sexta-feira, 30 de junho de 2023

Juvenatrix 248

Está disponível a edição de julho do fanzine eletrônico de horror e ficção científica Juvenatrix, editado por Renato Rosatti. Em dez páginas, traz conto de Caio Alexandre Bezarias e resenhas aos filmes O rei dos zumbis (1941), O cérebro do planeta Arous (1957), The beach girls and the monster (1965) e O terror do Himalaia (1954), todas de autoria do editor. 
A edição é completada com notícias e divulgação de publicações alternativas e bandas de metal extremo.
A capa reproduz imagens do filme O cérebro do planeta Arous.
Cópias em formato pdf podem ser obtidas pelo email renatorosatti@yahoo.com.br.

quinta-feira, 29 de junho de 2023

Lançamento: A vingança de Capitu

Ficção alternativa é um subgênero literário na qual a história toma uma outra, já conhecida, e traça rumos diversos aos seus personagens. O tempo da narrativa pode ser anterior, posterior ou simultâneo, investigando ou desdobrando aspectos não tratados na obra original. 
Não confundir com o mashup, que reproduz trechos da obra original misturados a inserções que alteram radicalmente o seu conteúdo. Apesar de ser uma releitura, a ficção alternativa não não reproduz trechos da obra original.
A vingança de Capitu é uma ficção alternativa de autoria do escritor carioca Miguel Carqueija, que retoma o clássico Dom Casmurro, de Machado de Assis. Diz o texto de apersentação: "Revoltada com a persistente calúnia de seu marido Bento Santiago, que culminou com a publicação de um memorial infamante, Capitu escreve a sua resposta, a sua defesa, a sua versão dos acontecimentos, apenas lamentando que Bentinho já não esteja vivo para que ela possa confrontá-lo pessoalmente." 
O volume, que conta com prefácio da Professora Ana Paula Gomes, está disponível aqui em formato de texto para leitura gratuita.

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Lançamento: A corneta

Ainda que o mercado editorial brasileiro esteja passando por uma crise profunda que talvez leve o livro a uma situação de insustentabilidade como produto, os estertores desse ambiente em esgotamento têm trazido uma série de títulos que em outras épocas dificilmente chegariam à lingua brasileira. 
É o caso de A corneta (The hearing trumpet), romance de fantasia da escritora e dramaturga mexico-britânica Leonora Carrington, originalmente publicado em 1974, considerado um clássico do gênero, com uma influência que se expande para fora do ambiente literário. 
Diz o texto de divulgação: "Aos noventa e dois anos e com a audição prejudicada, Marian Leatherby ganha uma corneta auditiva de sua melhor amiga. Com auxílio do aparelho, Marian descobre que seu filho, nora e neto têm planos soturnos: não suportando mais conviver sob o mesmo teto que ela, a família se articula para mandá-la a um asilo. Mas o lugar em questão não é uma instituição comum ― os edifícios residenciais têm formato de bolo de aniversário, de cogumelos e de iglus. Lá, Marian embarca em uma jornada imprevisível, em que descobre fenômenos como a Freira Piscando, a Rainha Abelha, a entrada para um submundo e um assassinato misterioso."
O livro tem 216 páginas, ilustrações de Pablo Weisz Carrington, tradução de Fabiane Secches, e é uma publicação do selo Alfaguara da Companhia das Letras.

terça-feira, 27 de junho de 2023

Lançamento: Cultura pop e Filosofia

Muitos se perguntam, inclusive os filósofos, para que serve a filosofia, sem encontar uma resposta satisfatória. Contudo, continuamos a filosofar sobre  tudo, inclusive a cultura pop, que não é a mesma coisa que cultura popular, embora tanto uma quanto outra sejam campos férteis para o exercício da filosofia. Infelizmente, a maior parte dos livros publicados sobre a filosofia da cultura pop são traduções de títulos estrangeiros, notadamente anglo-americanos, com pouco espaço para o exercício filosófico brasileiro. Mas, perguntariam, existe filosofia no Brasil? Sim, existe, e de boa qualidade. Mas o pouco que é publicado circula, quase sempre, apenas no ambiente acadêmico. Por isso é importante registrar e divulgar a publicação de Cultura pop e Filosofia, Volume 2: Quadrinhos, cinema, seriados animações, internet e afins, antologia com dezesseis artigos organizada pelo professor Heraldo Aparecido Silva, publicada em 2023 em edição digital pela editora Marca de Fantasia como número 59 do selo Veredas.
Diz o texto de apresentação: "O livro está organizado em três partes interdependentes, com eixos temáticos distintos. A primeira parte concentra os textos sobre histórias em quadrinhos em suas diversas modalidades e gêneros. A segunda parte encerra os textos que versam sobre algumas das principais variantes cinematográficas. A terceira parte contempla um espaço temático mais amplo, advindo do universo dos videogames, internet, animações, músicas e afins." 
A antologia é fruto das atividades de pesquisa do Núcleo de Estudos em Filosofia da Educação e Pragmatismo (NEFEP), vinculado à Universidade Federal do Piauí (UFPI). Tem 222 páginas com textos assinados por Izabel Maria Gomes da Paz, Francisco Raimundo Chaves de Sousa, Robson Carlos da Silva, Maria Alcidene Cardoso de Macedo Passos, Fernanda Antônia Barbosa da Mota, Adna Lusane Nunes Ferreira, Izildete de Sousa Torres, Marcus Gabriel Coutinho Silva, Bruno Araújo Alencar, Lara Brenda Lima de Oliveira, Fábio Júnior Alves da Silva, Ramiro de Castro Cavalcanti, Jéssica Ágne Campêlo Nunes e Shéyron da Silva Rodrigues Magalhães, sempre em parceria com o organizador. 
Este volume 2 está disponível para download gratuito no saite da editora, aqui. O volume 1, publicado em 2021, também está disponível, aqui.

segunda-feira, 26 de junho de 2023

HQ Memories 11

HQ Memories
é um fanzine de e sobre quadrinhos editado pelo cartunista Luigi Rocco sob a chancela do selo Inumanos Agrupados, dedicado a resgatar trabalhos e autores esquecidos dos quadrinhos brasileiros e estrangeiros.
Esta edição, lançada em junho de 2023, apresenta em 36 páginas os quadrinhos "O Anjo e os Guerreiros Estelares", de Arthur Gracia e João Pacheco, "Capitão Átomo", de Joe Gill e Steve Ditko, "The Mad Monks", as tiras americanas dos Fradinhos de Henfil, "Blitz 66”, de Sérgio Macedo, "Tico e o tesouro do corsário", de Júlio Shimamoto, e "Margarida", tiras de Walt Disney publicadas e, 1987 na revista Cláudia
Detalhes de cada trabalho apresentado podem ser conferidos no blogue da publicação, aqui.
HQ Memories pode ser encomendado diretamente com o autor, pelo email luigirocco29@gmail.com.

sábado, 24 de junho de 2023

Lançamento: Guia de literatura fantástica

O escritor e agitador cultural Duda Falcão, que já conta com uma obra representativa no campo de ficção fantástica brasileira, está com um novo projeto em pré-venda. Desta vez não é ficção, mas algo ainda mais valioso para todos os que amam a ficção fantástica. Trata-se do Guia de literatura fantástica, um compêndio de artigos e ensaios sobre a arte da ficção fantástica, dirigida especialmente a professores que desejam trabalhar com o gênero em sala de aula, mas também pode ser útil para escritores, editores e pesquisadores, devido ao seu conteúdo amplo e variado.
Diz o texto de apresentação: "O Guia de literatura fantástica é uma obra fundamental para quem lê, escreve ou quer escrever literatura fantástica. Abrange discussões sobre produções literárias na área do fantástico, do horror, da fantasia e da ficção científica. Examina cruzamentos com a literatura policial e de mistério, os estágios da jornada do herói e da heroína, arquétipos para personagens, construção de mundos e cenários, categorização e utilização de monstros em narrativas ficcionais. Além de apresentar cânones em cada uma das áreas mencionadas, o Guia oferece sugestões de exercícios para a prática da escrita."
O livro está em pré-venda aqui e oferece diversos pacotes com descontos e brindes exclusivos, válidos até 15 de julho de 2023. O Guia de literatura fantástica é uma publicação da Editora Metamorfose. 

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Resenha do Almanaque: Areia nos dentes, Antônio Xerxenesky

Areia nos dentes, Antônio Xerxenesky. 144 páginas. Porto Alegre: Não Editora, 2008.

Não é comum que um autor brasileiro se arrisque a escrever faroeste, e é ainda mais raro que o misture com horror pois a chance de sair algo muito errado é grande. Ainda mais arriscado por ser o primeiro romance de Antônio Xerxenesky, escritor portoalegrense que estreou  com a coletânea de contos Entre (Editora Movimento, 2006). Mas o potencial para a ficção fantástica era promissora: o autor já havia participado da antologia Ficção de polpa volume 1 (Editora Fósforo, 2007) com o bom conto “O desvio”, no qual um casal viaja num automóvel em alta velocidade assustando-se mutuamente.
Areia nos dentes conta a história de duas famílias rivais – os Ramírez e os Marlowes – que se enfrentam cotidianamente no pequeno vilarejo de Mavrak, (corruptela de Maverick) perdido no deserto norte-americano. Os motivos da rixa perderam-se no tempo, mas os sobreviventes continuam a se odiar com todas as forças. O jovem Martín, por ordem de Miguel Ramírez, seu pai, invade sorrateiramente a residência dos Marlowes na intenção de descobrir o que seus desafetos estão fazendo em segredo no porão, mas um tiro perdido o assusta e ele foge sem descobrir nada. No dia seguinte, Martín é encontrado morto e ninguém sabe quem foi o assassino, embora as suspeitas do velho Miguel recaiam, obviamente, nos odiados Marlowes. Ele então incumbe Juan, seu filho mais novo, a vingar o irmão assassinado mas, antes que isso aconteça, um delegado chega a Mavrak para apurar os fatos, aplicar a lei e impedir um banho de sangue naquele lugar esquecido.
Juan Ramírez estudou na cidade grande e não é exatamente um pistoleiro, e a pressão de seu pai parece não ser suficiente para convencê-lo a agir. O que vai motivá-lo é a desconfiança em relação a preferência que sua namorada secreta, a linda Vienna Marlowe, parece demonstrar por Samuel, um de seus próprios primos. Sem coragem para enfrentar Samuel de arma em punho, ele busca pela ajuda de um velho xamã que usa um poderoso feitiço herdado dos antigos astecas para levantar os mortos dos túmulos. No clímax da história, finalmente veremos o duelo entre os jovens Ramírez e Marlowe e o destino sanguinolento de Mavrak.
Xerxenesky, entretanto, não conta apenas essa história; intercala a narrativa épica – que, em alguns momentos, parece ter sido inspirada nos mais escandalosos westerns spaguetti já filmados – com o esforço do solitário Juan Ramírez que, na cidade do México dos dias de hoje, tenta registrar um memorial de sua família, especialmente do antepassado de quem herdou o nome. A princípio datilografando numa velha máquina de escrever, depois num computador que não quer funcionar direito, o Juan Ramírez moderno constrói uma história que é muito mais invenção do que realidade.
Articulando o trabalho de memorialista improvisado com a sua narrativa fantástica, o romance ganha aspectos metalinguísticos interessantes, com o que colaboram alguns experimentos concretistas que ilustram a diagramação do volume. A narrativa é ágil e divertida, ainda que nada confiável: o faroeste de Xerxenesky/Ramírez soa tão falso quanto as fachadas cenográficas dos filmes que o inspiram.
Como ficção, o trabalho de Xerxenesky não tem muita profundidade. A história é pueril, de um clima falso e afetado. Apesar da recheada de ação, não emociona e não transmite nem o maravilhamento que se espera de um épico nem o estranhamento que se espera de uma história de horror. Mas, ainda assim, Areia nos dentes é uma jogada de mestre, pois não há como acusar Xerxenesky de pecar nesse aspecto. Afinal, é Juan Ramírez o verdadeiro autor do romance e ele não é um escritor, além de estar sempre bêbado e empenhado em tornar a história de sua família em algo espetacular, mesmo que para isso tenha que mentir um pouquinho.
O maior mérito de Areia nos dentes está no experimentalismo gráfico. Por exemplo, numa certa altura o autor usa uma diagramação de roteiro de teatro, com fontes diferenciadas do corpo do texto, como se fosse um diálogo ensaiado. Noutra, contrapõe duas colunas simultâneas, sendo que na primeira a ação é praticada por Juan Ramírez e na segunda, por Samuel Marlowe. E quando o computador dá defeito, o texto transforma-se em sinais ilegíveis. Apesar de não contribuírem em nada para a construção do clima de ficção – ao contrário, prejudicam-no enormemente – estes experimentos gráficos são muito divertidos.
Dessa forma, Areia nos dentes, ainda que seja um faroeste de horror rasgado com tudo o que tem direito, acaba não sendo nem faroeste nem ficção de horror, mas uma peça de experimentalismo que pouco tem a ver com a literatura fantástica. Mesmo assim, não decepciona e vale a pena ser lido.

quinta-feira, 22 de junho de 2023

Relançamento: A torre acima do véu

Depois de causar boa impressão com a publicação em 2014 pela Editora Giz, o romance de ficção científica A torre acima do véu, estreia da escritora paraense Roberta Spindler, será relançado pela Editora HarperCollins Brasil. 
Diz o texto da contra-capa: "Quando uma névoa perigosa toma conta das cidades e seres sombrios ameaçam a vida de todos os habitantes da Terra, o que resta da humanidade se refugia no alto de megaedifícios e estabelece uma nova comunidade. Sob a proteção de uma instituição autointitulada Torre, recebem segurança e cuidados em troca de obediência e ordem. Beca e sua família têm uma relação próxima com a Torre e ganham a vida resgatando objetos da antiga civilização que possam ter algum valor na chamada 'Nova Superfície'. Admiradora dos esforços de seus líderes, a jovem anseia saber mais sobre o que a humanidade já foi um dia e nem imagina que esse desejo está próximo de se realizar."
O livro tem 384 páginas e está em pré-venda aqui; a editora promete a entrega para julho.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Lançamento: Filhos da esperança

Finalmente chega ao Brasil o romance de ficção científica Filhos da esperança (The children of men, 1992), da escritora inglesa P. D. James (1920-2014), que inspirou o filme homônimo de Alfonso Cuarón, lançado em 2007. 
Diz o texto de divulgação: ​​"Em 2021, anos após o início de uma epidemia de infertilidade, a desolação generalizada da humanidade fez ruir as bases da civilização. A raça humana será extinta quando a geração mais jovem se for. Um dos últimos países a manter alguma estrutura de governo, a Inglaterra vive em caos, submetida a um domínio despótico. Tocando sua rotina solitária nesse mundo sem esperança, um historiador apático se encontra com uma jovem que vai mudar sua vida e o futuro da humanidade."
É grande a expectativa por esse livro pois a adaptação para o cinema é excelente, e pode ser colocada entre os melhores filmes de ficção científica já feitos, ao lado de 2001, de Stanley Kubrick, e Blade Runner, de Ridley Scott.
O livro tem 368 páginas, tradução de Aline Storto Pereira e é uma publicação da Editora Aleph.

terça-feira, 20 de junho de 2023

Lançamento: Apocalipse amarelo

"Isolada em Mucarágua, cidade esquecida entre as montanhas, a família Dédalo observa o fim do mundo. Deuses, monstros e humanos convivem, afetados pela loucura e pelo esquecimento de tudo que os diferenciava no passado. Malaquias, um homem corroído pelo álcool e pela viuvez, e seus filhos Rafa e Ícaro, com a ajuda da sabedoria popular de Juca, que foi professor antes do grande fim, vão descobrir que o passado guarda respostas sombrias e que um mal ainda maior está à espreita."
Esta é a sinopse do romance new-lovecraftiano O apocalipse amarelo: uma torre para Cthulhu, do jornalista carioca Diego Aguiar Vieira, que promete ser o primeiro de uma série. 
O volume tem 120 páginas e é uma publicação da Editora Avec. 

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Lançamento: Vórtices

Vórtices
é o primeiro romance de ficção científica do escritor paulistano Gustavo Rosseb, autor da série de fantasia folclórica Tibor Lobato
Diz o texto de divulgação: "Em uma realidade alternativa – e quase distópica –, Maressa Adérfia, uma mãe desesperada, recebe uma ligação do hospital onde o filho se encontra em coma há cinco anos. Os médicos sugerem o desligamento dos aparelhos que o mantêm vivo. Apesar de o menino não apresentar nenhuma perspectiva de melhora, ela se recusa a aceitar a recomendação e resolve procurar uma alternativa inusitada para salvar o garoto: conectar-se a uma estranha máquina que promete levar sua mente a lugares inexplorados pela consciência humana. Alcino Damiano, um cientista renegado que vive recluso, famoso por criar uma tecnologia capaz de isolar a consciência de uma pessoa e separá-la de seu corpo físico, afirma que é possível promover o encontro com outras consciências. Maressa acredita que, ao se tornar cobaia desse experimento, poderá ensinar ao filho o caminho de volta até seu corpo no hospital, antes de os médicos desligarem os aparelhos. No entanto, para salvá-lo, Maressa precisará convencer o doutor Damiano a reativar seu projeto, que foi proibido, e também lidar com sua consciência vagando fora de seu corpo, em lugares onde a psique humana jamais adentrou."
O livro tem 232 páginas e é uma publicação do selo Jangada da Editora Pensamento.

sábado, 17 de junho de 2023

Meio século de Velta

O quadrinhista paraibano Emir Ribeiro lançou, há poucos meses, uma série de três revistas em comemoração aos cinquenta anos de publicação ininterrupta de sua principal criação, a super detetive Velta, um dos maiores sucessos do ambiente alternativo do quadrinho brasileiro desde os anos 1980. 
As revistas contam uma única história em continuação, no total de 108 páginas (incluindo as capas) e têm a colaboração de Gabriel "Billy" Castilho e Henry Garrit nos roteiros, além de May Santos desenhando cartões especiais de personagens. Os desenhos das histórias ficaram a cargo do próprio Ribeiro.
O financiamento foi obtido através de uma campanha no Catarse encerrada em março último. Por ser uma campanha do modo flexível, as revistas seriam feitas mesmo que a meta financeira pretendida não fosse atingida, portanto podem ter sido impressos mais exemplares que a quantidade de apoiadores e certamente é possível adquiri-los agora.
Para obter estas e outras publicações de Emir Ribeiro é preciso entrar em contato diretamente com o autor, pelo email emir.ribeiro@gmail.com.

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Lançamento: Mestres do traço

Mestres do traço
é uma antologia de entrevistas que o jornalista Rafael Spaca realizou com os principais quadrinhistas e cartunistas do país, originalmente publicadas na revista Bravo!.
Nele estão transcritas conversas com Álvaro de Moya (1930-2017), Renato Aroeira, João Spacca, Orlandeli, Arnaldo Branco, André Dahmer, Caco Galhardo, Custódio Rosa, Júlio Shimamoto, Paulo Caruso, Gustavo Machado, Allan Sieber, Adão Iturrusgarai, Chico Caruso, Jaguar, Leonardo, Cynthia Bonacossa, Marcello Quintanilha, Bira Dantas, Rafael Coutinho, Mauricio de Sousa, Denison e Fabiane Langona. Uma maravilha!
O livro tem 296 páginas é é uma publicação da editora Avec.

quinta-feira, 15 de junho de 2023

Lançamento: Barretos, homens de Livros

A  Kitembo é uma editora de São Paulo que oferece um catálogo inteiramente voltado à literatura fantástica produzida por escritores pretos. Dentre os muitos títulos que vale conhecer, está Barretos: Homens de livros, de Hedjan CS, obra premiada com o Proac 2022 da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. 
Diz o texto de apresentação: "Um escritor ativista e desafiador tenta descobrir o paradeiro de um garoto desaparecido. Ao mesmo tempo, um jornalista bem posicionado na sociedade recebe a incumbência de localizar um 'livro maldito'. Essas duas situações unem esses homens que se odeiam, respectivamente Lima Barreto e João do Rio, em uma busca perigosa pelas ruas, becos, no morro da Providência e arrabaldes do Rio de Janeiro de 1907."
Esta interessantíssima sinopse aponta para um romance de fantasia nas franjas da ficção científica, mas o que realmente instiga é saber que nele temos a chance de conviver com versões alternativas de dois grandes fantasistas brasileiros que nos legaram heranças culturais singulares.
O volume tem 312 páginas e traz ilustrações internas de Lucimara Penaforte, Will Rez e Gê Mendes. A elegante capa é assinada por Douglas Reveri.
E mais: por ser um livro financiado com fundos públicos, sua distribuição é gratuita; basta pagar o frete. Melhor que isso, impossível! 
O meu já está em mãos.

quarta-feira, 14 de junho de 2023

In trash we trust!

O blogue Intervalo Cultural Rio está promovendo uma brincadeira muito divertida entre os fãs de cinema bagaceira, e promete distribuir "brindes especialmente selecionados" entre os que participarem. 
O desafio é o seguinte: "Se você fosse convidado para dirigir um novo canal de televisão chamado Telecine Trash, que filmes indicaria  para a grade da programação?" 
Capa participante deve indicar dez títulos, de qualquer nacionalidade, com o respectivo ano de produção, enviando a lista para o email intervalo.rj@gmail.com. O prazo para as indicações vai até 30 de junho de 2023. 
Mais informações podem ser obtidas aqui

terça-feira, 13 de junho de 2023

Resenha do Almanaque: Amor vampiro

Amor vampiro
, Ednei Procópio, org. São Paulo: Giz, 2007 

Antologia com contos de dark fantasy organizada pelo editor da Giz, reunindo alguns dos mais ativos autores brasileiros que têm nos contos com vampiros o principal trabalho. O expediente informa 2007 como a data de publicação, mas só foi efetivamente publicado no início de 2008.
O livro é elegante, com uma belíssima capa assinada por Amauri Modesto de Oliveira, ótimas produção gráfica, diagramação e revisão. Em suma, uma edição que faria história em qualquer época em que fosse publicada, exceto hoje, uma vez que o mercado está saturado de histórias de vampiros. É lamentável que assim seja, porque o livro apresenta um projeto editorial consistente e os autores publicados têm experiência.
Por exemplo, Adriano Siqueira foi editor do bem sucedido saite de horror Adorável Noite, que ajudou a catalisar o gênero no Brasil. André Vianco é um dos maiores fenômenos da literatura fantástica brasileira, com muitos livros publicados, entre eles o bestseller Os sete (2001), bem recebido também pela crítica. Martha Argel podemos dizer que é uma veterana no fandom, presente desde a década de 1990 quando praticava ficção científica, até identificar-se com os vampiros e desenvolver alguns dos bons livros no tema, como o romance Relações de sangue (2002), a antologia O vampiro de cada um (2003) e o excelente O vampiro da Mata Atlântica (2009), entre outros. J. Modesto é autor do romance Trevas: Eles estão por toda parte (2006). Nelson Magrini tem em seu currículo os livros Anjo, a face do mal (2004) e Relâmpagos de sangue (2006). Regina Drummond é a mais experiente de todos, com um trabalho importante e premiado como escritora, editora e incentivadora da leitura. Giulia Moon, por sua vez, é uma das mais interessantes autoras brasileiras de vampiros, com vários livros publicados, entre eles Vampiros no espelho & Outros seres obscuros (2004), A Dama-Morcega (2006) e a série de romances com a vampira Kaori.
Dessa forma, era de se esperar que os contos publicados fossem trabalhos destacados no gênero e na bibliografia dos autores, aproveitando a ousadia que o título da antologia sugere, uma vez que os vampiros são, em sua dimensão mítica, seres deformados. Mas como se poderá perceber pela resenha a seguir, não houve muita variação e quase todas as histórias versam sobre relações entre homens e vampiras com as mais previsíveis conotações. Nenhum outro tipo de amor parece fazer parte do ideário vampírico, seja por parte do monstro seja por parte das suas vítimas, pelo menos na opinião do organizador da antologia, uma vez que alguns dos autores já mostraram visões mais interessantes nesse mesmo tema em outras oportunidades. Apesar disso, o conjunto soa harmonioso, sem que nenhum dos trabalhos publicados se destaque entre os demais.
Não parece haver um padrão na ordem dos autores, mas cada um deles forma um caderno particular, isolados entre si por uma folha decorada com grafismos e um pequeno currículo.
Adriano Siqueira abre a antologia, com três trabalhos muito curtos. O primeiro deles é “O outro lado do espelho”, com apenas três páginas é o mais breve da antologia e faz o trabalho de um diapasão para o que virá em seguida. Numa ambientação algo gótica, um vampiro satisfaz o desejo de uma bruxa que insiste ser vampirizada. Em “O dia dos vampiros”, um jovem sem sorte troca de lugar no espaço e no tempo com um vampiro que ia ser imolado séculos atrás. Enquanto o jovem azarado é sacrificado em seu lugar, o vampiro acompanha sua namorada a uma festa dedicada aos vampiros. O conto assume ser uma homenagem a 13 de agosto, o Dia do Vampiro, quando a comunidade brasileira de fãs festeja o seu objeto de desejo. O terceiro conto é “A grande chance”, no qual um adolescente apaixonado pela garota mais bonita da escola espera pela chance de se declarar. Mas ela está envolvida com um vampiro e o destino do jovem é tornar-se o prato principal da noite.
O caderno seguinte apresenta o conto “A canção de Maria”, de André Vianco. O experiente autor ousa instalar sua narrativa na Palestina dos tempos de Jesus Cristo, quando um lenhador judeu abriga em sua casa uma jovem mãe que lhe pede ajuda. Porém a mulher morre e deixa sua criança com o homem, que decide cuidar dela sozinho. Mas o fantasma da mãe parece rondar a casa com a intenção de levar também a criança, que fica cada vez mais fraca e doente. Assustado e cada vez mais desesperado, o homem abandona suas convicções religiosas e busca na feitiçaria uma forma de proteger o bebê e a si mesmo. É o conto mais diferente do livro, com uma vampira não usual e uma relação de amor triangular entre o lenhador, a jovem mãe e o bebê. Mas o conto não está bem ambientado e a Palestina romana de Vianco não soa realista. O judeu não pratica sua religião e talvez nem o seja de fato, mas ao buscar ajuda com o Nazareno, sem sucesso, dá a impressão de que fosse. A imagem burocrática que Vianco pinta de Jesus que, na sua opinião, seria agenciado por João Batista, é historicamente inconsistente e enfraquece o conto. Os resultados seriam melhores se Vianco tivesse plantado seu drama de horror diretamente na Europa medieval, com a qual se identifica mais plenamente. Apesar disso, é o melhor trabalho do livro.
A seguir, Martha Argel apresenta o conto mais longo do volume, “A flor do mal”, uma noveleta com quarenta páginas ambientada na Florença do tempo dos Médicis. Uma vampira, ao voltar de sua caçada noturna, é surpreendida por um homem em busca de vingança pela morte de um parente, mas os instintos da monstra a alertam a tempo de evitar qualquer dano, e o atacante acaba escravizado pela vampira. Surge um romance entre os dois e, mais tarde, a vampira acaba transformando seu amante numa criatura semelhante a ela. Há bons momentos no conto – especialmente os mais apimentados, que a autora domina muito bem – e a ambientação florentina é eficiente, mas faltou algo mais à história, pois os dramas emocionais dos dois vampiros não são convincentes.
J. Modesto conta duas histórias. Em “Amante notívago” um vampiro se aproveita de uma dama da nobreza enquanto seu marido não está no castelo. Este, vindo não se sabe de onde, esfalfa-se para chegar a tempo de salvar sua esposa das garras do monstro. O confronto favorece ao homem que, depois de destruir a criatura do mal, deita-se ao lado da esposa desacordada. Quando o cansaço o faz dormitar, a dama finalmente revela sua nova natureza. Em “O anjo e a vampira”, uma senhora idosa fala a seu neto adolescente sobre a paixão entre dois seres de naturezas incompatíveis. Apaixonados, anjo e vampira procuram uma bruxa que conspurca a santidade do anjo para que o casal possa satisfazer sua luxúria em segurança. Modesto é o autor menos experiente do grupo, mas suas histórias não destoam do conjunto.
“Isabella” é a contribuição de Nelson Magrini, que conta como um nerd obcecado por uma vampira arma um esquema para que ela o note e se apaixone por ele. Usando de lógica supostamente científica, o rapaz argumenta que a vampira é mais humana do que pensa e, finalmente, consegue convencê-la a se entregar a sua paixão. O texto tem problemas com repetições de palavras e aliterações, e nas primeiras páginas há uma adjetivação tão exagerada que chega a incomodar. Mas passado esse mal início, a narrativa flui melhor.
Regina Drummond participa com “A velha, o jovem e o casarão”, a aventura de um adolescente que, maltratado pela madrasta, foge de casa. Sem ter para onde ir, observa como uma velha senhora desaparece num trecho desmoronado do muro que cerca um velho casarão aparentemente abandonado, e resolve segui-la. Uma vez nos domínios do imóvel, é envolvido por energias nefastas que o impedem de se afastar. Depois de passar uma noite no casarão, finalmente se encontra com a velha, que o recebe com amabilidade. Dessa forma, o jovem decide permanecer para explorar melhor as dependências do velho solar, o que vai revelar ser um grande erro. A história, se não é original, é muito bem contada, tem um nível de estranhamento delicioso e faz uma bela homenagem aos velhos casarões assombrados. A referência ao amor vampiro é transversal e só vai materializar-se no trecho final da história, mesmo assim é preciso a participação interpretativa do leitor. A apresentação de Regina Drummond impressiona, é uma autora muito experiente, com uma sólida carreira dedicada à literatura infanto-juvenil, e é estranho que com tanto prestígio não tenha uma bibliografia mais consistente no fantástico. Certamente não é por causa de seu texto, que é irrepreensível, assim como sua criatividade, que faz de seu conto um dos melhores trechos da antologia. Talvez sua carreira literária já estabelecida seja um dificultador junto aos seus editores, e sua presença nesta coletânea inaugure uma linha alternativa de sua obra. Espero que a autora tenha a oportunidade de nos apresentar, num futuro breve, mais trabalhos voltados para o fantástico, com ou sem vampiros, pois é uma excelente escritora.
“Dragões tatuados”, de Giulia Moon, fecha a antologia com uma história que se passa no bairro da Liberdade, na capital paulista. Um rapaz tem por profissão observar e catalogar vampiros em nome de alguma organização que não é explicitada na história. Sempre muito discreto e cuidadoso, catalogou centenas dessas criaturas amaldiçoadas, mas desta vez alguma coisa não deu certo, pois ele acorda na cama de sua suíte no hotel sem lembrar dos eventos da noite anterior e com duas pequenas perfurações em seu pescoço. Na busca por respostas, ele vai se envolver com uma mulher fatal que tem por hobby tatuar dragões em suas vítimas. Giulia tem um ótimo domínio do texto e a história envolve o leitor mas, depois de tantas histórias de paixão entre homens jovens e vampiras sedutoras, acaba por ser mais um pouco do mesmo.
Fica a certeza que o organizador perdeu a chance de construir uma antologia realmente representativa do tema escolhido, pois alguns dos autores selecionados já publicaram histórias melhores nessa premissa. Quando os textos se aproximam de uma narrativa pornográfica, um pouco mais de ousadia poderia ter elevado a experiência do leitor a algo realmente emocionante – uma vez que assustadora não é – mas os contos são comedidos, juvenis, e fica a impressão de um moralismo excessivo, que não consegue pensar num amor vampiro para além do heterossexual. Uma visão mais criativa e ousada ficou assim para uma outra oportunidade.
De qualquer forma, o livro entretem e o editor nos informou que o volume teve aceitação muito boa pelos livreiros, provavelmente animados com o nome de André Vianco entre os autores, e com a excelente apresentação gráfica.

segunda-feira, 12 de junho de 2023

QI 182

Quadrinhos Independentes-QI
, editado por Edgard Guimarães, é um fanzine inteiramente dedicado ao estudo das histórias em quadrinhos, destacando a produção independente e os fanzines brasileiros. 
O número 182, referente ao período julho/agosto de 2023, tem 44 páginas e traz artigos de Alex Sampaio, E. Figueiredo, Henrique Magalhães, Lio Guerra Bocorny, Pedro José Rosa de Oliveira, Alexandre Nagado e do editor, além de quadrinhos de Manoel Dama, Henrique Magalhães, Luiz Iório, Mário Labate e do próprio Guimarães. Completam a edição as colunas "Fórum" com dezoito páginas de cartas dos leitores, "Edições independentes" divulgando lançamentos de fanzines do bimestre anterior e "Mantendo contato", de Worney Almeida de Souza. A imagem da capa vem em preto e branco na edição impressa, mas aparece em cores em um encarte para recortar e armar uma versão interativa da cena.
Junto a esta edição do QI, os assinantes receberam o 16º fascículo da série Artigos sobre Histórias em Quadrinhos, de vinte páginas, com a pesquisa de Carlos Gonçalves sobre a revista Diversões Escolares, publicada pela Editora Abril nos anos 1960. Também o primeiro fascículo da série HQ além dos balões, com oito páginas para a pesquisa de Fabio Sales sobre "Adaptações de quadrinhos para o cinema"; e ainda o suplemento de quatro páginas Quadrinhos nas mãos, registrando em imagens fotográficas o passo a passo da montagem artesanal dos livros da editora Marca de Fantasia.  
Exemplares impressos do QI e seus encartes podem ser adquiridos mediante assinatura. Mais informações, diretamente com o editor pelo email edgard.faria.guimaraes@gmail.com. Contudo, versões digitais de todas as edições, desde o primeiro número, bem como de seus encartes, estão disponibilizadas no saite da editora Marca de Fantasia, aqui, além de muitas outras publicações que vale a pena conhecer.

sábado, 10 de junho de 2023

Mystério Retrô 14

Editada por Tito Prates, a revista Mystério Retrô é um periódico literário trimestral impresso, viabilizado através de financiamento direto dos assinantes na plataforma Catarse. Sua linha editorial prioriza a literatura de mistério, mas mantém um certo flerte com os gêneros fantásticos.
Neste momento, está aberta a campanha da edição 14, que comemora quatro anos de atividade. 
A edição traz contos de Eudes Cruz, Carlos Rodrigues, Renata de Luca, Mizaki, Juliana Lino, Wesley Guilherme, Bettina Stingelin, Schleiden Nunes Pimenta, André Albuquerque, Igor Candido, Marcela Avellar, Charles Machado, além de artigos de Matheus Peixoto, João Vitor Lopes e Chrystal Siqueira.
Um dos diferenciais da Mystério Retrô no Catarse é a entrega imediata, uma vez que a revista já está impressa. 
Mystério Retrô 14 pode ser adquirido aqui. Também há ofertas para aquisição de combos e até da coleção completa.

sexta-feira, 9 de junho de 2023

Resenha do Almanaque: Trilogia Padrões de Contato, Jorge Luiz Calife

Trilogia Padrões de Contato, Jorge Luiz Calife. 648 páginas. São paulo: Devir, 2009.

Padrões de contato faz parte do restrito conjunto de títulos seminais que são lembrados em primeiro lugar quando se fala em ficção científica brasileira. Da mesma forma o seu autor, o jornalista carioca Jorge Luiz Calife, que ganhou notoriedade quando o escritor britânico Arthur C. Clarke o citou em agradecimento no seu romance 2010: Uma odisseia no espaço II (1982). Calife era seu fã e correspondente, e sugerira num esboço os contornos gerais de uma continuação a 2001: Uma odisseia no espaço (1968), abrindo as comportas para uma sequência que Clarke julgava impossível. Seja como for, 2010 foi um grande sucesso editorial e cinematográfico, lançando o nome de Calife na grande imprensa. A então muito popular revista Manchete apressou-se em publicar o esboço que Calife enviara ao famoso escritor, nomeado de "2002". Logo, as editoras se interessaram pelo que aquele desconhecido jornalista tinha a dizer e, em 1985, Padrões de contato ganhou as livrarias pela editora Nova Fronteira.
No ano seguinte, pela mesma editora, veio a sequência, Horizonte de eventos. Articulados a um conjunto de circunstâncias, os dois romances inauguraram o que ficou conhecido como Segunda Onda de ficção científica brasileira, caracterizada pela formação de um grupo de fãs organizado, pela publicação de muitos fanzines, pelo desenvolvimento de uma consciência de corpo e pela busca de identidade para ficção científica nacional, que não existia até então.
Contudo, a maior importância de Padrões de contato/Horizonte de eventos é que se tratou da primeira ficção científica hard nacional na qual os conceitos de astronomia e astronáutica foram tratados de forma precisa e rigorosa. A ficção científica brasileira tinha enfim o seu representante hard fiction e isso inspirou muita gente a seguir-lhe os passos.
Mas naquele final de século não era fácil publicar um livro e a maior parte da produção da Segunda Onda estava apoiada nos fanzines, com os quais Calife, mesmo depois de seus romances publicados, não se furtou em colaborar. Vários contos no mesmo universo do romance foram neles impressos. Em 1991, Calife ainda veria publicado um terceiro volume da série: Linha terminal, pela legendária editora GRD, com uma tiragem tão minúscula que, na prática, circulou apenas dentro dos muros do fandom.
Em 2009, próximo do momento em que Padrões de contato completaria 25 anos de publicação, a Devir reuniu os três romances em um único volume e recuperou para o público esta que é conhecida como a primeira trilogia da ficção científica brasileira, ainda que eu, particularmente, discorde desse título. Afinal de contas, Calife não construiu uma trilogia, ele apenas publicou três livros, que podem ser mais se as editoras assim quisessem. Padrões de contato é, de fato, uma série aberta, um universo recorrente do autor que comporta, além desses três livros, uma boa quantidade de contos e noveletas publicadas ao longo dos anos em fanzines e antologias, incluindo ainda um quarto romance, Angela entre dois mundos, publicado em 2010 pela mesma editora.
A Devir fez um bom trabalho na compilação, que foi totalmente revisada e premiada com a belíssima capa de Vagner Vargas, que também executou ilustrações para a abertura interna de cada livro. O volume conta ainda com um prefácio do jornalista Marcello Simão Branco.
O primeiro livro, "Padrões de contato", está divido em quatro partes distintas. A primeira delas, intitulada "Estrela cadente (2426 AD)", narra o primeiro contato de um ser humano com a inteligência alienígena Tríade, na pessoa de Angela Duncan que, por isso, é agraciada com a juventude eterna. Desde então, Angela torna-se uma personalidade mundial numa Terra futura na qual a ciência respondeu a todas as dúvidas e acabou com todos os problemas da sociedade. Enquanto inteligências artificiais governam a civilização e grandes corporações lutam pelo domínio do espaço, a humanidade é sacudida pelas revelações apocalípticas de uma sonda alienígena vinda do espaço profundo.
Na segunda parte, "Luzes do abismo (2560 AD)", as inteligências artificiais foram literalmente para o espaço e uma geração pós-humana reforçada com todo tipo de upgrades biotecnológicos, pretende seguir o mesmo caminho. A imortal Angela vive numa estação instalada na atmosfera de Júpiter, onde os cientistas tentam contatar uma sociedade alienígena que ali reside.
Em "Fuga da eternidade (2701 AD)", a Tríade volta a Terra e absorve uma parte da humanidade que se preparara para isso voluntariamente. Sem mais nada de útil para fazer, um grupo de homens e mulheres requisitam uma espaçonave para também meter-se para sempre no espaço sideral.
"A filha dos deuses (3002 AD)" completa o livro. A bordo de uma espaçonave repleta de alienígenas em missão de pesquisa num buraco negro, Angela finalmente volta a se encontrar com a Tríade, que lhe revela o motivo de ter lhe dado vida, juventude e beleza eternas.
O segundo livro, "Horizonte de eventos", divide-se em três partes. A primeira, a melhor de toda a trilogia, é "Choque cultural", em que Angela Duncan e a também imortal jornalista Luciana Vilares viajam à bordo do mundo artificial Éden 6, a caminho do núcleo da galáxia. A certa altura encontram a Brasil, uma antiga espaçonave terrestre perdida. Lançada no século XXII, a Brasil usava uma tecnologia primitiva, viajando no espaço tridimensional em velocidades próximas à da luz, de modo que a tripulação só envelhecera duas décadas em oitocentos anos de viagem. A tripulação era formada por colonizadores brasileiros em busca de um planeta selvagem, mas um acidente no percurso os tirara da rota, levando ao poder uma guarnição de militares diretamente inspirados na nossa ditadura, que ali governavam com mão de ferro.
"Os dois lados do amanhã" é um típico período de interregno. Superados os problemas com a Brasil, Éden 6 segue sua jornada ao centro da galáxia, onde pretende encontrar-se com a Tríade. Dafne, neta de Angela e igualmente imortal, pesquisa alienígenas globulares e Luciana, na companhia de Fernando – um dos sobreviventes da Brasil – viajam à Terra para pesquisar as fichas dos náufragos, que deviam subexistir nos antigos registros preservados em velhíssimos bancos de memória.
"Horizonte de eventos" conclui este segundo livro. Lena, filha de Dafne, não herdou da mãe a dádiva da juventude eterna. Como todo o resto da humanidade, ela também vive no espaço sideral em constante trabalho de pesquisa científica. A expedição em que Lena participa a leva a expôr-se a uma desconhecida raça alienígena, os nictianos, que se revelam de natureza parasitária e invadem os corpos dela e de toda a equipe. Com a mente controlada pelos nictianos, Lena e seus companheiros atacam Éden 6, num mortal jogo de gato e rato em meio às estrelas do núcleo da galáxia.
"Linha terminal" fecha a trilogia retomando personagens e situações que haviam aparecido no primeiro livro e não tinham sido lembrados no segundo. Os pesquisadores descobrem uma antiga espaçonave terrestre orbitando um estranho planeta. Ali encontram evidencias da presença antiga dos djestares, civilização galáctica desaparecida que criou a Tríade. Enquanto isso, Angela Duncan, com recursos da Grande Comunidade Galáctica, passou as últimas décadas dedicada a construir uma enorme máquina do tempo, através da qual volta a época em que os djestares ainda existiam para descobrir uma forma de recuperar a saúde da Tríade, que está morrendo. Por acaso, a época em questão é justamente os anos 1980 e o local em que ela pretende encontrá-los é justamente o litoral do Rio de Janeiro.
A narrativa de Calife é equilibrada, com bons diálogos e ritmo agradável, sem vales profundos ou montanhas íngremes: o leitor passeia tranquilo e sem sobressaltos. Mas a reunião dos três romances tornou a leitura um fardo difícil de carregar. Primeiro, por causa do peso de suas quase 700 páginas que, se não estiver bem apoiado, em poucos minutos faz doer os braços mais musculosos. Depois, porque os romances foram escritos para serem lidos separadamente. Justapostos, tornam-se cansativos e redundantes. A falta de uma linha narrativa principal confunde o leitor que, quando chega ao meio do livro, já não se lembra mais do que aconteceu no início.
Irrita também a insistência do autor em convencer seus leitores da não existência de Deus, pois o romance em si já seria suficientemente eloquente. Volta e meia, os alter-egos femininos do autor lascam um discurso antignóstico que beira o panfletário. A revisão bem poderia ter removido essas partes que, além de não fazerem falta nenhuma no enredo, empanam o brilho do que poderia ter sido uma perfeita peça de proselitismo ateu. Não que eu concorde necessariamente com a crença do autor mas pelo menos o livro, como peça literária, teria subido alguns pontos na minha avaliação.
A falta de conflitos importantes e a fragilidade das personagens principais, todas muito parecidas, também enfadam o leitor que, na maior parte do tempo, depende unicamente das elaboradas descrições de imagens cósmicas para sustentar o interesse.
Quando Calife encontra um bom conflito para explorar, como é o caso do acidente de Angela nas nuvens de Júpiter (em Padrões de contato) e o conflito entre o mundo artificial Éden 6 e a totalitária Brasil (em Horizonte de eventos), o texto ganha fôlego e a leitura progride com vigor. Mas os problemas são rapidamente superados e o curso narrativo logo volta ao ritmo de cruzeiro, pacífico e preguiçoso.
Mas que não fiquem dúvidas: Jorge Luiz Calife e Padrões de contato merecem todas as homenagens que lhe cabem. Trata-se de uma obra pioneira em vários aspectos, com belíssimas e inspiradoras descrições de maravilhas do espaço profundo, coisa em que Calife é sem dúvida, imbatível.

quinta-feira, 8 de junho de 2023

Resenha do Almanaque - Steampunk: Histórias de um passado extraordinário

Steampunk: Histórias de um passado extraordinário, Gianpaolo Celli, org. 182 páginas. São Paulo: Tarja, 2009.

Os fãs gostam de estar antenados com as ondas estrangeiras, especialmente dos EUA e Reino Unido. Assim também são autores-fãs, que acreditam que explorar novos ambientes e novos instrumentos narrativos é o melhor atalho para a criação de algo novo, sendo esse valor suficiente por si mesmo. Antes mesmo da habilidade técnica, o autor-fã acredita na originalidade e sobre ela costuma ser muito ciumento. Dessa forma, as ondas do cyberpunk, do new weird e do steampunk chegaram aos fanzines muito mais rapidamente que a qualidade narrativa dos autores, reverenciadas como aspectos da originalidade desejada. Essa falta de maturidade técnica acaba impedindo que a maior parte dos autores compreenda profundadamente o que esses movimentos significam em toda a sua amplitude e acabem por adotar apenas seus aspectos mais óbvios, não raro criando modelos que, ao fim e ao cabo, são mais cerceadores que libertadores.
Dessa forma, o cyberpunk foi emulado pelos fãs brasileiros unicamente pela presença intensiva da virtualidade e de uma linguagem forrada de jargões tecnológicos; o new weird transformou-se tão somente na mistura de gêneros estilo "tudo ao mesmo tempo agora". O steampunk, enfim, foi estigmatizado pelos cenários vitorianos com tecnologias imaginárias ou extrapoladas. E, assim sendo, o steampunk sequer é novidade. Afinal, essas características já estavam presentes nos primórdios da ficção científica. Os cenários são os mesmos que vemos nos primeiros textos de ficção científica de Edgar Allan Poe, Júlio Verne, H. G. Wells e seus contemporâneos. Então, por que isso agora?
Desde os anos 1990, especialmente no Brasil, os leitores progressivamente desinteressaram-se pelas promessas do futuro e voltaram-se para o passado: romances históricos, fantasia medieval e horror gótico passaram a ser o tipo de leitura comercialmente melhor sucedida. A ficção científica acompanhou a tendência justamente com o steampunk, encampando o romance histórico a partir da história alternativa – que pode aproveitar personagens reais – e da ficção alternativa, na qual são emprestados os personagens de ficção em domínio público, como Sherlock Holmes, Allan Quartermain e Drácula.
A editora Tarja, gerenciada por jovens escritores de ficção fantástica, decidiu assumir o subgênro e reuniu nove trabalhos inéditos na que propôs ser a primeira antologia steampunk da ficção brasileira, organizada por Gianpaolo Celli sob o título de Steampunk: Histórias de um passado extraordinário. Ainda que seguindo o mesmo princípio derivativo que historicamente caracteriza a ficção científica brasileira, o livro logrou ser um dos melhores momentos do gênero em 2009. Autores experientes deram ao volume o estofo necessário para agradar aos leitores exigentes, e os autores estreantes revelaram uma qualidade acima da média das antologias publicadas.
O conto que abre a antologia é "O assalto ao trem pagador", assinado pelo seu organizador, Gianpaolo Celli. Na virada do século XIX, três pesquisadores de aerostatos, cada um deles representante de uma sociedade secreta que manipula os destinos do mundo, criam um dirigível especial para roubar o carregamento de ouro de um trem superarmado. Apesar da boa narrativa, a moral da história é discutível e os personagens esquemáticos não evocam a simpatia do leitor.
Em seguida encontramos "Uma breve história da maquinidade", do experiente tradutor Fabio Fernandes que, em 2009, também publicou Os dias da peste, seu primeiro romance pela mesma Tarja Editorial. O autor mergulha na ficção alternativa, emprestando de Mary Shelley o Doutor Victor Frankenstein que, depois do fracasso com a criatura de carne, decide construir homens de metal. Associado a outros notáveis, cria uma fábrica de robôs e muda os caminhos da civilização do início do século XIX, colocando um serviçal robótico na casa de cada família. Com o passar dos anos, as máquinas ganham consciência e passam a reivindicar seus direitos civis, algo similar à clássica peça R.U.R., do escritor tcheco Karel Capec, não obtém contudo a mesma eficiência dramática.
"A flor de estrume" é a estreia do jornalista Antonio Luiz M. C. Costa como escritor. A história se passa em São Paulo, no início do século 20, em uma realidade em que os povos nativoamericanos não foram extintos e desenvolveram alta tecnologia. Um espião europeu tenta roubar do Instituto Butantã um produto recém-desenvolvido: a penicilina. O conto abusa de termos tupi-guaranis e investe no detalhamento dos cenários, construindo imagens pungentes que inserem o leitor nesse ambiente exótico com grande eficiência, mas abandona a história em si. O ambiente minucioso contrastado com um conflito ligeiro deixa impressão de uma história que terminou antes da hora, que pede para ser estendida.
"A música das esferas" também é estreia do autor Alexandre Lancaster. Um jovem prodígio em tecnologia envolve-se no que parece ser um caso de assassinato. Junto a um policial de técnicas pouco ortodoxas, enfrentam os riscos de uma descoberta científica muito perigosa. A primeira metade do conto é perfeita, com personagens bem montados e um mistério instigante a ser resolvido mas, na busca por uma narrativa intensa, a conclusão se vulgariza num show hollywoodiano de fogos de artifício. Ficou a sensação de ser o primeiro de uma série.
"O plano de Robida: Un voyage extraordinaire" é o texto mais longo do livro. Assinado pelo experiente Roberto de Sousa Causo que, em 2009, também publicou o romance Um anjo de dor, pela editora Devir Livraria, conta uma bem urdida aventura que mescla ficção e história alternativas. A bordo de um dirigível, um comando militar, acompanhado de um alternativo Alberto Santos Dumont, ataca forças terroristas internacionais acampadas na selva brasileira. Capturados, confrontam Robert Robida, o líder dos terroristas, que pretende tornar-se o senhor do mundo dominando tecnologias modernas e conhecimentos tão antigos quanto a civilização humana. O conto dialoga claramente com o romance Robur, o conquistador, de Júlio Verne, mas Causo mudou o nome do vilão provavelmente em homenagem ao importante ilustrador dos livros de Verne, Albert Robida (1848-1926). Também homenageia os romances de mundo perdido dos primórdios da ficção científica brasileira, como Amazônia misteriosa (1925) de Gastão Crulz e A cidade perdida (1948) de Jerônymo Monteiro. Uma verdadeira new weird, com dinamismo e conflitos em doses certas. A conclusão em aberto sugere uma sequência.
"O dobrão de prata", de Claudio Villa, escapa um tiquinho do formato geral dos demais contos da antologia, pois investe no terror sobrenatural ao invés da ficção científica. Um pesquisador acadêmico embarca numa aventura marítima em busca de um tesouro naufragado. Conto simples, que busca o estilo de H. P. Lovecraft.
A convencionalidade do conto de Villa valoriza ainda mais a sofisticação do texto seguinte, "Uma vida possível atrás das barricadas", de Jacques Barcia, o melhor texto do livro, candidato às listas de melhores contos da ficção científica brasileira. Um estranho casal – um robô e uma golem – foge para onde sabe que conseguirá ajuda para gerar um filho. Mas o local enfrenta uma revolução trabalhista e a guerra é um perigo contínuo. Uma história forte, com personagens interessantes e narrativa vigorosa e criativa. Contudo – e isso não é demérito algum – está mais para cyberpunk do que para steampunk, sem fazer uso das convencionalidades de nenhum dos dois subgêneros.
Em "Cidade phantástica", de Romeu Martins, o personagem principal é um super-edifício onde um delegado investiga os desdobramentos de um sequestro. As muitas citações podem agradar aos que gostam de caçar detalhes.
Flávio Medeiros fecha a seleta com "Por um fio", deliciosa homenagem à obra de Júlio Verne – sempre ele – contando o confronto de seus dois sociopatas favoritos, Nemo e Robur, cada qual em seu veículo de guerra característico num combate até a morte. Ecoa também A raposa do mar (The enemy bellow, 1957), longa metragem que narra uma dramática batalha entre um couraçado americano e um submarino alemão.
Numa avaliação geral, a qualidade da antologia está acima da média, equilibrada e bem editada. Peca apenas pela falta de originalidade, já que a proposta é, sem nenhum pudor, emular um subgênero da moda. Já se vê por aí grupos de fãs fantasiados de Bat Masterson, de colete, polainas, bengala e chapéu coco, tentando implementar, tal como os fãs de Star Trek, um estilo de vida steampunk.
Não há nisso, portanto, muito mérito, pois não se percebeu empenho dos autores, exceção feita a Jacques Barcia, em fugir dos paradigmas mais evidentes do steampunk. A recorrência aos aerostatos e a Júlio Verne mostra que ou os autores tiveram dificuldade em visualizar alternativas para o ambiente ou simplesmente não se empenharam em desdobrar o modelo em algo mais original.
A editora Tarja encerrou suas atividades em 2013, sem efetivar a publicação de um prometido segundo volume da antologia, que chegou a ser anunciado em diversas fanpages ligadas ao tema. Contudo, lançou outros títulos que com ela dialogam, como a antologia Retrofuturismo, publicada em 2013 com contos de proposta algo mais ampla. Contudo, a mais importante herança da antologia Steampunk foi a enorme quantidade de antologias similares que a ela se seguiram por várias outras editoras, que ainda repercutem no fandom brasileiro.

quarta-feira, 7 de junho de 2023

Conexão 96

Está disponível a edição de junho do periódico eletrônico Conexão Literatura, editado por Ademir Pascale, dedicado à divulgação e publicidade de novos autores e obras da literatura brasileira. 
A edição tem 118 páginas e destaca a obra do emstre do horror Stephen King, autor de A Torre Negra, O iluminado, A coisa, Carrie e muitos outros clássicos do gênero.  
Também traz contos de Bert Jr., Ney Alencar, Idicampos, Mirian Santiago, Roberto Schima e Iraci Marin, além de entrevistas com artistas, poemas, crônicas, resenhas e artigos de assuntos variados.
A revista tem distribuição gratuita e esta edição pode ser baixada aqui. Números anteriores também estão disponíveis.

terça-feira, 6 de junho de 2023

Juvenatrix 247

Está disponível a edição de junho do fanzine eletrônico de horror e ficção científica Juvenatrix, editado por Renato Rosatti. 
Em dez páginas, traz e resenhas aos filmes Guerra dos satélites (1958), A garota diabólica de Marte (1954), Devils of darkness (1965) e O castelo de Frankenstein (1958), todas de autoria do editor. 
A edição é completada com notícias e divulgação de publicações alternativas e bandas de metal extremo.
A capa reproduz o cartaz do filme A garota diabólica de Marte, em sua versão original.
Cópias em formato pdf podem ser obtidas pelo email renatorosatti@yahoo.com.br.

segunda-feira, 5 de junho de 2023

Resenha do Almanaque: Solarium - Contos de ficção científica

Solarium: Contos de ficção científica
, Frodo Oliveira, org. 178 páginas. Rio de Janeiro: Multifoco,  2009.

Durante muito tempo, foi nas antologias que a ficção científica brasileira teve seu melhor desempenho. Tanto na conhecida Primeira Onda da ficção científica brasileira, com as edições da GRD e da Edart, quanto na Segunda Onda, quando a GRD também deu importante apoio, entre outras editoras. Avaliava-se, então, que os autores brasileiros tinham melhores resultados na forma curta, talvez por alguma inexplicável afinidade cultural, ou porque esse era o único formato que permitia alguma publicação. Nos fanzines, o conto também imperava majestoso e ainda é no formato curto que identificamos os trabalhos mais relevantes do gênero no país.
Depois de um período de vacas muito magras, ao longo do início do século 21, quando a ficção científica migrou para a internet de onde parecia que não sairia mais, a queda nos custos gráficos e principalmente a possibilidade de produzir tiragens por demanda facilitou a volta dos livros. Os muitos romances escritos durante os anos de internet, sem os limites de um projeto gráfico prévio, tiveram então a chance de conhecer publicação real e a ficção longa ocupou o espaço, enquanto as antologias não acompanharam o crescimento na mesma proporção.
Em 2009, porém, foi diferente. Surgiram novos projetos coletivos numa explosão de antologias por diversas editoras, algumas fruto de concursos, outras do investimento direto das editoras, outras ainda viabilizadas pela cooperação financeira dos próprios autores. Desse modo, podemos considerar que 2009 foi o grande ano das antologias no Brasil, com quase meia centena de títulos publicados entre ficção científica, fantasia e horror, que por si só superou largamente a produção das antologias em todos os anos 1990, por exemplo.
Solarium: Contos de ficção científica, organizada pelo escritor pernambucano Frodo Oliveira (Sinistro!, A torre negra) para o selo Antology da editora carioca Multifoco, foi uma das primeiras antologias publicadas em 2009. Não se trata de uma antologia temática e os autores tiveram total liberdade para escrever. A apresentação do volume é  econômica e nem traz um prefácio que contextualize a sua proposta editorial. Um brevíssimo texto na contracapa diz: "Bem vindo ao futuro. Este é o convite que a antologia Solarium faz aqueles que não têm medo de vislumbrar o que ainda está por vir. Cidades perdidas, seres de outros planetas, batalhas monumentais, galáxias distantes, tudo isso faz arte do inconsciente coletivo dos que, um dia, se apaixonaram pelo mundo fantástico da ficção científica. Convidamos você a desvendar conosco o grande mistério que é o futuro, este eterno desconhecido."
A antologia apresenta nada menos que 25 textos de 21 autores de todo o país mais um de Portugal, a maioria deles já com alguma experiência nas letras, ao lado de quatro estreantes. Quero destacar aqui alguns contos que, na minha opinião, apresentam qualidade superior entre o conjunto.
"Desvios", de Ricardo Delfim, é o trabalho mais curto da antologia, com cerca de 300 palavras. Trata-se de uma  romantização da juventude do pesquisador inglês Charles Darwin. Não é ficção científica e sequer chega a ser fantástico, mas é muito bem escrito e dá prazer de ler. Sua textura realista somada a ótima técnica do autor, que resolve muito bem o trabalho em poucas palavras, o destacam no conjunto.
"Esperança", de André Garzia, é outro bom trabalho. Numa espaçonave à deriva, crianças e adolescentes sobreviventes de uma guerra têm que redescobrir a aritmética depois que a última calculadora eletrônica à bordo quebra. Ainda que seja uma premissa um tanto absurda, o conto tem amplas qualidades narrativas, bons diálogos e personagens bem marcados. Merece ser desenvolvido: eu leria com satisfação um romance inteiro com essa premissa.
"Mutante alcoólatra", de Magalhães Neto, narra os delírios de um caboclo futurista sob influência do álcool. A ideia ótima e a técnica profissional mereciam um título melhor elaborado.
Em "Os estranhos", de José Geraldo Golveia, sobreviventes de uma praga de vampiros que devastou o mundo tentam superar mais um dia de horror. O melhor conto do livro, com ação, drama e estranhamento em doses generosas.
"Oxia Palus" do português Nuno Lago, é ousado. Militares de folga participam de um jogo no qual vence quem tiver o melhor sonho erótico. O conto destaca-se, além do erotismo, pela técnica apurada e o bom desenvolvimento dos personagens.
Em "País de gelo", de Victor Stefano, escritora em crise criativa tem devaneios com uma gravidez psicológica. Dramático e pósmoderno, surpreende pela qualidade narrativa e pela idade do autor, de apenas 15 anos, que estreou nesta antologia. Uma promessa que já se cumpre, o autor deve ter um futuro brilhante.
Entre os demais trabalhos, alguns têm boa técnica, outros são criativos, mas ou não apresentam bom desenvolvimento ou pecam pela falta de originalidade e ousadia, o que é natural num grupo de autores tão heterogêneo, muitos deles ainda carentes de experiência, com uma visão convencional do gênero. A avaliação final é de uma antologia mediana, que revela algum potencial.
Em novembro de 2009 e 2014, a mesma editora distribuiu os volume 2 e 3 de Solarium, também organizados por Frodo Oliveira com outra batelada de contos inéditos de ficção científica.

sábado, 3 de junho de 2023

Lançamento: Além da porta sussurrante

A editora Morro Branco, que tem trazido ao Brasil uma série de títulos incomuns da fc&f mundial, anunciou o lançamento do romance de fantasia Além da porta sussurrante, de T. J. Klune*, escritor americano vencedor dos prêmios Lambda, Alex Award e Mythopoeic Fantasy. 
Diz o texto de divulgação: "Wallace Price só conhece três coisas na vida: trabalho, um pouco mais de trabalho e algumas pitadas de trabalho. Assim, é extremamente inconveniente quando ele tem de parar tudo e atender ao seu próprio funeral. Mas quando ele recebe a visita de Mei, uma Ceifadora, ele começa a ter uma leve desconfiança de que possa estar morto. Em vez de levá-lo diretamente ao além, ela o guia a uma pequena vila em cujos arredores, escondida entre as montanhas, fica uma peculiar casa de chá. E quando Hugo, seu carismático proprietário e barqueiro do além-vida, se oferece para ajudá-lo a fazer a travessia, ele decide que efetivamente deve estar morto. Mas Wallace não está pronto para abandonar a vida que mal viveu e recebe uma última chance. Sete dias. Uma semana para viver uma vida inteira e talvez, enfim, apaixonar-se pelo que ela pode proporcionar".
E para marcar a efeméride, a Morro Brancpo programou para o próximo dia 8 de junho, um evento de lançamento com as preesenças do influenciador digital Christian Gonzatti e do tradutor do livro, Petê Rissatti, que vão comentar detalhes desse novo livro, com a mediação do parceiro da editora, Luan Santos. 
O evento acontece na Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, 915), a partir das 17h. A entrada é gratuita mas os ingressos são limitades. Garanta o seu aqui

*Do mesmo autor, a Morro Branco publicou em 2022 o elogiado A casa do Mar Cerúleo.

sexta-feira, 2 de junho de 2023

Bang! 33

Bang!
é um periódico português editado por Luís Corte Real para a Editora Saída de Emergência, sendo uma das melhores publicações em lusófonas dedicadas ao gênero fantástico. 
A edição 33, publicada em maio de 2023, tem cem páginas ricamente ilustradas com artigos sobre livros, cinema, música, série de tv, quadrinhos, RPGs e outros jogos, destacando os vinte anos de atuação da editora, com uma seleção dos próximos lançamentos em terras lusas – para desespero dos leitores brasileiros que não têm acesso a eles –, como Senhora de Avalon, de Marion Zimmer Bradley, A maldição das santas, de Kate Dramis, Prelúdio à Fundação, de Isaac Asimov, Lisboa noir, de Luís Corte Real, Crowbones, de Anne Bishop, The invencible, de Stanislaw Lem, e os segundo e terceiro volumes de A prisioneira dourada, Glint e Gleam, releitura de Raven Kennedy ao conto popular de Rei Midas.
Também traz entrevistas, quadrinhos e alguma ficção, como trechos do já citado A maldição das santas, e também de Gild, primeiro volume de A prisioneira dourada.
A versão impressa da Bang! é distribuida gratuitamente nas livrarias Fnac em Portugal, mas os brasileiros temos acesso gratuito ao seu conteúdo em versão digital, aqui. Edições anteriores também estão disponíveis. 

Conexão 95

Está disponível a edição de maio do periódico eletrônico Conexão Literatura, editado por Ademir Pascale, dedicado à divulgação e publicidade de novos autores e obras da literatura brasileira. 
A edição tem 140 páginas e destaca o trabalho de Wiilian Costa, criador do aplicativo Universo Literatura Generator, uma rede social voltada aos amantes dos livros.
Traz ainda contos de Roberto Schima, Ney Alencar, B. B. Jenitez, Idicampos, Iraci Marin, Ivete Rosa de Souza e Mirian Santiago, além de entrevistas com artistas, poemas, crônicas, resenhas e artigos de assuntos variados.
A revista tem distribuição gratuita e esta edição pode ser baixada aqui. Números anteriores também estão disponíveis.

quinta-feira, 1 de junho de 2023

Lançamento: Novo sci-fi

Está disponível na loja da editora Obook, entre muitos outros títulos curiosos, a recém lançada antologia Novo sci-fi, com dezesseis contos de ficção científica escritos por autores independentes. A organização do volume é creditada a Donnefar Skedar.
Comparecem à seleta os escritores Diana Sousa, André M. Lima, R. A. Tsuchiya, Bruno Bueno, Adriano Besen, Maicol Cristian, Ailton S. d'Santos, Condessa da Escuridão, Marcus Vinicius Melo de Araujo, A. J. dos Santos, Dino Meyer, Lucas Koehler, J. P. Alves, Rodrigo Koehler e Fausto Lucio. O veterano Roberto Schima, escritor da Segunda Onda da Ficção Científica Brasileira, aparece como autor convidado e assina a galeria de ilustrações ao final do volume, a maior parte das imagens foi antes vista nas capas de diversos fanzines brasileiros nos anos 1990.
A dinâmica da publicação é a de um fanzine amador, uma vez que está explícito no expediente que o organizador legou aos autores a responsabildiade pela revisão dos próprios textos, o que é uma temeridade do ponto de vista editorial. 
O livro está disponível em formato impresso, mas sua versão eletrônica pode ser baixada gratuitamente aqui, bastando ao interessado preencher o cadastro da editora.