quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Arlequins para o computador


Depois de alguns e-mails, quando aproveitei para completar minha coleção do Arlequim, e editor e autor Roberto Holanda me informou que as seis primeiras edições do fanzine, comentado aqui há alguns dias, já estão disponíveis para download.
Então, quem ficou curioso, pode agora pegá-las nos links abaixo.
Os arquivos foram digitalizados a partir dos originais do fanzine, ou seja, para ler é preciso imprimir e montar.


Boa leitura!

André Vianco em São Bernardo


No calor da tarde do último sábado, dia 26 de setembro, compareci a palestra do escritor André Vianco na Biblioteca Monteiro Lobato, em São Bernardo do Campo, parte do circuito de palestras temáticas Mundo Livro, promovido pelo setor de bibliotecas. Meu objetivo era passar a Vianco exemplares da Revista Casual e do Anuário 2008, publicações nas quais trabalho e que publicaram entrevistas com ele.
Inicialmente programada para as 15 horas, a palestra só começou mesmo depois da 16h, porque antes o autor teve de cumprir um compromisso em São Paulo programado por sua editora.
A audiência não arredou pé e havia cerca de 60 pessoas para ver o autor de Os sete e Sementes no gelo falar sobre o escritor Edgar Allan Poe, que identificou como uma de suas principais influências e do qual herdou a característica de elaborar o horror a partir do cotidiano.
Mas o tema não resistiu além da primeira meia-hora, quando Vianco abriu o bate-papo com o público. As perguntas foram em sua maioria sobre os seus livros, sua experiência como escritor bem sucedido e suas perspectivas editoriais.
Vianco falou sobre as expectativas dos leitores por mais um episódio de O Vampiro Rei, que ele realmente pretende escrever. Contou que está em vias de finalizar seu próximo romance, O caso Laura, do qual não adiantou o conteúdo mas disse que há alguma chance de que seja publicado ainda em 2009. Para o ano, ele prometeu um romance de fantasia e um outro realista, sobre jagunços, ambos em fase de produção.
A palestra encerrou-se por volta das 18 horas, com uma extensa fila de fãs esperando por uma chance de colher autógrafos e trocar algumas palavras com o escritor, que tem talento para entreter o público e com ele dialogar de forma muito natural.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Gore House


Acaba de ser lançada a primeira edição do fanzine virtual GoreHouse, editado pelo site homônimo, dedicado ao compartilhamento de filmes e séries de TV de horror e FC.
O fanzine apresenta uma HQ de Iam Godoy, resenhas de filmes e música extrema, indicações de sites, blogs e cinema de horror, e uma longa lista de filmes disponíveis para usuários cadastrados, classificados pelo seu nível de violência.
Para baixar o seu exemplar, basta entrar no site e clicar na capa da página principal.
O site tem como lema "Pirataria é crime, compartilhamento é legal". Eu ainda tenho dificuldade de entender a diferença prática entre as duas atividades, mas de qualquer forma me parece inevitável que os filmes, tal como as músicas, tornem-se produtos amplamente disponíveis pela internet em curto prazo. Neste momento, muita gente já não está mais comprando nem DVD pirata: é só baixar o filme pela internet num dos muitos serviços de compartilhamento, muitas vezes, até com as legendas.
O pessoal da indústria que fique esperto, e deem um trato nos seus DVDs, com mais extras e qualidade de acabamento, senão vão ser extintos nos próximos cinco anos.

Albion Rising

Albion Rising é um simpático site de papercrafts que eu descobri por acaso, enquanto buscava por imagens de cinema. Trata-se do site pessoal do norte-americano Michael Haggard, que é professor em Taiwan. Papercrafts são miniaturas feitas com papel, tesoura e cola, muito populares na Europa e no oriente.

Michael desenvolve papercrafts para wargames, mas como todos os praticantes dessa arte, também gosta de elaborar miniaturas em escala. Entre os modelos enormes, caprichados e coloridos de sua própria criação, quase todos baixáveis de graça, há homenagens à Star Trek, com equipamentos e espaçonaves da série, entre eles um impressionante rifle em tamanho natural.

Mas o que me chamou a atenção foi o toy de um alien inspirado no famoso filme dos anos 1980, muito simples e de resultado divertido.
Se você gosta de papercrafts, aproveite para conhecer este site. Mesmo que nunca tenha se interessado por isso, dê uma chance ao velho Alien. Tenho certeza que não vai se arrepender.

Axxón


Há anos eu acompanho o periódico eletrônico argentino Axxón, inteiramente dedicado a ficção científica. Editado por Eduardo J. Carletti, um admiriador do gênero que já esteve no Brasil em algumas oportunidades, acaba de lançar sua 200ª edição, com a devida pompa e circunstância que um evento desse tipo merece, inclusive uma repaginação geral da apresentação.
Surgido nos anos 1980, as primeiras edições do Axxón foram distribuídas em disquete. Naqueles tempos pré-internet, houve problemas com contaminação de vírus e até de direitos autorais, uma vez que alguns agentes não reconheciam o caráter divulgador e diletante da publicação. Mas esses tempos ficaram para trás e hoje a revista está vigorosa, muito mais que a maioria das iniciativas de sua época.
Ao longo dos anos, a Axxón vem publicando muita ficção de autores latinos, exibindo um panorama amplo do estado de ficção científica na América do Sul e Central, é claro que com uma predominância dos argentinos. Mas muitos chilenos, cubanos, mexicanos, espanhóis e até brasileiros já apareceram em suas páginas. Na edição 199, por exemplo, há um conto de Nazarethe Fonseca. E com alguma regularidade, aparecem também contos de autores profissionais americanos e ingleses.
Grande parte das edições antigas de Axxón estão disponíveis para download, incluindo versões especiais para palmtops.
Se você ainda é de opinião que não há suficiente FC para ler, experiemente a Axxón. O espanhol é perfeitamente compreeensível em 90% do tempo. Os outros 10% a gente intui. Se não, um dicionário sempre pode ajudar.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Rumo à fantasia

Depois de dois anos de negociações, com contratos indo e vindo, fui surpreendido esta manhã ao receber o primeiro relise de divulgação da antologia internacional Rumo à fantasia, organizada por Roberto de Sousa Causo, que inaugura o selo Quymera da editora Devir, exclusivamente destinado à fantasia.
A antologia traz histórias que exploram diferentes facetas do gênero, como espada & feitiçaria, duelos de magos, fábulas urbanas ou utópicas e jornadas além da morte, pelas mãos de autores do passado e do presente: Ambrose Bierce, Braulio Tavares, Daniel Fresnot, Jean-Louis Trudel, Rosana Rios, Eça de Queiroz, Orson Scott Card, Anna Creusa Zacharias, Bruce Sterling, Gian Danton, Ursula K. Le Guin e, para minha alegria e satisfação, este modesto escriba.
As histórias de Bierce e de Le Guin estão no Hall da Fama da Fantasia, e o conto dela recebeu o Prêmio Hugo 1974. A história de Sterling foi selecionada para várias antologias dos melhores contos de fantasia de 2005.
Ainda não tenho um exemplar em mãos, então imaginem a ansiedade: meu singelo continho ao lado desses figurões... eu não merecia tanto! O meu conto "Mensagem na garrafa", escrito originalmente para uma antologia dark-fantasy que não se concretizou, foi primeiro publicado no extinto fanzine Papera Uirandê. Eu não poderia ter desejado destino melhor para ele.
A antologia tem 196 páginas e a belíssima capa ilustrada por Vagner Vargas que pode ser vista acima. Não foi divulgada a data de lançamento, mas a Devir promete realizar um bate-papo com os autores de São Paulo.
O ISBN é 978-85-7532-373-1 e o preço sugerido pela editora é de R$24,50. Em breve nas melhores livrarias do país. Fiquem ligados!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Juvenatrix 118


Acaba de ser distribuido o número 118 do fanzine de terror e ficção científica Juvenatrix, editado por Renato Rosatti.
Com mais de 18 anos de publicação ininterrupta, Juvenatrix é um dos mais tradicionais fanzines brasileiros e seu editor é prestigiado como um dos mais ativos divulgadores do gênero no país.
Com 28 páginas e uma belíssima capa de Walter Júnior, traz notícias e divulgação de produções alternativas, artigos, contos e resenhas de filmes. Nesta edição, contos de Mario Carlos Carneiro Junior, Rita Maria Felix da Silva e artigo de Marcello Simão Branco. Entre as resenhas, Doom – A porta do inferno (2005), A volta dos mortos-vivos: Necrópolis (2005), A maldição da mosca (1965), Transformers: A vingança dos derrotados (2009), Força sinistra (1985), Escola dos espíritos (2007), Área 51 – Zona mortal (2007), Catacumbas (2007) e Anticristo (2009).
Sugeri ao editor, por e-mail, que dispussesse o fanzine para download direto, eis aqui sua resposta:
"Eu não fiz ainda porque prefiro saber quem são os leitores oficiais. Tenho listas com todos os nomes dos leitores dos fanzines e por isso eu mando as edições para quem solicitar por e-mail. Pelo '4shared' poderei saber a quantidade de downloads, mas não quem são os leitores que baixaram o fanzine."
Então, para solicitar sua cópia em formato .pdf, envie um e-mail para: renatorosatti@yahoo.com.br. É grátis.

Andromeda strain


Também neste final de semana, o canal de TV a cabo A&E apresentou a minissérie The Andromeda strain, dirigida em 2008 por Mikael Salomon e produzida pelos irmão Ridley e Tony Scott. A história é baseada no best seller homônimo de Michael Crichton (1942-2008) – na verdade o primeiro livro publicado em seu próprio nome, em 1969 – que já conheceu uma adaptação para o cinema, dirigida por Robert Wise em 1971, considerada um clássico do cinema de ficção científica.
A história conta os esforços de um seleto grupo de cientistas isolado em uma base de pesquisas que tenta descobrir o que é e como combater o vírus Andrômeda, que foi acidentalmente liberado de um satélite artificial acidentado numa zona afastada de Utah, quando populares o abriram inadvertidamente. O vírus tem características desconhecidas e é extremamnete agressivo, levando à morte alguns segundos após o contágio. Além do mais, sofre rápidas mutações, adaptando-se ao meio como se fosse inteligente.
Enquanto os cientistas esforçam-se nas pesquisas, um jornalista em crise se arrisca infiltrando-se no meio dos militares envolvidos na evacuação, ao mesmo tempo que um figurão da NSA parece ter algo a esconder sobre todo o caso.
Uma cena curiosa é a de um casal que, depois de encher a cara de maconha, brinca de mímica sobre filmes de cinema, numa metalinguagem muito divertida que foge do padrão sizudo e burocrático da narrativa.

O seriado tem 180 minutos e foi exibido no sábado numa única maratona, reprisada no domingo. Entre os atores, as presenças de Benjamin Bratt (de The cleaner), Daniel Dae Kim (de Lost), Viola Davis (de Solaris) e Eric McCormack (de Will & Grace).
Apesar da produção luxuosa e de efeitos especiais competentes, a história é previsível e usa alguns truquezinhos para funcionar direito. Percebe-se que foi criada para explorar o clima da guerra fria e sua leitura hoje não é tão perturbadora.
O final, no melhor estilo Caçadores da arca perdida, não podia ser mais dejavu, embora justifique-se como um paradoxo, já que a história flerta com a ucronia. Crichton voltaria ao tema mais tarde, plagiando a si mesmo no romance Esfera (1987), com um contexto algo mais sofisticado, também levado aos cinemas em 1998 por Barry Levinson.
Mas The Andromeda strain tem seus méritos, por ser uma boa história de FC no estilo clássico, que pode ser contada sem a profusão de efeitos especiais que caracterizam o gênero atualmente.

Cloverfield

Este final de semana tive a oportunidade de finalmente assitir Cloverfield - Monstro, longa metragem de 2008 dirigido por Matt Reeves sob o roteiro original de Drew Goddard, embora quem tenha levado os créditos seja o produtor J. J. Abrams, que ficou famoso por suas séries de TV, mais especificamente o megassucesso Lost.
O filme é muito bacana e movimentado, conta o que acontece a um grupo de novaiorquinos que, durante uma festa, são supreendidos por uma hecatombe de dimensões bíblicas: alguma coisa está destruindo a cidade e eles precisam correr para salvar suas peles. Tudo vai sendo registrado por um deles, através de uma filmadora doméstica, por isso as cenas são bagunçadas, trêmulas, a montagem é confusa, mas tudo isso é proposital, para dar a narrativa um ar de cinema-verdade, como usado em A bruxa de Blair. Apresentado de forma enviezada, em nenhum momento sabemos claramente o que está contecendo. Apesar dessa estrutura fragmentada e caótica, os personagens são perfeitamente identificáveis e podemos mesmo sentir alguma empatia com cada um deles, o que demonstra a competência
técnica do diretor da fita. Os cenários de Nova York são reconhecíveis, o que dá ainda mais realismo à narrativa.
No meio da destruição, um dos portagonistas recebe o telefonema da namorada que está presa nos escombros de seu apartamento e quatro jovens sobreviventes - entre eles o dono da câmera, é claro - decidem voltar para resgatá-la, enfronhando-se no olho da destruição, causada por uma espécie de monstro gigante acompanhado por um exército de feras similares a grandes aranhas.
Não há dúvida que o filme é uma catarse ao ataque ao WTC, tem até uma cena que repete as imagens da tragédia de 11 de setembro, quando um prédio desmorona levantando uma densa nuvem dem poeira acinzentada. Mas um bocado de coisas aparentemente não encaixa nessa história absurda.
Primeiro, por que alguém que não é jornalista manteria uma câmera funcionando naquela situação? Isso pode ser explicado pelo fato do jovem cineasta amador ser um tipo tão simplório e tolo - como foi apresentado nas cenas inicias da própria gravação - que não tinha iniciativa suficiente para jogar fora aquele traste incômodo.
Segundo, como os militares chegaram tão rapidamente a zona de conflito? Afinal, entre o primeiro ataque e o final apocalíptico, se passam pouco mais de seis horas. Mas isso também tem uma explicação, que advém do fato que Cloverfield não ser um filme convencional. Ele não se resume àqueles oitenta e poucos minutos de exibição, mas conta com uma série de curtametragens distribuidos pela internet em forma de teasers que mostram, muitas horas antes do ataque a NY, a presença algum tipo de ameaça no oceano, com destruição e mortes em torres de petróleo e navios. Ou seja, o monstro já estava destruindo coisas nuito antes de chegar a NY e um exército bem armado, embora inútil contra tal agressor, já estava esperando por ele.

Outro aparente absurdo é o fato do monstro estar em toda parte. Para onde os jovens correm, lá está ele pisoteando edifícios. Minha conclusão é que não havia penas um monstro, mas vários. O exército de aranhas reforça a idéia de que não se trata de um mutante despertado depois de eras adormecido no fundo do mar, como na aterrorizante mitologia lovecraftiana, mas uma maciça força de invasão. E o monstro — ou monstros — é uma arma de ataque para abrir uma cabeça de ponte. Dessa forma, Cloverfileld dialoga, na minha leitura pessoal, com Guerra dos mundos, romance clássico da ficção científica escrito por H. G. Wells, com o qual guarda muitas semelhanças, a começar na narrativa delocada do padrão do gênero: os protagonistas não são cientistas, generais e políticos de alto escalão que sabem o que está acontecendo e assumem o papel de reagir ao ataque, mas pessoas do povo, presas no fogo cruzado, que correm como baratas tontas sem saber para onde nem por quê.

Contudo, não consegui ver os monstros de Cloverfield — palavra que se refere a um código do exército para essa operação — como uma invasão de outro planeta. Neste aspecto em especial, o filme parece dialogar com outro filme-livro, o ótimo The mist, baseado num conto de Stephen King. Os monstrengos de Cloverfield parecem ser do mesmo tipo daqueles vistos em The mist, tanto as aranhas quanto os grandalhões. Poderiam ser histórias dentro do mesmo universo, que acrescenta uma perturbadora profundidade a ambas as produções.
Cloverfiled é um filme totalmente aberto, com uma proposta moderna e inovadora, que se amalgama a muitas outras histórias e se espalha por várias mídias. Outras visões criativas desse apocalipse podem ser dadas, acrescentando detalhes ou ampliando ainda mais seu alcance dramático, inclusive permitindo a cada expectador um bom espaço de especulação pessoal, como a que eu acabei de fazer aqui, construindo cada qual sua própria estrutura de fundo. Isso não é pouco e por si deveria ser suficiente para elevar Cloverfiled a um patamar superior dentro da filmografia de FC&F.
Em tempo, Abrams divulgou que está em seus planos fazer uma sequência a Cloverfield. Quem viver, verá.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Fanzines de horror em setembro


Mais uma rodada de fanzines de horror está disponível na internet para os fãs do gênero.
Puxando a fila chegou a 13ª edição do TerrorZine do site Cranik, comemorando um ano de publicação. Na edição, que pode ser baixada aqui, 44 minicontos com uma seleção muito especial de autores já consagrados no gênero terror, tais como Miguel Carqueija, Lord A, Rosana Rios, Regina Drummond, Nazarethe Fonseca,
Martha Argel, Giulia Moon, Nelson Magrini, James Andrade, Eric Novello,
Rober Pinheiro, Juliano Sasseron, J.P. Balbino, Iam Godoy, R. Raven, M.D. Amado, Adriano Siqueira e muitos outros, além disso são entrevistados os escritores Regina Drummond e Sérgio Pereira Couto.
Um suplemento com um índice remissivo de todo o conteúdo deste primeiro ano de Terrorzine pode ser baixado aqui. Creio que desde 1985, quando foi fundado o Clube dos leitores de Ficção Científica, eu não via um grupo de fãs tão organizado e entusiasmado como o pessoal da Cranik, que está fazendo um excelente trabalho, não só com o Terrorzine, mas com uma série de projetos paralelos que estão dando muito certo.
O bom momento dos fãs de horror ganhou um novo reforço com o lançamento da revista eletrônica Soturna, cujo primeiro número pode ser baixado aqui. A publicação, editada por Sr. Arcano pelo selo Sombrias Escrituras, site que publicava um fanzine homônimo, foca-se na divulgação cultural das artes ligadas ao horror. Por isso, traz um longo artigo sobre soturnismo, ilustrado por trechos de poemas extraídos do submundo literário nacional.
Também apresenta a arte do ilustrador Felipe Eremita, entrevista a pintora Luciana Waack, resenha literária assinada por Marcello Simão Branco, artigo de Paulo Valadares, e contos de Alessandro Reiffer e Sr. Arcano.
Fechando a fila, o volume 12 do Funhouse, que pode ser baixado aqui. O fanzine, editado pela Raven's House, ainda repercute a III FantastiCon, entrevista o agitador cultural Ademir Pascale e divulga bandas alternativas, fanzines, quadrinhos e eventos de horror.
Com tanto ânimo e dedicação, o futuro das artes soturnas parece muito promissor. Vou continuar acompanhando e torcendo pelo sucesso de todos.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Cascão Porker


Há um bom tempo que o empresário Maurício de Sousa está explorando sua bem sucedida "Turma da Mônica" como plataforma para caricatura de outras franquias de sucesso. Seu primeiro desenho animado no cinema, As aventuras da Turma da Mônica (1982), tinha um de seus trechos claramente inspirado em Guerra nas Estrelas, por exemplo. Quando ainda estava sendo publicado pela Editora Globo, lançou edições especiais, em formato gigante, com paródias mais declaradas de Guerra nas Estrelas e Batman, entre outras.
Ao transferir-se para a multinacional Editora Panini, em 2007, uma das primeiras edições do estúdio na nova casa foi o especial Lostinho, em que a Turma da Mônica satiriza o seriado de televisão Lost. Desde então, vem sustentando a coleção temática Clássicos do Cinema, com paródias nas quais os personagens da Turma reinterpretam grandes produções do cinema. Uma relação completa dessa coleção pode ser vista aqui.

A mais nova edição dessa série é o número 15, Cascão Porker e a pedra distracional, em que é satirizado o longa Harry Potter e a pedra filosofal, baseado no livro homônimo da escritora britânica J. K. Rowling.
As situações do filme são repetidas passo a passo, sempre aproveitando as características e estereótipos dos personagens mauricianos, não raro com alguma metalinguagem. Cascão é, obviamente, Harry Potter; Cebolinha é Ronie, Mônica é Hermione, Magali é a Professora Minerva, o elefante Jotalhão é Hengrid e o Capitão Feio é Valdemort. "Atores" de outras franquias também dão o ar da graça, numa divertida dinâmica de "adivinhe quem veio para jantar".
Não sou um entusiasta da Turma da Mônica, mas achei a brincadeira legal e a edição foi bem produzida, com um capricho especial em relação às revistas de linha. O estilo de desenho também é diferente do habitual e está claro que não se trata de um trabalho do próprio Maurício de Sousa, mas de alguém de sua equipe. Contudo, não foram dados os devidos créditos.
Também aficou deselegante não nomear a produção na qual a paródia foi baseada. A falta dessa citação, mesmo que não seja juridicamente exigida, faz concluir que a revista foi feita sem o devido licenciamento, o que dá um ar mambembe de desrespeito e oportunismo ao projeto como um todo, que não combina com o histórico profissionalismo com que Maurício de Sousa sempre administrou seu trabalho.
Mesmo assim, deixando os preciosismos de lado, vale a pena dar uma olhada na revistinha.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O arqueiro e a feiticeira

Mais um romance que me chegou às mãos durante a III FantastiCon, desta feita pelos préstimos do publisher Rodrigo Coube, foi A caverna de cristais volume 1 - O arqueiro e a feiticeira, de Helena Gomes, recentemente relançado pela Editora Idea de Bauru, SP.
Na oportunidade pude também conversar um pouquinho com a autora, muito simpática e elegante, que autografou meu exemplar com direito a dedicatória, foto e tudo mais.
O Anuário tem dado atenção a esta obra de fantasia, que inicialmente apareceu pela editora Devir, em 2003. No Anuário 2005, ela foi abordada no artigo "O gênero fantasia brasileiro de 2001 a 2005: globalizando e abrasileirando O senhor dos anéis" da brasilianista Elisabeth Ginway, analisado ao lado de outros exemplos da fantasia brasileira de contornos tolkenianos. Mais tarde, o Anuário 2007 avaliou o segundo volume da série, Aliança dos povos, publicado pela Idea, em resenha exclusiva assinada por mim, que a autora lamentou não ter sido mais positiva.

Mas isso não desmotivou a Editora Idea em utilizar uma das frases dessa resenha como epígrafe na contra-capa da nova e melhorada edição de O arqueiro e a feiticeira, de maneira que o Anuário e vultoso trabalho de Helena Gomes estão agora definitivamente vinculados, espero que com vantagens para todos.
A caverna de cristais está planejada para ser uma série de sete volumes, dos quais já foram publicados três, os dois citados acima e também Despertar do dragão, publicado em 2008 também pela Idea. Ainda faltam quatro.
Mais sobre a obra de Helena Gomes pode ser lido no seu blog pessoal, Mundo Nergal. E mais sobre a megassérie A caverna dos cristais, aqui e no site da Editora Idea.
Uma curiosidade para os fãs de plantão: lembro-me muito vagamente de ter visto no cinema, no início dos anos 1980, um filme com jeito de produção italiana com o título de O arqueiro e a feiticeira (The archer and the sorceress), mas praticamente não há referências a ele na internet. Encontrei-o a venda na Amazon, somente em VHS, dirigido por Nicholas Corea e data de 1979. Já no IMdB, o encontrei sob o título de The archer: fugitive from the empire, porém com data de 1981. Que mistério!

Steampunk


Um dos livros que adquiri durante a III FantastiCon foi este lançamento da Editora Tarja, Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, antologia organizada por Gianpaolo Celli, com nove histórias de ficção científica escritas por autores brasileiros, seguindo um modelo algo popular nos dias de hoje, conhecido como steampunk.
O modelo não é novo, de fato ele já estava presente nos primeiros trabalhos de FC do final do século XIX, quando a revolução industrial ainda não estava totalmente consolidada e o sonho da tecnologia estava nas máquinas movidas a vapor. Jules Verne e H. G. Wells sempre são citados como referência quando se trata do steampunk, mas eles não o eram de fato. Verne e Wells escreviam ficção científica, ponto. O steampunk é um tipo de revival daquela fantasia tecnológica de final de século, porém transposto para os nossos dias, como se a tecnologioa do vapor tivesse de fato ido além das locomotivas e chegado aos computadores e ao espaço, tudo na base do vapor. Absurdo? Pode ser, mas muito romântico. Autores como Bruce Sterling e William Gibson, os papas do cyberpunk, modernizaram os contornos criativos desse modelo quando publicaram The difference engine, um romance que fala sobre o surgimento da tecnologia digital ainda nos tempos vitorianos e o impacto que isso causaria na civilização.
Outros autores vieram unir-se a essa proposta e o cinema em especial, com filmes como As loucas aventuras de James West e A Liga dos Cavalheiros Extraordinários, auxiliou na popularização do modelo entre o público leigo antes mesmo que ele se tornasse maduro no gênero.
Dispostos a não serem deixados para trás, nove autores brasileiros dedicaram-se a compor a primeira antologia brasileira específica no estilo. São eles: Fábio Fernandes, Antonio Luis M. C. Costa, Alexandre Lancaster, Roberto de Sousa Causo, Claudio Villa, Jacques Barcia, Romeu Martins e Flávio Medeiros, além do organizador Gianpaollo Celli que arriscou ele mesmo um conto.
O conceito é instigante e o time de autores anima a leitura imediata. Mas não vou fazer uma análise crítica agora, que deve sair no Anuário 2009. Por enquanto, fica aqui apenas a divulgação.
O livro pode ser encomendado diretamente no site da Editora Tarja.

Draculea

Recebi do organizador Ademir Pascale um exemplar da antologia de terror Draculea, o livro secreto dos vampiros - Volume 1, publicado pela editora AllPrint, ao qual já me referi anteriormente aqui. Agora, com o volume em mãos, vejo que se trata de um livro bem acabado, com capa plastificada com orelhas e um corpo de letra confortável nas quase 160 páginas que o compõem. A capa não é bonita, é verdade – nem era essa a ideia pelo jeito –, mas transmite bem o conceito que o organizador pretendia veicular.
São 27 escritores selecionados, entre estreantes e veteranos: Ademir Pascale, Adriano Siqueira, Almir Pascale, Ana Dominik, Angela N. C. Oiticica, Bruno Resende Ramos, César Almeida, Chistian David, Daniele Helena Bonfim, Danny Marks, Dione Mara Souto Rosa, Duda Falcão, Elenir Alves, Estevan Lutz, Evandro Guerra, Felipo Bellini, Henrique Cananosque Neto, J. P. Balbino, Jean feipe Felsky, Luciana Fátima, M. D. Amado, Mario Carneiro Jr., MMEA, Raphael O. Lord, Ricardo Delfim, Simone O. Marques e Tagohar. O texto de divulgação ajuda a dar o tom dos contos, que seguem o tema "Segredo", como um tipo de subtítulo do volume:
"Romênia, 1456. Um grande cavaleiro cristão torna-se temido agente contra os turcos. Conhecido pelos romenos como Vlad Draculea, o filho do dragão, empalava cruelmente seus derrotados inimigos. Considerado pelos oponentes e próprios súditos a encarnação do demônio, devido aos atos de crueldade cometidos contra ambos. Como esse servo da Igreja transformou-se no mais sanguinário entre os homens de sua época? Em 1897, o escritor irlandês Bram Stoker inspirou-se em Vlad e criou a personagem principal do romance Drácula, popularizando o mito do vampiro. Seriam apenas fragmentos da imaginação criativa de um escritor? Ou há uma verdade oculta nesse relato?"
O livro está a venda na Livraria Cultura (veja o link no alto da coluna ao lado) e pode ser também adquirido, com desconto, diretamente com o organizador no e-mail ademir@cranik.com.

Antonio Olinto (1919-2009)

Um a um, vamos perdendo nossos mais expressivos representantes literários que, um dia, estiveram envolvidos francamente com a ficção fantástica. Em 2006, perdemos Zora Seljam e no último sábado, Antonio Olinto acompanhou sua querida esposa.
Antonio Olinto faleceu no último sábado, dia 12 de setembro, no Rio de Janeiro, de falência múltipla dos órgãos. Foi velado no prédio da ABL e sepultado no mausoléu da Academia, no Cemitério João Batista. O presidente da ABL, Cícero Sandroni, determinou luto oficial de três dias, conforme noticiou o Diário de Canoas on line.

Muita gente da FC&F só teve contato com esse autor unicamente na antiga Coleção GRD, do visionário editor Gumercindo Rocha Dórea, que organizou várias antologias e coletâneas de contos com autores escolhidos a dedo entre os mais expressivos de seu tempo.
Antonio Olinto, mineiro de Ubá, foi professor e jornalista, dono da cadeira número oito da Academia Brasileira de Letras. Seu primeiro livro foi a antologia poética Presença publicada em 1949. Desenvolveu um amplo trabalho como ensaísta, crítico literário e divulgador da cultura brasileira. Em 1994 recebeu o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra. A biblioteca da Faculdade de Letras Ozanan Coelho, de Ubá, recebeu seu nome.

Na FC seu currículo é pequeno, mas significativo. Foram dois contos, ambos publicados pela GRD: "O menino e a máquina", na Antologia Brasileira de Ficção Científica e "O desafio", em Histórias do acontecerá. Olinto foi ainda o primeiro crítico a publicar ensaios sobre ficção científica em um livro, o Cadernos de crítica.
Para mais dados sobre sua carreira e vida, há um relato detalhado no site da ABL, aqui.
Ainda que o acadêmico tenha se afastado do gênero, ao ponto de nem relacionar os trabalhos de FC em sua bibliografia oficial, mesmo assim merece a nossa lembrança e homenagem, pelo que fez em favor da FC&F no Brasil num tempo em que quase ninguém se importava com isso.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

QI 99


Recebi hoje a nova edição do boletim Quadrinhos Independentes, editado em Brasópolis/MG por Edgard Guimarães, referente aos meses de julho, agosto e setembro.
A uma edição de seu anunciado fim, o fanzine mantém o perfil inalterado, com a publicação de um fórum de leitores, as HQs seriadas "Fazenda de Robôs" (que homenageia os quadrinhos da Disney e chega as 100 páginas) e "Entendendo a linguagem das HQs", ambas produzidas pelo editor, e tiras de humor do personagem Benjamim Pepe, por vários autores, entre eles o veterano Julio Shimamoto, em um inusitado traço de cartum. Completam a edição a relação de lançamentos de fanzines, algumas listas de vendas, anúncios e artigos, entre os quais a segunda parte do editorial sobre o fim do QI. Agora o editor revela que, afinal, o zine não vai acabar, nem mesmo o nome e a numeração vão mudar. A partir do número 101, o QI ganhará uma nova roupagem, com uma lista de lançamentos menos relevante, que será editada remotamente pelos próprios editores, e um sistema de impressão mais modesto, que abandona o off-set em favor da impressão digital on demand, com tiragens menores exclusivamente para os assinantes. Vão acabar as permutas, as cortesias e as vendas de números atrasados.
Certamente que os custos de produção vão ser reduzidos, mas se essas mudanças vão realmente facilitar a vida do editor, isso ainda vai ter que ser confirmado. Mas Guimarães é persistente e está acostumado com os percalços da vida editorial.
No mesmo editorial, Guimarães acena com a possibilidade de migrar pelo menos a lista de lançamentos de fanzines para a internet, mas ainda não sabe quando nem como. Não há dúvida que esse tipo de informação ganharia visibilidade na internet, ampliando o universo de possíveis interessados nas publicações alternativas ali relacionadas. Mas isso ainda vai depender do voluntarismo de algum abnegado web-editor, que tope encarar o trabalho.
Por hora, ainda podemos esperar pelo lançamento do histórico QI 100, que deve acontecer em dezembro. Depois, só pagando mesmo.
O endereço para pedidos é Rua Capitão Gomes, 168, Brasópolis, MG, CEP 37530-000.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Doutora nova no pedaço


No último dia 31 de agosto, a professora de inglês e história Sônia Melo de Jesus, de Niterói/RJ, conquistou o título de Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense. A defesa pública aconteceu na UFF e a tese O que o fantasma de Carmen Miranda está fazendo na Estação Espacial Três? Representações, significações e ambigüidades nas “aparições” de Carmen Miranda nos EUA, orientada pela Profa. Dra. Sonia Torres (UFF-Letras), foi baseada na figura histórica da cantora luso-brasileira e seu significado como paradigma de latinidade nos EUA. Para isso, a Dra. Sônia Melo adotou a antologia de ficção científica Carmen Miranda’s ghost is haunting space station three (1990) organizada por Don Sakers para a editora Baen e os conceitos de Homi K. Bhabha (2003) de que a cultura se manifesta nos “entre-lugares” – um espaço híbrido em que fronteiras de gênero, raça, classe etc. são negociadas.
A tese faz um apanhado da vida e da obra de Carmen, um levantamento da influência de sua imagem na cultura popular americana, com exemplos retirados do cinema, TV e desenhos animados e, finalmente, disseca minuciosamente cada um dos contos da antologia, que é um verdadeiro achado para quem gosta de ler FC&F estrangeira com referencial brasileiro. Neste caso, uma antologia temática que se aproxima do formato que a FC brasileira costuma trabalhar melhor. Fiquei pensando se não seria o caso de se propor uma antologia brasileira de FC sobre Carmen Miranda, nos moldes de Outras copas, outros mundos, antologia de futebol publicada pela Ano Luz em 1998. Fica a ideia.
Fico feliz de ter contribuído um tiquinho com a pesquisa da Dra. Sônia, especialmente no que se refere a apresentação, para a qual enviei algumas imagens da pequena notável e um desenho, que foi usado na abertura e compartilho aqui com vocês.
Ah, em tempo, a Dra. Sônia Melo ganhou avaliação máxima da banca. Parabéns!

Da direita para a esquerda: Prof. Dr. Maurício de Bragança (UFF - Cinema); Dra. Sônia Melo, Profa. Dra. Lúcia de La Rocque (Fiocruz e UERJ- Letras), Profa. Dra. Heloísa Toller (UERJ - Letras), a orientadora Profa. Dra. Sonia Torres (UFF - Letras) e Profa. Dra. Ana Maria Mauad (UFF - História)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Arlequim 16


Fui surpreendido esta semana pela chegada de mais uma edição de Arlequim, um dos meus fanzines favoritos que estava fora do ar há mais ou menos dois anos.
Em 1998, a SBAF - Sociedade Brasileira de Arte Fantástica - entregou ao editor Roberto Hollanda o Prêmio Especial Nova-SBAF como a melhor contribuição à FC&F Brasileira daquele ano, pela publicação do fanzine Arlequim. Uma relação completa dos prêmios Nova pode ser vista aqui.
O universo de Arlequim é o das obras literárias. Nele, os personagens são reais, com citações a diversas obras da Literatura Brasileira, sempre com sensibilidade e elegância, sem cair no mero jogo intelectual.
Em 2007 o autor teve publicado o álbum Arlequim - Hora de se fazer a fantasia, pelo selo Marca de Fantasia, com as primeiras histórias redesenhadas. Era minha esperança que todo material saisse pela mesma editora, mas ficou só no nessa edição. A época, Hollanda pediu que eu escrevesse uma apresentação para álbum e é desse texto que eu retirei alguns trechos para este artigo.
Com publicação do Arlequim 12, em 2003, iniciou-se um novo arco de histórias sob o impronunciável> título de "Memento Z Banalhym Tryptykiem". Hollanda prometeu que tudo seria concluído quando o fanzine completasse 10 anos - o que aconteceu em 2007 - mas, por motivos pessoais, o final ficou engasgado.
Não era segredo que Arlequina é a boneca Emília, de Monteiro Lobato, mas ao longo da história reencontramos outros personagem do Sítio do Picapau Amarelo. Narizinho, chamada Lúcia, já estava na história desde o início; agora temos também Pedrinho, cujo comportamento esquizóide pode chocar leitores mais pudicos.
A partir deste número 16, começamos a compreender os contornos da mitologia engendrada por Hollanda para a Arlequina, do por quê Emília ter se transformado de uma divertida boneca de pano irresponsável em uma fada poderosa e deprimida, das complicações que afligem o Reino das Águas Claras e, por consequência, todo o universo.
Espero que agora coisa engrene e cheguemos até o final da saga. Pelo menos a qualidade narrativa e o mistério continuam tão afiados quanto antes.
Pedidos podem ser encaminhados ao autor pelo endereço postal R. Sousa Aguiar, 322, casa 5, Rio de Janeiro/RJ, CEP 20720-035.