sábado, 31 de março de 2012

Resenha: As cidades indizíveis

Uma das mais esperadas publicações da FC brasileira em 2011 certamente foi a antologia As cidades indizíveis, organizada pelos escritores Fábio Fernandes e Nelson de Oliveira para a novíssima Llyr Editorial, com um grupo de autores de destaque no ambiente literário da ficção especulativa. Isso porque o volume inclui, além dos próprios organizadores e da editora Ana Cristina Rodrigues, os escritores Guilherme Kujawisk, Fausto Fawcett, Luiz Henrique Pellanda, Roberto de Sousa Causo, Octávio Aragão e Ronaldo Bressane.
Era de se esperar um grande livro, daqueles que entram para a história e tornam-se referência para as obras posteriores. Contudo, tal como acontece com grandes lançamentos do cinema, a expectativa inflacionada talvez tenha sido prejudicial a uma melhor avaliação do trabalho, que tem textos muito bons, mas apresenta-se irregular e imprecisa em seus objetivos.
O título do volume permite imaginar que se trata de uma antologia que privilegia a Weird Fiction, estilo pós-moderno de literatura especulativa surgida na Inglaterra, que tem defensores ilustres no Brasil, entre eles o organizador Fábio Fernandes. De fato, alguns trabalhos realmente seguiram essa linha, mas as propostas dos autores não estiveram muito bem afinadas, de forma que o resultado final é o aspecto de uma figura montada com peças de dois quebra-cabeças diferentes.
"Galimatar", de Fábio Fernandes, abre a antologia com um estilo que fica a meio caminho do tradicional e do experimental, justamente por isso é um dos melhores do conjunto. O tema da "cidade" não é central na história, mas é interessante, legível e repleta de ótimas ideias, sobre os últimos momentos de um homem que vai embarcar para as estrelas.
No lado conservador, instalam-se os textos de Ana Cristina Rodrigues e Roberto de Sousa Causo, que guardam um estilo narrativo convencional, focado no enredo. Ambas exploram o tema, mas de forma diferente. "O longo caminho de volta", de Ana Cristina, conta sobre uma degredada que volta a cidade onde nasceu e da qual foi expulsa, para solicitar o novo julgamento que a lei lhe franqueia. O grande interesse do texto é a própria cidade, uma enorme biblioteca que guarda livros escrito ao longo de milênios. O ambiente é inspirador e merece ser mais explorado.
"Harmonia", de Roberto de Sousa Causo, constrói uma narrativa urbana policial, com traficantes e prostitutas na São Paulo moderna, onde também se localiza um portal mágico para uma antiga cidade subterrânea. A violência intrínseca da situação é secundarizada pelo componente mágico, e acabam anulando-se mutuamente. Mas é um texto agradavelmente legível, com personagens bem elaborados e críveis.
Fazendo a transição para o metade experimental da antologia, "O dia em que Vesúvia descobriu o amor" de Octávio Aragão, é um texto descritivo sobre uma cidade que decide mudar de lugar para se aproximar de uma outra, pela qual está apaixonada. O movimento da metrópole causa grande destruição e dificuldades para seus habitantes. A idéia em si é fenomenal, mas o conto é distante e não emociona o leitor.
Nelson de Oliveira, ou melhor, Luiz Bras, sai-se melhor nesse mesmo estilo com "Primeiro de Abril: Corpus Christi", narrativa que resume em si os objetivos da obra, aproximando-se tanto do pós modernismo New Weird com elementos do Cyberpunk e do Pós-humanismo. Conta a história de um grupo de ciborgues que tenta evitar a destruição de uma megalópole futurista por um artefato nuclear. O estilo é experimental e barroco, contudo ainda perfeitamente legível e emocionante. É, sem dúvida, o melhor texto do livro.
Os demais contos investem no experimentalismo formal, deixando o enredo para segundo e até terceiro planos. "Mnemomáquina", de Ronaldo Bressane, até que se sai bem, com um estilo maduro e supreendente para contar a história de um jovem perdido numa versão inundada de São Paulo.
Também subsiste algum enredo em "Cidade vampira" de Fausto Fawcett, que narra a caçada humana a um psicopata assassino de cães por uma supercidade mundial, mas a leitura é difícil, com um texto cheio de repetições exaustivas no qual o discurso do personagem psicopata confunde-se à narração do autor, concluindo com um final surpresa pouco inspirado.
"O céu do nunca", de Guilherme Kujawsky e "O coletivo", de Luíz Henrique Pellanda, são os casos mais extremos de experimentalismo da antologia. O problema com as experiências é que as vezes elas não funcionam nem mesmo no laboratório. Não há enredo em nenhum dos dois textos e a narração de ambos é tão bizarra que suas leituras são extremamente desconfortáveis ao leitor.
Talvez os textos que me desagradaram sejam interessantes para quem busca por experimentações narrativas, mas esses leitores certamente acharão insuportáveis os contos dos quais gostei. A antologia tem, assim, um aspecto esquizofênico, porque não se decidiu claramente por um público e, no fim das contas, não satisfaz plenamente nenhum deles. Mas serve para mostrar que algo está acontecendo à FC brasileira e, no futuro, haverá de acontecer uma ruptura entre as ficções "de enredo" e de "estilo", com um restrito grupo de autores que, talvez, conseguirá navegar em ambas. Dessa forma, podemos dizer que As cidades indizíveis é um sinal dos tempos. Tempos que já estão entre nós.

The Boys: Mandando ver

Chega às livrarias, pela Devir Livraria, The Boys: Mandando ver, o segundo volume de uma série de histórias em quadrinhos do roteirista irlandês Garth Ennis, com desenhos de Darick Robertson e Peter Snejberg.
Conta as aventuras de Billy Carniceiro, Hughie Mijão, Leite Materno, O Francês e A Fêmea, um grupo especial da CIA cujo trabalho é enquadrar, e eventualmente "remover", super-heróis que saem da linha.
O álbum tem 192 páginas em cores e reúne as histórias dos números 7 a 14 da série original.
Devido ao conteúdo abusivamente violento, The Boys é vendido com o alerta "Não recomendado para menores de 18 anos". Geralmente, esse tipo de aviso nas revistas de quadrinhos é um tanto exagerado mas, no caso de The Boys, é melhor tirar as crianças da sala, por via das dúvidas.
O primeiro volume, The Boys: O nome do jogo, publicado em 2010, também está disponível na loja de Devir Livraria.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Contos do Sul

Com lançamento anunciado para a Odisseia de Literatura Fantástica, que acontece em Porto Alegre nos dias 27 e 28 de abril, a coletânea Contos do sul, da fantasista Simone Saueressig, já está disponível com a autora.
Com capa é ilustrada por Marciano Schmitz, o livro foi publicado com recursos próprios. Tem 96 páginas e traz cinco contos de horror inspirados na obra de Simões Lopes Neto, Lendas do sul (1912). Entre eles, figura o pungente "A cisterna", texto assustador que explora a figura da Iara de uma forma pouco habitual e certamente vai perturbar o imaginário do leitor, O texto foi primeiro publicado no fanzine Juvenatrix e ainda estava inédito em forma de livro.
Os demais textos, contudo, não deixam por menos. "O cemitério dos cães" conta a história de um homem que tem que lutar contra um lobisomem numa situação que a maior parte de nós não teria coragem de enfrentar. "O galpão" não tem um monstro sobrenatural, pelo contrario, a monstruosidade é a mais natural de todas: a humana. "O farol" aborda o mito da Mula-sem-cabeça, enquanto "O saci", cujo título já denuncia o nome do monstrinho, é o texto mais ilustre do volume, pois em 2003 foi premiado no 3º Prêmio Habitasul Revelação Literária e publicado na antologia do evento.
Simone é gaúcha de Novo Hamburgo, escritora muitipremiada com diversos livros publicados por editoras importantes como L&PM, Scipione e Cortez, sempre com o foco no público juvenil, que também é o caso deste volume, que desde já é um dos mais importantes lançamentos de 2012 no gênero do horror.
Mais informações sobre este e outros livros de Simone Saueressig podem ser obtidas no saite da autora, aqui.

TerrorZine 25

Está disponível para download gratuito mais uma edição do TerrorZine, que agora parece ter pegado embalo de novo. Desta vez, este fanzine eletrônico editado pelo escritor Ademir Pascale, é dedicado à lenda do Pé Grande que, apesar de ser um mito estrangeiro, tem similares nacionais, como o Pé de Pilão e o Mapinguari.
Os microcontos publicados são de Cláudio Parreira, Daniel Borba, Georgette Silen, Gian Danton, Gus Rimoli, Mariana Albuquerque, Mauricio Montenegro, Miriam Santiago, Renato A. Azevedo e Tibor Moricz, além de um breve artigo sobre criptozoologia e indicações de leitura.
A edição tem 25 páginas em formato pdf e pode ser baixada aqui.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Resenha: A batalha dos deuses

Anunciada aqui no final de 2011, a primeira antologia da Editora Novo Século, A batalha dos deuses, organizada pelo escritor Juliano Sasseron (Crianças da noite, Novo Século, 2008), propõe especular sobre os diversos panteões de deuses mitológicos ao longo da história.
O volume de 176 páginas tem um boa apresentação, em papel pólen e capa com orelhas enormes e elegantes. A ilustração da capa não foi creditada.
Entre os nove contos selecionados, está o excelente "A menina que olhava", de Albarus Andreos, é um dos melhores conto que li nos últimos anos, poderoso e perturbador, conta a história de uma menina que é incitada por um demônio a desejar o mal das pessoas a sua volta. Bem escrito e com bom desfecho, lembra os dramas existenciais e espiritualistas de Orson Scott Card.
Outro bom conto é "Ragnarok", de Sid Castro, que conta a aventura de um grupo de vikings em viagem para suas colônias na América do Norte; mas eles se perdem e acabam chegando ao Rio Amazonas. O conto sustenta várias linhas de diálogo com outras obras da fantasia nacional, como A sombra dos homens (2004), de Roberto de Sousa Causo e A lendária Hy-Brasil (2005), de Michelle Klautau. Aos poucos, a fantasia heróica brasileira vai construindo um padrão, e isso é bom.
"Popol Vuh", de Sérgio Pereira Couto, também é um texto curioso, investindo no relato de um jovem que, sob influência de alucinógenos, tem visões com deuses do panteão maia. Reporta ao ponto alto do clássico romance de ficção científica Amazônia misteriosa (1925), de Gastão Crulz.
Mas a qualidade da antologia é comprometida pelo recorrente discurso anticristão dos demais textos, que torna a leitura muito cansativa e antipática. "Consciência quântica", o conto que fecha a antologia, de autoria do próprio organizador Juliano Sasseron, reforça a proposta dando ao conjunto o corpo de um manifesto em favor do ateísmo, um proselitismo inadequado porque antagônico à proposta fundamental da própria antologia.
Ainda assim, o livro vale pelos três textos destacados, que merecem ser lembrados em referência futuras.

Avenida Paulista

O quadrinho brasileiro está repleto de raridades que fazem a festa dos colecionadores. Devido a forma pouco comercial com que são explorados, com tiragens pequenas e distribuição irregular, muitos trabalhos passam pela existência sem deixar marcas e mesmo autores importantes não estão livres disso. Muitos desses materiais não merecem o esquecimento, por isso temos que agradecer à editora Companhia das Letras que, através do selo Quadrinhos na Cia, recupera para os leitores brasileiros a raríssima obra do premiado cartunista Luiz Gê, Avenida Paulista, originalmente publicada em 1991, com o título de Fragmentos Completos, numa edição promocional de distribuição restrita da Revista Goodyear.
O álbum de 88 páginas tem introdução de Nabil Bonduki e mostra a evolução da mais paulistas das avenidas ao longo de cem anos de história, em um cuidadoso trabalhos de pesquisa do autor que é arquiteto por formação.
Depois da publicação desse trabalho em 1991, Gê se afastou dos quadrinhos, legando uma obra de fôlego que atesta a grande qualidade de seu trabalho. Álbuns como Quadrinhos e Fúria (1984) e Território de Bravos (1993) reuniram parte do expressivo trabalho que o autor desenvolveu em diversas publicações, como a revista Circo da qual foi editor.
O lançamento do álbum Avenida Paulista acontece no próximo sábado, dia 31 de março, das 16 às 20h, na livraria FNAC (Av. Paulista, 901, São Paulo). Durante o evento, haverá apresentação da banda National Kids, que conta com a participação do próprio Luiz Gê.

Homem de Preto no Youtube

Originalmente produzido em 1989 e distribuído em fitas VHS, o longa metragem O desconhecido Homem de Preto, de Emir Ribeiro, está agora disponível para ser visto gratuitamente na internet, aqui.
Originalmente, o Homem de Preto é um personagem de histórias em quadrinhos publicadas pelo próprio autor em João Pessoa, na Paraíba, onde as gravações foram também realizadas. Por isso, o filme reveste-se de um aspecto histórico interessante, uma vez que mostra um instantâneo da capital paraibana de 23 anos atrás.
O artista também dispõe de uma revista, publicada em 2009, com a adaptação desse filme para os quadrinhos, entre outras histórias. Mais detalhes podem ser obtidos no saite e no blogue do artista.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Quadrinhos'51: Última forma

A organização da exposição Quadrinhos'51, recentemente inaugurada no MuBA, em São Paulo, anunciou que a programação do ciclo de palestras, divulgada aqui há alguns dias, foi alterada para que todas as atividades ocorram aos sábados às 14 horas.
A programação agora é a seguinte:
31 de março – Ainda há preconceito contra os Quadrinhos?
Participantes: Jotabê Medeiros, Álvaro de Moya, Gonçalo Júnior, Francisco Ucha;
14 de abril – Linguagem dos Quadrinhos no Cinema e na TV – Por que a TV brasileira despreza esse filão?
Participantes: Celso Sabadin, Walter Negrão;
28 de abril – Os Grandes Mestres e a Produção Editorial dos anos 50 a 70
Participantes: Primaggio Mantovi, Rodolfo Zalla;
5 de maio – A Ficção Científica nos Quadrinhos
Participantes: Cesar Silva, Roberto Causo e Marcelo Naranjo;
12 de maio – Ângelo Agostini, onde tudo começou
Participantes: Gilberto Maringoni, Gonçalo Júnior, Francisco Ucha;
19 de maio – Os quadrinhos italianos – Um tributo a Sergio Bonelli
Participantes: Sidney Gusman, Adriano Rainho e Álvaro de Moya;
26 de maio – 1951, Uma Exposição Educativa
Participantes: Álvaro de Moya, Maurício Kus;
Encerramento com exibição do filme de 1969, História em Quadrinhos, de Rogério Sganzerla e Álvaro de Moya.
Para conseguir um dos 150 lugares disponíveis no auditório, é aconselhável chegar com meia hora de antecedência. O MuBA fica na Rua Dr. Álvaro Alvim, 76, Vila Mariana, São Paulo. Mais informações sobre Quadrinhos'51 no blogue do evento, aqui.

quinta-feira, 22 de março de 2012

E-Draco

Outra editora que entrou com tudo no mercado de livros virtuais é a Draco, que inaugurou recentemente um respeitável catálogo com mais de trinta títulos, a maior parte deles exclusivos do formato. Os textos, em português, estão disponíveis no formato universal Epub e para o console Kindle, da Amazon.
Além dos romances e antologias do catálogo real da editora, está disponível a exclusiva coleção Contos do Dragão, que oferece minilivros com um conto inédito em cada volume. São eles: A torre das almas, Eduardo Spohr; Fritei minha dignidade no bacon, Alliah; Dies Irae, Lidia Zuin; As noivas rancas, Rober Pinheiro; O incrível congresso de astrobiologia, Cris Lasaitis; O primmeiro contacto, Fábio Fernandes; Maria e a fada, Ana Cristina Rodrigues; A encruzilhada, Ana Lúcia Merege; O turista, Erick Santos Cardoso; O cheiro do suor, Eric Novello; Por um punhado de almas, Cirilo S. Lemos; Brazil reloaded, Antonio Luiz M. C. Costa; Bonifrate, Douglas MCT; A coleira do amor, Gerson Lodi-Ribeiro; O cão, Leonel Caldela; Bons inimigos, Claudio Brites; Névoa e sangue, Nazarethe Fonseca; Eu, a sogra, Giulia Moon; Dividindo Mel, Iris Figueiredo; Vida e morte do último astro pornô da Terra, Marcelo A. Galvão; A sombra no Sol, Eric Novello; e Seolferwulf, José Roberto Vieira. Um detalhe que pode confundir o leitor desatento é o design das capas, que lembra muito a coleção Companhia de Bolso da Companhia das Letras.
A catálogo completo das publicações virtuais da Draco está na Amazon com preços que variam de U$0,99 a U$7.99, mas os livros podem ser também adquiridos nas livrarias brasileiras Gato Sabido, Saraiva e Cultura, com preços em Reais.
Mais informações podem ser obtidas no blogue da Editora Draco.

Horizonte sombrio

Cansados de esperar que as editoras reais lhes deem atenção, muitos autores estão migrando para as editoras virtuais. Em 2010, o Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica identificou um grande crescimento dos ebooks, tendência que prosseguiu em 2011 e parece manter-se em 2012, principalmente com a chegada dos leitores digitais ao mercado. Os ebook readers ainda não são uma escolha popular, mas configuram uma tendência para futuro, embora seja muito cedo para comemorar, se é que há algo para se comemorar nisso.
De qualquer forma, já não são apenas os novos autores que surgem nas edições virtuais. O experiente escritor Miguel Carqueija anuncia que acaba de ser publicado pela AgBooks seu livro Horizonte sombrio, que o próprio autor apresenta como "uma História Alternativa passada no tempo da Revolução Getulista e presta homenagem ao grande físico e inventor brasileiro, Padre Roberto Landell de Moura, e ao escritor Fred Saberhagen". O livro tem prefácio de Ronald Rahal e pode ser comprado aqui.

Ciclo de Palestras Quadrinhos'51

Inaugurada no dia 21 de março no MuBA - Museu Belas Artes de São Paulo, a exposição Quadrinhos'51 é uma homenagem a primeira exposição de histórias em quadrinhos do mundo, que aconteceu em São Paulo em 1951. Além da exibição de publicações raríssimas e originais de artistas nacionais e estrangeiros do anos 1950, 1960 e 1970, o evento promove, ao longo dos meses de março, abril e maio, um ciclo de palestras sobre a arte dos quadrinhos. 
A programação completa dessas atividades pode ser vista no blogue do evento, aqui.
Imagens em alta resolução de originais presentes na exposição podem ser baixadas aqui.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Resenha: Kerouac,

Ainda vai demorar muito tempo para que os espaços da mídia dedicados aos quadrinhos brasileiros processem tudo o que foi publicado em 2011, tal a quantidade de títulos editados no ano. Por isso, enquanto aguardamos as edições de 2012, vamos comentando alguns deles.
Há poucos dias li o álbum Kerouac, (a virgula faz parte do título), de João Pinheiro, semidocumentário com a biografia de Jack Kerouac (1922-1969), importante escritor norte americano, autor da bíblia "beat" Pé na estrada (On the road), um relato de uma aventura pelas estradas dos Estados Unidos.
João Pinheiro é ainda um artista novo no ambiente dos quadrinhos, atuando na área desde 2005, quando publicou nas revistas nacionais Grafitti e Front. Como escritor, publicou em 2010 o livro infantil O monstro (nem tão monstruoso) e o menino João (Editora Noovha América).
Kerouac, é, portanto, seu segundo livro autoral, um trabalho ousado com 112 páginas sobre esse importante personagem do século 20, que hoje já não é tão lido (pelo menos até que lancem o filme que está sendo produzido sobre Pé na estrada, previsto para junho deste ano).
Como a obra de Kerouac fala por si, não foi intenção de Pinheiro fazer uma versão dela, mas sim falar sobre o autor. Não sei se foi a melhor opção, já que a vida pessoal de Kerouac não parece tão interessante sem experiências narradas em Pé na estrada.
O trabalho de arte de Pinheiro é irregular, alternando momentos brilhantes com outros ruins, de traços imprecisos e grosseiros. Também nota-se alguma dificuldade do autor em definir claramente a fisionomia dos personagens, que se confundem o tempo todo.
A parte mais interessante do álbum é a cenografia, que demonstra ser resultado de uma pesquisa apurada, com desenhos bem elaborados, especialmente os automóveis, e uma boa técnica de claro escuro.
Mesmo sem um grande trabalho de arte, o valor de Kerouac, reside no esforço em recuperar para as novas gerações a literatura deste rebelde sem causa que influenciou toda uma geração.
Kerouac, é uma publicação da Devir Livraria.

A patrulha do espaço

A editora Jupiter 2 de José Salles, acaba de lançar A patrulha do espaço, revista com três histórias em quadrinhos de ficção científica no estilo ingênuo dos anos 1950, roteirizadas pelo saudoso Gedeone Malagola (1924-2008) e ilustradas pelo desenhista paraibano Emir Ribeiro. Gedeone é mais conhecido por Raio Negro, um super herói brasileiro que sempre vale a pena lembrar. Portanto, não há qualquer justificativa para a advertência "Para adultos" publicada na capa. 
A primeira história é "Os fugitivos", com o Capitão Júpiter, e as duas seguintes são "JS-36, o andróide" e "O duque de Kent", ambas com o Capitão Astral. Todas as histórias têm enredo de investigações policiais, de forma que não há muita diferença entre os dois capitães, além das vestimentas.
Da mesma forma que a Editora Jupiter 2 é uma homenagem à clássica Editora Jupiter, a revista é uma homenagem à Patrulha do espaço original publicada em 1953. Nas edições originais, as histórias foram desenhadas pelo próprio Gedeone, imitando o estilo de Milton Caniff.
A editora Jupiter 2 tem a interessante proposta de recuperar a obra de Gedeone e já publicou algumas dezenas de edições nos últimos anos. Esse é o tipo de ação que bem merecia um financiamento público.
Mais informações sobre esta e outras publicações da Editora Jupiter 2, podem ser obtidas no blogue da editora, aqui.

Ao mestre com carinho: Rodolfo Zalla

O registro da memória brasileira nunca foi dos melhores. Muitas vezes, só se percebe o valor do trabalho de uma pessoa quando já é tarde demais para uma conversa pessoal. Tantos artistas, editores e produtores culturais não tiveram chance de deixar para as gerações seguintes um bom depoimento de suas experiências, seus sucessos e fracassos, e por desconhecermos os seus acertos, acabamos por repetir-lhes os erros, sem falar no gigantesco prejuízo para a História.
Esses devem ter sido alguns dos motivos que levaram o cartunista Márcio Baraldi a produzir o documentário em DVD Ao mestre com carinho: Rodolfo Zalla, uma longa e detalhada entrevista com este que é um dos maiores mestres vivos do quadrinho brasileiro.
Nascido na Argentina em 1930, onde se iniciou e aperfeiçoou na carreira de ilustrador, Zalla migrou para o Brasil em 1963 e passou a produzir para diversas editoras fazendo quadrinhos de guerra, faroeste e, especialmente, terror, sua especialidade. Criou dezenas de personagens, entre as quais, Zora a Mulher Lobo, ilustrou milhares de capas e livros, e colaborou de forma decisiva para o desenvolvimento de uma linguagem brasileira na arte dos quadrinhos.
No DVD de 72 minutos, além do depoimento do mestre, há extras muito interessantes, nos quais Zalla conta curiosidades de sua carreira e sua vida pessoal. A produção é independente e artesanal, mas tem boa qualidade, com ótimos som e montagem.
O DVD é difícil de encontrar, mas pode ser adquirido nas lojas especializadas em quadrinhos.
Tomara que o exemplo de Baraldi frutifique. Ainda há muitos outros artistas que precisam ser resgatados para a História. E a hora é agora.

Incal Integral

No início dos anos 1980, o grande nome dos quadrinhos era, sem dúvida, Moebius (1938-2012). Autor de uma porção de histórias lisérgicas na revista francesa Metal Hurlant e em sua versão americana Heavy Metal, Moebius tinha um estilo incomum e elegante que influenciou artistas em todo o mundo. Quando uniu seu talento ao do roteirista, escritor e cineasta chileno Alejandro Jodorowsky na criação de O Incal negro, primeiro volume da saga espacial de John Difool, estava lançada a pedra fundamental de uma saga épica de ficção científica no estilo surrealista dos dois autores; uma sinergia perfeita que potencializou o talento de cada um deles, que já não era pequeno.
A história da alucinada investigação de John Difool sobre os mistérios do Incal não tem um enredo fácil de resumir. Diz o relise da editora: "A história gira em torno de John Difool, um detetive particular de quinta categoria, num amanhã totalmente corrupto. Seu mundo vira de cabeça para baixo quando ele encontra um antigo e misterioso artefato chamado “Incal”. Em pouco tempo, ele se vê envolvido num conflito de proporções épicas entre o Meta-Barão, considerado o maior guerreiro da galáxia, e os poderes do Tecno-Papa". Mas isso é só o começo.
A Devir Livraria, que anteriormente trouxe para o Brasil a saga completa de O Incal (O Incal negro, O Incal luminoso, O que está e cima, O que está em baixo, A quintessência: A galáxia que sonha e Planeta Difool), publicada em três volumes, agora apresenta Incal integral, edição definitiva com tudo em um único e poderoso volume de 308 páginas em cores, capa dura e, de quebra, a mesma colorização da edição original. Sem dúvida uma linda homenagem a este artista maiúsculo que acabou de deixar todos nós um pouco órfãos.
Incal integral é uma publicação da Devir Livraria e custa R$95,00. E vale cada centavo.

Jean Giraud (1938-2012)

A Nona Arte perdeu um de seus maiores nomes. No dia 10 de março de 2012, depois de um longo período de dificuldades com a saúde, morreu ao 73 anos o genial ilustrador Jean Giraud, o Moebius.  
Jean Henri Gaston Giraud, o Gir, foi um dos mais completos artistas do traço da segunda metade do século 20. Nascido em 1938 em Nogent-sur-Marne, subúrbio de Paris, Giraud foi criado pelos avós depois que seus pais se divorciaram. Cumpriu serviço militar na Argélia e estudou sozinho a arte do desenho. Começou a trabalhar com quadrinhos aos 18 anos, fazendo a série de tiras Frank et Jeremie para a revista Far West. Em 1961 tornou-se aprendiz do cartunista belga Jijé (Jerry Spring). No ano seguinte, Gir iniciou uma frutuosa parceria com o roteirista Jean Michel Charlier na tira de faroeste Fort Navajo, na qual surgiria seu personagem de maior sucesso, Tenente Blueberry.
Em 1963, Gir criou o pseudônimo Moebius para assinar trabalhos de fantasia e ficção científica na revista Hara-Kiri. Abandonado por alguns anos, Moebius voltaria em 1974 na revista Metal Hurlant, publicada pela Les Humanoides Associes, editora criada por ele mesmo ao lado dos também quadrinhistas Jean-Pierre Dionnet, Philippe Druillet e Bernard Farkas. A garagem hermética e Arzach, publicados na Metal Hurlant, tornaram o artista uma verdadeira franquia dos quadrinhos. As histórias de enredo caótico e fragmentado, bem como os desenhos exaustivamente detalhados, foram creditados à influência de alucinógenos que o Gir teria experimentado em uma viagem ao México, mas o fato é que esse estilo de narrativa e traço influenciou artistas no mundo inteiro.
Em 1981, mais um grande sucesso: com roteiro do escritor chileno Alejandro Jodorowsky, Moebius lançou o álbum O Incal Negro, que seria a gênese de um rico universo de fantasia científica.  Em 1988, seu incomparável estilo de desenhar foi incorporado ao universo dos comics na grafic novel Surfista Prateado, da Marvel Comics, com roteiro de Stan Lee.
Além dos quadrinhos, Moebius esteve diversas vezes envolvido com o cinema. Primeiro, ao trabalhar na pré-produção de um filme de Jodorowsky pretendia fazer para o mega romance de ficção científica Duna, de Frank Herbert, que pode ser considerado o mais influente filme de cinema jamais produzido. Algumas das ideias de Moebius para esse projeto seriam finalmente aproveitadas no filme realizado por David Linch em 1984, com produção de Dino di Laurentis.
Moebius esteve na equipe de Alien (1979), de Ridley Scott, e a HQ The long tomorrow (com roteiro de Dan O'Bannon) forneceu o visual para Blade Runner (1982) também de Scott, baseado em um romance de Philip K. Dick. O longa O quinto elemento (1997), de Luc Besson, também usou e abusou das concepções visuais de Moebius nessa mesma história. Moebius também teve participação nos filmes O segredo do abismo (1989, James Cameron), Tron (1981, Steven Lisberger) e Willow (1988, Ron Howard).

 Nos desenhos animados, Moebius trabalhou intensamente em Heavy Metal: Universo em fantasia (1981, Gerald Potterton) e no fenomenal O garoto do espaço (1982) de Rene Laloux, baseado em um romance de Stephan Wull, entre outros.
A série Incal está disponível integralmente pela Devir Livraria, e a editora Nemo publicou recentemente dois álbuns luxuosos (Arzach e Absoluten Calfeutrail e outras historias) com algumas das primeiras histórias de Moebius. Contudo, a maior parte da obra de Giraud, seja como Gir ou como Moebius, está indisponível no Brasil. Sua maior obra, a série de 28 volumes de O Tenente Blueberry, continua quase toda inédita no Brasil.

segunda-feira, 12 de março de 2012

1ª Odisseia de Literatura Fantástica

Longe vão os tempos em que, com alguma sorte, o fandom brasileiro podia contar com um evento de FC&F no ano. Atualmente, há muitos deles acontecendo periodicamente, cada vez mais especializados mas, de forma geral, instalados no eixo Rio-São Paulo.
Em abril isso vai mudar: acontece em Porto Alegre/RS, a I Odisseia de Literatura Fantástica, congresso da escritores e editores de ficção fantástica organizada pela Editora Argonautas.
O trabalho de divulgação começou ainda em 2011, e muita gente conhecida já confirmou a participação: uma ampla lista de nomes pode ser vista aqui.
A programação inclui palestras e painéis sobre o panorama  editorial da FC&F no Sul e no Brasil, sobre como escrever e publicar, e sobre a atividade crítica no meio dos fãs, bem como diversos lançamentos, mas o objetivo parece mesmo ser o congraçamento entre autores e leitores. Ainda que, historicamente, nunca aconteça a integração ideal entre todos os participantes nos eventos do fandom, o espírito festivo deve ser suficiente para justificar uma visita ao local.
O evento acontecerá nos dias 27 e 28 de abril no Memorial Rio Grande do Sul (R. Sete de Setembro, 1020,  Praça da Alfândega, Porto Alegre/RS), com entrada fraqueada ao público.
Mais informações no blogue do evento, aqui.

sábado, 10 de março de 2012

Resenha: Vermelho, vivo

Enquanto os deputados do congresso nacional debatem sobre uma lei que obrigaria as editoras brasileiras de HQ a dedicarem 20% de suas tiragens para o produto nacional, já há alguns anos que a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo investe uma pequena parcela de seu orçamento anual para o financiamento de livros e álbuns de autores paulistas através do Programa de Ação Cultural, o Proac, que tem sido valioso para viabilizar a edição de trabalhos que dificilmente chegariam ao público pelos métodos ortodoxos.
Desde 2008 o programa seleciona anualmente dez títulos para serem financiados, exigindo a retribuição de 200 exemplares que serão distribuídos nos espaços de leitura do Estado, além de uma atividade direta do artista, que pode ser uma oficina ou workshop, por exemplo.
Um desses trabalho, publicado no final de 2011, é Vermelho, vivo, drama de violência urbana de autoria de Cristina Judar com os bons desenhos de Bruno Auriema. É o segundo trabalho da dupla, que esteve junta no álbum Lina, publicado em 2009 pela Editora Estação Liberdade, também com verba do Proac.
Vermelho, vivo conta a história de uma jovem sociopata que é flagrada pela segurança de uma loja ao tentar roubar um batom e, para escapar de um processo, aceita a proposta indecente do chefe da segurança.
O paralelo mais correlato que consigo me lembrar para essa história é o longa metragem Um dia de fúria (Falling down, 1993) dirigido por Joel Schumacher, com a excepcional atuação de Michael Douglas no papel de um homem que, encontrando seguidas dificuldades para chegar ao aniversário do filho, adota uma atitude violenta e inconsequente. A diferença em Vermelho, vivo é que o leitor não desenvolve simpatia pela protagonista, que planeja e executa um crime brutal, incriminando um inocente, apenas para encobrir um pequeno furto. Fica a sensação de que os autores concordam que, desde que não se deixe pegar, vale tudo para se defender, mesmo quando se está realmente errado.
Além da narrativa gráfica, o leitor encontra no álbum uma versão literária da história e alguns estudos do ilustrador que não foram aproveitados.
Vermelho, vivo tem 48 páginas e é uma publicação da Devir Livraria.

terça-feira, 6 de março de 2012

Eventos a granel

Passada a folia, finalmente 2012 começa de fato. E para registrar a disposição da turma, surgem eventos por todos os lados.
O primeiro deles vem através das informações de Thina Curtis, editora do fanzine Spellwork. Trata-se da exposição Batom, Lápis e TPM, com trabalhos de cartum e quadrinhos só de artistas mulheres, promovido pela comissão do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, para comemorar o Dia Internacional da Mulher.
É uma iniciativa valiosa para colocar em justa perspectiva o panorama das cartunistas num ambiente dominado pela atividade masculina.  A abertura da exposição acontece no dia 8 de março, às 20h, Armazém 14a do Parque Engenho Central, em Piracicaba/SP. Thina Curtis está entre as cartunistas selecionadas, bem como Fabi Menassi. A lista completa das cartunista selecionadas pode ser vista no saite do evento, aqui.
No mesmo dia acontece o lançamento paulista da antologia Páginas do futuro, organizada pelo escritor Braulio Tavares para a editora Casa da Palavra. Uma oportunidade excelente para conversar com o organizador e alguns dos autores selecionados, além de adquirir o volume que está entre as publicações mais comentadas em 2011. Além de Tavares, confirmaram presença os escritores Luiz Bras, Ademir Assunção, Ataide Tartari, Fabio Fernandes e Finisia Fideli, todos autores publicados na antologia. O evento rola no segundo piso da Livraria Martins Fontes, Avenida Paulista, 509, das 18h30 às 21h30.
No dia 9 de março, às 21h, rola o II Ugra Zine Fest, com o lançamento do 2º Anuário de Fanzines, Zines e Publicações Alternativas, no Club Sattva Bordô, na Praça Roosevelt, 82, em São Paulo.
Depois da balada, no dia 10 às 14h, o evento prossegue na Casa do Fazer, Rua Humberto I, 201, Vila Mariana, com uma série de atividades, pagas e gratuitas, ligadas à edição independente, com as presenças dos quadrinhistas Marcatti e Law Tissot. São os editores alternativos resistindo bravamente ao predomínio imediatista da internet. Maiores informações no blogue do evento, aqui.
Enquanto tudo isso acontece, desde o dia 1 de março está rolando em Sampa a exposição Arte Postal: Os Livros, uma mostra da cena contemporânea de arte postal e gravuras com trabalhos de 289 participantes de 20 países.

A exposição estará aberta a visitação até o dia 31 de março, na Galeria Gravura Brasileira, Rua Dr. Franco da Rocha, 61, Perdizes. Entre os artistas expostos, estão trabalhos do gravador Rubens Cavalcanti da Silva, que me deu a dica. Mais informações, no blogue da exposição, aqui.

sexta-feira, 2 de março de 2012

A luta continua

Concluída Traição, terceiro arco da versão em quadrinhos de A torre negra, cultuado romance dark fantasy de Stephen King, a editora Panini distribuiu às bancas o primeiro número do novo arco: A queda de Gilead (The fall of Gilead).
Com roteiro de Peter David e desenhos de Richard Isanove, esta nova série em seis episódios dá continuidade à saga da juventude do pistoleiro Roland Deschain no decadente Mundo Médio.
Diz o relise: "Se as coisas já não iam nada bem no Mundo Médio, acabam de piorar. Com a mente dominada pela esfera mística conhecida como Toranja de Merlim, o jovem pistoleiro Roland Deschain assassinou a própria mãe, Gabrielle, desencadeando uma crise sem precedentes e abrindo as portas para a grande investida de John Farson, o Homem Bom".
Ainda é possível encontrar nas bancas a edição anterior, o especial O feiticeiro (The sorcerer), prelúdio  dedicado exclusivamente a Marten Broadcloak, o nêmesis de Rolland.
Ambas as edições tem 36 páginas em cores e custam R$ 4,99 cada.

A história da minha vida

Uma das brincadeiras literárias mais divertidas é a produção de biografias fictícias. O escritor argentino Jorge Luiz Borges era praticante dessa rara arte e escreveu uma porção delas, que são muito bem conceituadas. Também há quem escreva autobiografias que, se não são de gente que nunca existiu, pelo menos inventam muita coisa, para melhorar a imagem do autor.
Agora temos a chance de experimentar o melhor dos dois mundos: uma autobiografia fictícia, porque quem a "escreveu" é um personagem de histórias em quadrinhos, da italiana Sergio Bonelli Editore.
Trata-se de Tex Willer: A história da minha vida (Il romanzo della mia vita, 208 pág.), o famoso ranger que habitou a região do Texas, nos Estados Unidos, no século 19. Além de homem da lei, Willer era muito bem relacionado com os nativos, dos quais recebeu o nome de Águia da Noite, sendo considerado um chefe entre eles. Diz o relise: "Nesse relato, Tex revela suas origens, as histórias de seus parceiros, o encontro com o aparentemente mal-humorado Kit Carson e com o altivo navajo Jack Tigre, além do nascimento do filho Kit, depois do casamento com Lilyth, a filha do chefe Flecha Vermelha. Ele narra os acontecimentos que, no passado distante, por muito tempo o etiquetaram como fora da lei.
Tex conta como, apesar de ser texano, lutou na Guerra Civil do lado do Norte e narra sua participação na luta pela libertação do México ao lado do amigo Montales. Ele enfrenta bandidos, donos de terras inescrupulosos, políticos corruptos, militares ambiciosos, índios em revolta. É um defensor dos fracos e dos oprimidos, fortemente antirracista e amigo dos peles-vermelhas".
É claro que Tex Willer não escreveu nada disso. O autor real do livro é roteirista Mauro Boselli, que escreve suas histórias desde 1994. O personagem nasceu de fato em 1948, criação de Giovanni Luigi Bonelli e Aurelio Galleppini, e desde então vem sendo continuamente publicado, sendo no Brasil o personagem de quadrinhos estrangeiro mais bem sucedido do mercado.
O volume ainda conta com ilustrações do excelente Fabio Civitelli e um prefácio assinado pelo próprio Sergio Bonelli.
Tex Willer: A história da minha vida é uma publicação da Mythos Editora e custa R$24,90.