David Mazzucchelli tem uma história interessante. Como a maior parte dos desenhistas de quadrinhos americanos de sucesso, ele iniciou sua carreira produzindo histórias de super-heróis. Passou pela Marvel, onde ilustrou uma das melhores fases do Daredevil, em parceria com Frank Miller. Depois foi para a concorrente, DC, e lá ilustrou uma das mais respeitadas histórias da mitologia do vigilante de Gothan City, Batman Ano Um, publicada em 1987. Já dava para perceber que alguma coisa estava acontecendo com Mazzucchelli, que se distanciava cada vez mais dos estereótipos dos super heróis, focando personagens coadjuvantes e um Batman ainda sem uniforme.
Então, para a surpresa de todos, Mazzucchelli afastou-se da Meca dos quadrinhos, exatamente quando seu nome já estava entre os grandes ilustradores americanos.
Mas Mazzucchelli não abandonou os quadrinhos, apenas mudou o modo com que queria se relacionar com a arte, passando a investir em seus projetos pessoais, como a revista Rubber Blanket. Anos depois, em 2004, apareceria quase irreconhecível aos seus fãs, na excelente adaptação do romance de Paul Auster Cidade de vidro (City of glass), publicada no Brasil em 1998 pela editora Via Lettera. Mazzuccelli estava muito diferente. Seu desenho era mais livre, quase um cartum, e a história delirante de Auster deixava tudo ainda mais estranho aos leitores.
Desde então, não tivemos mais contato com David Mazzucchelli. Até agora.
Acaba de sair, pelo selo Quadrinhos na Cia, da Companhia das Letras, o álbum Asterios Polyp, um livro de 344 páginas que pode ser classificado como quadrinho-design, devido ao surpreendente trabalho gráfico que Mazzucchelli imprimiu à obra, com cores improváveis e muito experimentalismo gráfico.
Conta a história de um arquiteto excêntrico que entra em crise existencial depois que sua casa é destruída por um incêndio. Confuso, ele parte para uma viagem pelos EUA, onde vai se deparar com uma realidade que não conhecia. A narrativa também é incomum, sendo que o narrador da história é o irmão gêmeo de Asterios que, veja só, morreu antes de nascer.
O tradutor Daniel Pellizzari fez milagres na versão da obra para o português, repleta de termos intraduzíveis. O resultado é uma história aberta, tão rica em interpretações quanto em sua estética pós-tudo.
Publicada originalmente em 2009 pela Pantheon Books, Asterios Polyp ganhou o prêmio Los Angeles Times Book Prize Graphic Novel e recebeu quatro indicações para o Prêmio Eisner, ganhando nas categorias Melhor Álbum Novo, Melhor Autor/Ilustrador e Melhor Letrista. Também ganhou três categorias do Prêmio Harvey 2010.
Uma amostra do trabalho pode ser vista no saite da Companhia das Letras, aqui. Um excelente investimento para o décimo-terceiro.
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