No último dia 11, estive entre os convidados de uma cabine especial do movimentado longa metragem O jogo do exterminador (Ender's game), realizada na sala de exibição da Paris Filmes, no Pacaembu, em São Paulo, com o apoio da Devir Livraria, editora que atualmente publica a tradução do romance que deu origem ao filme.
O jogo do exterminador, que estreia no Brasil no dia 20 de dezembro com direção de Gavin Hood, conta a história de um grupo de adolescentes liderado por Andrew "Ender" Wiggin – interpretado por Asa Butterfield –, que é treinado pela forças armadas da Terra para enfrentar uma raça de alienígenas que, 40 anos antes, tentou invadir o planeta e foi repelida depois de uma batalha que quase custou a extinção da humanidade. Preocupada com uma eventual nova onda de ataque, a Terra construiu uma pequena frota de astronaves armadas, já a caminho do planeta natal dos alienígenas – os formics – para retaliar e impedir que, no futuro, a Terra seja novamente vitimada. Mas falta à frota um estrategista, alguém que tenha a habilidade de entender o modo de ser dos alienígenas, antecipar suas reações e garantir a vitória da frota terrestre. Ender tem um casal de irmãos mais velhos que também passaram pelos treinamento, mas foram rejeitados. Contudo, o desempenho de Ender agrada ao coronel Graff – interpretado por Harrison Ford – que, pressionado pelo tempo, decide acelerar o seu treinamento, submetendo-o a pressões cada vez maiores, de forma a tê-lo pronto no momento crucial. Ender é um garoto sensível que aprendeu a ser cruel quando necessário, e a relação conflituosa que tem com os irmãos influencia determinantemente sua forma de agir para com colegas, adversários e, principalmente, alienígenas.
A história foi originalmente imaginada pelo escritor norte-americano Orson Scott Card, para um conto, depois expandido em romance. Ambos ganharam os mais importantes prêmios da fc internacional, sendo uma das maiores unanimidades do gênero entre leitores e crítica. No Brasil, o conto original foi publicado na revista Isaac Asimov Magazine em 1991, ano em que também foi publicado o romance pela Editora Aleph.
A maior parte do filme, como também do romance, é dedicada a construir a psicologia amargurada de Ender e seu treinamento martirizante, embora tudo soe menos dramático no filme.
Uma das coisa que fazem falta à versão filmada é o aprofundamento da relação entre Ender e seus irmãos, que praticamente não é explorada. As ricas nuances da psicologia de Ender ficam assim esmaecidas e algumas de suas atitudes parecem um tanto injustificadas. O filme também exagera na presença em tela do coronel Graff, para capitalizar a figura de Hans Sol..., quero dizer, Harrison Ford.
Do ponto de vista técnico, o filme parece feito para ser visto em 3D, que não esteve disponível na seção, pois as cenas grandiloquentes e movimentos amplos e angulosos dos personagens sugerem expansão para além da tela. Sem o efeito mágico do 3D, o design e os efeitos especiais, ainda que adequados, parecem previsíveis e já vistos, assim como os cenários, veículos e figurino, geralmente pontos altos nos filmes de ficção científica, que não surpreendem em nenhum momento. Portanto, se possível, dê preferência para ver este filme em 3D.
Um detalhe fundamental no livro, o ansível – comunicador instantâneo para o espaço profundo, que transcende a velocidade da luz –, ideia que Card emprestou dos romances de Ursula K. Le Guin, mal é citado e não repete, no filme, o efeito de maravilhamento científico que permeia o romance e dá sentido a importantes aspectos da trama. Dessa forma, desperdiçam-se os melhores detalhes da história original, em favor da digestividade que os produtores de Hollywood acreditam ser fundamental para o expectador moderno. Para eles, até uma história escrita para adolescentes parece ser difícil de entender.
O grande mérito do filme, portanto, é recriar interesse sobre o romance, atualmente disponível nas livrarias sob o selo Pulsar da Devir Livraria. O jogo do exterminador ganhou até uma nova edição, com imagens do filme em sua capa. Também podem ser encontrados, pela mesma editora, as sequências O orador dos mortos (Speaker for the dead), Xenocídio (Xenocide) e Os filhos da mente (Children of the mind), que têm o interessante detalhe de se passarem numa colônia no planeta Lusitânia, formada por cientistas brasileiros! Isso porque Card conhece muito bem o Brasil, tendo vivido aqui como missionário nos anos 1970. Ele fala português perfeitamente e tem uma grande afeição pelo País, o que, por si só, já torna irresistível a leitura desses livros.
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