sábado, 22 de novembro de 2025

Lançamento: O ceifador negro, Bernard Capes

A Sociedade das Relíquias Literárias - SRL é um projeto da Editora Wish para viabilizar a tradução e publicação em ebook de textos raros de ficção fantástica internacional, resgatando assim obras desconhecidas de autores em domínio público, quase sempre inéditas em português. Uma assinatura mensal dá ao apoiador o direito de um novo ebook a cada mês, entre outras recompensas aditivas.
A relíquia de outubro é a novela de horror O ceifador negro (The black reaper), do escritor londrino Bernard Capes (1854-1918), publicada originalmente em 1899. O autor, vítimado pela gripe espanhola, foi jornalista e editor, com vasta produção em contos, novelas e romances de diversos gêneros. 
Diz a sinopse: "Durante a Grande Peste de 1665, uma aldeia é marcada pela devassidão e pelo medo. Seus habitantes vêem sua rotina desmoronar com a chegada de um forasteiro enigmático, um pregador severo que afirma trazer um aviso divino.Depois de um acontecimento traumatizante, uma terrível figura emerge: um ceifador misterioso, que avança pelo milharal balançando sua foice e espalhando a morte. Assombrado pelo pavor e pela culpa, a aldeia precisa encontrar um jeito de salvar a si mesma dos horrores deste impiedoso ceifador."
O ceifador negro ocupa o número 68 da coleção SRL; tem 70 páginas, tradução de Andrea Coronado e traz ainda uma biografia do autor. A capa tem uma ilustração de Deni Babadorky. 
Para fazer parte da Sociedade, basta formalizar o apoio na página do projeto, aqui.

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Resenha: Portal de Capricórnio, Ursulla Mackenzie

Portal de Capricórnio
, Ursulla Mackenzie. 218 páginas. 2.a edição. São Paulo: UICLAP, 2019. Edição original: Anadarco, 2012. 

Romance de estreia da escritora paulista Ursulla Mackenzie, originalmente publicado em 2012, quando a autora ainda assinava M. R. Olivieri. O exemplar a que tive acesso foi publicado em 2019 através da plataforma de edição por demanda UICLAP. Trata-se de uma mistura de romance planetário, ucronia e transmigração, mas podemos simplificar as coisas e classificá-lo como fantasia. 
Conta a história de Dru Ruver, uma jovem que durante as férias no litoral descobre um livro com mapas e ilustrações intrigantes que parecem sugerir a existência de um portal através do qual se poderia acesar um outro mundo, em tese, a própria Terra vinte mil anos no passado. Um grupo de cientistas se forma para uma missão de exploração desse portal, que fica no interior de uma casa no litoral de São Paulo. As informações do livro se revelam verdadeiras e o grupo é transportado para um deserto repleto de monstros e armadilhas. O grupo se desmantela e cada membro vai ter de enfrentar sozinho os perigos desse mundo estranho e surpreendente. Mas eles não estão realmente sozinhos ali. Um empreendimento político-militar já se instalou naquele lugar e seu sucesso vai trazer riscos para os dois mundos. 
Mackenzie afirma que a inspiração para a história veio do maravilhamento que experimentou durante uma viagem à Praia de Santa Rita, em Ubatuba/SP, onde a casa descrita no romance realmente existe, sem o portal do tempo, provavelmente. O título Portal de Capricórnio faz referência ao Trópico de Capricórnio, que passa exatamente pela cidade. O estilo da história é weird, na linha de Edgar Rice Burrougs em Uma princesa de Marte e Pellucidar, com toques de O senhor dos anéis, de J. R. R. Tolkien. 
O livro esta dividido em duas partes bem evidentes. A primeira narra a expedição ao passado até o retorno ao presente e traz maior quantidade de mistérios e surpresas, com uma introdução realista que reforça o estranhamento da história. A segunda parte conta sobre a volta dos protagonistas para uma segunda viagem ao passado que, por ser uma repetição, já não causa tanto impacto, mas é tecnicamente mais consistente que o trecho inicial. 
A opção pela viagem no tempo é tímida pois, fica evidente que não se trata de uma ucronia. Vinte mil anos não seria tempo o bastante para determinar as profundas mudanças descritas como, por exemplo, os contornos dos continentes que, nessa época, já eram iguais aos de hoje. Além disso, a maior parte das criaturas que surgem na história nunca existiu na Terra, sugerindo uma viagem a outro mundo ou, melhor ainda, a outra realidade, que traria significados mais profundos à trama.
Significativa também é a forma literária adotada, que não faz uso de recuos nos parágrafos nem de travessões nos diálogos. Nada que cause grandes dificuldades à leitura, que é leve, agradável e dá prazer. Várias pontas soltas deixam a sensação de ganchos para uma sequência futura, embora já tenham se passado muitos anos e a autora não deu sinal de pretender publicar alguma coisa nesse sentido. Mas, se vier, vou querer ler.

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Resenha: Quem teme a morte, Nnedi Okorafor

Quem teme a morte
(Who fears death), Nnedi Okorafor. Tradução de Mariana Mesquita. 521 páginas. São Paulo: Geração, 2014. Publicado originalmente em 2010. 

Quem teme a morte é romance New Weird afrofuturista da escritora nigeriana-americana Nnedi Okorafor, ganhador dos prêmios World Fantasy e Otherwise.
É possivelmente o primeiro romance publicado no Brasil sob a classificação de afrofuturista. Antes, até haviam os livros de Samuel R. Delany publicados nos anos 1960 e 1970, mas que não eram classificados assim então, bem como os contos de Octavia Buttler publicados na versão brasileira do periódico literário Isaac Asimov Magazine, na década de 1990. 
O cenário é o de uma sociedade medieval em guerra genocida. As pessoas usam tecnologias no dia a dia, como computadores e tablets, além de aparelhos que retiram água da atmosfera, visto que o planeta é dominado por um extenso deserto, resultado de um cataclismo ambiental cujos motivos foram há muito esquecidos. 
A história narra a vida trágica de uma jovem feiticeira mestiça nascida de um estupro e que, por isso, é vítima de preconceito em uma sociedade machista que vive sob o estigma de uma antiga maldição. Ela busca vingança do homem que estuprou sua mãe, ele também um feiticeiro poderoso, líder da nação inimiga. 
A característica mais evidente do livro é o foco no protagonismo negro, nem sempre tão evidente em outros autores ditos afrofuturistas. O texto é perturbador e impactante, com fortes contornos feministas, e o desfecho ambíguo exige a participação do leitor. Muitas coisas não são explicadas claramente, o que pode incomodar os leitores mais cartesianos. Decerto que concorrem ali muitos aspectos da cultura africana que podem escapar ao leitor que não compartilha deles. Os brasileiros até temos alguma vantagem nisso devido a nossa colonização africana mas, ainda assim, talvez não seja o bastante. A mim, confesso que escaparam muitas coisas. Mas talvez tais mistérios sejam porque Quem teme a morte é apenas o primeiro de uma série de romances, que conta ainda com The book of Phoenix (2015), She who knows (2024), One way witch (2025) e The daughter who remains (a ser publicado em 2026). 
Além dos prêmios a Quem teme a morte, Okorafor também ganhou os prêmios Hugo e Nebula por Binti (2016), e mais um Hugo e o Locus por Akata (2018), ambos traduzidos no Brasil pela editora Record.
Quem teme a morte é uma boa história e, de modo geral, lembra outro romance afrofuturista recente, Lua de sangue, de N. K. Jemisin (Morro Branco, 2022), por conta do extenso uso de magia e também do cenário desértico.
Quem teme a morte pode ser lido gratuitamente na biblioteca digital BibliOn.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Lançamento: Duetos–Duelos

Há algumas semanas, foi realizado o lançamento de Duetos-Duelos, coletânea com dez contos improvisados do escritor de ficção científica Luiz Brás (persona alternativa de Nelson de Oliveira) em parceria com diversos outros autores, muitos deles também diletantes do gênero. 
Diz a divulgação do volume nas redes sociais: "Literatura-jardinagem, literatura-desafio, literatura a várias mãos, desafiadas por Luiz Bras e com as irradiações tele-patafísicas de Sofia Soft."
Além de Brás, participam da seleta os escritores Leo Cunha, Roberto Causo, Braulio Tavares, Claudio Dutra, Santiago Santos, Whisner Fraga, Ademir Assunção, Celso Suarana, Tereza Yamashita e Ricardo Celestino. 
Duetos-Duelos é uma publicação da editora Abarca e pode ser encontrado aqui.

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Prêmio Odisseia 2025

Criado em 2019, o Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica homenageia os favoritos de um júri composto por escritores convidados, dentre uma relação de obras publicadas no ano anterior especificamente inscritas para o certame. A edição 2025 anunciou seus vencedores aconteceu durante a Feira do Livro de Porto Alegre, no último dia 16 de novembro. 
Os jurados do Prêmio em 2025 foram Adriana Maschmann, Diego Mendonça, Duda Falcão, Gustavo Czkester, Irka Barrios, Ismael Chaves, Lu Aranha e Mario Pool Gomes. E os vencedores são: 
Projeto gráfico: 
Ricardo Celestino, O vazio e sei lá o que mais…, Necrose.
Quadrinho fantástico: 
Julio Wong, Kiko Garcia e Ser Cabral, À moda da casa, Kikomics e Antenor Produções.
Narrativa longa juvenil: 
Larissa Brasil, Mau Noronha e a Onça Cabocla, Independente.
Narrativa curta horror: 
Raquel Setz, Magic Help, Oito e Meio.
Narrativa curta fantasia: 
R. M. Albuquerque, Pocalina e os mortos que sonham, Independente.
Narrativa curta  ficção científica: 
Luis Felipe Mayorga, "Predações da Harpia-Açu", Literatura Fantástica vol.15.
Narrativa longa  horror: 
Iza Artagão, Legítima defesa, Rocket.
Narrativa longa  fantasia: 
Giu Domingues, Canção dos ossos, Galera Record.
Narrativa longa ficção científica: 
Fábio Fernandes, O Torneio de Sombras: As aventuras de January Purcell, Avec.
Artigo fantástico:
Nathalia Xavier Thomaz, "Histórias em quadrinhos: Uma arte antropofágica", Quadrinhos famintos: A 9.a arte como linguagem do limiar – FFLCH/USP.
Conto inédito:
Patrícia Baikal, "Os lírios também têm memórias".
Todos os contos participantes desta última categoria podem ser lidos no terceiro número da Revista Odisseia de Literatura Fantástica, publicação exclusiva do evento que foi distribuída aos presentes durante o evento. A versão digital da mesma, bem como das edições anteriores, podem ser baixadas gratitamente aqui. E a lista completa dos indicados pode ser lida aqui
Parabéns aos vencedores!

sábado, 15 de novembro de 2025

O despertar de Sophia, Tibor Moricz

Desde 2017, quando publicou o romance Dunya (comentado aqui), que o escritor paulista Tibor Moricz não apresentava um novo trabalho aos leitores. Há alguns meses, o autor publicou a coletânea Onde restar vida, haverá fome (2025, Tusitala), mas trata-se da republicação de Fome, seu livro de estreia lançado originalmente em 2008 pela Editora Tarja. 
Seu novo trabalho é O despertar de Sophia, novela de ficção científica publicada por iniciativa própria em formato ebook
Diz o texto de apresentação; "Sophia é uma estranha para si mesma. Enquanto luta para recuperar fragmentos de sua verdadeira identidade, forças sombrias trabalham para impedi-la. Em um jogo perigoso onde cada lembrança é uma peça de um intrincado quebra-cabeça mortal, Sophia precisa descobrir a verdade sobre quem é antes que o mundo que ela conheça se destrua."
O despertar de Sophia tem 123 páginas e está disponível aqui.

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Quem quer mais?

A editora Clock Tower, que há alguns anos tem se dedicado a formação de uma catálogo totalmente voltado a weird fiction, está consultando os leitores com relação ao interesse em reimpresões de dois de seus primeiros títulos. São as coletâneas de contos O mundo sombrio: Histórias e mitos de Cthulhu, de Robert Howard (320 páginas), e O mestre do oculto, de Arthur Machen (296 páginas). Ambas estão esgotadas, mas podem voltar se houver interessados suficientes. 
Para participar da pesquisa, acione o link nos títulos e responda aos forms registrando a sua opinião.

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Resenha: Uma estrela vermelha, Alexander Bogdánov

Uma estrela vermelha
(Красная звезда), Alexander Bogdánov. 322 páginas. Tradução de Thais Rocha. São Paulo: Cartola, 2020. Edição original de 1908.

Uma estrela vermelha é uma coletânea de textos especulativos do escritor russo Alexander Bogdánov (1873-1928) que, por um bom tempo, foi ativista no processo revolucionário que levou a Rússia do regime czarista para o comunismo soviético. Também foi um homem interessado em conceitos ligados à imortalidade, e todo o seu pensamento está retratado nas novelas e poemas que compõem o volume organizado e publicado pela Editora Cartola em 2020. São eles "Uma estrela vermelha" (novela), "O engenheiro Menni" (novela), "Festival da imortalidade" (noveleta) e os poemas "Um marciano preso na Terra", "Natasha", "Nina", "No céu da juventude brilha...", "O sino afundado de Hauptmann" e "Vozes do destino". O volume ainda conta com uma longa introdução história sobre o autor e sua obra, assinada pelo pesquisador e professor Alexander Meireles da Silva (UFG).
A parte principal do livro é composta pelas novelas "Uma estrela vermelha" e "O engenheiro Menni". A primeira narra a aventura de um russo do início do século XX que é levado a Marte e todas dificuldades físcas e psicológicas que enfrenta para se enquadrar na sociedade comunista marciana. Em "O engenheiro Menni", o melhor momento da coletânea, somos levados ao passado da história marciana, quando o grande engenheiro Menni, uma espécie de herói planetário, propôs e executou a construção dos canais marcianos que levaram o planeta de uma sociedade capitalista para o comunismo. A novela e os poemas que completam a seleta são peças livres, mais ou menos correlacionadas com as narrativas principais, mas que podem ser apreciadas individualmente. 
Apesar do que se espera do discurso de um ativista comunista, o texto das novelas não é proselitista. Era de se esperar que Bogdánov pensasse no comunismo como uma evolução política natural do capitalismo, uma uma vez que o comunismo proletário só pode surgir em um ambiente em que houvesse a guerra entre classes. Contudo, em muitos momentos, o discurso de Bogdánov soa ambíguo e inseguro, como se o autor não tivesse muita certeza das benesses do socialismo, mesmo em comparação com os vícios perversos do sistema capitalista, muito bem delineados na novela "O engenheito Menni". A questão fica como tema para reflexão dos leitores, que continua intrigante mesmo à luz do "capitalismo vitorioso" deste do século XXI. 
Uma estrela vermelha não é um livro fácil de ler. O texto é demasiadamente descritivo, os conflitos são internalizados, não há muita ação e os aspectos filosóficos ocupam as discussões de forma mais evidenciada. A edição da Cartola, infelizmente, não é das melhores pois apresenta muitos muitos erros ortográficos que poderiam ter sido corrigidos com uma revisão mais atenta. Minha leitura foi na versão digital, disponível no acervo da biblioteca digital BibliOn, mas imagino que as falhas ortográficas também devam estar presentes na edição impressa. Apesar das dificuldades, é um livro significativo que merece a leitura atenta. 
Há ainda uma outra edição do título no Brasil, publicada pela Boitempo em 2020 – e também disponível na BibliOn – contudo, apresenta apenas a novela que lhe dá título. Para uma visão mais ampla do trabalho de Bogdánov, vale a pena procurar pela edição da Cartola.

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Em campanha: Coleção Dragão Negro

Está em ação uma campanha de finaciamento direto para viabilizar a publicação  da segunda série de romances da Coleção Dragão Negro, da Editora Draco. 
A primeira série com seis títulos foi publicada entre 2021 e 2022, com textos assinados por Oscar Nestarez, Paula Febbe, Jaime Azevedo, Larissa Prado, Marcelo Galvão e Cirilo Lemos. Esta nova série trará os escritores Carolina Mancini, Jaime Azevedo, Puri Matsumoto, Hedjan C. S. e Cirilo Lemos. A edição da coleção é de Raphael Fernandes e Cirilo S. Lemos. 
Os volumes serão entregues entre fevereiro e novembro de 2026, mas a campanha permite apoiar os volumes tanto em bloco como unitariamente. Metal e ossos, de Carolina Mancini e Uma baleia ejacula 40 litros, de Jaime Azevedo, inauguram a primeira etapa da campanha.
Sobre o romance de Mancini, diz o texto de divulgação: "Uma jovem com deficiência física é aceita em um renomado instituto que promete devolver o que ela acredita ter perdido. Mas conforme o tratamento avança, o som do metal substitui o da carne e a esperança dá lugar ao medo. Entre cirurgias, remédios e experimentos, a medicina ultrapassa a fronteira da ética e revela o horror de quando médicos deixam de ver pessoas e passam a enxergar apenas carne, ossos e metal". E sobre o de Azevedo, diz: "Às vésperas do apocalipse, um casal em ruína presencia uma nuvem misteriosa destruir tudo ao redor, exceto quando estão juntos. Cada toque e cada aproximação parecem conter a força capaz de suspender a destruição. Mas o que acontece quando a salvação depende de uma relação que já morreu?"
Para mais informações sobre todos os títulos da coleção, visite a página da campanha, aqui.

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Em campanha: A mulher e o estranho

Está aceitando apoios a campanha de financiamento direto para a antologia de contos A mulher e o estranho: Narrativas do insólito, que reúne textos de oito escritoras de diversas nacionalidades, entre o final do século XIX e meados da década de 1920. 
Diz o texto de apresentação: "A criteriosa seleção de Braulio Tavares — também prefaciador e tradutor — traz narrativas de grandes escritoras dos séculos XIX e início do XX, cujas temáticas principais giram em torno do medo, da angústia, o ostracismo, a utopia feminista e o desejo. Cada uma das histórias amplia o horizonte do ordinário para proporcionar a percepção do desconforto e do infamiliar".
São estes os textos presentes na antologia: "A rainha do ignoto" (excertos, 1899), de Emília Freitas; "A ressuscitada (1908), de Emilia Pardo Bazán;  "A tempestade" (1898), de Kate Chopin, "A mosca" (1922), de Katherine Mansfield; "O quarto menor" (1895), de Madeline Yale Wynne; "A descoberta do absoluto" (1923), de May Sinclair, "A boneca" (1927), de Vernon Lee e "A marca na parede" (1917), de Virginia Woolf.
A organização é do escritor e pesquisador paraibano Braulio Tavares, um estudidoso da ficção de gênero, que assina este que é o segundo volume da coleção Biblioteca Pessoal de Braulio Tavares, pela Editora Bandeirola, que já conta com o livro Crimes impossíveis, publicado em 2021.
A mulher e o estranho tem 144 páginas e pode ser apoiada aqui até o dia 9 de janeiro de 2026. 
Obs.: O título pode ser apoiado em conjunto com Mistérios! Crimes de "quarto fechado", de Carlos Orsi, comentado no post anterior, aqui.

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Em campanha: Mistérios!, Carlos Orsi

Já está aceitando apoios a campanha de financiamento direto para publicação da coletânea de contos Mistérios! Crimes de "quarto fechado", do escritor paulista Carlos Orsi, que fará parte da coleção Curta da Editora Bandeirola. 
Autor vinculado a Segunda Onda da Ficção Científica Brasileira, Orsi tem diversos livros publicados, como Medo, mistério e morte (1996, Didática Paulista), Nômade (2010, Ciranda das Letras) e Guerra justa (2010, Draco), entre outros, todos muito bem avaliado pelos leitores. Nos últimos anos, o autor tem se dedicado a divulgação científica, e ficou em evidência com o livro Que bobagem!, escrito em parceria com sua esposa, a médica infectologista Natalia Pasternak. 
Orsi também ensaiou uma interessante carreira na literatura de mistério, dos quais fazem parte os cinco textos reunidos nesta coletânea, originalmente publicadas em inglês nas revistas Ellery Queen Mystery Magazine (EUA); Mystery Magazine (Canadá) e na antologia britânica The MX Book of New Sherlock Holmes Stories.
Mistérios! tem 192 páginas, tradução de Braulio Tavares e pode ser apoiada aqui até o dia 9 de janeiro de 2026.

sábado, 8 de novembro de 2025

Somnium 128

Está disponível o número 128 do Somnium, fanzine digital do Clube dos Leitores de Ficção Científica, editado por Rubens Angelo, Eduardo Torres, Gerson Lodi-Ribeiro, Sidemar Vicente de Castro e Luiz Felipe Vasques. 
O volume tem 59 páginas e traz contos de Fábio San Juan, Lynn Venable e Lailton Garcia, artigos de Gian Danton e C. R. Rohling, e um portfólio do ilustrador Carlos Hollanda, autor da capa da edição. 
O Somnium é gratuito e pode ser baixado gratuitamente aqui, em versão pdf. Outras edições também estão disponíveis.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Finalistas do Argos 2025

O Prêmio Argos de Literatura Fantástica, provido anuamente pelo Clube dos Leitores de Ficção Científica-CLFC, reconhece os melhores trabalhos em romance, antologia e história curta de ficção científica, fantasia e horror escritos em língua portuguesa publicados no ano anterior. 
Em 2025, o clube realizou uma consulta prévia entre os seus membros e definiu os finalistas para cada uma de suas três categorias. São eles:
Melhor romance:
- Garras, Lis Villas-Boas, Rocco;
- Kerigma, Ricardo Labuto Gondim, Avec;
- Novas do Purgatório, Gérson Lodi-Ribeiro, de autor;
- O Torneio de Sombras, Fábio Fernandes, Avec;
- Sentinela, Julianne Vicente, Malê.
Melhor antologia ou coletânea:
- 2057, Carlos Hollanda & Rafael Senra, orgs., Verter;
- Além do Véu da Verdade, João Beraldo, org., de autor;
- Cristalina como as lágrimas, Carlos Relva, de autor;
- No limiar, Lu Evans, org., Nebula;
- Literatura Fantástica Vol. 20, Jean Gabriel Álamo, org., Álamo.
Melhor conto:
- "Alexandra, a Grande"; Carlos Relva, Cristalina como as lágrimas;
- "Mensagem instantânea", Fábio Fernandes, Além do Véu da Verdade;
- "Pista Norte", Ursulla McKenzie, Cidades Inversas;
- "Pulsão de morte", Alexey Dodsworth, Além do Véu da Verdade;
- "Um vínculo inquebrável", Renan Bernardo, Além do Véu da Verdade.
Os nomes serão submetidos a um segundo turno com votação direta do público, através da internet. Os vencedores serão divulgados dentro de algumas semanas.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Resenha: Tupinilândia, Samir Machado de Machado

Tupinilândia, Samir Machado de Machado. 454 páginas. São Paulo: Todavia, 2018. 

Nada é mais estimulante do que ler uma história em que o sentido de maravilhamento se faz presente. Isso é cada vez mais difícil para um leitor veterano, já tão distante daquela tenra idade em que tudo soa maravilhoso. O leitor da fantasia se esforça, busca por isso, mas raramente reencontra o mesmo senso do maravilhoso de suas primeiras leituras. No meu caso, eram os romances de Julio Verne, as aventuras do Tarzan de Edgar Rice Burrougs e os contos de Ray Bradbury. E ainda mais difícil é encontar esse tipo de sensação na literatura brasileira, tão sofrida quanto o povo daqui. São muitas tristezas, muitas tragédias, muita violência, que acampanham os habitantes de Pindorama desde o dia em que os navegantes portugueses desembarcaram em 1500. 
Por isso é preciso falar de Tupinilândia (Todavia, 2018). Nada poderia ser mais antropofágico, no sentido estrito de Mario de Andrade, do que este romance do escritor portoalegrense Samir Machado de Machado, autor com muita experiência no fantástico, tendo sido organizador e editor da revista Ficção de Polpa, publicada entre 2009 e 2013 pela Não Editora, um dos melhores periódicos literários do gênero no país. Machado também publicou antes alguns títulos bem recebidos pela crítica, como O professor de botânica (2008, Não) Quatro soldados (2013, Rocco) e Homens elegantes (2016, Rocco). 
Mas é em Tupinilândia que o fenômeno acontece. Trata-se de uma fabulação divertida e empolgante, cheia de ação e aventura, sem se afastar daquilo que nos une como nação. 
A história conta a aventura de um grande empreiteiro brasileiro que, depois de ter encontrado Walt Disney em sua visita ao Brasil em 1941, quando ainda criança, e apaixononado por cinema, nunca mais se afastou de ambos. Leitor ávido dos quadrinhos de Carl Barks, foi construindo ao longo da vida o projeto de um parque temático que repetisse no Brasil os mesmos conceitos de cultura e identidade para os brasileiros que a Disneylândia tem para os americanos. Ao herdar a fortuna da família, passa a investir parte de seu patrimônio na aventura de construir próximo às margens do Rio Xingu, em pela floresta amazônica paraense, a sua Tupinilândia. Enquanto a triste história do Brasil acontece lá fora, o projeto é tocado em segredo com o patrocínio grandes empresas nacionais.
Em 1984, em plena campanha eleitoral para escolher o primeiro presidente não militar depois dos vinte e um anos de ditadura, o parque está quase pronto, e para lá vai um seleto grupo de pessoas, entre empresários, apoiadores e familiares, convidados para conhecer o lugar em primeira mão. É claro, desde o princípio, que aquilo está fadado ao fracasso, mas algo tão grandioso não pode simplesmente acabar sem deixar consequências. E elas virão.
O romance está dividido em duas partes, mais um prólogo e um epilogo. A primeira parte, chamada "Versão Brasileira", conta sobre os dias finais de conclusão do ousado projeto e os dias da visita-piloto ao parque. Tupinilândia – o parque – é, obviamente, apenas uma criação de Machado, mas bem que poderia não ser. Na verdade, seria maravilhoso se fosse real. Deveria ser. 
Gosto especialmente do momento em que o autor, na figura de um jornalista contratado para escrever um livro sobre o parque, descreve as histórias em quadrinhos do personagem Arthur Arara, a versão tropical do Mickey Mouse. Como seria bom ler aquelas revistas! Sinceramente, espero que, algum dia, inspirado pela leitura de Tupinilândia – o romance –, algum quadrinhista decida dar corpo a elas, como aconteceu com as histórias de "O Escapista", citadas por Michael Chabon em seu aclamado romance As incríveis aventuras de Kavalier & Clay (2000). Mas o maravilhamento não para por aí. Na verdade, a coisa só melhora a cada capítulo.
Essa primeira parte está dividida em três apisódios, que levam nomes de grandes romances da ficção científica: "1984", "Admirável mundo novo" e "Não verás país nenhum".
A segunda parte tem o título de "Mundo perdido", que dá a dica do que aconteceu ao parque trinta anos depois, e também está dividida em três episódios, que homenageiam filmes de cinema do gênero: "Uma nova esperança", "A terra em que o dia parou" e "De volta para o futuro". 
O livro é uma colcha de retalhos de citações e homenagens, muitas das quais só os entendidos em cultura pop vão "pescar". Mas não é preciso tanto. Há muitas outras que são deliciosamente explícitas e constituem a maravilhosa recriação cenográfica do Brasil dos anos 1980, além de muitos outros detalhes que remetem a uma brasilidade sessentista e setentista que mesmo quem não a viveu vai reconhecer. E mais não digo, para não estragar as supresas. 
O que ainda posso dizer é que Tupinilândia é uma ficção política muito bem engendrada. Ótima narrativa, divertida, historicamente correta, cheia de referências que dão consistência à trama, com um clima meio delirante, meio onírico, mas profundamente brasileiro e politicamente oportuno.
O livro ainda traz, a moda dos romances de fantasia, um mapa de Tupinilândia com arte de Fernando Heynen e Kako, sendo que este último é também responsável pela ilustração espetacular da capa, numa representação da Tupinilândia em 2015 que sugere uma bandeira do Brasil com o Mickey Mouse ao centro. 
Coloque Tupinilândia agora em sua lista de leitura. Garanto que não vai se arrepender.

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Lançamentos: Três vezes Ursula

Depois de um recomeço algo tímido, a Editora Morro Branco, agora um selo do grupo editorial Alta Books, engrenou a quinta marcha e lançou uma mancheia de títulos muito interessantes, de fantasia, ficção científica e horror, dentre os quais se destacam três títulos da grande mestra da fcf mundial, Ursula K. Le Guin, escritora americana consagrada com diversos prêmios Hugo e Nebula, cuja obra tem sido resgatada para a língua portuguesa pela Morro Branco. 
Lavínia (Lavinia), originalmente publicado em 2008, é o mais significativo da safra, pois trata-se de um título inédito, vencedor do Prêmio Locus de melhor romance de fantasia. 
Diz o texto de apresentação: "Na Eneida, o herói de Virgílio luta para conquistar Lavínia, a filha do rei, com quem está destinado a fundar um grande império. Mas, nessa história, Lavínia nunca diz uma palavra. Agora, Ursula K. Le Guin dá voz a Lavínia em um romance que nos transporta para o mundo primitivo da antiga Itália, quando Roma não passava de uma aldeia lamacenta aos pés de sete colinas. Lavínia cresce em meio a paz e a liberdade, até que pretendentes aparecem. Sua mãe deseja que ela se case com o belo e ambicioso Turno, mas presságios e profecias das fontes sagradas afirmam que seu destino é outro: ela deve se casar com um estrangeiro. E mais: ela será a causa de uma guerra amarga, e que seu marido não viverá muito tempo. Quando uma frota de navios troianos chega pelo Tibre, Lavínia decide tomar as rédeas de seu próprio destino. E assim, ela nos conta o que Virgílio não contou: a história de sua vida e do grande amor que viveu."
O volume tem 288 páginas e tradução de Helena Coutinho.
Ou outros dois títulos são novelas de ficção científica não-inéditas no Brasil: saíram primeiro pela Editora Tecnoprint nos anos 1970. O planeta do exílio (Planet of exile, 1966, 160 páginas) narra os conflitos entre uma colônia terrestre e os habitantes nativos do gelado planeta Werel durante seu longo inverno de quinze anos. A tradução é de Marcia Men.
O mundo de Rocannon (Rocannon's world, 1966, 192 páginas), primeiro livro escrito por Le Guin,  conta a história do único humano sobrevivente de uma missão de reconhecimento a um planeta sem nome, que precisa liderar os povos nativos contra uma invasão alienígena. A tradução é de Heci Regina Candiani.
Os três títulos, que sem dúvida elevam o padrão de qualidade média da fcf traduzida no Brasil, podem ser encontrados no saite da Morro Branco, aqui, junto a muitos outros títulos disponíveis de seu invejável catálogo.

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Lançamento: A vida das nebulosas, Olaf Stapledon

Chegou aos assinantes a edição de outubro da Coleção Andarilhos, clube de assinaturas da Editora Andarilho dedicado à publicação mensal de livros de bolso de ficção fantástica clássica e inédita, de autores pouco conhecidos. 
A edição apresenta a novela de ficção científica A vida das nebulosas (Nebula maker) do escritor e filósofo britânico Olaf Stapledon (1886-1950), escrita por volta de 1933, mas só publicada em 1976 com o título de Star maker. Stapledon é considerado um dos grandes da ficção científica mundial que, em 2014, foi incluido no Science Fiction and Fantasy Hall of Fame. Stapledon também apareceu pela editora em um box com dois volumes: Sirius (Sirius: A fantasy of love and discord, 1944) e O estranho John (Odd John: A story between Jest and Earnest, 1935), 
Diz texto de apresentação de A vida das nebulosas: "Antes do homem, antes dos planetas, existiu um tempo em que o próprio universo pensava. A vida das nebulosas conta sobre o despertar da consciências cósmica: inteligências que moldam o cosmos e enfrentam dilemas tão humanos quanto os nossos".
O volume tem 168 páginas, tradução de Gustavo Terranova Aversa e, junto a ele, os assinantes recebem um marcador de páginas personalizado e uma sacolinha plástica da editora.
Com este volume, a Editora Andarilho anunciou o encerramento da Coleção Andarilhos. Mas ainda é possível adquirir os volumes já publicados no saite da Andarilho, aqui. Vale o investimento pois esta é, certamente, uma das melhores coleções de literatura fantástica já publicadas no Brasil, com títulos inéditos e raros que possivelmente não voltarão a ter reedições em um futuro próximo. Deixará saudades.

sábado, 1 de novembro de 2025

Resenha: A ilha do Dr. Shultz, Ataide Tartari

A ilha do Dr. Shultz
(Tropical shade), Ataide Tartari. 193 páginas. Santos: Do autor, 2013.

Em meados dos anos 1980, um achado movimentou a imprensa internacional. Foram encontrados, no Brasil, os restos mortais de Josef Menguele, o anjo da morte de Aushwitz que, desde o final da Segunda Grande Guerra, em 1945, vinha sendo procurado por todo mundo pelos caçadores de nazistas. É em torno desse fato histórico que o escritor paulistano Ataíde Tartari constrói o enredo de A ilha do Dr. Shultz que, há anos, estava na minha lista de leitura. 
A história acompanha as trajetórias de dois homens negros no Brasil recém redemocratizado. O primeiro, judeu africano, é uma espécie de agente secreto a soldo de uma instituição norte-americana que, a partir da descoberta do restos de Meguele, busca por pistas de outros nazistas escondidos no Brasil. O outro é um norte-americano afrodescendente que, farto da vida miserável que levava em seu país, vem ao Brasil em busca de um tratamento especial que prometia tornar branca a sua pele. O caminho desses dois homens, ambos em busca de redenção, vão se cruzar numa ilhota no litoral do Rio de Janeiro, conhecida como Ilha dos Negros Aço, onde vive um cientista que parece deter técnicas efetivas de branqueamento da pele negra. 
A história não é exatamente fantástica apesar da premissa de ficção científica; é quase realista para dizer a verdade. Não tem viradas dramáticas a cada capítulo, apenas segue em frente, sem barrigas. É um texto preciso e enxuto, que envolve e faz o leitor se importar com os personagens. 
A ilha do Dr. Shultz é surpreendente mesmo para os altos padrões do autor. É incrível sua capacidade em arredondar personagens usando poucos parágrafos, construir ambientes e manipular as tensões. O domínio sobre o enredo é preciso, com uma reconstrução histórica competente da São Paulo dos anos 1980. Possivelmente, este seja tecnicamente o melhor texto do autor. 
Tartari é um autor formado na Segunda Onda da Ficção Científica Brasileira, com diversos contos excelentes publicados nos fanzines. Seu primeiro livro foi o romance de fc  EEUU 2076, (1987, Edicon), publicado sob o pseudônimo de A. A. Smith. Também publicou a novela Sideral no buraco sem fundo de Parnarama (2012, Nova Espiral) e as coletâneas O triângulo de Einstein (2012, Nova Espiral), 17 histórias alternativas, cômicas e futuristas (2013, Virtual) e Veja seu futuro (2017), além dos romances originalmente escritos em inglês Amazon (iUniverse, 2001) e Tropical shade (iUniverse, 2003), sendo este último o original de A ilha do Dr. Shultz, traduzido pelo próprio Tartari.
Vale a pena buscar pelos textos do autor, muitos dos quais seguem disponíveis, como este A ilha do Dr. Shultz, aqui.