Tenho acompanhado o trabalho da editora Argonautas e o empenho com que seus editores, Cesar Alcázar e Duda Falcão, têm atuado em favor da ficção fantástica nacional, em especial a fantasia ao estilo Weird. E acho que foram as minhas resenhas a respeito que motivaram Duda Falcão a me convidar para escrever o prefácio de sua primeira coletânea, Mausoléu.
O livro, que tem ilustrações de Fred Macêdo e projeto gráfico de Roberta Scheffer, será lançado durante a Feira do Livro Porto Alegre, no dia 10 de novembro próximo, às 18 horas, no Centro Cultural Erico Veríssimo, como parte do evento Tu Frankenstein. Falcão informa que a atividade vai ser encerrada por uma sessão coletiva de autógrafos, com as presenças de Christopher Kastensmidt, Cesar Alcázar, Felipe Castilho, Marcelo Amado, Celly Borges e outros escritores, além do próprio Duda Falcão, é claro.
E para apresentar o trabalho, nada melhor que adiantar aqui justamente o prefácio, devidamente autorizado pelo autor:
O homem que construiu seu próprio mausoléu
A ficção fantástica brasileira tem na forma curta sua mais bem acabada tradução. Um dos motivos é porque sempre foi difícil ao autor popular chegar a publicação de romances; então a publicação de contos e folhetins em jornais e revistas foi uma possibilidade bem mais viável. Mesmo nos anos recentes, ainda são os contos, reunidos em seletas de diversas temáticas, que têm permitido que um grande número de autores experimentem as dores e as delícias da arte literária.
Que não se enganem os leitores, contudo: escrever um conto não é mais fácil que escrever um romance. Cada formato tem sua linguagem e estrutura, que precisam ser trabalhadas devidamente para atingir a excelência. Só é mais fácil de publicar.
Por isso, é comum que autores novos, antes de se aventurarem na produção de textos longos, trabalhem algum tempo na forma curta. Aos leitores parece também agradar um volume com várias narrativas, pois a publicação de coletâneas tem sido intensa nos últimos anos. E disso se aproveitou Duda Falcão, jovem autor portoalegrense que, desde 2005, tem frequentado as mais diversas coletâneas temáticas organizadas pelas editoras brasileiras.
Duda Falcão é professor, graduado em História com mestrado em Estudos Culturais. Ao lado de César Alcázar, outro escritor gaúcho, fundou a Editora Argonautas, com o firme propósito de contribuir para com o crescimento da literatura fantástica brasileira. Tanto que a dupla foi além da simples atividade editorial e associou-se a outros autores para promover o congresso literário Odisseia de Literatura Fantástica de Porto Alegre, realizado em 2012 e 2013 com grande sucesso.
A paixão declarada de Falcão é pelo período Weird da ficção fantástica, que leva esse nome devido a revista Weird Tales, publicada nos EUA entre 1923 e 1954. O periódico ajudou a estabelecer as fundações da ficção fantástica através da publicação de autores como Robert E. Howard, H. P. Lovecraft, Fritz Leiber, Theodore Sturgeon, Robert Bloch, Clark Ashton Smith, August Derleth e Thomas Ligotti, entre outros, num estilo que navega livremente entre os gêneros, indo da fantasia à ficção científica regadas com doses generosas de horror sobrenatural.
Essa é a textura que também caracteriza a ficção curta de Duda Falcão apresentada nesta coletânea: nada menos que 36 contos, a maior parte deles vistos em antologias de editoras como Andross, Estronho, All Print, Multifoco e Literata, publicadas entre 2009 e 2012, bem como em fanzines e na revista Sagas, principal projeto editorial da Argonautas. A variedade de temas também é grande, passando por zumbis, fantasmas, vampiros, bruxas, faroeste, mitologia indígena, jornada pós-apocalíptica, guerreiros pré-históricos, fantasia medieval e muitas outras.
Podem ser lidos aqui alguns dos textos com os quais o autor se revelou, como "Emplumado" e "Museu do terror", este parte de uma série de histórias publicadas originalmente na internet.
Os contos também revelam a admiração do autor pela obra de Edgar Allan Poe, homenageado em diversos textos, e pela literatura gótica de Mary Shelley e John Polidori, citados textualmente no conto "Humanos, monstros e máquinas". A coletânea conta ainda com uma boa quantidade de textos inéditos.
É este o Mausoléu que Duda Falcão construiu para si mesmo, devidamente povoado por seus próprios pesadelos que, a partir de agora, vão também assombrar as noites dos valentes que se aventurarem em seus meandros.
Recomendo que levem uma lanterna. Boa sorte.
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