coleção Nave Profana que, em suas 23 páginas, publicou contos e artigos sobre cinema e literatura.
E em 2005, o primeiro volume da coleção, Vaca Profana: Encruzilhadas, escrito por Vasconcellos, ganhou edição real editada pelo autor, com a promessa de, a partir de então, publicar todos os volumes nesse formato, mas o projeto não foi adiante. Uma resenha a esta edição, vista no Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2005, pode ser lida aqui.
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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
Cartunistas 2013
Está confirmado: a décima primeira edição do Encontro de Cartunistas do ABC e S. Paulo vai acontecer no dia 3 de março, domingo, a partir da 15 horas, no tradicional espaço de eventos do Fran's Café Portugal (Av. Portugal, 1126) em Santo André, cidade do ABC paulista.
Iniciativa do cartunista Mario Mastrotti e da Editora Virgo, o encontro promove a confraternização entre profissionais do traço e da área editorial e jornalística, bem como fanzineiros e leitores, sendo ainda uma forma muito agradável de comemorar 30 de janeiro, o Dia do Quadrinho Nacional, data em que Ângelo Agostini publicou as Aventuras de Nhô Quim, a primeira história em quadrinhos brasileira, em 1869.Também é tradição do evento que os artistas presentes montem uma exposição-relâmpago de cartuns e charges, sem falar que caricaturam os presentes.
Veja nos links algumas fotos dos encontros de 2011 e 2012.
Todos estão convidados e são muito bem-vindos. Mais informações no blogue do evento, aqui.
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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
A farra do Megalon
Está disponível aqui, para download gratuito, o 15º número do fanzine de ficção científica e horror Megalon, publicado originalmente em março/abril de 1991 sob a coordenação de Marcello Simão Branco.
A edição vem com 44 páginas onde se pode encontrar contos de Décio One, Roberto de Sousa Causo e Miguel Carqueija, a conclusão da hq "Trasmutações biográficas", de Fabio Benite e C. Alexandre, artigos sobre literatura, cinema e ciência assinadas por Gilberto Schoereder, Gerson Lodi-Ribeiro, Roberto Causo, Jorge Luiz Calife, Miguel Carqueija e Orson Scott Card, mais uma entrevista com Roberto Nascimento, um dos maiores especialistas brasileiros em ficção científica e fundador do Clube de Leitores de Ficção Cientifica. A capa traz uma ilustração de Cerito.
O editor distribui com a edição um bônus com documentos históricos da fc brasileira, aqui.
Mas a farra vem mesmo é agora: o editor disponibilizou todas as edições anteriores para download gratuito. É só clicar e pegar. Faça a sua festa.
Megalon 1
Megalon 2
Megalon 3
Megalon 3 (bônus)
Megalon 4
Megalon 4 (bônus)
Megalon 5
Megalon 6
Megalon 7
Megalon 8
Megalon 9
Megalon 10
Megalon 10 (bônus)
Megalon 11
Megalon 11 (bônus)
Megalon 12
Megalon 12 (bônus)
Megalon 13
Megalon 13 (bônus)
Megalon 14
A edição vem com 44 páginas onde se pode encontrar contos de Décio One, Roberto de Sousa Causo e Miguel Carqueija, a conclusão da hq "Trasmutações biográficas", de Fabio Benite e C. Alexandre, artigos sobre literatura, cinema e ciência assinadas por Gilberto Schoereder, Gerson Lodi-Ribeiro, Roberto Causo, Jorge Luiz Calife, Miguel Carqueija e Orson Scott Card, mais uma entrevista com Roberto Nascimento, um dos maiores especialistas brasileiros em ficção científica e fundador do Clube de Leitores de Ficção Cientifica. A capa traz uma ilustração de Cerito.
O editor distribui com a edição um bônus com documentos históricos da fc brasileira, aqui.
Mas a farra vem mesmo é agora: o editor disponibilizou todas as edições anteriores para download gratuito. É só clicar e pegar. Faça a sua festa.
Megalon 1
Megalon 2
Megalon 3
Megalon 3 (bônus)
Megalon 4
Megalon 4 (bônus)
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Megalon 6
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Megalon 8
Megalon 9
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Megalon 11
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Megalon 12
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Megalon 13
Megalon 13 (bônus)
Megalon 14
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sábado, 12 de janeiro de 2013
Ação Magazine 3
Mais de um ano depois, finalmente está disponível a terceira edição da revista Ação Magazine. As anteriores datam de setembro e outubro de 2011, embora o primeiro número tenha sido lançado de fato em julho de 2011, como foi comentado aqui.
O apelo da revista é emular, em todos os aspectos possíveis, a estética dos semanários japoneses de quadrinhos, com muitas páginas em preto e branco, capas coloridíssimas, tipologia que remete aos ideogramas japoneses e quadrinhos desenhados à moda oriental. A única concessão que o editor fez foi manter a direção ocidental de leitura, o que é muito bem-vindo.Nesta edição, estreia de "Assombrado", série de mistério sobrenatural de Petra Leão e Roberta Pares Massenssini, além de novos episódios das séries "Madenka", fantasia mitológica de Will Walbr, "Jairo", aventura pugilística de Michele Lys, Renato Csar e Altair Messias, "Tunado", com os carros envenenados de Maurílio DNA e Victor Strang, e a ficção científica "Expresso", do editor Alexandre Lancaster.
Ação Magazine é uma publicação da Lancaster Editoral e custa R$9,90.
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Maria Helena Bandeira (19??-2013)
No início deste ano, deixou o nosso convívio a artista plástica, poeta e escritora de ficção científica e fantasia Maria Helena Cordeiro de Souza Bandeira.
Carioca de nascimento, cuja data foi impossível precisar, era sobrinha-neta do escritor Antônio Bandeira, mas desenvolveu uma carreira independente do antepassado ilustre.Maria Helena estudou pintura e psicologia, mas formou-se em jornalismo pela PUC/RJ. Era professora de desenho, pintura e história da arte, além de artista plástica, tendo participado de vários Salões Nacionais de Artes Plásticas e da Bienal Nacional, assinando como Maria Bandeira.
Como poetisa, resistia em publicar seus trabalhos. Contudo, seu livro Borboleta no chapéu recebeu uma menção especial no Prêmio Guararapes da União Brasileira de Escritores. Também deixou por publicar a coletânea Unicórnios no jardim.
Assinando como Bárbara Helena, colaborava regularmente com o saite Anjos de Prata, tendo participado das antologias Crônicas dos Anjos de Prata 2, 3, 4 e 5, publicadas pelo mesmo.
Sua estreia na ficção científica aconteceu em 1992, nas páginas da revista Isaac Asimov Magazine (Record), com o conto "Eu mesmo". Desde então, manteve uma produção continuada de contos, tendo aparecido em fanzines e revistas como Scarium, Somnium e Blocos, e nas antologias Paradigmas 1 (Tarja, 2009), Cyberpunk: Histórias de um futuro extraordinário (Tarja, 2010) e Space opera (Draco, 2011), FC do B: Panorama 2006/2007 (Corifeu, 2008), FC do B: Panorama 2008/2009 (Tarja, 2009), Portal Stalker (2009), Portal Fundação (2009), Portal 2001 (2010) e Portal Fahrenheit (2010), Antoloblogue (Portugal), Grageas (Argentina) e O planeta das traseiras (Portugal). Seus trabalhos individuais apareceram exclusivamente no formato virtual: A lei dos seios (Slev, 2004), Talvez, Helena (Slev, 2004) e O Especialista (E-Nigma, 2002), trabalho este indicado ao Prêmio Argos. Também mantinha uma produção significativa na internet, publicando nos saites E-Nigma e Oficina de Escritores.
Maria Helena não resistiu a uma cirurgia para extração de um tumor no intestino e faleceu no dia 6 de janeiro de 2013, deixando por publicar a anunciada mini-série policial Sonho Amazônico.
“Quando o sol estiver menos intenso
E eu mais cheia de sombras
Vou procurar unicórnios no jardim
E vou achar que a vida tem sentido
Mesmo assim.”
Maria Helena Bandeira
Unicórnios no jardim
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sábado, 5 de janeiro de 2013
Juvenatrix 143
Está disponível a primeira edição de 2013 do fanzine virtual de ficção científica e horror Juvenatrix, editado por Renato Rosatti.
Em suas 22 páginas, Juvenatrix 143 apresenta contos de Rynaldo Papoy e Caio Alexandre Bezarias, artigo sobre o filme Luxúria de vampiros (1971), uma porção de resenhas curtas de filmes recentes do gênero fantástico, além de notícias e divulgação sobre lançamentos alternativos e bandas de rock extremo. A capa exibe uma ilustração de Marcos T. R. Almeida.
O arquivo em pdf pode ser obtido gratuitamente através do email renatorosatti@yahoo.com.br.
Em suas 22 páginas, Juvenatrix 143 apresenta contos de Rynaldo Papoy e Caio Alexandre Bezarias, artigo sobre o filme Luxúria de vampiros (1971), uma porção de resenhas curtas de filmes recentes do gênero fantástico, além de notícias e divulgação sobre lançamentos alternativos e bandas de rock extremo. A capa exibe uma ilustração de Marcos T. R. Almeida.
O arquivo em pdf pode ser obtido gratuitamente através do email renatorosatti@yahoo.com.br.
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Os últimos dias de Welta
Para inaugurar o blogue em 2013, o novo lançamento do quadrinhista paraibano Emir Ribeiro, desta vez com sabor de nostalgia. Trata-se de Os últimos dias de Welta, segundo volume com a compilação em cd das primeiras histórias da superdetetive Velta, publicadas nos anos 1980 e esgotadas há décadas.
As histórias digitalizadas neste cd foram todas remastertizadas e através delas podemos acompanhar o processo em que a personagem mudou seu nome de Welta para Velta.Entre outras, podemos apreciar as histórias publicadas na edição número 7, provavelmente a primeira revista em quadrinhos totalmente em cores publicada no nordeste do País, além da edição 10 anos de Welta, de 1983, que contou com a participação do jovem Mike Deodato. O preço é de R$25,00, já incluso o frete.
Mais informações no saite do autor aqui, ou pelos emails emir_ribeirojp@yahoo.com.br e emir.ribeiro@gmail.com.
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