quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Isso que é novidade


Mantendo a sua proposta de ousadia, a Tarja Editorial, que foi a primeira editora a abrigar o Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica, publicou o escatológico Fome de Tibor Moricz e antecipou uma onda com a antologia Steampunk, mais uma vez investe numa proposta arrojada na ficção fantástica brasileira, divulgando a preparação de uma antologia de contos de ficção fantástica de conteúdo homossexual.
Chamada de A fantástica literatura Queer, o volume será organizado por Cristina Lasaitis e Rober Pinheiro, e a data de publicação prevista é junho de 2011, durante o mês do orgulho gay.
Por enquanto há apenas o projeto divulgado no saite da Tarja, que apresenta um tipo de manifesto, conclama os autores a enviarem material para seleção e estabelece regras para a apresentação dos trabalhos.
Diz o projeto: "A Fantástica Literatura Queer será a primeira coletânea de contos de ficção científica e fantasia brasileira dedicada à diversidade sexual, e esclarecemos que nosso objetivo não é meramente publicar um livro, mas criar um marco para a literatura de gênero e sobre gêneros ao compor uma aliança de escritores fantásticos pela promoção da diversidade sexual na cultura brasileira, incluindo não somente a luta pela cidadania de gays, lésbicas e transgêneros, mas também a derrubada de tabus e preconceitos enferrujados dentro da nossa própria literatura."
Os homossexuais têm sofrido ataques nas ruas das cidades brasileiras, isso todo mundo sabe, e a publicação de um trabalho desses pode contribuir para colocar a questão em foco, mas eu não me lembro de nenhum tipo de agressão ou preconceito ao homossexualismo dentro da literatura fantástica brasileira, a não ser que se considere preconceito o fato de haver poucos trabalhos dessa linha no Brasil.
Nos EUA, a ficção gay forma um mercado segmentado, com revistas e editoras especializadas no nicho. O gênero tem até um prêmio anual, o Lambda Literary Award, que tem categorias específicas para fantasia, ficção científica e terror. É possível que o mesmo acabe acontecendo aqui, uma vez que não podemos dizer que o tema seja propriamente popular.
Contudo, a FC gay não é inédita no Brasil. Alguns contos traduzidos apareceram na meia-antologia Futuro proibido [Semiotext(e)], parcialmente publicada pela Conrad em 2003 e resenhada aqui. E mesmo na ficção científica brasileira, há pelo menos o excelente conto "Quando murgau ama murgau", de Ivan Carlos Regina, que mesmo não sendo inédito, merecia figurar na antologia.
Tomara que A fantástica literatura Queer tenha boa receptividade e seja o início de um novo mercado para a atividade literária no Brasil.

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