Entre os dias 28 e 30 de agosto aconteceu a FantastiCon 2010 que, em sua quarta edição, confirma a disposição de manter a independência conquistada em 2009. Tanto que espalhou-se em três dias, ainda que no primeiro tenha ocorrido apenas a abertura e uma única atividade: uma palestra com o escritor Moacyr Scliar.
Compareci apenas ao segundo dia, para reencontrar amigos e acompanhar algumas palestras.
Cheguei pelas 14 horas e, a um quarteirão da Biblioteca Viriato Correa, que abrigou o evento, cruzei com o escritor e editor Adriano Siqueira, que já se retirava, a caminho de outra atividade. Ele estava rouco de tanto falar.
O movimento na biblioteca estava agitado e se manteve assim o tempo todo. Logo descobri por que Adriano estava rouco: era preciso gritar para se conversar nos corredores ruidosos. Peguei meu ticket para a palestra sobre o fantástico no mainstream, que já ia começar, mas fiquei cumprimentando o povo antes.
Passei uns dez minutos gritando com o escritor carioca Gerson Lodi-Ribeiro, meu amigo e sócio do tempo da Ano-Luz e organizador da antologia Vaporpunk, lançada no evento. Gerson, de camisa de veludo, disse que não estava com calor. Os 30 graus daquele momento são considerados uma temperatura amena no Rio.
Em seguida, tive o prazer de encontrar a escritora andreense Laura Elias, que eu conhecia apenas pela internet. Laura me presenteou com um exemplar autografado de seu novo romance, Lua negra, enquanto seus livros finalmente chegavam ao rico balcão montado no local pela livraria Moonshadow.
Cumprimentei o escritor Tibor Moricz que circulava pelos corredores, e entrei de fininho no confortável auditório da biblioteca, que estava bem fresquinho. Como a atividade avançava no horário, consegui aproveitar boa parte das falas dos escritores Nelson de Oliveira, Ademir Assunção e Jeanette Rozsas.
Provocados por Oliveira, Ademir divertiu a audiência contando parte de seu romance Adorável criatura Frankenstein, e Jeanette Rozsas contou detalhes de seu romance de horror As sete sombras do gato.
A essa altura, muitos autores já se reuniam na sala de convivência para o happening da antologia Portal 2001.
Lá encontrei Roberto de Sousa Causo e revi, com muita satisfação, meu velho amigo Sidemar de Castro, jornalista, escritor e roteirista, foi colaborador do
Hiperespaço por muitos anos e estava meio sumido.
Voltou enfim, com trabalhos publicados nas antologias
Contos Imediatos e
Portal 2001. Ganhei dele o meu exemplar do
Portal 2001 e fui logo recolhendo assinaturas dos autores que estavam ali.
Depois de Sidemar e Causo assinarem, foi a vez do bem humorado Mustafá Ali Kanso, que tirou muitas fotos com a gente.
Em seguida, entreguei meu exemplar para o Brontops Baruq e ele fez um cartum muito legal na página final do volume. Brontops curtiu o álbum de figurinhas S.P.A.C.E. que eu postei aqui no blogue, e brincou com a ideia.
Também assinaram Ricardo Delfim, Nelson de Oliveira e Braulio Tavares, que já estava por lá para a palestra que ia rolar às 17 horas.
Outro que circulava ali, feliz da vida, era o simpaticíssimo escritor Luiz Roberto Guedes, que chegou atrasado para a mesa do mainstream e ficou só curtindo o ambiente e conversando com o povo.
As escritoras Laura Elias, Martha Argel, Flávia Muniz, Giulia Moon e Nazarethe Fonseca finalmente subiram ao palco do auditório para a mesa sobre fantasia feminina, que eu não podia deixar de ver. Num ambiente penumbroso, iluminado por castiçais, falaram sobre... vampiros! Todas elas trabalham com o mito e se entenderam muito bem à mesa, contando como escreveram suas histórias e o que pretendem fazer no futuro. Laura foi efusivamente aplaudida pela plateia quando disse que pretende enveredar pela ficção científica.
Ainda no auditório, ganhei do organizador do evento, Silvio Alexandre, um exemplar da novíssima revista Universo Fantástico, publicada da Giz Editorial. Silvio é o editor da revista, o que já antecipa sua qualidade. São 128 páginas, capa em cores, plastificada, com orelhas e lombada quadrada. A capa traz a imagem de Bela Lugosi no papel que lhe deu fama: Dracula.
A revista não publica ficção, só artigos, e está recheada de feras: Braulio Tavares, Martha Argel, Giulia Moon, Patati, Octavio Aragão, Lodi-Ribeiro, Nelson de Oliveira, Roberto Causo, Gilberto Schoereder, Alfredo Suppia, Lucio Manfredi, Fábio Fernandes, Rodolfo Londero e muitos outros.
Universo Fantástico é praticamente um revival dos fanzines dos anos 1990. Senti-me em casa, como há muito não acontecia.
Voltei ao estande da Moonshadow, e surpreendi-me com a belíssima capa da antologia Proibido ler de gravata, organizada pelo decano da FCB André Carneiro. É, sem dúvida, a melhor capa do ano até agora na minha opinião, o que não é pouco de se dizer, já que as editores estão se esmerando nesse mister. As ilustrações internas também dão show.
Enquanto trocava figurinhas com as escritoras Flávia Muniz e Nazarethe Fonseca, ganhei da simpática editora Thina Curtis um exemplar do seu bem produzido zine Spell Work, que tem de tudo um pouco.
A última atividade do dia foi a palestra de Braulio Tavares, sobre o fantástico em Guimarães Rosa. Braulio fez comentários sobre várias obras de Rosa e comparou a estrutura de Grande Sertão à de O senhor dos anéis.
À saída, troquei uns dedos de prosa com Carlos Orsi Martinho que, numa mesa, autografava a bem cuidada edição de seu livro de FC juvenil Nômade.
Também conversei rapidamente com o escritor e quadrinhista carioca Carlos Patati, que eu não via há muitos anos, e com os ex-diretores do CLFC Alfredo Kepler e Ana Cristina Rodrigues. Pena que não pudemos conversar mais, pois são muito bons de prosear.
Na sala de convivência, rolava o lançamento do romance A tríade, com a presença dos autores Carlos Andrade, Claudio Brites, Kizzy Ysatis e Octavio Cariello.
Mas preferi ficar na mesa em que Braulio Tavares autografava seus livros, falando de cinema, Stephen King, Joe Hill, Neil Gaiman e Kelly Link. Como Braulio pretendia ir ao encontro mensal do CLFC e não sabia como chegar lá, ofereci-me para conduzi-lo. Pegamos um táxi e aproveitamos a viagem para falar sobre antologias luso-brasileiras, a propósito da Vaporpunk que ambos compráramos há pouco.
Braulio saltou em frente ao local e eu segui no mesmo táxi até a estação do metrô, para voltar para casa. O evento prosseguiria no dia seguinte mas, para mim, estava encerrado.
Foi uma ótima tarde que passei junto a uma porção de velhos amigos, conversando sobre assuntos que me fascinam e conhecendo gente nova que tem muito a dizer. Fui cobrado por muitos a respeito do Anuário 2009, aos quais pedi só mais um pouco de paciência, pois a editora Devir está finalizando o trabalho e brevemente teremos os primeiros exemplares em mãos. Não deu para a FantastiCon, mas tudo bem. Ano que vem vamos tentar ser mais eficientes.
De qualquer forma, com ou sem Anuário, em 2011 pretendo comparecer novamente ao evento, se Deus assim permitir.
Parabéns ao Silvio Alexandre e toda a equipe da Biblioteca Viriato Correa, que realizaram um evento irretocável, que já é parte importante do calendário literário brasileiro.