Vaporpunk: Novos documentos de uma pitoresca época steampunk, Fábio Fernandes e Romeu Martins, orgs. 224 páginas. São Paulo: Draco, 2014.
Vaporpunk: Novos documentos de uma pitoresca época steampunk é o segundo volume do título e o quarto da série "punk" da editora Draco, que conta também com Vaporpunk (2010), Dieselpunk (2011), Solarpunk (2013) e Cyberpunk (2019). Trata-se de uma antologia de contos na tradição do modelo inaugurado por A máquina diferencial, romance de Bruce Sterling e William Gibson originalmente publicado em 1990 e traduzido no Brasil em 2012 pela editora Aleph, que propõe o desenvolvimento de tecnologias modernas, como aviões, automóveis e computadores, muito antes do que de fato aconteceram, alterando profundamente a história como a conhecemos.
Os organizadores Fábio Fernandes e Romeu Martins reuniram nove textos para investigar retrofuturos possíveis para o Brasil, mas sem ser muito exigente com o conceito. Há contos que sem dúvida são steampunk, mas outros têm no modelo uma relação distante ou mesmo nenhuma.
Fábio Fernandes abre a seleta com "O alferes de ferro", uma história alternativa em que Tiradentes desenvolve uma armadura de combate para enfrentar a guarda colonial e o traidor Joaquim Silvério dos Reis.
Romeu Martins participa com dois textos do policial ferroviário João Fumaça: "Tridente de Cristo" e "Modelo B". O personagem foi apresentado aos leitores no conto "Cidade Phantástica" na antologia Steampunk: Histórias de um passado extraordinário (2009, Tarja) e estas novas histórias o colocam diante de um terrorista que pretende explodir uma igreja durante um concorrido casamento no Rio de Janeiro imperial, e um automóvel a vapor de propriedade de um excêntrico milionário americano, trazido pro seu dedicado mordomo para a feira mundial no Brasil. Martins gosta de citar e fazer referências diversas a seus autores e personagens favoritos, tanto que um dos contos traz até um glossário explicitando algumas delas.
"V.E.R.N.E. e o Farol de Dover", de Dana Guedes, parece um trecho de uma história mais longa, sobre a ação de um grupo de revoltosos contra o governo opressor do Reino Unido.
Nikelen Witter apresenta, em "Uma missão para Miss Boite", uma história de mistério e espionagem que envolve uma relíquia valiosa.
"Mecanismos precários" é um poema em prosa de Luiz Brás, visto antes na coletânea Máquina Macunaíma (2013), que fala sobre relações de amor e ódio representadas na luta entre dois robôs gigantes, com doses generosas de experimentalismo literário.
"Notícias de Marte", de Sid Castro, é uma competente história alternativa com viagem no tempo, que trança narrativas separadas por um intervalo de dez anos. Em 1900, o piloto de uma aeronave da marinha se perde e vai parar num futuro em que não é bem vindo.
"O cerco de Dr. Vikare Blisset", de Jacques Barcia, se apresenta no estilo incomum de um relatório, no qual o detetive Carlos Werke enumera os crimes do famigerado ladrão de patentes Vikare Blisset.
O melhor conto da seleta é "Meus pais, os pterodáctilos", de Cirilo Lemos, com a história incrível de um jovem humano adotado por um casal de pterodáctilos, que precisa aprender a voar de qualquer maneira, caso contrário sofrerá severas consequências.
A maior parte das histórias repete as fórmulas do já clássico romance de Sterling e Gibson, e, por isso, não se sobressaem na antologia. Os que logram maior significado são justamente aqueles textos que não seguem o padrão e investem em conceitos outros, como a história alternativa e o cyberpunk.
Não é facil trazer novidades para um gênero que começou com um texto tão maduro e sofisticado como A máquina diferencial. Na verdade, nem mesmo autores estrangeiros profissionais conseguiram avançar além dele, logo, não se pode ser muito rigoroso com os autores amadores. Mas não deixa de ser uma leitura divertida para aqueles que apreciam a estética do steampunk.
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