Durante algumas semanas de novembro, a Rede Brasil, emissora de televisão que tem em sua grade diversas séries antigas, como Perdidos no espaço, Arquivo X e Lois and Clark, exibiu uma série que para mim era uma completa novidade. Trata-se de Surface, produção de 2005 – não tão antiga portanto – que passou batida pela TV brasileira. Há notícias que seus 15 episódios tenham sido exibidos pela Record e pela Universal, mas confesso que eu nunca tinha ouvido falar. A história é curiosa e bem desenvolvida, com efeitos especiais eficientes.
Conta o que acontece com a oceanógrafa Dra. Laura Daughtery que, num mergulho de pesquisa, observa um novo tipo de animal marinho de grande porte. Mas, quando divulga a descoberta, é ridicularizada pelos demais pesquisadores e perde sua graduação acadêmica. Isolada, Laura alia-se ao vendedor de seguros Rich Connelly, que testemunhou a morte do irmão num ataque do mesmo monstro e quer certificar-se de que não está louco. Juntos, partem em busca de provas irrefutáveis da existência do animal.
Enquanto isso, o jovem estudante secundarista Miles Barbett encontra um estranho ovo na beira do mar e resolve chocá-lo. Nasce um tipo de réptil marinho que ele decide criar em segredo, como animal de estimação. O bicho, ao qual ele dá o nome de Nimrod, tem a capacidade de emitir descargas elétricas fortes e é bastante inteligente, mas também muito agressivo. Atacado na praia por um grupo de animais semelhantes a Nimrod, Miles tem seu organismo contaminado com o DNA das criaturas e começa e desenvolver poderes esquisitos.
Com Miles esforçando-se na difícil missão de manter Nimrod longe dos olhos da família e dos cientistas do instituto oceanográfico, Laura e Rich realizam uma nova incursão de pesquisa submarina num batiscafo experimental, mas o barco que comanda o mergulho é atacado por supostos agentes do governo e o aparelho despenca para 4000 metros de profundidade, sem possibilidade de resgate. Encalhados em meio a um berçário dos monstros abissais, Laura e Rich aproveitam para filmar as criaturas. Quando o ar está para acabar, são acidentalmente arremessados para a superfície por um dos monstros.
Recolhidos por um helicóptero de resgate depois de alguns dias a deriva no mar, Laura divulga o filme em um programa de TV, mas é novamente ridicularizada. Não obstante, agentes secretos perseguem-na aparentemente interessados em ocultar algum grande segredo relacionado à descoberta. Os motivos, só podemos especular: o seriado ficou apenas na primeira temporada e termina quando um tsunami gigante faz submergir a costa leste dos EUA, espalhando as gigantescas criaturas pelo território inundado.
O destaque do seriado é a linda atriz Lake Bell, que interpreta a Dra. Laura Daughtery, expressiva e segura nas cenas dramáticas, em contraste ao ator Jay Ferguson, no papel de Rich Connelly, de interpretação afetada e irritante. Carter Jenkins faz Miles Barbett, o garoto mutante que, em vários momentos, eu desejei que fosse devorado pelos monstrengos. Num papel secundário, mas de importância para a trama, aparece ainda a conhecida atriz Marta Plimpton, a Stef de Os Goonies.
Enquanto assistia o seriado, ficava imaginando como não seria legal se fosse uma versão moderna para A guerra das salamandras (War with the newts, 1936), clássico da ficção científica de autoria do escritor checo Karel Capek, considerado em muitas listas como um dos dez melhores romances de FC já escritos.
Vale a pena procurar pelos episódios de Surface na internet ou em DVD, pois a história é boa e dialoga com uma série de referências da literatura e da cultura pop, ainda que eu passasse muito bem sem o chatonildo do Miles.