segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Brasil no Nebula

Ainda não é a vez de comemorarmos a indicação de um trabalho da FC brasileira para o prestigioso prêmio Nebula, apurada anualmente pela Science Fiction Writers of America. Mas agora bem que bateu na trave.
Christopher Kastensmidt, escritor americano radicado há dez anos em Porto Alegre, está entre os indicados ao prêmio com a noveleta "O encontro fortuito de Gerard van Oost e Oludara" ("The fortuitous meeting of Gerard van Oost and Oludara"), fantasia de contornos brasilianistas, publicada em abril de 2010 na revista americana Realms of Fantasy, e traduzida no mesmo ano pela Devir Livraria na coleção Asas do Vento.
A noveleta é a primeira história de uma série intitulada "A bandeira do elefante e da arara" ("The elephant and macaw banner"), que dispõe de um saite em português.
Diz o relise distribuído pela Devir: "O encontro fortuito de Gerard van Oost e Oludara também rompe o Tratado de Tordesilhas e abre o território e cultura brasileira para a literatura do tipo espada e feitiçaria — engendrada por escritores como Robert E. Howard (criador de Conan) e Fritz Leiber (criador da dupla Fafhrd e Gatuno) —, que combina aventura e criaturas sobrenaturais e fantásticas.
Na noveleta, Kastensmidt apresenta os personagens Van Oost, um aventureiro e viajante holandês, e Oludara, um guerreiro ioruba tomado como escravo. Eles se encontram em Salvador durante o Brasil Colônia, dispostos a, com muita astúcia e coragem, formar uma dupla de herois como nunca se viu."
O resultado do Nebula 2011 será conhecido em maio próximo, durante a cerimônia de premiação em Washington/DC. A lista completa de dos finalistas pode ser vista aqui, e a tradução brasileira da noveleta pode ser adquirida no saite da Devir.

Fanzineiros do século passado

O ambiente dos fanzines passou por uma verdadeira revolução nos últimos dez anos. Por isso, pode parecer estranho aos fãs que hoje se reúnem em torno de saites, blogues e ezines que, um dia, tudo isso acontecia sem a grande rede, na base da correspondência postal, do xerox e de ativismo idealista que não tinha receio de investir a fundo perdido. E como tinha gente nessa.
Márcio Sno que o diga. Ele produziu um documentário de 31 minutos, muito bem realizado, sobre os fanzineiros do século XX, com o determinante título Fanzineiros do século passado – Capítulo 1: As dificuldades para botar o bloco na rua e a rede social analógica.
Não é aprimeira vez que isso acontece. Há coisa de uns seis anos, fui entrevistado por um estudante da UFMG que estava produzindo justamente um documentários sobre fanzines como trabalho de graduação, que eu nunca cheguei a ver. E ainda antes, houve quem dedicasse atenção aos fanzines em livros e ensaios acadêmicos. Com efeito, o assunto ainda desperta interesse nestes tempos virtuais, pois existem fanzines em papel circulando, produzidos exatamente como no século passado.
O documentário de Sno está disponível para ser visto online, aqui.
Aproveite para conhecer as fisionomias desses heróis anônimos que praticamente fundaram o fandom moderno e, durante anos, seguraram as suas pontas.

Ezines de horror apavoram 2011

A temporada 2011 dos fanzines de horror acaba de começar, com o lançamento quase simultâneo de três títulos importantes no segmento.
Juvenatrix, editado por Renato Rosatti, o mais antigo fanzine do gênero em atividade, anunciou a disponibilidade de sua edição 126, que tem 37 páginas e traz notícias e divulgação de livros, revistas, quadrinhos, música, eventos e filmes de FC e horror. Também publica contos de Miguel Carqueija, Rita Maria Felix da Silva e Emanuel R. Marques, artigos e resenhas de cinema fantástico, e uma lista dos filmes com temática fantástica exibidos nos cinemas brasileiros em 2010. A capa é assinada por Emanuel R. Marques (Portugal) e contra capa por Michael Kiss. Para solicitar uma cópia gratuita, basta pedir ao editor pelo email renatorosatti@yahoo.com.br.
Rosana Raven também anunciou, há poucos dias, o lançamento da edição 19 de seu fanzine virtual Flores do Lado de Cima, que aborda principalmente a literatura sombria. Esta edição traz uma entrevista com Azriel (editor do fanzine Funeral), artigo sobre a poestisa portuguesa Florbela Espanca, sobre o escultor australiano Ron Mueck e sobre a banda Persephone Eyes, uma seleta poética de vários autores, um conto de Wilde Portela e muita divulgação de livros, saites e eventos. Acompanha a edição o CD Cadauveribus Cantationem, com a participação de várias bandas. Para conseguir uma cópia, basta clicar aqui.
E o saite Raven's House Brasil distribuiu o número 19 do ezine Fun House Xtreme, editado por Iam Godoy. A edição destaca um divertido artigo sobre o Pastafarianismo, e também investe numa avaliação do evento Espantomania 2010, entrevista o cineasta português Felipe Melo, e ainda publica curiosidades do mundo virtual, relises de bandas e notas do saite Gore Boulevard. O arquivo pode ser baixado gratuitamente aqui.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Nova 35 anos

Recebi há alguns dias, diretamente do autor, um exemplar de Nova: 35 anos, do quadrinhista paraibano Emir Ribeiro.
Trata-se, como se pode perceber pelo título, de uma edição comemorativa do aniversário de estreia de Nova, uma andróide que recebe o cérebro de uma mulher a beira da morte.
A edição tem 84 páginas em preto e branco, e é parte quadrinhos, parte romance.
A HQ "O começo de tudo" abre a edição. Tem 26 páginas e narra a origem da personagem. Contudo, a maior parte do volume é ocupada por textos, entremeados por ilustrações. O mais longo deles é a novela "Nova", que também conta a origem da personagem e foi anteriormente publicado em 2005, em forma de livro de bolso. Completam a edição os contos curtos "Fantasma vivo" e "A mulher fantasma".
A edição custa R$12,00 e pode ser adquirida diretamente no saite do autor, que também oferece muitas outras publicações.

1000 universos 2

Está disponível para download gratuito a segunda edição da antologia 1000 universos, editada pelo saite Café de Ontem, com sete contos de ficção científica, terror e fantasia.
Diz o relise: "Pedro Vieira apresenta uma visão fantástica do mundo ilegal das apostas nas horrendas disputas entre animais em 'Rinha'. Miguel Carqueija escreve um mistério sobrenatural em 'A Série Sangrenta'. Natália C. de Azevedo descreve um pesadelo natalino em 'Um Presente Especial'. Alliah, em 'Doce de Abóbora', nos mostra um conto sensível sobre o futuro e o destino.
Diogo de Souza apresenta uma fantasia de temas clássicos em 'A Moeda dos Ecos'. M. D. Amado apresenta uma fantasia de amor aos livros em 'Flores de Pano'. Georgette Silen mescla estilos e gêneros para compor seu mundo futurista e uma história de amor em 'Domo Acra'."
Para baixar, acesse aqui.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

The Cape


No dia 11 de fevereiro, estreou no Universal Chanel, o excelente seriado The Cape. Trata-se do melhor seriado de super herói desde The Flash, com o mesmo delicioso ar da Era de Ouro dos quadrinhos. É inspirado na revista em quadrinhos homônima, criada por Howard Wong e publicada em 2007 pela Image Comics.
Conta a história de um policial injustamente acusado de ser o megacriminoso Chess, o inimigo público número 1 da metrópole de Palm City. Durante sua fuga desesperada, ele é dado como morto depois de uma grande explosão, mas é resgatado com vida pelo dono de um circo que é um assaltante de bancos cheio de truques. Ambos se associam em busca de vingança contra o verdadeiro Chess que, na verdade, é um empresário da área de segurança que pretende dominar a cidade assumindo os postos de poder.

O dono do circo dá ao ex-policial uma capa feita com seda de aranha que, com a devida habilidade, permite fazer muitos truques. Com ela, o policial torna-se The Cape e parte em busca de sua vingança. Afinal sua esposa e filho ainda estão na mira do verdadeiro Chess.
The Cape lembra bastante O Sombra, com toques de Mandrake e de Batman Ano 1. Um pouco de O Espírito também pode ser percebido aqui e ali. Ótimas referências, portanto.
Os atores são desconhecidos, mas muito bons. A única presença familiar é da linda Summer Glau, a boa exterminadora de Sarah Connors Chronicles, que aqui interpreta Orwell, uma hacker que também luta contra a megacorporação de Chess.
Os roteiristas devem ser fãs de Lost, pois muitos nomes estão sendo aproveitados. O protagonista, por exemplo, chama-se Faraday. Um dos primeiros vilões chama-se Le Fleur, e também apareceu um personagem chamado Linus. Coincidências? Não creio.
The Cape é exibido todas as sextas-feiras, às 21 horas, com reprise aos sábados, as 19 horas. O saite do UC tem muitas informações e fotos, vale a pena visitar.

Assembleia estelar

Já está disponível para venda no saite da Devir Livraria a nova antologia Assembleia estelar, organizada pelo jornalista Marcello Simão Branco, com 14 contos de ficção científica política, há alguns dias comentada aqui.
Os trabalhos publicados são de André Carneiro, Ataíde Tartari, Bruce Sterling, Carlos Orsi, Daniel Fresnot, Fernando Bonassi, Flávio Medeiros, Henrique Flory, Luís Filipe Silva, Miguel Carqueija, Orson Scott Card, Roberto de Sousa Causo, Roberval Barcellos e Ursula K. Le Guin.
A maior parte dos textos é inédita. Os já conhecidos são "Diário do cerco de Nova York", de Daniel Fresnot, visto na coletânea O cerco de Nova York e outras histórias (Alfa-Ômega, 1984); "A pedra que canta", de Henrique Flory, da coletânea de mesmo nome, publicada pela GRD em 1991; "Questão de sobrevivência", de Carlos Orsi, publicado na extinta revista SciFiNews Contos 2 (2001); e "Vemos as coisas de modo diferente", de Bruce Sterling, publicado na semi-coletânea Futuro proibido (Conrad, 2003).
Depois de mais de dois anos de trabalho, a edição está linda e muito bem editada. Valeu a pena esperar.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Crás Editora

Há alguns dias descobri o trabalho da Editora Crás, um belo conjunto de publicações de quadrinhos que vale a pena conhecer. Tem títulos humor, policial, aventura na selva, fantasia, e até faroeste, como Vendetta, de Thalles Gaspari.Tive a chance de falar pessoalmente com o editor Thiago Spyked, autor da revista de humor Rafe, que me apresentou suas publicações, impressas digitalmente, muito bem acabadas e de custo acessível. Rafe é o título mais vendido da editora.
Spyked ainda me apresentou a dois dos jovens artistas da editora, Wilson Kohama da revista World Police, e a simpática Valéria Yuuki, da Deus Céu, histórias de personalidade e com bons desenhos.
As editora vende em algumas gibiterias e também atende pelo saite.
Sem dúvida, uma boa alternativa ao mercado monomaníaco das bancas e a sofisticação exagerada do quadrinho nas livrarias.

QI 107

Chegou esta semana o número 107 do boletim informativo QI: Quadrinhos Independentes, publicado por Edgard Guimarães.
Capa desta edição mostra a foto atual do mesmo lugar exibido na edição anterior, num diálogo que acrescenta profundidade ao fanzine.
O conteúdo da edição também está muito bom, com artigos assinados por Edgar Indalécio Smaniotto e Guimarães, um depoimento do quadrinhista Roberto Guedes, ilustrações de Guimarães e de Celsinho, mais um episódio da série em quadrinhos "Fazenda de robôs", assinada pelo editor, além da seção "Fórum", com cartas dos leitores comentado trechos das edições anteriores e propondo temas de debate, além de um catálogo de lançamentos de fanzines do bimestre.
O editor também anunciou o breve lançamento da HQ Mundo feliz, pela prestigiosa Editora Marca de Fantasia. O trabalho foi anteriormente seriado no QI e é considerado por muitos especialistas como uma das melhores HQs brasileiras já publicadas.
O QI pode ser comprado por assinatura, através do email edgard@ita.br.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Demolindo 2001

Um dia destes, estive conversando com uns colegas sobre a tradição mundial dos fandons de FC manterem-se continuamente em pé de guerra. Discussões homéricas intermináveis, com laivos de antipatia pessoal não são exclusividade da FC brasileira.
Citei a crítica que Lester Del Rey fez ao filme 2001 em 1968, quando os autores da Golden Age e da New Wave estavam com os ânimos bem exaltados.
Como me pareceu que muita gente não conhece o texto de Del Rey e ele não é muito longo, transcrevo-o aqui. Ele foi traduzido em 1998 numa edição do fanzine paraibano Brief News.
Pense bem: isso não parece realmente muito familar?

2001: Uma odisseia espacial: Uma crítica por Lester Del Rey

Ninguém dormiu na pré-estreia de 2001 para a imprensa em Nova Iorque, graças ao estridente e estúpido ruído da trilha sonora guinchada dolorosamente em nosso ouvidos. O espaço era um tumulto de estrondos e o herói respirava em seu traje espacial como uma monstruosa locomotiva a 60 arquejos por minuto. Era a única evidência de comoção no local. Quase metade da plateia escapuliu no intervalo, e a maior parte de nós que permanecemos, o fez por curiosidade e para completar as resenhas.
A parte pictórica foi soberba. A fotografia colorida esteve usualmente excelente e os efeitos especiais e truques técnicos foram os melhores jamais feitos. Mesmo as atuações foram incomumente boas. Com tudo isso, Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke deveriam ter nos dado o filme superlativo prometido por uma barragem de publicidade. Se eles tivessem colocado "Earthlight" de Clarke na tela com igual gênio, teria sido um grande filme de ficção científica. Infelizmente, não o fizeram. Em seu lugar, nos deram monotonia e confusão. A coisa toda arrastou-se. Cada truque tinha de ser esticado interminavelmente e então repetido até a exaustão. Nada era explicado ou tinha um fluxo coerente, mas tudo seguia rumo ao tédio. Alguns cortes posteriores poderiam ajudar, certamente não iriam fazer mal.
A história cambaleia através de quatro episódios vagamente relacionados. Primeiro temos o tema dos ancestrais humanóides do homem recebendo a inteligência de uma lousa alienígena somente para se tornarem assassinos. Em seguida vamos para a Lua descobrir que os homens do futuro desenterraram a mesma lousa - excelente cenário, mas nenhum drama - e nenhuma razão para ela estra lá. Então viajamos até Júpiter porque os homens pensam que a lousa veio de lá.
Este episódio possui um conflito entre homens e um computador falante. Poderia ter sido bom, exceto pela falta de racionalidade. Nenhuma motivação é fornecida para a loucura do computador, e o herói age como um tolo. Ele sabe que o computador pode ao menos operar um aparelho de resgate para trazer de volta seu amigo morto. Mas ele sai pessoalmente, deixando seus companheiros em hibernação serem assassinados pelo computador.
Finalmente, temos um interminável desfilar na tela de símbolos óbvios e vazios, secundados pelo nosso herói numa estranha sala. Aparentemente ele passou por uma baldeação intergaláctica e agora envelhece e morre na sala, seguido por um símbolo metafísico no final. O contato alienígena que nos foi prometido não é novamente mais que uma breve tomada da lousa.
Se possível, aguarde para ver os efeitos depois que puder comprar o livro de bolso. Livro e filme não estão completamente de acordo, mas pode ser que o livro proporcione alguma ajuda para a confusão do filme.
A verdadeira mensagem, de fato, é algo que Kubrick já usou antes: a inteligência talvez seja o mal e certamente é inútil. A reação dos humanóides e a loucura despropositada do computador demonstram isso. Os homens só podem ser salvos através de alguma vaga e desconhecida experiência mística por alienígenas.
Como sabe, este não é absolutamente um filme comum de ficção científica. É o primeiro dos filmes da tal Nova Onda, com o usual simbolismo vazio. A tal Onda advoga que o júbilo é uma experiência capaz de fundir a cuca. Demora pouco fundir algumas cucas. Mas, para o resto de nós, é um desastre. Será provavelmente também um desastre de bilheteria, e consequentemente impedirá a realização de grandes filmes de ficção científica por outros dez anos. É uma grande pena.
Lester Del Rey

Copyright 1968, by Galaxy Publishing Corp.
Transcrito do fanzine Brief News, ano I, número I, mai./jun.1998. Tradução de Alexys B. Lemos.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Cronologia HQ da ABI

Há alguns meses, soube que meu amigo Francisco Ucha havia publicado um levantamento muito bem feito com a cronologia das histórias em quadrinhos, que ia das origens da arte até por volta de 1950. Tratava-se da edição 348 do Jornal da ABI, da Associação Brasileira de Imprensa, que pode ser vista aqui.
Contudo, o que seria das efemériedes posteriores a essa data? Estava claro que haveria uma segunda edição, e Ucha me convidou para participar das pesquisas de modo a tornar mais completo o estudo original realizado por Octacílio D'Assunção Barros, o Ota.
Ambos nos debruçamos em nossas coleções e nos sempre imprevisíveis arquivos mnemônicos e acabamos ampliando tanto o material que o trabalho completo deverá ter, pelo menos, 3 edições. A segunda, abrangendo de 1950 a 1977, acaba de ser publicada, como o número nº362 do Jornal da ABI.

Além da cronologia, a edição também traz artigos sobre Jayme Cortez, Adolfo Aizen, Ziraldo, Maurício de Sousa e Floriano Hermeto (FHAF), o mehor desenhista do Judoka.
A edição foi apresentada em primeira mão durante a cerimônia de entrega do 27º Prêmio Ângelo Agostini, realizada no dia 5 de fevereiro no Espaço Cultural do Instituto Cervantes, em São Paulo.
A publicação em papel, em formato tablóide e fartamente ilustrada em cores, foi então vendida, mas pode ser apreciada gratuitamente aqui.
A Associação Brasileira de Imprensa fica na R. Araújo Porto Alegre, 71, no Rio de Janeiro (email presidencia@abi.org.br) e mantém uma representação em São Paulo, na R. Dr. Franco da Rocha, 137, cj. 51, Perdizes, email abi.sp@abi.org.br.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Isso que é novidade


Mantendo a sua proposta de ousadia, a Tarja Editorial, que foi a primeira editora a abrigar o Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica, publicou o escatológico Fome de Tibor Moricz e antecipou uma onda com a antologia Steampunk, mais uma vez investe numa proposta arrojada na ficção fantástica brasileira, divulgando a preparação de uma antologia de contos de ficção fantástica de conteúdo homossexual.
Chamada de A fantástica literatura Queer, o volume será organizado por Cristina Lasaitis e Rober Pinheiro, e a data de publicação prevista é junho de 2011, durante o mês do orgulho gay.
Por enquanto há apenas o projeto divulgado no saite da Tarja, que apresenta um tipo de manifesto, conclama os autores a enviarem material para seleção e estabelece regras para a apresentação dos trabalhos.
Diz o projeto: "A Fantástica Literatura Queer será a primeira coletânea de contos de ficção científica e fantasia brasileira dedicada à diversidade sexual, e esclarecemos que nosso objetivo não é meramente publicar um livro, mas criar um marco para a literatura de gênero e sobre gêneros ao compor uma aliança de escritores fantásticos pela promoção da diversidade sexual na cultura brasileira, incluindo não somente a luta pela cidadania de gays, lésbicas e transgêneros, mas também a derrubada de tabus e preconceitos enferrujados dentro da nossa própria literatura."
Os homossexuais têm sofrido ataques nas ruas das cidades brasileiras, isso todo mundo sabe, e a publicação de um trabalho desses pode contribuir para colocar a questão em foco, mas eu não me lembro de nenhum tipo de agressão ou preconceito ao homossexualismo dentro da literatura fantástica brasileira, a não ser que se considere preconceito o fato de haver poucos trabalhos dessa linha no Brasil.
Nos EUA, a ficção gay forma um mercado segmentado, com revistas e editoras especializadas no nicho. O gênero tem até um prêmio anual, o Lambda Literary Award, que tem categorias específicas para fantasia, ficção científica e terror. É possível que o mesmo acabe acontecendo aqui, uma vez que não podemos dizer que o tema seja propriamente popular.
Contudo, a FC gay não é inédita no Brasil. Alguns contos traduzidos apareceram na meia-antologia Futuro proibido [Semiotext(e)], parcialmente publicada pela Conrad em 2003 e resenhada aqui. E mesmo na ficção científica brasileira, há pelo menos o excelente conto "Quando murgau ama murgau", de Ivan Carlos Regina, que mesmo não sendo inédito, merecia figurar na antologia.
Tomara que A fantástica literatura Queer tenha boa receptividade e seja o início de um novo mercado para a atividade literária no Brasil.