Jean Pires de Azevedo Gonçalves informa que seu romance de ficção científica A saga de um andarilho pelas estrelas, está disponível em edição da editora Multifoco no selo Dimensões Ficção.
Diz o texto de divulgação: "Utopia pós-moderna, conta a história de um homem que abandona a Terra e viaja pelas estrelas, onde conhece civilizações extraordinárias. Mas o universo guarda infinitas surpresas e alguns planetas podem ser muito perigosos".
O texto foi composto em prosa mas também guarda trechos poéticos, na forma de oito sonetos.
O volume está disponível no saite da Multifoco, e também nas livrarias Cultura, Travessa e Cata Preço.
terça-feira, 31 de março de 2015
Fuligem: Terrores paulistas
O escritor e roteirista carioca Tiago Teixeira escolheu o cenário paulista para ambientar seu ebook de estreia, a coletânea Fuligem: Terrores paulistas publicada pela editora Time Machine. A maior cidade da América Latina é a personagem principal de seis contos de horror que mostram o lado mais sombrio dessa metrópole que nunca dorme. A capa do volume é assinada por Gabriel Silveira e um booktrailler pode ser visto aqui.
O livro está disponível na Amazon e Itunes.
Mais informações no saite do livro, aqui.
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Tiago Teixeira
Bang! 17
Está disponível para download gratuito a edição 17 da revista portuguesa Bang!, publicação inteiramente dedicada à ficção fantástica, editada por Safaa Dib para a editora Saída de Emergência.
A edição, profusamente ilustrada, tem 92 páginas em cores e não deixará o leitor desanimado, pois muitos títulos da Saída de Emergência já são disponíveis no Brasil.
Jorge Palinhos, António Monteiro, João Lameiras, Sérgio Mascarenhas, Ana Cristina Rodrigues, Eduarda Barata, Brandon Sanderson, João Campos, Elio M. Garcia e Linda Antonsson assinam artigos de conteúdo variado, que vão de A guerra dos tronos, O mago e A lenda de Shanara a O homem do castelo alto, Duna e Estúdio Ghibli. Também apresenta ficção de David Machado, Pedro Lucas Martins e Cory Doctorow, além de quadrinhos de Estevão Ribeiro. A capa traz a arte de Manuel Morgado, que também conta com um pequeno portfólio na edição.
Para baixar o ebook é necessário logar no saite da editora; o cadastro também é gratuito.
A edição, profusamente ilustrada, tem 92 páginas em cores e não deixará o leitor desanimado, pois muitos títulos da Saída de Emergência já são disponíveis no Brasil.
Jorge Palinhos, António Monteiro, João Lameiras, Sérgio Mascarenhas, Ana Cristina Rodrigues, Eduarda Barata, Brandon Sanderson, João Campos, Elio M. Garcia e Linda Antonsson assinam artigos de conteúdo variado, que vão de A guerra dos tronos, O mago e A lenda de Shanara a O homem do castelo alto, Duna e Estúdio Ghibli. Também apresenta ficção de David Machado, Pedro Lucas Martins e Cory Doctorow, além de quadrinhos de Estevão Ribeiro. A capa traz a arte de Manuel Morgado, que também conta com um pequeno portfólio na edição.
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Somnium 111
O fanzine Somnium, publicação oficial do Clube de Leitores de Ficção Científica-CLFC editada por Ricardo Guilherme dos Santos, chega ao número 111 com uma de suas mais belas edições. Trata-se de uma publicação inteiramente dedicada a memória do mais importante escritor brasileiro do gênero, André Carneiro, o paulista de Atibaia falecido em 2014. A edição tem 140 páginas e aborda algumas das muitas faces deste relevante artista que, como poucos, representa a ficção científica feita no Brasil. Muitos são os colaboradores presentes que, entre artigos e resenhas, apresentam uma valiosa lista de publicações, uma extensa entrevista e diversos textos do autor, incluindo uma noveleta inédita.
Esta publicação histórica e obrigatória, está disponível aqui para download gratuito.
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Megalon 60
Volta a estar disponível número 60 do fanzine de ficção científica e horror Megalon, editado por Marcello Simão Branco e originalmente publicado em março de 2001.
A edição tem 40 páginas e traz ficções Hindemberg Frota e do hoje conhecido escritor americano Jeff Vandermeer, uma hq de Edgard Franco, artigos de Finisia Fideli, Roberto de Sousa Causo, e as colunas fixas "Diário do fandom", "Publicações recebidas", "Terras alternativas" e "Arte fantástica brasileira". A capa traz uma ilustração clássica que o brasileiro Henrique Alvim Corrêa fez para a primeira edição inglesa de A guerra dos mundos, de H. G. Wells.
O editor disponibilizou também um arquivo bônus contendo uma edição integral do Informativo Mensal do CLFC, publicado em janeiro de 2001, além de fotos históricas e material de divulgação de lançamentos de diversos livros da época. E, dando sequência à série Pulp Brasil, a capa da revista Mistérios nº12, publicada em outubro de 1937.
A edição tem 40 páginas e traz ficções Hindemberg Frota e do hoje conhecido escritor americano Jeff Vandermeer, uma hq de Edgard Franco, artigos de Finisia Fideli, Roberto de Sousa Causo, e as colunas fixas "Diário do fandom", "Publicações recebidas", "Terras alternativas" e "Arte fantástica brasileira". A capa traz uma ilustração clássica que o brasileiro Henrique Alvim Corrêa fez para a primeira edição inglesa de A guerra dos mundos, de H. G. Wells.
O editor disponibilizou também um arquivo bônus contendo uma edição integral do Informativo Mensal do CLFC, publicado em janeiro de 2001, além de fotos históricas e material de divulgação de lançamentos de diversos livros da época. E, dando sequência à série Pulp Brasil, a capa da revista Mistérios nº12, publicada em outubro de 1937.
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quarta-feira, 18 de março de 2015
Schima returns
Roberto Schima, escritor e ilustrador de fc&f muito ativo nos anos 1990, ficou bastante conhecido por vencer o concurso literário Jerônimo Monteiro, promovido pela revista Isaac Asimov Magazine em 1991. Seu afastamento voluntário do fandom e do mercado editorial ao longo dos primeiros anos do século 21 fez muita falta, pois Schima sempre foi um dos mais bem avaliados autores da conhecida Segunda Onda da fc brasileira. Contumaz vencedor do Prêmio Nova, artista de grandes recursos e boas ideias, Shima é dono de uma obra que deveria fazer parte da bagagem de leitura de qualquer brasileiro interessado em literatura fantástica.
Por isso, foi uma grata surpresa quando Schima enviou um comentário para a resenha a seu livro Pequenas portas do eu, publicado no blogue Almanaque da Arte Fantástica Brasileira.
Disse Roberto Schima: "Grato pela lembrança e pelo texto. Afastei-me por algumas decepções e também por sentir que a criatividade havia morrido, afora questões do cotidiano. Recentemente, lancei alguns trabalhos, casos seus leitores tenham curiosidade: Limbographia e O olhar de Hirosaki. Para quem quiser fazer download de minhas histórias e desenhos: Minhateca. Tenho ensaiado um retorno, todavia, o cotidiano corrido tem atrapalhado. Abraços, Roberto Schima."
Esta é uma ótima notícia e merece este registro, pois é imperativo o resgate a obra deste autor que, com raras exceções, ficou restrita aos fanzines hoje desaparecidos.
Por isso, foi uma grata surpresa quando Schima enviou um comentário para a resenha a seu livro Pequenas portas do eu, publicado no blogue Almanaque da Arte Fantástica Brasileira.
Disse Roberto Schima: "Grato pela lembrança e pelo texto. Afastei-me por algumas decepções e também por sentir que a criatividade havia morrido, afora questões do cotidiano. Recentemente, lancei alguns trabalhos, casos seus leitores tenham curiosidade: Limbographia e O olhar de Hirosaki. Para quem quiser fazer download de minhas histórias e desenhos: Minhateca. Tenho ensaiado um retorno, todavia, o cotidiano corrido tem atrapalhado. Abraços, Roberto Schima."
Esta é uma ótima notícia e merece este registro, pois é imperativo o resgate a obra deste autor que, com raras exceções, ficou restrita aos fanzines hoje desaparecidos.
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As aventuras de Honey Bel
Está disponível para download gratuito a novela de ficção científica cômica As aventuras de Honey
Bel, de Miguel Carqueija, com a história de uma agente secreta que tem tudo para não dar certo. Diz o texto de divulgação: "Honey Bel é uma simpática, porém meio biruta, garota que vive na Terra II (um cometa terramorfizado) onde exerce a (para ela) difícil profissão de vendedora. Mas Honey quer ardentemente uma outra vida: aventuras e viver um amor intenso com o Príncipe Encantado. E ela quebrará lanças para conseguir o seu ideal."
A edição, em forma de arquivo de texto, chega através da página do autor no saite Recanto das Letras. O prefácio e o posfácio são respectivamente assinados por Francisco Martellini e Ricardo Guilherme dos Santos.
Bel, de Miguel Carqueija, com a história de uma agente secreta que tem tudo para não dar certo. Diz o texto de divulgação: "Honey Bel é uma simpática, porém meio biruta, garota que vive na Terra II (um cometa terramorfizado) onde exerce a (para ela) difícil profissão de vendedora. Mas Honey quer ardentemente uma outra vida: aventuras e viver um amor intenso com o Príncipe Encantado. E ela quebrará lanças para conseguir o seu ideal."
A edição, em forma de arquivo de texto, chega através da página do autor no saite Recanto das Letras. O prefácio e o posfácio são respectivamente assinados por Francisco Martellini e Ricardo Guilherme dos Santos.
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Juvenatrix 168
Está disponível o fanzine de horror e ficção científica Juvenatrix nº168, editado por Renato Rosatti. Em suas 13 páginas, a edição homenageia o ator e diretor Leonard Nimoy recentemente falecido, traz um conto do editor, divulgação de fanzines, livros e dvds, e resenhas aos filmes O cadáver atômico (1955), O demônio imortal (1973), Mandroid (1993), A máscara do mágico (1954), A noite do terror rastejante (1976) e Uma fenda no mundo (1965). A capa tem uma ilustração de Angelo Junior. Para obter uma cópia, em formato pdf, é preciso solicitar ao editor no email renatorosatti@yahoo.com.br.
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Ghost Writer Minicontos
Os escritores Luiz Bras e Santiago Santos, acompanhados pelo pesquisador Cesar Silva, conversam com Ricardo Herdy no episódio "Minicontos" do podcast Ghost Writer. O programa de 115 minutos condensa uma divertida conversa de muitas horas realizada através do skype no início de fevereiro.
Além do batepapo, que contextualiza o formato e seus protocolos na história e na literatura, o programa conta com a leitura dramatizada de alguns contos de Santiago Santos publicados no saite Flash Fiction. A interpretação é de Lauriston Trindade, que teve participação semelhante no episódio sobre Lovecraft. A edição é de Raphael Modena.
O episódio pode ser ouvido online ou baixado no formato mp3 para audição offline.
Além do batepapo, que contextualiza o formato e seus protocolos na história e na literatura, o programa conta com a leitura dramatizada de alguns contos de Santiago Santos publicados no saite Flash Fiction. A interpretação é de Lauriston Trindade, que teve participação semelhante no episódio sobre Lovecraft. A edição é de Raphael Modena.
O episódio pode ser ouvido online ou baixado no formato mp3 para audição offline.
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Megalon 59
Volta a estar disponível para download gratuito o fanzine de ficção científica e horror Megalon nº59, originalmente publicado em formato real por Marcello Simão Branco em dezembro de 2000.
A edição, de 44 páginas, antecipa o Brasil no século 21, com um artigo de Braulio Tavares e contos de Jorge Luiz Calife, Roberto de Sousa Causo, Octavio Aragão, Gerson Lodi-Ribeiro, Lucio Manfredi e Carlos Orsi. Traz ainda um artigo analítico sobre o Prêmio Argos 2000, uma hq de Cerito e a seção fixa "Diário do fandom", com um instantâneo da cena cultural naquele fim de século.
O editor disponibiliza também um arquivo bônus, com a programação da ApeCon, encontro de fãs da série O planeta dos macacos ocorrido em outubro de 2000 em São Paulo. E dando sequência à série Pulp Brasil, a imagem digitalizada da capa do histórico Magazine de Ficção Científica nº10, de janeiro de 1971.
A edição, de 44 páginas, antecipa o Brasil no século 21, com um artigo de Braulio Tavares e contos de Jorge Luiz Calife, Roberto de Sousa Causo, Octavio Aragão, Gerson Lodi-Ribeiro, Lucio Manfredi e Carlos Orsi. Traz ainda um artigo analítico sobre o Prêmio Argos 2000, uma hq de Cerito e a seção fixa "Diário do fandom", com um instantâneo da cena cultural naquele fim de século.
O editor disponibiliza também um arquivo bônus, com a programação da ApeCon, encontro de fãs da série O planeta dos macacos ocorrido em outubro de 2000 em São Paulo. E dando sequência à série Pulp Brasil, a imagem digitalizada da capa do histórico Magazine de Ficção Científica nº10, de janeiro de 1971.
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sábado, 14 de março de 2015
Os cavalinhos do Platiplanto
Aprendi a admirar a literatura de José J. Veiga (1915-1999) quando era ainda adolescente. Incentivado por uma mãe bibliotecária, li muita ficção fantástica desde a infância e logo escrevi meus próprios contos. Alguns desses primeiros textos foram parar nas mãos do Dr. Miller, então Secretário de Cultura de Santo André, e foi este senhor que, ao me receber em sua casa, recomendou a leitura do autor. Os primeiros livros de Veiga que li foram o romance A hora dos ruminantes (1966) e a coletânea Os cavalinhos do Platiplanto (1959), que a Editora Companha das Letras está oportunamente republicando em uma coleção caprichada em comemoração ao centenário de nascimento deste autor goiano (veja post aqui).
A nova edição de Os cavalinhos do Platiplanto – prefaciada por um excelente ensaio crítico de Silviano Santiago – reúne os primeiros contos escritos por Veiga, que estreou tardiamente na literatura, aos 44 anos de idade. São doze contos ao todo, que relatam situações ligadas a vida em pequenas comunidades do interior brasileiro, nas quais a fantasia e o inusitado de imiscui de forma natural e harmônica.
O primeiro conto, "A ilha dos gatos pingados", relata um momento na infância de três garotos que, para fugir da violência doméstica, constroem um refúgio secreto num banco de areia no meio do rio. Apesar do romantismo, o relato da violência pelo qual passa um dos personagens é de cortar o coração.
O segundo texto, "A usina atrás do morro", é uma história icônica na obra de Veiga, em muito similar a seu texto mais conhecido, o já citado A hora dos ruminantes. Conta a reação que a chegada de uma grande e misteriosa indústria causa numa pequena comunidade rural, relatada por um dos moradores, um jovem que tenta entender por quê a promessa de desenvolvimento teve de vir acompanhada de uma violência que beira à insanidade. Contudo, diferente da conclusão redentora do romance, o conto é muito mais duro e distópico.
O texto que empresta o nome ao livro também tem uma criança como narradora, que conta como a promessa frustrada de ganhar um cavalo do avô o leva a sonhar com uma fazenda mágica na qual os cavalos mais lindos do mundo são todos seus. O estilo de Veiga já se manifesta aqui, sem definir as fronteiras entre sonho e realidade, na forma como as crianças enxergam o mundo.
"Era só brincadeira" é o que poderíamos chamar de um texto absurdista. Durante uma pescaria, um homem resgata do rio um velho cano de espingarda que vai se transformar num bizarro caso de polícia com um final trágico. Ainda bem que era tudo brincadeira. Ou não?
"Os do outro lado" é uma história de fantasmas na tradição das casas mal assombradas. Mas, sendo Veiga, nada é exatamente o que parece.
"Fronteira" é o menor texto do livro, mas não menos potente. Conta como um menino, que tem a missão de conduzir os viajantes por caminhos nos quais só os meninos sabem andar, deixa de ser menino.
"Tia Zi rezando" fala de um menino que vive um mistério doméstico. Criado pelos tios, ele passa por diversas situações inexplicáveis, sempre ligadas a um segredo que ninguém tem coragem de contar.
"Professor Pulquério" conta a transformação de intelectual obcecado pela lenda de um tesouro enterrado em algum lugar nos arredores da pequena cidade onde mora. O final desconcertante é um dos raríssimos casos de final surpresa que não estraga o conto em si, antes pelo contrário, emprestando a ele uma leitura absolutamente diversa.
Em "A Invernada do Sossego" dois meninos irmãos esperam ansiosamente pela volta do cavalo de estimação que fugiu da fazenda. Mas o cavalo não volta nunca e eles terão de ir encontrá-lo na tal Invernada do Sossego, um lugar que talvez só exista na imaginação das crianças.
"Roupa no coradouro" é, de longe, a história mais melancólica da seleta e conta como a culpa pode se instalar para sempre no coração de uma criança inocente.
"Entre irmãos" relata o incômodo encontro de dois irmãos que não se conhecem, enquanto a mãe deles agoniza no quarto ao lado.
Em "A espingarda do rei da Síria", outra história de laivos absurdistas, um caçador que perdeu a espingarda encontra a redenção de sua tragédia pessoal numa realidade mágica.
Apesar de um predomínio de personagens juvenis e da narrativa singela, as histórias de Veiga não se limitam a esse público de forma alguma: todas tratam de temas complexos e espinhosos. Paralelos entre a fantasia e a violência, o sonho e a frustração, estão presentes em diversos textos do volume, sendo de fato uma assinatura estilística do autor.
Além de Os cavalinhos do Platiplanto e A hora dos ruminantes, A Companhia das Letras promete republicar toda a obra de Veiga, que inclui peças de horror, fantasia, ficção científica e até de história alternativa: A máquina extraviada (coletâna, 1967), Sombras de reis barbudos (romance, 1972), Os pecados da tribo (romance, 1976), O Professor Burim e as quatro calamidades (romance, 1978), De jogos e festas (coletânea, 1980), Aquele mundo de Vasabarros (romance, 1982), Torvelinho dia e noite (romance, 1985), A casca da serpente (romance, 1989), O risonho cavalo do príncipe (romance, 1993), O relógio Belizário (romance, 1995), Tajá e sua gente (romance, 1997) e Objetos turbulentos (coletânea, 1997). O que é uma bênção para os fãs de Veiga, pois as edições são luxuosas, impressas em papel pólem de alta gramatura, encadernadas em capas duras com ilustrações de Deco Farkas, além de trazerem valiosos ensaios discutindo a obra em questão e uma grande lista de leituras complementares. Sem dúvida, uma publicação importante que trata o autor e a obra com respeito e consideração que merecem.
A nova edição de Os cavalinhos do Platiplanto – prefaciada por um excelente ensaio crítico de Silviano Santiago – reúne os primeiros contos escritos por Veiga, que estreou tardiamente na literatura, aos 44 anos de idade. São doze contos ao todo, que relatam situações ligadas a vida em pequenas comunidades do interior brasileiro, nas quais a fantasia e o inusitado de imiscui de forma natural e harmônica.
O primeiro conto, "A ilha dos gatos pingados", relata um momento na infância de três garotos que, para fugir da violência doméstica, constroem um refúgio secreto num banco de areia no meio do rio. Apesar do romantismo, o relato da violência pelo qual passa um dos personagens é de cortar o coração.
O segundo texto, "A usina atrás do morro", é uma história icônica na obra de Veiga, em muito similar a seu texto mais conhecido, o já citado A hora dos ruminantes. Conta a reação que a chegada de uma grande e misteriosa indústria causa numa pequena comunidade rural, relatada por um dos moradores, um jovem que tenta entender por quê a promessa de desenvolvimento teve de vir acompanhada de uma violência que beira à insanidade. Contudo, diferente da conclusão redentora do romance, o conto é muito mais duro e distópico.
O texto que empresta o nome ao livro também tem uma criança como narradora, que conta como a promessa frustrada de ganhar um cavalo do avô o leva a sonhar com uma fazenda mágica na qual os cavalos mais lindos do mundo são todos seus. O estilo de Veiga já se manifesta aqui, sem definir as fronteiras entre sonho e realidade, na forma como as crianças enxergam o mundo.
"Era só brincadeira" é o que poderíamos chamar de um texto absurdista. Durante uma pescaria, um homem resgata do rio um velho cano de espingarda que vai se transformar num bizarro caso de polícia com um final trágico. Ainda bem que era tudo brincadeira. Ou não?
"Os do outro lado" é uma história de fantasmas na tradição das casas mal assombradas. Mas, sendo Veiga, nada é exatamente o que parece.
"Fronteira" é o menor texto do livro, mas não menos potente. Conta como um menino, que tem a missão de conduzir os viajantes por caminhos nos quais só os meninos sabem andar, deixa de ser menino.
"Tia Zi rezando" fala de um menino que vive um mistério doméstico. Criado pelos tios, ele passa por diversas situações inexplicáveis, sempre ligadas a um segredo que ninguém tem coragem de contar.
"Professor Pulquério" conta a transformação de intelectual obcecado pela lenda de um tesouro enterrado em algum lugar nos arredores da pequena cidade onde mora. O final desconcertante é um dos raríssimos casos de final surpresa que não estraga o conto em si, antes pelo contrário, emprestando a ele uma leitura absolutamente diversa.
Em "A Invernada do Sossego" dois meninos irmãos esperam ansiosamente pela volta do cavalo de estimação que fugiu da fazenda. Mas o cavalo não volta nunca e eles terão de ir encontrá-lo na tal Invernada do Sossego, um lugar que talvez só exista na imaginação das crianças.
"Roupa no coradouro" é, de longe, a história mais melancólica da seleta e conta como a culpa pode se instalar para sempre no coração de uma criança inocente.
"Entre irmãos" relata o incômodo encontro de dois irmãos que não se conhecem, enquanto a mãe deles agoniza no quarto ao lado.
Em "A espingarda do rei da Síria", outra história de laivos absurdistas, um caçador que perdeu a espingarda encontra a redenção de sua tragédia pessoal numa realidade mágica.
Apesar de um predomínio de personagens juvenis e da narrativa singela, as histórias de Veiga não se limitam a esse público de forma alguma: todas tratam de temas complexos e espinhosos. Paralelos entre a fantasia e a violência, o sonho e a frustração, estão presentes em diversos textos do volume, sendo de fato uma assinatura estilística do autor.
Além de Os cavalinhos do Platiplanto e A hora dos ruminantes, A Companhia das Letras promete republicar toda a obra de Veiga, que inclui peças de horror, fantasia, ficção científica e até de história alternativa: A máquina extraviada (coletâna, 1967), Sombras de reis barbudos (romance, 1972), Os pecados da tribo (romance, 1976), O Professor Burim e as quatro calamidades (romance, 1978), De jogos e festas (coletânea, 1980), Aquele mundo de Vasabarros (romance, 1982), Torvelinho dia e noite (romance, 1985), A casca da serpente (romance, 1989), O risonho cavalo do príncipe (romance, 1993), O relógio Belizário (romance, 1995), Tajá e sua gente (romance, 1997) e Objetos turbulentos (coletânea, 1997). O que é uma bênção para os fãs de Veiga, pois as edições são luxuosas, impressas em papel pólem de alta gramatura, encadernadas em capas duras com ilustrações de Deco Farkas, além de trazerem valiosos ensaios discutindo a obra em questão e uma grande lista de leituras complementares. Sem dúvida, uma publicação importante que trata o autor e a obra com respeito e consideração que merecem.
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sexta-feira, 6 de março de 2015
Sagas 5: Revolução
Em 2010, a coleção Sagas inaugurou as atividades da Editora Argonautas, fundada pelos escritores Cesar Alcázar e Duda Falcão, em Porto Alegre. Os editores não esconderam sua admiração pela saudosa coleção de livros de bolso Argonauta, da editora portuguesa Livros do Brasil que, por décadas, foi a fonte principal de publicação de ficção científica em língua portuguesa. Como todos os brasileiros que cresceram lendo esses livrinhos, eles também sonharam criar sua própria coleção no país, e a Sagas foi a solução que escolheram para realizar esse sonho.
Sagas é uma série de antologias que, a cada edição, adota um tema base para a seleção dos contos. O primeiro número foi Espada & magia, o segundo, Estranho oeste, o terceiro, Martelo das bruxas, e, o quarto, Odisseia espacial, deixando claro o gênero abordado: fantasia heróica, faroeste, horror e ficção científica, respectivamente. Desde o princípio, os editores deixaram claro que não tinham grandes pretensões literárias para a coleção. A ideia era que Sagas se situasse no nicho das publicações populares, com textos acessíveis e temas instigantes. As capas coloridas e chamativas, ao estilo das histórias em quadrinhos, revelam a intenção pulpesca.
Em 2014, Sagas chegou a sua quinta edição, num volume de 92 páginas subtitulado Revolução. Trata-se do tema mais aberto da coleção até o momento, que não deixa claro ao leitor para que lado a seleção pretende levá-lo. E, de fato, as histórias são bem variadas. O prefácio traz um ensaio assinado por Rafael Hansen Quinsani, mestre em História e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que justifica o valor do tema escolhido, embora deixe transparecer que provavelmente não tenha lido os contos previamente, prática comum nas antologias publicadas no país.
O primeiro conto, "A Batalha das Garras Negras", do escritor gaúcho André Cordenonsi, parece ser parte de um projeto maior. No final do texto o autor faz constar o subtítulo "As crônicas de Thandor, Volume 1, Tomo 5", que parece confirmar esta suspeita. A história conta como uma comitiva soldados humanos que pretende negociar um acordo com seus inimigos – uma tribo de lobisomens que habita as florestas – acaba num banho sangue depois de uma traição. Quem foi o traidor é o grande mistério. O texto é ágil e repleto de imagens típicas das histórias de fantasia medieval, ao estilo Guerra dos tronos e O senhor dos anéis. O problema é que tudo acontece muito rápido e não há tempo para o leitor identificar os personagens que, para piorar, têm nomes complicados que dificultam o reconhecimento. É preciso prestar muita atenção para entender quem está matando, quem está morrendo e quem, afinal, é o traidor. Sinal que nem sempre funciona tomar um fragmento de um texto maior como um conto independente.
O segundo trabalho é "Nas nuvens", ficção científica de Fábio Fernandes, tradutor experiente e autor surgido nos fanzines do final do século, no caldeirão que ficou conhecido como Segunda Onda da ficção científica brasileira. Fernandes é autor de alguns textos muito bem avaliados entre os fãs do gênero, mas infelizmente não é o caso deste conto, que não disfarça o tom intolerante e preconceituoso. Narra uma sessão de tortura de um subversivo que, de fato, é um cavalo de Tróia através do qual será implantado um vírus nos computadores do governo, um estado policial formado por fanáticos religiosos. A cena final é tão constrangedora que somente posso tomar este texto como uma piada que não deu certo.
O terceiro conto é "Atrás das muralhas, atrás das cortinas", de Felipe Castilho, autor paulista que está construindo uma obra interessante inspirada na mitologia brasileira, como se vê nos livros Ouro, fogo & megabytes e Prata, terra & Lua cheia. O texto em questão, contudo, escapa desse viés. Trata-se de uma mistura de fantasia que coloca Robin Hood num contexto distópico no qual uma sociedade hedonista despreza e explora as pessoas que não atingem um padrão mínimo de beleza. A história é contada pela ótica de João Pequeno, um faxineiro gordo que, por acaso, tem uma belíssima voz. O envolvimento da música na trama é o melhor ponto do trabalho, lembrando o já clássico "Sonata desacompanhada", do escritor americano Orson Scott Card.
Fecha a edição o conto "Não confie em ninguém quando a revolução vier", da gaúcha Nikelen Witter, o melhor texto do conjunto. Trata-se de uma fantasia de história alternativa situada em algum momento do século 19. Uma espiã a serviço do governo entrega o objeto de sua missão ao seu empregador, uma arma secreta tão poderosa que pode por fim a revolução popular que grassa nas ruas. Mas o que ela não diz é que ter a tal arma nas mãos pode não ser a melhor forma de vencer a guerra. Nikelen é historiadora e, junto com Alcázar, Falcão e outros colaboradores, faz parte da equipe que organiza a Odisseia de Literatura Fantástica de Porto Alegre.
A capa traz uma ilustração de Fred Rubim, que reúne detalhes de cada um dos contos publicados.
Sagas 5: Revolução cumpre o objetivo de entreter o leitor com textos inéditos de bons autores brasileiros.
Sagas é uma série de antologias que, a cada edição, adota um tema base para a seleção dos contos. O primeiro número foi Espada & magia, o segundo, Estranho oeste, o terceiro, Martelo das bruxas, e, o quarto, Odisseia espacial, deixando claro o gênero abordado: fantasia heróica, faroeste, horror e ficção científica, respectivamente. Desde o princípio, os editores deixaram claro que não tinham grandes pretensões literárias para a coleção. A ideia era que Sagas se situasse no nicho das publicações populares, com textos acessíveis e temas instigantes. As capas coloridas e chamativas, ao estilo das histórias em quadrinhos, revelam a intenção pulpesca.
Em 2014, Sagas chegou a sua quinta edição, num volume de 92 páginas subtitulado Revolução. Trata-se do tema mais aberto da coleção até o momento, que não deixa claro ao leitor para que lado a seleção pretende levá-lo. E, de fato, as histórias são bem variadas. O prefácio traz um ensaio assinado por Rafael Hansen Quinsani, mestre em História e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que justifica o valor do tema escolhido, embora deixe transparecer que provavelmente não tenha lido os contos previamente, prática comum nas antologias publicadas no país.
O primeiro conto, "A Batalha das Garras Negras", do escritor gaúcho André Cordenonsi, parece ser parte de um projeto maior. No final do texto o autor faz constar o subtítulo "As crônicas de Thandor, Volume 1, Tomo 5", que parece confirmar esta suspeita. A história conta como uma comitiva soldados humanos que pretende negociar um acordo com seus inimigos – uma tribo de lobisomens que habita as florestas – acaba num banho sangue depois de uma traição. Quem foi o traidor é o grande mistério. O texto é ágil e repleto de imagens típicas das histórias de fantasia medieval, ao estilo Guerra dos tronos e O senhor dos anéis. O problema é que tudo acontece muito rápido e não há tempo para o leitor identificar os personagens que, para piorar, têm nomes complicados que dificultam o reconhecimento. É preciso prestar muita atenção para entender quem está matando, quem está morrendo e quem, afinal, é o traidor. Sinal que nem sempre funciona tomar um fragmento de um texto maior como um conto independente.
O segundo trabalho é "Nas nuvens", ficção científica de Fábio Fernandes, tradutor experiente e autor surgido nos fanzines do final do século, no caldeirão que ficou conhecido como Segunda Onda da ficção científica brasileira. Fernandes é autor de alguns textos muito bem avaliados entre os fãs do gênero, mas infelizmente não é o caso deste conto, que não disfarça o tom intolerante e preconceituoso. Narra uma sessão de tortura de um subversivo que, de fato, é um cavalo de Tróia através do qual será implantado um vírus nos computadores do governo, um estado policial formado por fanáticos religiosos. A cena final é tão constrangedora que somente posso tomar este texto como uma piada que não deu certo.
O terceiro conto é "Atrás das muralhas, atrás das cortinas", de Felipe Castilho, autor paulista que está construindo uma obra interessante inspirada na mitologia brasileira, como se vê nos livros Ouro, fogo & megabytes e Prata, terra & Lua cheia. O texto em questão, contudo, escapa desse viés. Trata-se de uma mistura de fantasia que coloca Robin Hood num contexto distópico no qual uma sociedade hedonista despreza e explora as pessoas que não atingem um padrão mínimo de beleza. A história é contada pela ótica de João Pequeno, um faxineiro gordo que, por acaso, tem uma belíssima voz. O envolvimento da música na trama é o melhor ponto do trabalho, lembrando o já clássico "Sonata desacompanhada", do escritor americano Orson Scott Card.
Fecha a edição o conto "Não confie em ninguém quando a revolução vier", da gaúcha Nikelen Witter, o melhor texto do conjunto. Trata-se de uma fantasia de história alternativa situada em algum momento do século 19. Uma espiã a serviço do governo entrega o objeto de sua missão ao seu empregador, uma arma secreta tão poderosa que pode por fim a revolução popular que grassa nas ruas. Mas o que ela não diz é que ter a tal arma nas mãos pode não ser a melhor forma de vencer a guerra. Nikelen é historiadora e, junto com Alcázar, Falcão e outros colaboradores, faz parte da equipe que organiza a Odisseia de Literatura Fantástica de Porto Alegre.
A capa traz uma ilustração de Fred Rubim, que reúne detalhes de cada um dos contos publicados.
Sagas 5: Revolução cumpre o objetivo de entreter o leitor com textos inéditos de bons autores brasileiros.
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quarta-feira, 4 de março de 2015
Distrito Federal
Luiz Bras estreou no restrito ambiente da ficção especulativa literária há menos de dez anos, mas já faz parte dos grandes nomes do gênero no país. Fica fácil entender o por quê quando descobrimos que Bras é clone de Nelson de Oliveira, importante escritor mainstream que se retirou da lida para algum refúgio paradisíaco, para curtir os mimos proporcionados pelos milhões de dólares de seu bem merecido patrimônio. Bras herdou de Oliveira a habilidade com as palavras, que tem aplicado no exercício da ficção especulativa, a qual está empenhado em entender e interagir.
Entre os muitos títulos do autor estão as bem avaliadas coletâneas de contos Paraíso líquido (2010), Máquina Macunaíma (2013) e Pequena coleção de grandes horrores (2014), os romances Sozinho no deserto extremo (2012), Sonho, sombras e super-heróis (2011) e Babel Hotel (2009), a não ficção Muitas peles (2011) e uma porção de antologias, como autor selecionado, como organizador ou ambos.
Um dos traços de Bras é sua busca constante por uma voz particular, que se aproveita de um estilo maduro com traços pós-modernos e poesia concretista abusando de aliterações e pleonasmos, além de propostas narrativas que fogem do padrão convencional sem perder de vista os elementos especulativos, geralmente da ficção científica mas também da fantasia e do horror, com um diálogo próximo ao do estilo que se convencionou chamar de cyberpunk, com o qual o autor parece se identificar. Outra característica de Brás é sua facilidade para lidar com temas nacionais de todos os matizes, desde elementos folclóricos até a política nacional. E é exatamente este o caso de Distrito Federal, romance que o autor nomeou como "rapsódia tupinipunk", que revela muito sobre a forma como o autor a compôs.
Trata-se de um texto experimental, com pendão inegavelmente poético, que retoma ideias testadas em dois contos homônimos vistos em suas antologias anteriores. A história é um vitral formado por pequenas narrativas focadas nas ações e solilóquios de um curupira – o último de sua espécie – que, enlouquecido com a destruição das matas brasileiras, toma o corpo de um jovem humano e passa a assassinar, com requintes de artística crueldade, a população corrupta da capital do país: deputados, senadores, ministros, governadores, prefeitos, secretários, banqueiros, tesoureiros, políticos de forma geral pois, para o curupira, a corrupção fede terrivelmente.
As ações deste improvável anjo vingador, que sempre escapa de qualquer tentativa de captura, faz surgir um exército de imitadores que matam da mesma forma que ele. Há algum conflito quando o curupira encontra, por acaso, o último saci, que também tomou o corpo de alguém e está matando, mas como são inimigos naturais, acabam não se entendendo.
Na medida em que o curupira e o saci promovem sua cruzada sangrenta, a realidade vai sendo sobreposta pela de um popular jogo eletrônico online, justamente chamado de Distrito Federal, que mistura política, mitologia e muita violência. O surgimento de uma criança especial, que não é nem menino nem menina, exacerba ainda mais os acontecimentos, o que pode levar ao fim da humanidade sobre o planeta.
A leitura do texto é fácil e ligeira, com abundância de frases muito curtas, mas a narrativa fragmentária não dificulta o entendimento do enredo, embora este seja algo secundário na obra. A experiência estética literária é bem mais importante aqui, por isso é recomendável que o leitor esteja aberto à ela.
Distrito Federal é uma publicação da editora paulista Patuá, cujo lema "livros são amuletos" combina perfeitamente com este romance, que tem 280 páginas em papel polem e acabamento luxuoso, encadernado com capas duras e ilustrado por Teo Adorno – outro clone que Nelson de Oliveira deixou para trás.
Uma última observação que se pode fazer sobre Distrito Federal está expressa, de forma clara e absoluta, na última página do volume: "...reunião de ciência & religião, passado, presente & futuro, cultura popular & alta cultura..."; é a receita de Luiz Brás para resolver o histórico impasse entre a ficção de gênero e o mainstream, que tem buscado desde a sua estreia. Desta forma, Distrito Federal é a proposta mais bem acabada do autor para a ficção de gênero brasileira. Resta saber se o fandom e o mainstream, monstros ferozes, cheios de tentáculos e presas afiadas, vão entender isso. Se não entenderem, azar deles. Luiz Bras entendeu muito bem.
Entre os muitos títulos do autor estão as bem avaliadas coletâneas de contos Paraíso líquido (2010), Máquina Macunaíma (2013) e Pequena coleção de grandes horrores (2014), os romances Sozinho no deserto extremo (2012), Sonho, sombras e super-heróis (2011) e Babel Hotel (2009), a não ficção Muitas peles (2011) e uma porção de antologias, como autor selecionado, como organizador ou ambos.
Um dos traços de Bras é sua busca constante por uma voz particular, que se aproveita de um estilo maduro com traços pós-modernos e poesia concretista abusando de aliterações e pleonasmos, além de propostas narrativas que fogem do padrão convencional sem perder de vista os elementos especulativos, geralmente da ficção científica mas também da fantasia e do horror, com um diálogo próximo ao do estilo que se convencionou chamar de cyberpunk, com o qual o autor parece se identificar. Outra característica de Brás é sua facilidade para lidar com temas nacionais de todos os matizes, desde elementos folclóricos até a política nacional. E é exatamente este o caso de Distrito Federal, romance que o autor nomeou como "rapsódia tupinipunk", que revela muito sobre a forma como o autor a compôs.
Trata-se de um texto experimental, com pendão inegavelmente poético, que retoma ideias testadas em dois contos homônimos vistos em suas antologias anteriores. A história é um vitral formado por pequenas narrativas focadas nas ações e solilóquios de um curupira – o último de sua espécie – que, enlouquecido com a destruição das matas brasileiras, toma o corpo de um jovem humano e passa a assassinar, com requintes de artística crueldade, a população corrupta da capital do país: deputados, senadores, ministros, governadores, prefeitos, secretários, banqueiros, tesoureiros, políticos de forma geral pois, para o curupira, a corrupção fede terrivelmente.
As ações deste improvável anjo vingador, que sempre escapa de qualquer tentativa de captura, faz surgir um exército de imitadores que matam da mesma forma que ele. Há algum conflito quando o curupira encontra, por acaso, o último saci, que também tomou o corpo de alguém e está matando, mas como são inimigos naturais, acabam não se entendendo.
Na medida em que o curupira e o saci promovem sua cruzada sangrenta, a realidade vai sendo sobreposta pela de um popular jogo eletrônico online, justamente chamado de Distrito Federal, que mistura política, mitologia e muita violência. O surgimento de uma criança especial, que não é nem menino nem menina, exacerba ainda mais os acontecimentos, o que pode levar ao fim da humanidade sobre o planeta.
A leitura do texto é fácil e ligeira, com abundância de frases muito curtas, mas a narrativa fragmentária não dificulta o entendimento do enredo, embora este seja algo secundário na obra. A experiência estética literária é bem mais importante aqui, por isso é recomendável que o leitor esteja aberto à ela.
Distrito Federal é uma publicação da editora paulista Patuá, cujo lema "livros são amuletos" combina perfeitamente com este romance, que tem 280 páginas em papel polem e acabamento luxuoso, encadernado com capas duras e ilustrado por Teo Adorno – outro clone que Nelson de Oliveira deixou para trás.
Uma última observação que se pode fazer sobre Distrito Federal está expressa, de forma clara e absoluta, na última página do volume: "...reunião de ciência & religião, passado, presente & futuro, cultura popular & alta cultura..."; é a receita de Luiz Brás para resolver o histórico impasse entre a ficção de gênero e o mainstream, que tem buscado desde a sua estreia. Desta forma, Distrito Federal é a proposta mais bem acabada do autor para a ficção de gênero brasileira. Resta saber se o fandom e o mainstream, monstros ferozes, cheios de tentáculos e presas afiadas, vão entender isso. Se não entenderem, azar deles. Luiz Bras entendeu muito bem.
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Velta 15
Está disponível o número 15 de Velta, a super-detetive, fanzine eletrônico dedicado a publicar, em ordem cronológica, as histórias em quadrinhos de Velta, super heroína criada nos anos 1970 pelo artista paraibano Emir Ribeiro. Nesta edição, a chocante detetive enfrenta uma das vilãs que mais lhe deu trabalho ao longo dos anos. Também traz mais uma seleção de pinups de Velta, realizadas por diversos artistas brasileiros.
A edição tem 36 páginas em cores e pode ser baixada gratuitamente aqui.
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Carqueija em ação
O escritor carioca Miguel Carqueija, um dos mais produtivos autores da Segunda Onda da ficção científica brasileira, disponibilizou gratuitamente a boa coletânea Nas garras do futuro, na qual apresenta uma série de contos distópicos – uma variação incomum em sua obra – entre os quais se destacam trabalhos do ciclo A guerra da água, que têm muito a dizer neste momento de "crise hídrica".
O autor também publicou aqui a entrevista que fez com o também escritor Ronald Rahal, com o qual mantém algumas parcerias, e uma resenha ao clássico romance A hora dos ruminantes, de José J. Veiga, autor que se estivesse vivo, completaria 100 anos em 2015. Valem a leitura.
O autor também publicou aqui a entrevista que fez com o também escritor Ronald Rahal, com o qual mantém algumas parcerias, e uma resenha ao clássico romance A hora dos ruminantes, de José J. Veiga, autor que se estivesse vivo, completaria 100 anos em 2015. Valem a leitura.
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