Todo quadrinhista brasileiro tem um sonho. Alguns sonham em criar um super-herói de sucesso, que ganhe desenhos animados na tv e filmes no cinema. Outros sonham em atingir o estrelato internacional com novelas gráficas para adultos, com muita ação e violência. Outros ainda desejam ser os herdeiros de Walt Disney, administrando miríades de personagens infantis e parques temáticos.
Mas há um grupo bem menor, do qual eu pessoalmente faço parte, que sempre quis criar um Asterix brasileiro, com aventuras e personagens que amalgamem o jeito brasileiro de ser, da mesma forma que Asterix representa a cultura francesa. Não é uma tarefa fácil, pois todos os temas que lembram o Brasil parecem antipatizar imediatamente os críticos, que costumam acusar de ser conceitos estereotipados. A recorrência e agressividade dessas críticas têm inibido muitos autores, que evitam os temas mais imediatos, como gaúchos, cangaceiros, carnaval, futebol e, principalmente, povos nativos.
Nada disso desmotivou Gian Danton, roteirista várias vezes premiados por suas histórias, que acaba de publicar o primeiro número da revista Turma da tribo, publicado com recursos da Secretaria de Cultura do Governo do Amapá.
O capricho do trabalho é patente no traço do ilustrador Ricardo Manhães, artista experiente no mercado europeu que deu uma interpretação elegante à divertida história dos índios da aldeia dos cunani, localizada numa reserva florestal, surpreendidos por um desmatamento clandestino próximo, um problema que está na ordem do dia em muitas regiões deste País. Os habitantes da aldeia são muito variados e divertidos. Um deles, por exemplo, é um gênio que sabe projetar e construir traquitanas de alta tecnologia. Além disso, estão também presentes seres da mitologia nativa, que ajudam os heróis em suas dificuldades.
Devido aos desenhos em linha clara e algumas soluções adotadas, Turma da tribo realmente guarda muita relação com o modo europeu de fazer quadrinhos, e não é por acaso que o primeiro e o último quadrinhos remetem, sem medo de ser feliz, ao famoso baixinho gaulês – o ilustrador efetivamente confessa que prestou homenagens a Urdezo, André Franquin e Hergé.
A se lamentar apenas o formato pequeno – o estilo sugere o de álbum – o que não deixa de ser uma vantagem pois, dessa forma, a revista deve ter obtido uma tiragem maior e uma distribuição muito mais ampla. A história tem apenas 22 páginas e, além dela, a edição apresenta duas páginas com o processo de produção da história.
Mais informações sobre Turma da tribo na fanpage do projeto e no blog de Gian Danton, aqui.
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