Escrevi este artigo para a derradeira edição do fanzine Megalon, publicada em maio de 2004. Já estávamos, naquele momento, discutindo a publicação do primeiro volume do Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica, que seria efetivamente publicado no ano seguinte, avaliando a produção editorial de fc&f no País em 2004. Era um momento importante, em que o crescimento da produção já se manifestava, como se pode perceber no otimismo deste artigo. Os números de 2003 podem parecer modestos quando comparados ao mercado de 2013, exponencialmente maior, mas é interessante resgatar este texto para uma visão comparativa destes dois momentos da fc&f no Brasil.
FCB em 2003: Será que abriu a porteira?
O leitor deve recordar que, na última edição, eu fiz nesta coluna algumas provocações apoiado no fato do Prêmio Argos 2003 não ter apurado a categoria de livros por falta de indicações dos fãs, o que me deixou muito aborrecido porque o ano de 2002, a qual se referiu o prêmio, havia conhecido uma quantidade expressiva de títulos de boa qualidade. Ao final do artigo, prometi que voltaria ao tema com os títulos de 2003.
O infausto atraso que a edição 70 do Megalon sofreu, ainda que não tenha nada de positivo em si, serviu para que eu pudesse completar o levantamento total dos livros de fc&f de autores nacionais publicados ao longo deste ano e, para minha surpresa, 2003 foi ainda mais produtivo que o ano passado, com listas extensas tanto de publicações reais quanto virtuais, nada menos que 40 títulos, que classifiquei entre ficção e não-ficção. Antes de mais considerações, vamos a lista que é muito interessante (as editoras foram citadas quando possível).
Lançamentos 2003
FICÇÃO
Romance
Fantasia
- Angus, Orlando Paes Filho. Editora Arxjovem.
- Zigurate, uma fábula babélica, Max Mallman. Editora Rocco.
- Velta, Emir Ribeiro. Edição do autor.
- O prisioneiro da sombra, Luiz Roberto Mee. Editora 34.
Ficção científica
- A caverna de cristais, Helena Gomes. Devir Livraria.
- O encubado, Rogério Amaral Vasconcellos. Edições Hiperespaço, Nova Coleção Fantástica 3.
- O anjo da morte, Gian Danton. Edições Hiperespaço.
- A Esfinge Negra, Miguel Carqueija. Edições Hiperespaço, Nova Coleção Fantástica 2.
- O último portal: o segredo das pedras, Eliana Martins e Rosana Rios. Editora Cia. das Letras.
- Escuridão, Alexandre Moreira. Editora Papel&Virtual.
- No começo de tudo, Domingos Pelegrini. Editora Nova Alexandria.
- Abismos do tempo, Lucio Manfredi. Site Intempol. (ebook)
- Melissa, meretriz do mal, Carlos Orsi Martinho. Site Intempol. (ebook)
- Vaca profana: Encruzilhada, Rogério Amaral Vasconcellos. Projeto SLEV. (ebook)
- Vaca profana: A nave, Rogério Amaral Vasconcellos. Projeto SLEV. (ebook)
- Três reis magos, Larissa Redeker. Projeto SLEV.(ebook)
- Tempo de animais, Paffomilof der Engel. Projeto SLEV. (ebook)
- D. Pedro I e último, Gabriel Bozano. Projeto SLEV. (ebook)
- Prova oral, Rogério Amaral Vasconcellos. Projeto SLEV. (ebook)
- Iroha, Ernesto Nakamura. Projeto SLEV. (ebook)
- Maya, Alexis Lemos. Projeto SLEV. (ebook)
- Templos e tempos, Maurício Wojciekowski. Projeto SLEV. (ebook)
- Pátria de chuteiras, Gerson Lodi-Ribeiro. Site E-Nigma. (ebook)
Horror
- Luar de vampiros, Julia Moon. Editora Scortecci.
- Bento, André Vianco. Editora Novo Século.
- O discípulo, Walther Alvarenga. Editora Expresso.
- O mal está entre nós 1: O covil dos lobos, Isabel Vasconcelos de Mendonça. Editora Quarto Cavaleiro. (ebook)
Antologia
Fantasia
- Vinte anos no hiperespaço, Cesar Silva, org. Editora Virgo.
- Os extraordinários, Rubens F. Lucchetti. Editora Opera Graphica.
Ficção científica
- Trilogia do Eral, Maria Helena Bandeira. Editora Via Literária. (ebook)
Horror
- Páginas de sombra, Braulio Tavares, org. Editora Casa da Palavra.
- O vampiro de cada um, Martha Argel. Edição da autora.
- Horror e pensamentos, Raul Tabajara. Edição do autor.
- Dr. Suástica, Ataide Tartari. Projeto Babilônia. (ebook)
NÃO FICÇÃO
Fantasia
- Ficção científica, fantasia e horror no Brasil – 1875/1950, Roberto de Sousa Causo. Editora UFMG.
- Coletâneas de resenhas de cinema, Renato Rosatti. Site Scarium. (ebook)
Ficção científica
- Como os astronautas vão ao banheiro, Jorge Luiz Calife. Editora Record.
- Ensaios de história alternativa, Gerson Lodi-Ribeiro. Site Scarium. (ebook)
Horror
- Viovode: Estudos sobre vampiros, Cid Vale Ferreira, org. Editora Pandemonium.
- Drácula, o homem por trás do mito, Roberta Zugaib. Editora Aleph.
Eu não lembro de um período tão fértil nos últimos vinte anos de fandom. E nunca havia visto um título de fc&f nacional nas listas dos 10 mais vendidos por meses seguidos, como conseguiu Orlando Paes Filho com o seu romance Angus (Arxjovem). É algo que deve ser considerado, mesmo que fique um tanto explícito o trabalho vigoroso do autor na promoção de sua obra. Esse tipo de atitude deveria ser regra no mercado editorial, não exceção como se observa. A visibilidade que Orlando encontrou na mídia foi fruto desse investimento editorial, que é legítimo e deveria ser imitado por todas as editoras e escritores. A fama ajuda a vender e a venda amplia a fama, mas o movimento tem que ser iniciado em algum momento, ele não é gerado expontaneamente só pela qualidade intrínseca da obra. Quem ficou com dor-de-cotovelo, que sente-se a margem do rio e chore.
Outra constatação, que faço um tanto sem base mas com quase certeza de acertar, é que a publicação de fc&f nacional em 2003 pode ter superado a de traduções nesses mesmos gêneros. A fc&f estrangeira tem sido pouco publicada e o que apareceu por aqui recentemente dirigiu-se mais aos leitores de histórias em quadrinhos, uma vez que os autores de maior evidência foram Neil Gaiman e Alan Moore, notórios roteiristas dos comics. Não sei se isso quer dizer alguma coisa mas, cá com meus botões, fico pensando se a fc não está passando por um fenômeno semelhante ao que aconteceu com o faroeste no cinema: saiu de moda.
Um detalhe a se observar é a quantidade de títulos dedicados aos vampiros. Em 2003, a Rede Globo, maior e mais influente emissora de tv do país, exibiu uma novela com os sanguessugas que certamente ajudou a inflar o balão desses personagens do horror gótico, mas o crescimento de interesse por eles não se iniciou agora, vem crescendo há alguns anos e acredito que pelo menos pelos próximos meses essa bolha não vai estourar. Mais vampiros devem vir por aí.
A novidade foram as coleções de livros virtuais. Alguns editores estão investindo nesse formato e cada um comemora com entusiasmo o sucesso dos seus lançamentos, convencidos pela grande quantidade de downloads registrados – quase sempre esse é o único modo de se conferir, pois a maioria dos ebooks são distribuídos gratuitamente, sem gerar qualquer dividendo financeiro que se possa contabilizar. Mas esse indicativo carece de confiabilidade, uma vez que para se conseguir baixar por completo uma cópia de um arquivo eletrônico, o usuário tem que fazer várias tentativas e é provável que os contadores automáticos de acesso considerem cada uma delas como um download, falseando a estatística.
Outro detalhe perturbador é a falta de repercussão dos ebooks. Que os livros virtuais são extremamente desconfortáveis e não animam a leitura imediata não é novidade; de qualquer forma, também não lemos no ato os livros convencionais que compramos. Mas enquanto livros reais como, por exemplo, a antologia Como era gostosa a minha alienígena (Ano-Luz, 2002) ou o romance Zigurate, de Max Mallman (Rocco) receberam diversos comentários e resenhas quase que imediatamente após seus lançamentos, pouco ou nada se falou sobre qualquer dos ebooks para além de seus próprios relises. Dá o que pensar.
Enfim, fica a lista aqui expressa para quem quiser conferir. Continuarei anotando em meu caderno todos os lançamentos de 2004 que tiver notícia e, na primeira edição de 2005, prometo que faço o relatório sobre eles. Quem viver, verá.
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
Literatura fantástica em 2003
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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
Muito mais QI
Está circulando o 125º número do fanzine QI - Quadrinhos Independentes, editado em Brasópolis por Edgard Guimarães.
O fato de ser o mais premiado fanzine brasileiro não é um acaso. Além de ser uma publicação relevante que presta o importante serviço de divulgar a produção alternativa no País, o QI também investe continuamente em novos e surpreendentes projetos. Os assinantes receberam esta edição acompanhada de vários bônus interessantes. Além de um novo fascículo da novela gráfica de faroeste Buster e mais duas lâminas da coleção Cotidianos Alterados, acompanha o primeiro volume da Pequena Biblioteca de histórias em quadrinhos: Quadrinhos brasileiros de ficção científica e fantasia, ensaio de 38 páginas com quadrinhos e respectivas resenhas de seis importantes momentos da arte na opinião do editor, pelas mãos de Dirceu Amado e Leo ("A Terra"), Watson Portela ("Asa branca"), Louis Chilson ("Motoc"), Jayme Cortez ("A noite do invasor"), Mozart Couto ("Queda") e Ricardo Leite ("Epílogo"), que também assina a lustração da capa. Certamente que há muitos outros trabalhos a destacar, mas este é apenas o início de uma série que certamente vai ser importante para a memória do quadrinhos brasileiro.
Quando a edição do QI em si, também há novidades. Além da capa, que vem com um detalhe em cor, percebemos que a longa hq publicada nas páginas centrais ao longo de 50 edições, realmente terminou no número anterior com a página 200, um marco respeitável para um fanzine.
Seguem ainda as colunas "Mistérios do colecionismo", com a relação de edições extras da Disney no Brasil, "Heróis brasileiros", com Raimundo, "Quadrinhos brasileiros bissextos", com Nonô Jacaré, e as seções fixas "Mantendo contato", "Fórum" e "Edições independentes". Completam a edição, artigos sobre o 30º Prêmio Angelo Agostini, sobre o quadrinhista português Carlos Gonçalves e sobre um artigo de Dave Gibbons comentando a obra de Jack Kirby, além de quadrinhos de Luiz Claudio Faria e do próprio editor.
O QI é distribuído unicamente por assinaturas. Mais informações com o editor pelo email edgard@ita.br.
O fato de ser o mais premiado fanzine brasileiro não é um acaso. Além de ser uma publicação relevante que presta o importante serviço de divulgar a produção alternativa no País, o QI também investe continuamente em novos e surpreendentes projetos. Os assinantes receberam esta edição acompanhada de vários bônus interessantes. Além de um novo fascículo da novela gráfica de faroeste Buster e mais duas lâminas da coleção Cotidianos Alterados, acompanha o primeiro volume da Pequena Biblioteca de histórias em quadrinhos: Quadrinhos brasileiros de ficção científica e fantasia, ensaio de 38 páginas com quadrinhos e respectivas resenhas de seis importantes momentos da arte na opinião do editor, pelas mãos de Dirceu Amado e Leo ("A Terra"), Watson Portela ("Asa branca"), Louis Chilson ("Motoc"), Jayme Cortez ("A noite do invasor"), Mozart Couto ("Queda") e Ricardo Leite ("Epílogo"), que também assina a lustração da capa. Certamente que há muitos outros trabalhos a destacar, mas este é apenas o início de uma série que certamente vai ser importante para a memória do quadrinhos brasileiro.
Quando a edição do QI em si, também há novidades. Além da capa, que vem com um detalhe em cor, percebemos que a longa hq publicada nas páginas centrais ao longo de 50 edições, realmente terminou no número anterior com a página 200, um marco respeitável para um fanzine.
Seguem ainda as colunas "Mistérios do colecionismo", com a relação de edições extras da Disney no Brasil, "Heróis brasileiros", com Raimundo, "Quadrinhos brasileiros bissextos", com Nonô Jacaré, e as seções fixas "Mantendo contato", "Fórum" e "Edições independentes". Completam a edição, artigos sobre o 30º Prêmio Angelo Agostini, sobre o quadrinhista português Carlos Gonçalves e sobre um artigo de Dave Gibbons comentando a obra de Jack Kirby, além de quadrinhos de Luiz Claudio Faria e do próprio editor.
O QI é distribuído unicamente por assinaturas. Mais informações com o editor pelo email edgard@ita.br.
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FC na faixa
O escritor de ficção fantástica Miguel Carqueija, em sua proposta de disponibilizar toda a sua bibliografia no meio digital, anunciou a oferta de mais três trabalhos gratuitos.
Através do saite Recanto das Letras, na forma de arquivo de texto, o autor republicou a antologia poética Rocio. Diz o autor: "Rocio, isto é, 'orvalho', foi o meu primeiro livro publicado, simples opúsculo de poesias que financiei em 1991, numa edição de 500 exemplares que saiu com o selo de uma editora hoje extinta, a Protótipo. Hoje resgato essa obra primitiva, há muito esgotada, por meio desta edição digital na qual foram acrescentadas outras poesias e, inclusive, duas de autoria da grande amiga Regina Madeira, feitas especialmente para o presente volume."
No mesmo saite também pode ser encontrada A Esfinge Negra, space opera publicada originalmente em 2003 na Nova Coleção Fantástica do selo Hiperespaço. Diz o texto de apresentação da obra: "Qual a diferença entre justiça e vingança? E qual delas se deve escolher? Este o dilema em que vive, há anos, Regina Siljan, cognominada "A Esfinge Negra", considerada uma pirata espacial e perseguida pelos governos de diversos mundos. Regina, porém, luta por duas razões: para punir a grave injúria que sofreu no passado, e livrar a Galáxia de um grande flagelo, um império construído pelo crime e pela violência. Com os poderes misteriosos que recebeu, ela está disposta a ir até o fim na sua cruzada. Contudo, sua consciência não se encontra tranquila. Estará ela, afinal, fazendo o que é certo?"
E finalmente, pelo saite Kobo Books, chega em pdf o inédito Asteroid Girl: Aventuras de uma fora-da-lei, space opera escrita em parceria com Ricardo Guilherme dos Santos. Num futuro distante, após a terrível Guerra da Água, com a civilização na Terra parcialmente destruída e a humanidade expandindo-se em algumas colônias pelo Sistema Solar, o agente da Cosmopol Alex Bristol se vê a braços com um inesperado e dificílimo dilema: a mulher que ele deve capturar, a pirata espacial Kittie Kubrick (Asteroid Girl), é alguém que, no passado, foi muito importante em sua vida.
Diz Carqueija sobre sua obra: "Asteroid Girl é uma pirata espacial que luta contra o crime e a corrupção, espécie de Robin Hood do futuro. Pode fazer lembrar um pouco a Esfinge Negra mas seu dilema não é entre a vingança e a justiça, mas entre o amor e o dever."
Asteroid Girl inclui também a história paralela de Isabel Toledo, vítima da opressão do sistema e companheira de aventuras de Asteroid Girl.
Através do saite Recanto das Letras, na forma de arquivo de texto, o autor republicou a antologia poética Rocio. Diz o autor: "Rocio, isto é, 'orvalho', foi o meu primeiro livro publicado, simples opúsculo de poesias que financiei em 1991, numa edição de 500 exemplares que saiu com o selo de uma editora hoje extinta, a Protótipo. Hoje resgato essa obra primitiva, há muito esgotada, por meio desta edição digital na qual foram acrescentadas outras poesias e, inclusive, duas de autoria da grande amiga Regina Madeira, feitas especialmente para o presente volume."
No mesmo saite também pode ser encontrada A Esfinge Negra, space opera publicada originalmente em 2003 na Nova Coleção Fantástica do selo Hiperespaço. Diz o texto de apresentação da obra: "Qual a diferença entre justiça e vingança? E qual delas se deve escolher? Este o dilema em que vive, há anos, Regina Siljan, cognominada "A Esfinge Negra", considerada uma pirata espacial e perseguida pelos governos de diversos mundos. Regina, porém, luta por duas razões: para punir a grave injúria que sofreu no passado, e livrar a Galáxia de um grande flagelo, um império construído pelo crime e pela violência. Com os poderes misteriosos que recebeu, ela está disposta a ir até o fim na sua cruzada. Contudo, sua consciência não se encontra tranquila. Estará ela, afinal, fazendo o que é certo?"
E finalmente, pelo saite Kobo Books, chega em pdf o inédito Asteroid Girl: Aventuras de uma fora-da-lei, space opera escrita em parceria com Ricardo Guilherme dos Santos. Num futuro distante, após a terrível Guerra da Água, com a civilização na Terra parcialmente destruída e a humanidade expandindo-se em algumas colônias pelo Sistema Solar, o agente da Cosmopol Alex Bristol se vê a braços com um inesperado e dificílimo dilema: a mulher que ele deve capturar, a pirata espacial Kittie Kubrick (Asteroid Girl), é alguém que, no passado, foi muito importante em sua vida.
Diz Carqueija sobre sua obra: "Asteroid Girl é uma pirata espacial que luta contra o crime e a corrupção, espécie de Robin Hood do futuro. Pode fazer lembrar um pouco a Esfinge Negra mas seu dilema não é entre a vingança e a justiça, mas entre o amor e o dever."
Asteroid Girl inclui também a história paralela de Isabel Toledo, vítima da opressão do sistema e companheira de aventuras de Asteroid Girl.
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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
Resenha: Pelas barbas de D. Pedro!
Há alguns anos tivemos no Brasil um plebiscito para definir o sistema de governo que regeria o País a partir de então. Nem é preciso dizer que o presidencialismo ganhou de lavada, porque, afinal, a maior parte da população nunca conheceu outro regime senão este – e a ditadura militar, que foi bem ruim mas era a mesma coisa no fim das contas. Durante a campanha, muita gente ridicularizou os defensores da monarquia, que eram de fato bem poucos. Mas, apesar de todas as agruras que caracterizaram o período monárquico brasileiro, ainda há um grande respeito e carinho pelas figuras de nosso imperadores e até pelos regentes que assumiram o governo na ausência deles. Existe, entre os brasileiros, um indisfarçável romantismo a respeito da imagem da da realeza e da família real. Quando queremos elevar alguém a um nível de excelência incomparável, o chamamos de rei ou rainha, como acontece com Pelé, Roberto Carlos, Xuxa e outras personalidades populares.
Ou seja, mesmo que a decisão do plebiscito tenha ratificado o presidencialismo em vigor, ainda há um sentimento de culpa no ar pela forma como aconteceu a instalação desse sistema, na base de um golpe de estado, com diversos sinais de oportunismo próprio da política nacional que segue até hoje mais ou menos da mesma forma.
A professora Lilia Moritz Schwarcz, titular do departamento de Antropologia da USP, tem abordado o período monárquico brasileiro em livros de grande repercussão, entre os quais estão o álbum D. João Carioca: A corte portuguesa chega ao Brasil (1808-1821), ilustrada pelo cartunista paulistano Spacca, e o livro As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca dos trópicos, ganhador do Prêmio Jabuti em 1999. Esta foi justamente a base sobre a qual o já citado ilustrador trabalhou, entre 2009 e 20013, para construir o relato As barbas do Imperador: D. Pedro II, A história de um monarca em quadrinhos, recentemente publicado pela editora Quadrinhos na Cia.
Trata-se de um trabalho vultoso de pesquisa e arte que retrata, em 144 páginas lindamente coloridas, a história do Brasil a partir da vida de D. Pedro II, desde o seu nascimento, em 1825, até a morte, em 1891. Entre outros fatos interessantes, o álbum conta como o infante imperador teve sua maioridade antecipada para assumir suas funções políticas, o casamento com Dona Teresa Cristina, o interesse por cultura e ciência que o acompanharia por toda a vida, a maneira como o povo se identificava com o imperador nas festas e comemorações populares, a prolongada guerra com o Paraguai que deixou o reino empobrecido e no qual germinou a semente do republicanismo, as viagens pelo mundo, suas discretas aventuras amorosas e, quando enfim acabou com o escravismo, a inevitável queda do regime, a deportação da família real na calada da noite e a morte do imperador no exílio, enterrado em Paris com honras de chefe de estado, para a ira dos políticos golpistas.
A história é contada principalmente através de recordatórios, de forma que o efeito sequencial típico dos quadrinhos não chega a ser experimentado pelo leitor. Contudo, a narração é acessível, suave e, em muitos momentos, emotiva, que torna agradável a leitura. A autora teve o cuidado de não fazer proselitismo da monarquia, detalhando as mazelas que os brasileiros enfrentaram naqueles tempos, mas não deixou de tratar D. Pedro II com reverência, reconhecendo nele uma figura significativa no cenário histórico e exaltando, de forma sutil, seus dotes intelectuais, simplicidade e amor pelo País, qualidades geralmente ausentes nos governantes brasileiros que lhe sucederam até os dias de hoje.
As ilustrações caricaturais de Spacca não desrespeitam os personagens históricos apresentados, muitas delas baseadas em ilustrações e pinturas famosas que são devidamente creditadas e comentadas no capítulo "Da arte aos quadrinhos", um dos muitos anexos publicados no final do volume, com direito a making of dos personagens, quadro cronológico dos fatos históricos, biografias das personalidades citadas ao longo da narrativa, e breves ensaios sobre a Guerra do Paraguai, a escravidão e a arte da fotografia, um dos principais interesses do monarca, que nos deixou como herança um farto acervo documental.
As barbas do Imperador é um trabalho significativo no cenário do quadrinho brasileiro e, ao lado de outras obras históricas como Santô, Debret e D. João Carioca, todas ilustradas por Spacca, constrói um panorama honesto e emocionante da história brasileira.
Ou seja, mesmo que a decisão do plebiscito tenha ratificado o presidencialismo em vigor, ainda há um sentimento de culpa no ar pela forma como aconteceu a instalação desse sistema, na base de um golpe de estado, com diversos sinais de oportunismo próprio da política nacional que segue até hoje mais ou menos da mesma forma.
A professora Lilia Moritz Schwarcz, titular do departamento de Antropologia da USP, tem abordado o período monárquico brasileiro em livros de grande repercussão, entre os quais estão o álbum D. João Carioca: A corte portuguesa chega ao Brasil (1808-1821), ilustrada pelo cartunista paulistano Spacca, e o livro As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca dos trópicos, ganhador do Prêmio Jabuti em 1999. Esta foi justamente a base sobre a qual o já citado ilustrador trabalhou, entre 2009 e 20013, para construir o relato As barbas do Imperador: D. Pedro II, A história de um monarca em quadrinhos, recentemente publicado pela editora Quadrinhos na Cia.
Trata-se de um trabalho vultoso de pesquisa e arte que retrata, em 144 páginas lindamente coloridas, a história do Brasil a partir da vida de D. Pedro II, desde o seu nascimento, em 1825, até a morte, em 1891. Entre outros fatos interessantes, o álbum conta como o infante imperador teve sua maioridade antecipada para assumir suas funções políticas, o casamento com Dona Teresa Cristina, o interesse por cultura e ciência que o acompanharia por toda a vida, a maneira como o povo se identificava com o imperador nas festas e comemorações populares, a prolongada guerra com o Paraguai que deixou o reino empobrecido e no qual germinou a semente do republicanismo, as viagens pelo mundo, suas discretas aventuras amorosas e, quando enfim acabou com o escravismo, a inevitável queda do regime, a deportação da família real na calada da noite e a morte do imperador no exílio, enterrado em Paris com honras de chefe de estado, para a ira dos políticos golpistas.
A história é contada principalmente através de recordatórios, de forma que o efeito sequencial típico dos quadrinhos não chega a ser experimentado pelo leitor. Contudo, a narração é acessível, suave e, em muitos momentos, emotiva, que torna agradável a leitura. A autora teve o cuidado de não fazer proselitismo da monarquia, detalhando as mazelas que os brasileiros enfrentaram naqueles tempos, mas não deixou de tratar D. Pedro II com reverência, reconhecendo nele uma figura significativa no cenário histórico e exaltando, de forma sutil, seus dotes intelectuais, simplicidade e amor pelo País, qualidades geralmente ausentes nos governantes brasileiros que lhe sucederam até os dias de hoje.
As ilustrações caricaturais de Spacca não desrespeitam os personagens históricos apresentados, muitas delas baseadas em ilustrações e pinturas famosas que são devidamente creditadas e comentadas no capítulo "Da arte aos quadrinhos", um dos muitos anexos publicados no final do volume, com direito a making of dos personagens, quadro cronológico dos fatos históricos, biografias das personalidades citadas ao longo da narrativa, e breves ensaios sobre a Guerra do Paraguai, a escravidão e a arte da fotografia, um dos principais interesses do monarca, que nos deixou como herança um farto acervo documental.
As barbas do Imperador é um trabalho significativo no cenário do quadrinho brasileiro e, ao lado de outras obras históricas como Santô, Debret e D. João Carioca, todas ilustradas por Spacca, constrói um panorama honesto e emocionante da história brasileira.
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Quadritos 12
O editor Marcos Freitas divulgou há poucos dias em seu blogue o lançamento do volume 12 do fanzine Quadritos, dedicado à Nona Arte nacional.
A edição, de 108 páginas, focaliza o trabalho de Edgar Franco, que é entrevistado, tem diversas hqs publicadas e ainda assina a ilustração da capa. Mas muito mais gente mostra seu trabalho ali, como Flávio Calazans, Gazy Andraus, Lafaiete Nascimento, Law, Lupin, Júlio Shimamoto, Joacy Jamys, Dark Marcos, Laudo, Emir Ribeiro, Márlon Ramos, Edgard Guimarães, Caza e Vaughn Bodé.
A edição também traz artigos de Daniel Saks e Gazy Andraus, destaca o fanzine Mutação, de Marco Müller, na seção "Memória dos fanzines", além de muita notícia, informações e resenhas.
O editor anunciou também o lançamento do fanzine Radioatividade 2, com tiragem limitada, e o nome de Laudo Ferreira Jr. como o próximo homenageado na revista Monstros dos Fanzines 3.
Para mais informações, visite o blogue do Quadritos, aqui.
A edição, de 108 páginas, focaliza o trabalho de Edgar Franco, que é entrevistado, tem diversas hqs publicadas e ainda assina a ilustração da capa. Mas muito mais gente mostra seu trabalho ali, como Flávio Calazans, Gazy Andraus, Lafaiete Nascimento, Law, Lupin, Júlio Shimamoto, Joacy Jamys, Dark Marcos, Laudo, Emir Ribeiro, Márlon Ramos, Edgard Guimarães, Caza e Vaughn Bodé.
A edição também traz artigos de Daniel Saks e Gazy Andraus, destaca o fanzine Mutação, de Marco Müller, na seção "Memória dos fanzines", além de muita notícia, informações e resenhas.
O editor anunciou também o lançamento do fanzine Radioatividade 2, com tiragem limitada, e o nome de Laudo Ferreira Jr. como o próximo homenageado na revista Monstros dos Fanzines 3.
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Fanzine SBC Geek fevereiro 2014
Como já foi divulgado aqui, o SBC Geek, encontro aberto de fãs da cultura nerd, volta a ação no próximo sábado, dia 22 de fevereiro, a partir das 13 horas, na Biblioteca de Arte Ilva Aceto Maranesi, localizada na Pinacoteca de São Bernardo (Rua Kara, 105, Jardim do Mar, tel. 11 4125-2379).
Com ele, também volta o Fanzine SBC Geek, publicando a programação detalhada do evento e um mapinha para ajudar a encontrar o novo local. A edição em papel estará disponível no local, mas a versão digital, em cores, pode ser lida e baixada gratuitamente aqui.
Mais informações na fanpage do SBC Geek.
Com ele, também volta o Fanzine SBC Geek, publicando a programação detalhada do evento e um mapinha para ajudar a encontrar o novo local. A edição em papel estará disponível no local, mas a versão digital, em cores, pode ser lida e baixada gratuitamente aqui.
Mais informações na fanpage do SBC Geek.
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
Megalon 40
Chega ao ciberespaço a edição virtual do histórico fanzine de ficção científica e horror Megalon 40, originalmente publicado em abril de 1996 por Marcello Simão Branco.
Com 42 páginas e uma bela capa do ilustrador norte-americano Steven Fox, traz contos de Ivan Carlos Regina, Jorge Luiz Calife e Alysson Fábio Ferrari, artigos de Cesar Silva, Fábio Fernandes, Gerson Lodi-Ribeiro e do próprio editor, que também entrevista o espanhol Miguel A. Martinez, editor da revista Fandom.
A edição ainda traz um relatório completo sobre os resultados do Prêmio Nova de 1995, com dados detalhados das votações que revelam muito mais do que os vencedores. Uma das curiosidades, por exemplo, é a nítida distorção que um prêmio sofre ao se comprometer em apontar um vencedor numa apuração popular. No caso, o esquecível romance A espada da galáxia, de Marcello Cassaro, que foi escolhido pelos fãs em detrimento de trabalhos reconhecidamente superiores, como O relógio Belissário, de José J. Veiga, O pão de cará, de Roberto de Mello e Souza, e O lobisomem, de R. F. Lucchetti. Um registro que depõe contra o prêmio ao ponto de, anos depois, o próprio Cassaro revelar, em uma infeliz entrevista cedida a um conhecido podcast, o desprezo que tem pelo prêmio que imerecidamente recebeu. Uma lição para se refletir com cuidado.
O editor também disponibilizou aqui um arquivo bônus com documentos de um evento da época, realizado pelo fã-clube Frota Estelar.
Com 42 páginas e uma bela capa do ilustrador norte-americano Steven Fox, traz contos de Ivan Carlos Regina, Jorge Luiz Calife e Alysson Fábio Ferrari, artigos de Cesar Silva, Fábio Fernandes, Gerson Lodi-Ribeiro e do próprio editor, que também entrevista o espanhol Miguel A. Martinez, editor da revista Fandom.
A edição ainda traz um relatório completo sobre os resultados do Prêmio Nova de 1995, com dados detalhados das votações que revelam muito mais do que os vencedores. Uma das curiosidades, por exemplo, é a nítida distorção que um prêmio sofre ao se comprometer em apontar um vencedor numa apuração popular. No caso, o esquecível romance A espada da galáxia, de Marcello Cassaro, que foi escolhido pelos fãs em detrimento de trabalhos reconhecidamente superiores, como O relógio Belissário, de José J. Veiga, O pão de cará, de Roberto de Mello e Souza, e O lobisomem, de R. F. Lucchetti. Um registro que depõe contra o prêmio ao ponto de, anos depois, o próprio Cassaro revelar, em uma infeliz entrevista cedida a um conhecido podcast, o desprezo que tem pelo prêmio que imerecidamente recebeu. Uma lição para se refletir com cuidado.
O editor também disponibilizou aqui um arquivo bônus com documentos de um evento da época, realizado pelo fã-clube Frota Estelar.
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Truko 2
Está disponível para download gratuito o segundo número do fanzine Truko, editado pelo ilustrador Otávio Cariello pelo selo Tchaptchura.
São nada menos que 105 páginas de quadrinhos e ilustrações inspiradíssimas, um verdadeiro colírio para os fãs das artes gráficas, com tudo aquilo que realmente causa satisfação ao olhar, especialmente a técnica e a criatividade dos artistas. Além do próprio Cariello, com vários trabalhos, comparecem Livia Constante, Silva João, Erick Silva, Carol Miag, Julia Balthazar, Tony Neto, Guilherme Betrani, Heitor Isoda, André Neves, Talita Hayata,. Wilson Jr, Eduardo Seiji, Jão Vitor Cardoso, Rafael Bernardes, Rodrigo Yokota, Psonha Camacho, Elves Ferreira, Yuri Padovani, Michele Nunes, Zé Neves, Laércio Lopo, Hendric Sueitt, Samuel Moura, Caio Yo, Dann Franco, Joana Cristina Alves, André Bdois e Albert Akhout. A capa é de Carlos Bizarro.
O fanzine pode ser baixado gratuitamente aqui e a leitura é recomendada para adultos.
São nada menos que 105 páginas de quadrinhos e ilustrações inspiradíssimas, um verdadeiro colírio para os fãs das artes gráficas, com tudo aquilo que realmente causa satisfação ao olhar, especialmente a técnica e a criatividade dos artistas. Além do próprio Cariello, com vários trabalhos, comparecem Livia Constante, Silva João, Erick Silva, Carol Miag, Julia Balthazar, Tony Neto, Guilherme Betrani, Heitor Isoda, André Neves, Talita Hayata,. Wilson Jr, Eduardo Seiji, Jão Vitor Cardoso, Rafael Bernardes, Rodrigo Yokota, Psonha Camacho, Elves Ferreira, Yuri Padovani, Michele Nunes, Zé Neves, Laércio Lopo, Hendric Sueitt, Samuel Moura, Caio Yo, Dann Franco, Joana Cristina Alves, André Bdois e Albert Akhout. A capa é de Carlos Bizarro.
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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
Juvenatrix 156
"A morte é apenas o começo... de uma eterna vida de dor..."
É com esse epitáfio que o fanzine de horror Juvenatrix, editado por Renato Rosatti, tem se apresentado aos leitores ao longo de sua longa e produtiva carreira, atingindo agora a expressiva marca de mais de quatro mil páginas em 156 números publicados, algo que nenhum outro fanzine brasileiro fez em qualquer tempo.
Distribuído em formato digital desde a edição 109 - publicada em 1998 -, o Juvenatrix nunca deixou a peteca cair e segue firme em uma periodicidade mensal, com arte, notícias e divulgação sobre a cena alternativa do gênero no país.
Esta edição, de 13 páginas, traz um curioso conto de ficção científica de Rita Maria Felix da Silva, artigo sobre o filme Trash: Náusea total (1987), de Peter Jackson, além de comentários sobre os filmes Atividade paranormal: Marcados pelo mal (2014), Caminhando com dinossauros 3D (2013), Crepúsculo (2008), Doce vingança (2010), Doce vingança 2 (2013), Enter the void (2009), Frankenstein: Entre anjos e demônios (2014), O herdeiro do diabo (2014), A maldição de Chucky (2013), A menina que roubava livros (2013), Presos no gelo 3: O início (2010) e A vila do medo (2011). A capa tem um,a ilustração de Rafael Tavares.
Para receber uma cópia gratuita, em formato pdf, basta solicitar pelos e-mails renatorosatti@yahoo.com.br ou renatorosatti@terra.com.br.
É com esse epitáfio que o fanzine de horror Juvenatrix, editado por Renato Rosatti, tem se apresentado aos leitores ao longo de sua longa e produtiva carreira, atingindo agora a expressiva marca de mais de quatro mil páginas em 156 números publicados, algo que nenhum outro fanzine brasileiro fez em qualquer tempo.
Distribuído em formato digital desde a edição 109 - publicada em 1998 -, o Juvenatrix nunca deixou a peteca cair e segue firme em uma periodicidade mensal, com arte, notícias e divulgação sobre a cena alternativa do gênero no país.
Esta edição, de 13 páginas, traz um curioso conto de ficção científica de Rita Maria Felix da Silva, artigo sobre o filme Trash: Náusea total (1987), de Peter Jackson, além de comentários sobre os filmes Atividade paranormal: Marcados pelo mal (2014), Caminhando com dinossauros 3D (2013), Crepúsculo (2008), Doce vingança (2010), Doce vingança 2 (2013), Enter the void (2009), Frankenstein: Entre anjos e demônios (2014), O herdeiro do diabo (2014), A maldição de Chucky (2013), A menina que roubava livros (2013), Presos no gelo 3: O início (2010) e A vila do medo (2011). A capa tem um,a ilustração de Rafael Tavares.
Para receber uma cópia gratuita, em formato pdf, basta solicitar pelos e-mails renatorosatti@yahoo.com.br ou renatorosatti@terra.com.br.
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sábado, 8 de fevereiro de 2014
Resenha: Medo, mil anos de calafrios
Surgiu nas redes sociais uma corrente na qual os missivistas desafiam-se para relacionar os dez livros mais importantes de suas vidas. A brincadeira, além de divertida, é ótima pra sugerir leituras e dar uma insuspeita profundidade às relações que, nessa mídia, não passam do superficial. É interessante observar como títulos simples, alguns até relegados ao esquecimento, foram determinantes na construção cultural de indivíduos que hoje são formadores de opinião no ambiente literário. Por isso, sempre fui entusiasmado pela literatura infanto-juvenil, que é aquela que, geralmente, inicia o jovem no prazer da leitura.
Pessoalmente, iniciei por romances de aventura e ficção científica – que, ainda hoje, ocupam um espaço importante nas minhas leituras –, e só bem mais tarde fui conhecer o terror através dos contos de Edgar Allan Poe (1809-1849). Mas muitos podem iniciar com esse gênero e Medo: Histórias de terror (Mille ans de frissons) é um livro adequado para maravilhar o leitor em formação, sem deixar de apresentar atrativos também para o leitor maduro. Trata-se de uma antologia de contos de horror escritos por autores do século 19 selecionados por Hélène Montarde, publicada pela Editora Schwarcz através do selo Companhia das Letrinhas.
Como se trata de uma edição original francesa, o volume destaca os autores dessa língua, entre os quais aparecem apenas dois estrangeiros: Poe e os irmãos Grimm, dos EUA e Alemanha, respectivamente. Mas isso não significa que a seleção não seja representativa, pelo contrário.
Dividida em cinco partes, cada uma está dedicada a um tema distinto. A antologia inicia com "Histórias inverossímeis", que trata de fantasmas, aparições e espectros. Abre a seleção "O pé da múmia", de Theóphile Gautier (1811-1872). Trata-se de uma história que une misticismo e egiptologia na aventura fantástica de um homem depois que compra um incomum peso de papéis num antiquário. Este conto, em especial, foi resumido para facilitar o entendimento pelos leitores jovens.
O segundo texto, bem mais sombrio, é "Visão de Carlos XI", um dos primeiros escritos por Prosper Mérimée (1803-1870), que relata a visão de um tétrico tribunal do passado durante uma noite assombrada em um castelo em Estocolmo.
"Aparição" é o primeiro de cinco contos de Guy da Maupassant (1850-1903) selecionados nesta antologia, autor que dedicou boa parte de sua carreira ao gênero fantástico. Na técnica de uma história dentro de outra, o conto fala sobre um jovem corajoso que, para ajudar um amigo, encara o fantasma de sua falecida esposa. O texto seguinte, "A mão" – também de Maupassant –, é sobre a investigação de um crime impossível, no qual um homem foi, aparentemente, assassinado por um dos seus, digamos, troféus de caça.
Além dos contos assinados, a antologia inclui textos colhidos da tradição oral, adaptados aqui pela escritora infanto-juvenil Geneviève Noël. Nesta primeira parte temos dois desses relatos: o conhecido conto "A noite no castelo mal-assombrado", no qual um homem enfrenta, com coragem e inteligência, os fantasmas de um castelo abandonado; e "A dama da neve", conto japonês sobre um homem imprudente que, atraído por uma linda mulher, se perde na floresta durante uma tempestade de neve.
A segunda parte da seleção, "Com mil demônios", elenca contos com o diabo. Gautier volta com "Dois atores para um papel", no qual um ator de talento que interpreta Mefistófeles, tem um encontro com o próprio, que o desafia a fazer melhor. A seguir temos "Inverossímil", único texto de Alexandre Dumas (1802-1870) nesta antologia, com a história de um médico apaixonado por sua cliente que retorna da morte para uma noite de amor com ela. Gérard de Nerval (1809-1855) assina "O monstro verde", sobre um policial corajoso que enfrenta um ataque fantasmagórico, mas não escapa de suas sinistras consequências. "O violino, o baralho e o saco" é uma adaptação de um conto dos irmãos Jacob (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859), uma das muitas versões do viajante valente que enfrenta fantasmas em um castelo, como no já citado "A noite no castelo mal-assombrado".
A terceira parte, "Silêncio mortal", apresenta duas histórias sobre cemitérios. "A morta", de Maupassant, conta sobre uma mulher que é vitimada por um mal desconhecido. O viúvo, desconsolado, passa a noite junto ao túmulo da amada e, a certa altura, se vê rodeado de fantasmas e descobre que há segredos que talvez seja melhor nunca saber. O conto seguinte, "A morte de Olivier Bécaille", de Émile Zola (1840-1902) – um dos melhores da antologia –, narra o drama angustiante de um homem acometido por uma crise de catalepsia, que o leva a testemunhar seu próprio velório e enterro.
"Bicho de sete cabeças", a quarta parte, agrupa história com animais. A primeira delas é a conhecida "O gato preto", de Edgar Allan Poe, sobre um homem que assassina sua esposa e é acusado pelo fantasma de um gato que também matou. "O lobo e o violinista" é a adaptação de outro relato popular sobre um músico descuidado que decide atravessar a floresta à noite e é perseguido por um lobo. O bicho ataca novamente em "O lobo", de Maupassant, sobre dois irmãos valentes que aceitam o desafio de caçar um animal que parece ter poderes sobrenaturais. "O olho da serpente fantástica" é adaptação da lenda de um homem que enfrenta e mata uma cobra gigantesca e se apropria de seu olho – uma enorme pedra preciosa –, uma vitória que ele não poderá comemorar.
A parte final, "Descida aos infernos", reúne histórias sobre os reino dos mortos. Poe retorna com o sensacional "A máscara da morte vermelha", clássico da horror gótico que conta a história de um rei e sua corte que de encerram num castelo para sobreviver a um surto de peste mortal. Segue-se de "Sobre a água", mais um texto de Maupassant, um conto delicado sobre um barqueiro que fica preso no meio do rio durante uma assombrosa noite de neblina. "O segredo do cadafalso", único texto de Phillipe Auguste Mathias de Villiers de L'Isle-Adam (1838-1889) presente nesta antologia, é um exemplo do que podemos chamar de proto-ficção científica. Conta sobre um cientista que, ao saber que um de seus colegas de academia será guilhotinado, propõe a ele que seja cobaia de uma experiência mórbida em troca de eternizar-lhe o nome como baluarte da ciência.
Fecha a seleta "A ceia dos enforcados", mais um texto de Gérard de Nerval que, apesar do clima de horror, trata-se de uma peça de humor negro.
Como se vê, há uma grande variedade de temas e cenários, que revelam o estilo do narrativa que era popular nos século 19, na qual a figura da morte, ou do morto, é explorada como único elemento de suspense, sendo que muitas dessas histórias sequer são sobrenaturais. Os monstros não assumem um caráter tão ameaçador quanto o próprio homem, algoz muito mais cruel e efetivo, e o clima de horror é obtido mais pelo estilo da narrativa do que pelo temor do desconhecido. O leitor jovem talvez se impressione com alguns destes relatos e até experimente aquele arrepio na espinha típico, que provavelmente irá levá-lo a buscar, depois, por outros trabalhos do gênero. Mas ao leitor experiente interessa muito mais a arqueologia literária realizada pela organizadora Hélène Montarde, principalmente quanto aos textos mais obscuros da seleção. Além de que cada conto vem acompanhado de um breve comentário sobre o autor e a obra, com informações interessantes sobre suas publicações originais, além das ótimas ilustrações de Gwen Keraval, Anaïs Massini, Guillaume Renos e Olivier Balez, que também assina a bela capa.
O volume, de 240 páginas, tem tradução de Julia da Rosa Simões e uma excelente revisão, que segue o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990. Um livro que, sem dúvida, eu recomendaria para iniciar o jovem leitor no fascinante universo da literatura.
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terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
SBC Geek renasce
Passada as correrias de fim de ano, no próximo dia 22 de fevereiro, sábado, a partir das 13 horas, volta a acontecer o encontro de cultura nerd SBC Geek, promovido pela Secretaria de Cultura de São Bernardo do Campo.
Agora abrigado na Biblioteca de Arte Ilva Aceto Maranesi – localizada na Pinacoteca da cidade (Rua Kara, 105, Jardim do Mar, tel. 11 4125-2379) –, o SBC Geek segue com a mesma dinâmica que o caracterizou em 2013, com exibições de vídeos de animes e séries de tv com o grupo Trekker ABC, mesas de RPG com o Mestre Leite e consoles interativos de games eletrônicos vintage com equipes da revista Game Sênior e da Comunidade Mega Drive.
A programação especial deste encontro terá a exibição dos animes Hakuoki Reimeiroku, Shirokuma Café, Toriko, entre outros – com apoio cultural do saite Crunchyroll –, e um bate-papo com a especialista em games Flavia Gasi, sobre a mitologia na cultura dos videogames. A entrada é franca.
Mais informações na fanpage do SBC Geek.
Agora abrigado na Biblioteca de Arte Ilva Aceto Maranesi – localizada na Pinacoteca da cidade (Rua Kara, 105, Jardim do Mar, tel. 11 4125-2379) –, o SBC Geek segue com a mesma dinâmica que o caracterizou em 2013, com exibições de vídeos de animes e séries de tv com o grupo Trekker ABC, mesas de RPG com o Mestre Leite e consoles interativos de games eletrônicos vintage com equipes da revista Game Sênior e da Comunidade Mega Drive.
A programação especial deste encontro terá a exibição dos animes Hakuoki Reimeiroku, Shirokuma Café, Toriko, entre outros – com apoio cultural do saite Crunchyroll –, e um bate-papo com a especialista em games Flavia Gasi, sobre a mitologia na cultura dos videogames. A entrada é franca.
Mais informações na fanpage do SBC Geek.
Velta virtual 2
Está disponível para download gratuito o segundo número da revista Velta: A super-detetive, famosa super-heroína criada por Emir Ribeiro, agora em edições virtuais gratuitas e em cores.
A edição, em formato cbr, traz hq "Detetives", publicada originalmente em 2009, com o primeiro encontro entre Velta e o detetive Gilberto Gomes, além de algumas curiosidades sobre a personagem. A capa tem uma bela ilustração de Paulo Nery.
Velta: A super-detetive tem 36 páginas e é uma edição é do blogue Rock & Quadrinhos.
A edição, em formato cbr, traz hq "Detetives", publicada originalmente em 2009, com o primeiro encontro entre Velta e o detetive Gilberto Gomes, além de algumas curiosidades sobre a personagem. A capa tem uma bela ilustração de Paulo Nery.
Velta: A super-detetive tem 36 páginas e é uma edição é do blogue Rock & Quadrinhos.
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Megalon 39
Está disponível aqui, para download gratuito, mais um número do histórico fanzine de ficção científica e horror Megalon, editado por Marcello Simão Branco e originalmente publicado em fevereiro de 1996.
A edição de 40 páginas destaca a realização da II BrasilCon: Convenção Brasileira de Ficção Científica, realizada no ano anterior, em São Paulo – a primeira edição do evento aconteceu em Porto Alegre, em 1986. O evento é comentado no editorial e também merece a atenção de um artigo detalhado, de autoria de Cesar Silva, um de seus organizadores. O Megalon também publica artigos de Fabio Fernandes, Roberto de Sousa Causo, Gerson Lodi-Ribeiro e Alysson Fábio Ferrari, mais ficções de Finisia Fideli e José Carlos Neves, cartas dos leitores e o noticiário daquele momento do fandom. A capa traz uma ilustração de José Carlos Neves.
Um arquivo bônus, disponibilizado aqui, traz documentos da época, como a programação da BrasilCon e uma newsletter do casal de escritores Roberto de Sousa Causo e Finisia Fideli.
Uma edição deveras interessante.
A edição de 40 páginas destaca a realização da II BrasilCon: Convenção Brasileira de Ficção Científica, realizada no ano anterior, em São Paulo – a primeira edição do evento aconteceu em Porto Alegre, em 1986. O evento é comentado no editorial e também merece a atenção de um artigo detalhado, de autoria de Cesar Silva, um de seus organizadores. O Megalon também publica artigos de Fabio Fernandes, Roberto de Sousa Causo, Gerson Lodi-Ribeiro e Alysson Fábio Ferrari, mais ficções de Finisia Fideli e José Carlos Neves, cartas dos leitores e o noticiário daquele momento do fandom. A capa traz uma ilustração de José Carlos Neves.
Um arquivo bônus, disponibilizado aqui, traz documentos da época, como a programação da BrasilCon e uma newsletter do casal de escritores Roberto de Sousa Causo e Finisia Fideli.
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