quarta-feira, 29 de abril de 2009

O jogo no tabuleiro - Simone Saueressig

Já há algumas semanas que a escritora gaúcha Simone Saueressig vem publicando periodicamente os capítulos de seu romance O jogo no tabuleiro, uma história de alta fantasia que consegue, de forma criativa e supreendente, trazer um gênero iminentemente anglo-americano para o dia-a-dia brasileiro, sem parecer forçado.
A história conta o que acontece a um grupo de jovens amigos, moradores de uma cidade pequena, quando um deles desaparece misteriosamente depois de participar de um novo tipo de jogo. Dias depois, a turma traumatizada recebe a visita de um personagem desconhecido que lhes traz um recado do amigo desaparecido, pedindo ajuda e dando um endereço. Sem avisar ninguém, os jovens deslocam-se até o local que é apenas uma casa onde uma senhora simpática mantém um espaço lúdico com um jogo de tabuleiro que ela mesma construiu. Ao aceitarem experimentá-lo eles finalmente descobrem o que aconteceu com o colega desaparecido e vai ser muito difícil fazer o caminho de volta.
Simone é uma autora experiente, com diversos títulos de fantasia publicados por editoras importantes, como O palácio de Ifê (L&PM, 1989), A fortaleza de cristal (L&PM, 1993), A máquina fantabulástica (Scipione, 1997) e Receita para um dragão (Scipione, 1999), livros comercialmente identificados como infanto-juvenis e recomendados como leitura paradidática. Porém, Simone vai além da maioria dos autores dessa espécie de textos. Todos os seus romances têm níveis mais profundos de interpretação e satisfazem totalmente aos leitores mais exigentes.
A autora investiu todo o seu potencial autoral em O jogo no tabuleiro, de longe seu romance mais volumoso, por isso mesmo, difícil de ser publicado comercialmente. Depois de anos buscando por uma editora, Simone resolveu publicá-lo ela mesma, gratuitamente, em seu site Porteira da fantasia, através do qual já havia distribuído, em 2008, o romance O pitbull é manso mas o dono dele já mordeu uns quantos.
Ela dividiu O jogo no tabuleiro em três volumes e vem distribuindo os capítulos em doses homeopáticas desde fevereiro de 2009. O primeiro volume, O afilhado das fadas, já está completo, e o teaser do segundo volume, A falcoeira, está disponível aqui.
Quem gosta de fantasia vai se deliciar com este romance. E mesmo para quem não sabe se gosta, vale a pena arriscar, tenho certeza que ninguém vai se arrepender da iniciativa.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Biblioteca Fantástica

Há muitos anos vinha acalentando a ideia de construir um site de resenhas de livros de FC&F brasileira sem viés crítico, apenas pelo prazer da catalogação e para servir como indicador de leitura para os interessados nesses gêneros. Fiquei muitos anos reunindo resenhas e imagens de capas, pensando no dia em que isso seria possível. Pretendia algo simples, que eu mesmo pudesse fazer a partir dos meus primitivos conhecimentos de html.
Por isso, foi com grata surpresa que recebi a iniciativa de que Larissa Redeker, uma jovem escritora de FC&F que, há algumas semanas, inaugurou o site Biblioteca Fantástica, em todos os aspectos similar ao meu antigo e natimorto projeto, porém com uma grande vantagem: é muito mais fácil de inserir conteúdo do que qualquer mecanismo que eu poderia sonhar.
Larissa divulgou seu site numa comunidade do Orkut e imediatamente entrei em contato e propus uma parceria. E não é que ela aceitou?
Desde então tento subir pelo menos um verbete por dia. Comecei com os títulos que eu considero os mais importantes da FC&F nacional, os livros da editora GRD, que publicou várias coleções de ficção científica, fantasia e horror ao longo dos anos 1960 e 1980. Depois inseri os livros da editora Ano-Luz, que entre 1998 e 2000 publicou várias antologias importantes da geração de autores vinculada às agremiações de fãs, o chamado fandom, e agora estou colocando as edições que fiz pelo selo Hiperespaço, os Anuários Brasileiros de Literatura Fantástica, a Coleção Fantástica e a Nova Coleção Fantástica.
A Biblioteca já está com 93 títulos cadastrados, e cresce saudavelmente, aos bocadinhos. Larissa ainda teve a feliz ideia de disponibilizar links para que os interessados encontrem os títulos ali apresentados, mesmo os esgotados, sugerindo sebos e outras formas de aquisição. Ou seja, o leitor vê a capa do livro, lê a resenha (que sempre tomamos cuidado para não entregar o ouro) e, se gostar, pode encomendar na hora.
A Biblioteca está organizada em Romances, Antologias & Coltâneas, Não Ficção e edições virtuais, ainda tem uma seções de biografias de autores, divulgação de eventos e links. O site dispões de diversas ferramentas de busca e, periodicamente, distribui uma newsletter com as novidades incorporadas ao acervo. Quem quiser, pode ajudar, basta mandar uma mensagem para ela através do próprio site que ela passa as instruções.
A Biblioteca Fantástica ainda está pequenina, mas com o impulso que a publicação de FC&F ganhou nos últimos anos, logo vai estar bem recheada.
Vale muito conhecer este excelente trabalho que a Larissa está fazendo.

sábado, 25 de abril de 2009

As portas do magma, Miguel Carqueija & Jorge Luiz Calife

Noveleta de aventura de autoria de Miguel Carqueija e Jorge Luiz Calife, publicada em forma de e-book pelo site Scarium.
Conta a história de um escritor de ficção científica sem qualquer pendão heróico que é repentinamente convocado para salvar o mundo. E a situação em que isso ocorre não poderia ser menos esdrúxula: uma mulher, cuja aparência geral poderia se resumir na palavra "pontuda", bate em sua porta e diz que ele tem que acompanhá-la para o centro da Terra, pois somente ele pode socorrer a civilização de "pontudos" que lá habita e que está ameaçada por uma inundação de magma.
Depois de alguma hesitação, o infeliz segue a garota para o centro da Terra em seu curioso veículo de navegação subterrânea, no melhor momento da história que, por si só, vale o trabalho inteiro. Entre os pontudos, ele descobre que o problema é decorrente de um projeto internacional de sequestro de carbono, cuja estratégia é injetar no subsolo o CO2 excedente na atmosfera, e é preciso pará-lo. Para melar o negócio, ele terá que embarcar num foguete "suicida" pilotado por sereias pouco amigáveis e se fazer entender entre os engenheiros humanos numa gigantesca plataforma marítima internacional.
Essa história absurda, que em nenhum momento consegue ser minimamente crível, vale pelo bom humor com que o protagonista encara a situação. Uma grande farsa que, de acordo com o editor da Scarium Marco Bourguignon, homenageia os antigos enredos de histórias sobre mundos e civilizações perdidas, de autores como Jules Verne e Edgard Rice Burrougs.
O texto base é de Carqueija – autor historicamente vinculado ao ambiente amador, que estreou profissionalmente em 2008 com o romance Farei meu destino (editora Giz) – e ficou incompleto por anos até que, em 2008, ele propôs ao seu colega, o experiente jornalista e escritor Jorge Luiz Calife, que o concluísse. Calife é identificado com histórias de ficção científica hard e deve ter reeditada em 2009 sua trilogia Padrões de Contato, pela Devir Editorial.
O resultado pode ser conferido nesta edição digital de 69 páginas, que pode ser baixada gratuitamente aqui.
Um detalhe um pouco incômodo é que, a certa altura, os tipos que compõe o texto cemeçam a mudar de tamanho sem qualquer motivo aparente. Uma vez que não me parece ter sido acidental, a única explicação que me ocorre é que editor pretendeu destacar as intervenções de Calife no texto de Carqueija. Não chega a ser um problema, mas também não acrescenta nada e bem poderia ser corrigido, pois passa uma sensação de desleixo à publicação.
De qualquer forma, vale a pena conhecer esse curioso exemplo de ficção científica juvenil, que tem bons e divertidos momentos.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

The dig, Alan Dean Foster


Vocês se lembram de um jogo para computador chamado The
dig, em que uma equipe de astronautas têm que explodir um meteoro em rota de colisão com a Terra e, de repente, se veem num planeta estranho? Pois eu nem imaginava que o nosso autor de novelizações preferido, Alan Dean Foster (autor de boas novelizações como Alien, o quarto passageiro e Krull), publicou um romance sobre o jogo em 1996, que os malucos do podcast NowLoading traduziram para o português e disponibilizaram em formato pdf. O jogo tinha os créditos da LucasArts e parece que até Steven Spielberg andou pondo a mão nele também.
Não sei dizer se é pirataria, afinal os garotos realmente fizeram a tradução e acredito que esse livro nunca chegaria ao Brasil de outra forma.
Quem quiser ler, entre em nowloading, procure a relação de links e clique no item "Livro: The Dig (por Igor SMC)". O download deve iniciar no ato. Aproveite e dê uma geral no site, que é superlegal.
O volume tem 283 páginas e foi traduzido por Igor Silveira Melo Cavalcanti. É um dos raríssimos casos de edição amadora de um livro estrangeiro no Brasil. Vai ser relacionado no Anuário 2009, com certeza.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Tempo fechado, Bruce Sterling


Acabei de ler a distopia ecológica Tempo fechado (Heavy Weather, 1994), do escritor texano Bruce Sterling, traduzida para o português por Carlos Angelo e publicada em 2008 pela Devir Editorial. Bruce Sterling teve publicado anteriormente no Brasil o romance Piratas de dados (Islands in the net, 1988) pela editora Aleph, além de alguns contos. Foi um dos baluartes de um movimento estético e conceitual da FC americana que ficou conhecido como cyberpunk. O estilo de Sterling é arejado, muito agradável de ler, sem afetações e bastante interessante no que se refere aos temas propostos.
Tempo fechado conta a história dos irmão Alejandro (Alex) e Juanita (Jane), herdeiros de uma enorme fortuna mas que tiveram o azar de ter um pai controlador e nascer num mundo em processo de demolição por conta de incontornáveis prejuizos ambientais causados pela ação humana desregrada. As fronteiras internacionais praticamente não existem para eles, que vivem de uma forma selvagem, deslocando-se ilegalmente, escondendo-se do pai e um do outro. No início da história, Alex - que sofre de bronquite crônica aguda - está em tratamento de saúde numa clínica ilegal no México, gastando os tubos com medicamentos experimentais. Ele passa a maior parte do tempo drogado, mas Jane tem outros planos para o irmão. Com um equipamento de espionagem sofisticado, ela invade a clínica, resgata Alex e o carrega, num veículo todo-terreno que mais parece um robô, até uma região no meio-oeste americano onde há grande incidência de tornados - que têm sido cada vez mais violentos depois que as alterações climáticas interferiram no equilíbrio ambiental do mundo inteiro. Jane faz parte da Trupe Intempestiva, uma equipe de especialistas em tornados, cujo líder, Jerry, previu através de ensaios matemáticos a formação de um super-tornado que pode devastar toda a região e alterar definitivamente o clima global. Ninguém acredita que esse tornado possa acontecer, mas toda a Trupe espera que sim e se prepara caçando e estudando tornados menores. As previsões de Jerry indicam que o fenômeno deve acontecer dentro de alguma semanas e por isso todos estão muito ansiosos. Aos poucos entendemos que Jane arriscou-se a tirando o irmão da clínica mafiosa porque, no final das contas, estava completamente falida e esperava que o irmão pudesse suprir as necessidades financeiras da Trupe com a sua parte da herança familiar. Mas Alex vai além. Apesar da saúde comprometida, prova ser suficientemente rústico para se dar bem na Trupe. Ele realmente espera morrer no super-tornado e assim dar algum sentido em sua vida. Mas sua aventura pode ser um pouco mais complicada. Sempre é.
Conheci Sterling pessoalmente durante a V InteriorCon, em Sumaré/SP. Um cara muito simples e acessível, apreciador de churrasco e caipirinha, e acho que Alex é uma espécie de alter-ego dele. Sterling, como seus personagens, vive em deslocamento, cada hora num país diferente – quando esteve no Brasil, por exemplo, estava vindo de um temporada na Rússia. Apaixonado por culturas exóticas, aproveita para colocar essa rica experiência em sua literatura, o que acabou por caracterizar também o movimento cyberpunk como um todo. Ler Sterling acrescenta camadas de entendimento sobre o que vem a ser o cyberpunk, que vai muito além de jargão techno, brutalismo e óculos espelhados.
Sterling conta histórias que se passam no futuro, mas ele é tão próximo que nem chega a ser fantástico. Fala de coisas que estão no nosso dia-a-dia, que vemos ao nosso redor. Há seres humanos de verdade nas suas histórias, em situações que poderiam estar acontecendo com a gente. Bolas, algumas das coisas que ele conta realmente aconteceram comigo, tal e qual!
Tempo fechado é uma história no seu tempo certo, colocando em debate a nossa responsabilidade coletiva, ou a falta dela, no cuidado com a natureza, o meio mabiente e o próprio homem. Afinal de contas, o tal supertornado pode até não acontecer, mas sabemos que a realidade sempre supera a ficção.
O que você pode fazer a respeito agora?

Caros amigos:


Mensagens do Hiperespaço tem tudo a ver com o extinto fanzine Hiperespaço, uma publicação amadora editada entre 1983 e 2003, que abrigou um florecente movimento de fãs de arte fantástica e participou ativamente do que mais tarde se convencionou chamar de Segunda Onda da ficção científica brasileira.
Mas o Hiperespaço não era um fanzine de ficção científica apenas. Em suas páginas apareciam artigos, contos, ilustrações e resenhas de todos os gêneros fantásticos. Tratava de cinema, quadrinhos, televisão, literatura, modelismo e tudo mais que pudesse interessar ao leitor.
Nos idos de 1980/90, ainda não havia internet e revistas especializadas eram raríssimas, mesmo as importadas não se compravam facilmente. Então os fanzines supriram por algum tempo essa demanda. Dentro do Hiperespaço havia uma seção muito lida, chamada "Notícias & Opinião". Nela eu resenhava livros, revistas, filmes e até outros fanzines, e os leitores gostavam muito. Mantive essa coluna por tanto tempo que, ao decidir suspender a publicação do Hiperespaço, em 2003, continuei distibuindo o Notícias & Opinião em forma de boletim por mais um ano adiante.
Desde então, meu trabalho voltou-se quase que exclusivamente para o Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica, um projeto de longo prazo – que realizo em parceria com o jornalista Marcello Simão Branco – e do qual estou concluindo a quinta edição, referente a 2008.
Entretanto, nos últimos meses tenho conseguido liberar algum tempo e acho que posso arriscar a proposta de um blog que continue a tradição do Notícias & Opinião.
Vou colocar aqui as minhas impressões sobre livros, filmes, quadrinhos, games e tudo mais, além de divulgar o trabalho dos meus colegas, uma vez que no Anuário eu nem sempre posso fazê-lo.
Se você esteve entre os leitores do Hiperespaço, creio que vai gostar de acompanhar este blog. Se não, espero que goste e torne-se mais um dos muitos amigos do Hiperespaço.
Sejam todos benvindos.