sexta-feira, 8 de junho de 2012

Ray Bradbury (1920-2012)

Na última terça feira, dia 5 de junho, os 91 anos de idade, deixou a nossa convivência o influente escritor norte americano Ray Bradbury, um dos maiores autores de ficção fantástica que já existiram.
Bradbury compõe a trindade dos escritores de ficção científica na opinião dos brasileiros. Ao lado de Isaac Asimov e Arthur C. Clarke, forma o "ABC" do gênero, como é chamado pelos seus inúmeros leitores. Contudo, Bradbury é um estranho no ninho, pois não se conformava com as orientações impostas pelo mercado. Sua ficção científica, por exemplo, não é científica em quase nada, uma vez que lhe importava muito mais as pessoas do que a ciência. Bradbury também era mais versátil que seus colegas de gênero, enveredando com igual desenvoltura por terrenos tão pantanosos como o terror, a fantasia, o mistério e até o realismo, sem esquecer da poesia em prosa e verso.
Nascido em 22 de agosto de 1920 em Waukegan, Illinois, estado do meio-oeste americano, Ray Douglas Bradbury tinha tudo para ser um legítimo redneck. O que alterou sua caminhada foram as histórias em quadrinhos de Buck Rogers que, quando criança, colecionava recortando cuidadosamente dos jornais. Também era leitor ávido dos livros de Júlio Verne e H. G. Wells, das novelas de Edgar Rice Burrougs, Clark Ashton Smith e H. Ride Haggard, e fascinado com as maravilhas de seu mundo, especialmente parques de diversão itinerantes, circos, mágicos, trens, dinossauros e uma pletora de coisas simples que não era importante para mais ninguém.
Aos oito anos de idade, pressionado pelos colegas de escola que exigiam dele um comportamento mais "normal", o pequeno Ray rasgou toda a sua coleção de quadrinhos. Mas isso só serviu para que ficasse perdido num mundo que ele não compreendia e entendeu ali que o seu destino não era ter uma vida "normal". Voltou avidamente à sua coleção e decidiu que seria um escritor. Em 1938, publicou seus primeiros contos no personalzine Futuria Fantasia, e em 1941, chegou ao primeiro conto profissional na revista Super Science Stories. Seu primeiro texto a fazer sucesso foi "O lago" ("The lake", 1942).
Bradbury tornou-se um dos maiores escritores americanos, com uma produção de qualidade reconhecida pelo mainstream, apesar de instalada no que se chama de ficção de gênero que, de forma geral, é desprezada pela crítica. Entre seus grandes livros está o romance Fahrenheit 541 (1953), alegoria sobre a censura que conta a história de um homem apaixonado pelos livros cujo trabalho é justamente destruí-los. Levado ao cinema em 1966 pelo importante cineasta francês François Truffaut, tornou Bradbury uma personalidade conhecida no mundo inteiro.
Outros livros importantes de Bradbury são Crônicas marcianas (Martian chronicles, 1950), Algo sinistro vem por aí (Somethig wicked this way comes, 1952) e O vinho da alegria (Dandelion wine, 1957), além das coletâneas Os frutos dourados do Sol (The golden apples of the sun, 1953), O homem ilustrado (The illustrated man, 1951) e O país de outubro (The october country, 1955). Vários de seus contos estão entre os mais significativos da literatura mundial, devido a sua poética incomparável.
Suas histórias foram adaptadas para inúmeras outras mídias, principalmente o teatro, o cinema e a televisão. A melhor versão para os quadrinhos aconteceu nos anos 1950 pela lendária editora EC Comics de William Gaynes. Al Feldstein adaptou vários de seus contos, que foram ilustrados por grandes mestres como Frank Frazetta e Wallace Wood. Algumas dessas HQs foram publicadas no Brasil no início dos anos 1990 pela editora L&PM nos álbuns O papa-defuntos e O pequeno assassino.
O primeiro de seus livros aqui publicados foi O país de outubro, traduzido em dois volumes pela Editora GRD em 1963 e 1966, antologia que reúne alguns de seus contos mais destacados. Praticamente toda a sua obra foi traduzida no Brasil, sempre ficando em catálogo.
Bradbury tem creditado em seu nome cerca de 60 romances e mais de 600 contos, traduzidos no mundo inteiro. Recebeu diversos prêmios e homenagens, entre os quais estão o National Medal of Arts Award, World Fantasy Award, Prometheus Award, Stoker Award, SFWA Grand Master, Emmy Award e Sir Arthur Clarke Awards. Seu nome foi emprestado ao Science Fiction and Fantasy Writers of America para os prêmios da categoria Roteiro, e o autor ainda ganhou uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood e uma citação especial ao Prêmio Pulitzer, em 2007.
Bradbury não foi um escritor convencional. Ele partia do princípio que o verdadeiro escritor não é aquele que escreve para viver, mas o que vive para escrever, como algo vital, necessário, terapêutico até. E isso é algo que não dá para ensinar como fazer, como se pode ver na coletânea de ensaios O zen e a arte da escrita (Zen in the art of Writing, 1990), publicado no Brasil em 2011 pela Editora Leya, em que o mestre resume a sua técnica criativa em uma frase brilhante: "Toda manhã, pulo da cama e piso num campo minado. O campo minado sou eu. Depois da explosão, passo o resto do dia juntando os pedaços. Agora é a sua vez. Pule!"

Um comentário:

  1. Fiquei sabendo agora, putz que pena!!! O grande poeta da Fc!!!

    ''Eu queria escrever uns versos para Ray Bradbury,
    o primeiro que, depois da infância, conseguiu encantar-me com suas histórias mágicas
    como no tempo em que acreditávamos no Menino Jesus
    que vinha deixar presentes de Natal em nossos sapatos empoeirados de meninos
    e nada tinha a ver com a impenetrável Santíssima Trindade.
    Era no tempo das verdadeiras princesas,
    nossas belíssimas primeiras namoradas
    - não essas que saem periodicamente nos jornais.
    Era no tempo dos reis verdadeiramente heráldicos como os das cartas de jogar
    e do bravo São Jorge, com seu cavalo branco, sua lança e seu dragão.
    Era no tempo em que o cavaleiro Dom Quixote
    realmente lutava com gigantes,
    os quais se disfarçavam em moinhos de vento.
    Todo esse encantamento de uma idade perdida
    Ray Bradbury o transportou para a Idade Estelar
    e os nossos antigos balõezinhos de cor
    agora são mundos girando no ar.
    Depois de tantos anos de cínico materialismo
    Ray Bradbury é a nossa segunda vovozinha velha
    que nos vai desfiando suas historias à beira do abismo
    - e nos enche de susto, esperança e amor.''



    Esconderijos do Tempo - Mário Quintana

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