Há alguns dias, publiquei aqui o necrológico de Maria Helena Bandeira, escritora de fc&f muito querida no fandom. A autora publicou em muitas antologias e até na extinta Isaac Asimov Magazine, mas não teve em vida nenhum livro individual no país, exceto dois volumes da Coleção Nave Profana. Mas, que coleção é essa?
A Coleção Nave Profana foi produto da oficina literária Slev – sigla que no primeiro momento significava Suruba Literária Experimental Virtual, depois mudada para Sistema Literário Experimental Virtual.
A oficina Slev foi realizada pela internet por iniciativa do escritor Rogério Amaral de Vasconcellos, autor do romance de fc Campus de guerra (Writers, 2000). O primeiro fruto da oficina foi o romance de ficção científica Idade da decadência: Inferno em Khallah, escrito por muitas mãos e publicado 2001 pela Editora Mitsukai, cuja resenha pode ser lida aqui.
Já os livros da Coleção Nave Profana começaram a ser publicados em 2003. Foram escritos por autores voluntários, discutidos em grupo e editados em arquivo digital disponibilizados num saite exclusivo da oficina.
A proposta era construir um universo compartilhado em que cada autor teria liberdade de desenvolver seus próprios personagens e enredos, que poderiam ser aproveitados pelos demais em suas próprias histórias. A base era um ambiente de história alternativa em que épocas e realidades se chocavam.
Os livros eram vendidos a preços bastante acessíveis mas, na época, a internet era incipiente, difusa e nada popular: depois de algum tempo, a iniciativa esgotou-se. Com a desativação do saite, a coleção ficou indisponível e foi rapidamente esquecida.
O projeto da Coleção Nave Profana previa mais de 50 volumes, mas foram publicados apenas 30, o que ainda assim é uma marca considerável.
A coleção tem algumas curiosidades. A primeira é que o número 18 nunca foi distribuído. A título de divulgação, os volumes zero, quatro e seis tiveram distribuição gratuita. Os arquivos vinham com trava de impressão, de forma que só era possível ler no monitor. Vários volumes foram assinados por pseudônimos cujos autores verdadeiros nunca se revelaram, mas desconfia-se que eram todos do próprio Vasconcellos.
Fazem parte da Coleção Nave Profana os seguintes títulos:
1 - Vaca profana: Encruzilhadas, Rogério Amaral de Vasconcellos (2003)
2 - Vaca profana: A nave, Rogério Amaral de Vasconcellos (2003)
3 - Três reis magos, Larissa Redeker (2003)
4 -Tempo dos animais, Paffomiloff der Engel (2003)
5 - Dom Pedro I e... último, Gabriel Bozano (2003)
6 - Prova oral, Rogério Amaral de Vasconcellos (2003)
7 - Iroha, Ernesto Nakamura (2003)
8 - Maya, Alexis Lemos (2003)
9 - Tempo e templos, Maurício Wojciekowski (2003)
10 - A batalha dos egos reais, Cláudia Furtado (2003)
11 - Mahavira, memórias vegetais, Ernesto Nakamura (2003)
12 - Operação Britânia, Ricardo E. Caceffo (2003)
13 - Ahnk, Alexis Lemos (2004)
14 - Deserto, Roderico Reis (2004)
15 - A lei dos seios, Maria Helena Bandeira (2004)
16 - No templo da loucura, Rogério Amaral de Vasconcellos (2004)
17 - Uma janela para o nada, Rogério Amaral de Vasconcellos (2004)
18 - Edição não publicada
19 - Onze dias, Natalia Yudenitsch (2004)
20 - O último profeta, Ricardo Caceffo (2004)
21 - Pavão misterioso, Alexis Lemos (2004)
22 - A forja de Aliq, Ernesto Nakamura (2004)
23 - Guerra das Shetlands, Miguel Angel Pérez Correa (2004)
24 - Memórias de um sociopata, Cláudia Furtado (2004)
25 - Pax, Jaime da Conceição Araujo (2004)
26 - Talvez Helena, Maria Helena Bandeira (2004)
27 - Startrap, Rogério Amaral de Vasconcellos (2004)
28 - A flor improvável, Paffomiloff (2004)
29 - Sepulturas na eternidade, Rogério Amaral de Vasconcellos (2005)
30 - A espada de Dâmocles, Jaime da Conceição Araujo (2005).
Em julho de 2003 foi distribuída a única edição do Ciclope News Slevzine, fanzine virtual de divulgação da Coleção Nave Profana que, em suas 23 páginas, publicou contos e artigos sobre cinema e literatura.
E em 2005, o primeiro volume da coleção, Vaca Profana: Encruzilhadas, escrito por Vasconcellos, ganhou edição real editada pelo autor, com a promessa de, a partir de então, publicar todos os volumes nesse formato, mas o projeto não foi adiante. Uma resenha a esta edição, vista no Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2005, pode ser lida aqui.
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