sábado, 30 de setembro de 2023

Literatura Fantástica 6

Está disponível a sexta edição da Revista Literatura Fantástica, editada por Jean Gabriel Álamo, dedicada ao fantástico brasileiro contemporâneo. 
A publicação tem 276 páginas e traz contos de Ricardo de Goés Correia, Vitor M. Santos, Ricardo José Dunder, Felipe Rayel, Marcelo de Lima, Lindovan Batista, Roberto Schima, Luiz Claudio Braga, Gonzalo Dávila Bolliger, Fred Alvarenga e Larissa Prado. Os contos contam com ilustrações de abertura assinadas por Gabriel Lince. 
Diz o texto de divulgação: "Explore a sede de uma partição pública secreta dedicada a lidar com ameaças sobrenaturais, junte-se a um ladrão-mago para roubar um perigoso artefato capaz de ser a realização dos sonhos de muitos e ao mesmo tempo a ruína de tantos outros, testemunhe entes da floresta que buscam defendê-la de uma divindade maligna, realize perigosos rituais sob uma árvore sagrada, pegue um avião e aterrisse em uma situação para além do que a imaginação humana pode conceber, explore o futuro do interior de São Paulo e descubra como festivais de quadrilhas de Festa Junina serão as competições esportivas mais aclamadas do mundo, viaje para um exoplaneta e enfrente alienígenas numa Terra devastada, investigue o desaparecimento de um cientista numa ilha permeada por lendas e horrores insondáveis, adote um gato infernal e por fim se apaixone por uma mulher sem rosto..."
Literatura Fantástica é publicada unicamente em formato digital e está a venda no saite da Amazon, aqui.

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Lançamento: Literatura de ficção científica brasileira

Literatura de ficção científica brasileira: perspectivas críticas modernas e contemporâneas
é uma antologia de ensaios acadêmicos organizada pelos pesquisadores Naiara Sales Araújo, Alexander Meireles da Silva e Jucélia de Oliveira Martins através do grupo de pesquisa Ficção Científica, Gêneros Pós-modernos e Representações artísticas na Era Digital – FICÇA, ligado à Universidade Federal do Maranhão - UFMA, e publicado pela editora dessa mesma universidade. 
Trata-se de um volume de 234 páginas com textos tratando de temas diversos ligados à produção de ficção científica no Brasil pelos pesquisadores Octavio Carvalho Aragão Júnior, Victor José Pinto de Almeida, Kelson Rubens Rodrigues Pereira da Silva, Silvana Maria Pantoja dos Santos, Walter Cavalcanti Costa, Késia Rafaelle Ribeiro Andrade, Thalita Ruth Sousa, Gladson Fabiano de Andrade Sousa,  Rita de Cássia Oliveira e Fábio Fernandes da Silva, além dos próprios organizadores. O pesquisador Roberto de Sousa Causo assina a apresentação, na qual apresenta um breve histórico da pesquisa em ficção científica no país e comenta os artigos presentes na edição. A belíssima capa está creditada a Stephane Thayane dos Santos Serejo.
O livro está disponível aqui para download gratuito, sendo também possível adquiri-lo em formato impresso.

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Velta: Contos da super-detetive 14

A mais conhecida super-heroína dos quadrinhos brasileiros vem sendo continuamente publicada desde que foi criada por Emir Ribeiro, há mais de cinquenta anos. Entre diversas publicações que o autor sustenta, está a série Velta: Contos da super-detetive, cujo objetivo é apresentar, em ordem cronológica, toda a saga da personagem desde suas primeiras aventuras. 
Passado mais de um ano do lançamento do número anterior, a edição 14 está finalmente circulando. Com capa cartonada em cores e 32 páginas internas em preto e branco, traz três histórias em formato literário ilustradas pelo próprio autor e introduzidas por breves textos de contextualização. 
Talvez esta seja a última edição impressa da revista. Ribeiro confessa, no editorial e também nas redes sociais, que está com dificuldade para sustentar a publicação impressa diante de todos os custos que o processo exige e cogita seriamente abandonar o formato. 
Contudo, ainda é possível adquirir esta e outras publicações de Ribeiro, inclusive a coleção completa desta série. Para isso, é preciso entrar em contato diretamente com o autor, pelo email emir.ribeiro@gmail.com
Aproveite enquanto dá.

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Lançamento: O inferno que nos persegue, Andrew Joseph White

Ficção científica e horror é uma mistura que funciona muito bem. Há inúmeros clássicos nos dois gêneros que trazem essa sinergia que combina com as perspectivas sombrias que hoje temos com relação ao futuro. 
O inferno que nos persegue (Hell followed with us), romance de estreia de Andrew Joseph White, publicado originalmente em 2022, é uma dessas histórias perturbadoras que antecipam um destino que ninguém deseja, mas parecemos ansiosos por realizar. 
Diz o texto de divulgação: "Benji, um garoto trans de dezesseis anos, está fugindo do culto que o criou – a seita fundamentalista que desencadeou o Armagedom e dizimou a população mundial – e procurando desesperadamente por um lugar onde o culto não consiga colocar as mãos nele ou, mais importante, na arma biológica com a qual o infectaram. Encurralado por monstros nascidos da destruição, Benji é resgatado por um grupo de adolescentes do Centro LGBTQIA+ local de Acheson, carinhosamente conhecido como ALC. O líder do ALC, Nick, é lindo, autista e um atirador mortal, e conhece o segredo mais sombrio de Benji: a arma biológica do culto está transformando-o em um monstro mortal o suficiente para varrer a humanidade da Terra de uma vez por todas. Ainda assim, Nick oferece abrigo a Benji entre seu grupo de adolescentes queer, desde que Benji possa controlar o monstro e usar seu poder para defender o ALC. Ansioso por pertencimento, Benji aceita os termos de Nick… até descobrir que o misterioso líder do ALC tem uma intenção oculta e seus próprios segredos."
A Darkside Books promete o lançamento da edição brasileira para 16 de outubro, com 320 páginas e tradução de Floresta. Mais informações no saite da editora, aqui.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

Múltiplo 84 + Legendas HQ

Está disponível a edição de outubro do fanzine de quadrinhos Múltiplo, editado por André Carim pelo Estúdio Múltiplo, dedicado à produção brasileira independente de quadrinhos de ação e aventura. 
A edição, que tem 80 páginas, traz uma entrevista com o quadrinhista Eduardo Schloesser, autor de Zé Gatão, artigos e resenhas sobre a nona arte, quadrinhos de Omar Viñole, Luiz Iório, Oscar Suyama e do editor, e ilustrações de May Santos, Márcio Sennes Pereira, Paulo Thomsom e Rubens Lima, que também assina a imagem da capa. 
Outra publicação recente distribuída pelo Estúdio Múltiplo é o segundo número de Legendas HQ, revista digital de 48 páginas resultado da combinação de esforços dos fanzines Cabal, Múltiplo, Profecia, Quadritos, QI e Tchê. O primeiro número saiu em 2018 e não está mais disponível, mas a ideia é que cada editor contribua com conteúdo por ele mesmo montado, o que dá à revista a aparência de uma colcha de retalhos. Longe de ser ruim, é uma característica identitária importante que só um fanzine pode proporcionar, além de apresentar aos novos leitores o trabalho desenvolvido nesses outros fanzines. A edição traz quadrinhos, artigos, entrevistas, resenhas e pinups de diversos artistas, incluindo uma HQ de duas páginas do mestre Júlio Shimamoto. A capa é de Ejhozer Evandro. 
Tanto Legendas HQ como Múltiplo podem ser baixados gratuitamente aqui: edições anteriores também estão disponíveis no mesmo repositório.

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Lançamento: A herança dos fantasmas, Rivers Solomon

Está em pré-venda no saite da Editora Aleph a ficção científica A herança dos fantasmas (An unkindness of ghosts, 2017), primeiro romance de Rivers Solomon, pessoa não-binária cuja obra é vinculada ao movimento afrofuturista. O romance, que foi finalista do Prêmio Locus, discute a complexa questão do racismo estrutural em uma nave de gerações, tem 376 páginas e tradução de Thaís Britto. 
Diz o texto de divulgação: "Percebida como excêntrica pelas pessoas ao seu redor, Aster nasceu em uma sociedade em que servidão e obediência religiosa são a norma. A humanidade perdeu seu lar e agora habita, há gerações, a nave Matilda, que tenta levar o que restou dos seres humanos para uma Terra Prometida. Vivendo de modo insalubre em uma comunidade empobrecida no deque inferior da nave, Aster desenvolve seus dotes médicos e cuida de todos em seu convés. Contudo, sua vida muda quando descobre pistas sobre a morte suspeita de sua mãe". 
Uma bela introdução para os leitores brasileiros à produção contemporânea de ficção científica americana e ao trabalho de Solomon, que também conta com a ficção científica The deep (2019) e o drama gótico Sorrowland (2021) em seu currículo, além de alguma ficção curta.

sábado, 23 de setembro de 2023

Conexão Literatura 99

Está disponível a edição de setembro do periódico eletrônico Conexão Literatura, editado por Ademir Pascale, dedicado à divulgação de novos autores e obras da literatura brasileira. 
A edição tem 116 páginas e destaca em entrevista o trabalho de Cesar Bravo, autor do romance Ultra Carnem (Darkside, 2016). Também são entrevistados os escritores Paula Pimenta, Elaine Laves Santos, Paulo Tavares e Roberto Ferrari. No contos, trabalhos de Gilmar Dutra Rocha, Idicampos, Iraci Marin, Mirian Santiago, Ney Alencar, Roberto Schima e do próprio editor, além de poemas, crônicas, resenhas e artigos de assuntos variados.
A revista tem distribuição gratuita e esta edição pode ser baixada aqui. Números anteriores também estão disponíveis.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Resenha do Almanaque: O fantasma do apito, Miguel Carqueija

O fantasma do apito, Miguel Carqueija. 118 páginas. Apresentação de Marcello Simão Branco. Coleção Scarium Fantástica, volume 2. Rio de Janeiro: Scarium, 2007.

Debaixo de chuva, três garotas se encontram na porta da escola aonde vão estudar. Elas nunca se viram antes, mas a breve viagem numa espécie de teleférico que leva à porta da escola desperta entre elas uma cumplicidade que será seu principal apoio nestes primeiros dias de aula. Isso porque, mal desembarcam no saguão, são acuadas pelo bedel que é extremamente rude com as estudantes. Tudo porque algum espertinho soprou um apito estridente na densa floresta que circunda a escola e ele acredita que foi uma entre as novas alunas.
Depois da má recepção, as garotas são acomodadas num mesmo quarto e passam a se conhecer melhor. Na hora da refeição, acabam se indispondo com um estudante por causa de uma sopa de tomates, sem maiores repercussões. Porém, durante a noite, o estudante é assassinado e, mais uma vez, a suspeita recai sobre as garotas.
Apesar da animosidade explícita da diretora da escola, as meninas são defendidas pela investigadora de polícia que acompanha o caso. Mais tarde, ela vai revelar ser clarividente e que reconheceu a inocência das meninas, especialmente o potencial de clarividência de uma delas.
Mas os problemas não terminam. Outros assassinatos acontecem, sempre fazendo acreditar que as garotas estão, de alguma forma, envolvidas. Mais policiais entram em cena e a pressão sobre elas fica cada vez maior. Somente as próprias meninas podem resolver o mistério do apito, que tudo indica ser um aviso do assassino antes de cometer os crimes. Um assassino acima de qualquer suspeita.
Esta é a história da novela O fantasma do apito, de autoria do escritor Miguel Carqueija, volume 2 da Coleção Scarium Fantástica. Seguindo a característica que tem dominado seus trabalhos, o autor investe em protagonistas femininas para contar uma história de coragem e amizade no meio de um cenário antagônico e lúgubre. 
Fica clara a influência da série Harry Potter neste trabalho, que procura sustentar o mesmo clima gótico daquela série. Isso exigiu que o autor reinventasse a realidade, instalando a trama numa alternativa em que a história do Brasil caminhou de forma diferente. Apesar de recursos modernos e detalhes tecnológicos próprios do nosso tempo, predominam cenografias do castelo decadente onde a escola se instala, com ambientes escuros e passagens secretas empoeiradas, truques de magia, carruagens, dirigíveis etc.
No aspecto estrutural, a história tem um objetivo claramente infantojuvenil. O vilão, bem como o detetive Anselmo (personagem que cumpre um contraponto cômico) cumprem bem seus papéis esquemáticos apesar de um tanto estereotipados, especialmente o vilão, mas a impressão final é que isso foi um truquezinho do autor para emular o realismo farsesco das histórias em quadrinhos.
Sobre as protagonistas, o autor não se aproveitou bem do fato de ter três pessoas independentes. Em muitos aspectos, as meninas se parecem demasiadamente, falam da mesma maneira e pensam de modo similar. É impossível reconhecê-las apenas pelos diálogos e, ao final de história, ainda não conseguimos identificá-las claramente, mas isso talvez possa ser superado com a leitura de suas sequências, uma vez que o autor voltou ao universo de O fantasma do apito em 2009 na novela Tempo das caçadoras (Scarium), desenvolvendo mais detalhadamente a estrutura histórica alternativa do mesmo.
O volume tem a apresentação de Marcello Simão Branco, que sintetiza brilhantemente o trabalho no trecho reproduzido a seguir:

“Neste novo trabalho ficcional, Carqueija demonstra desenvoltura com a construção do enredo – que se situa entre o suspense e o sobrenatural –, com a criação e aprofundamento das personagens e com o desenrolar da trama. Cheia de reviravoltas e surpresas que prendem o leitor a cada fim de capítulo, no mais tradicional e eficiente recurso do folhetim.”

Branco ainda faz um breve apanhado da carreira do autor e aproveito para lembrar dois dos seus livros mais recentes, publicados por editoras grandes: Farei o meu destino (Giz, 2008) e O estigma do Feiticeiro Negro, com Melanie Evarino (Ornitorrinco, 2012).
Carqueija produz em quantidade e participa com frequência das publicações e editoras dispostas a receber colaborações, sem qualquer preconceito. Embora suas últimas histórias sejam todas mais ou menos do mesmo tipo – aventuras na linha infanto-juvenil com protagonistas femininas envolvidas em eventos de magnitude muito além delas mesmas, que sobrevivem aos percalços por graça da sua integridade destemida – atestam um amadurecimento estilístico que qualifica o autor alguns degraus acima dos muitos contos que publicou nos fanzines brasileiros ao longo dos últimos trinta anos.
Não tenho dúvidas que entre os muitos autores de fc&f atuantes no ambiente dos fãs, Carqueija é aquele que reúne as melhores condições para conquistar bons resultados comerciais. Só lhe falta o que nos falta a todos: o próprio mercado editorial que, nos últimos dez anos, só fez encolher e desprofissonalizar-se, o que é lamentável. 

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Juvenatrix 250

Está disponível a edição de setembro do fanzine eletrônico de horror e ficção científica Juvenatrix, editado por Renato Rosatti. Publicado desde 1991, o fanzine atinge a expressiva marca de 250 edições publicadas mensalmente, sem falhar um único mês sequer, um feito notável nestes tempos líquidos.
Em vinte páginas, traz um conto de Caio Alexandre Bezarias, resenha de Marcello Simão Branco ao romance de horror Conto de fadas, de Stephen King, e resenhas do editor aos filmes A Torre de Londres (1962), Stranger from Venus (1954), Jesse James contra a filha de Frankenstein (1966), O morcego diabólico (1940), In the year 2889 (1969), O primeiro homem no espaço (1959) e Battle beyond the sun (1959/1962), cujo cartaz ilustra a capa. 
A edição é completada com notícias e divulgação de publicações alternativas e bandas de metal extremo.
Cópias em formato pdf podem ser obtidas pelo email renatorosatti@yahoo.com.br.

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Literatura X Cinema

A revista Caderno de Letras, publicação quadrimestral do Centro de Letras e Comunicação e do Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal de Pelotas-UFPel, publicou no último dia 17 de setembro sua edição número 45, subtitulada O insólito ficcional da tela aos livros, dos livros à tela: Adaptações, recriações, traduções, menções
Organizada pelos pesquisadores Bruno Anselmi Matangrano, Justine Breton e Ramiro Esteban Zó, a publicação traz vinte e um artigos de pesquisadores do Brasil, Portugal, Argentina, México e França, voltados ao estudo do discurso intermidiático, ou seja, de obras que espraiam para além da mídia de origem. 
A maior parte dos textos trata das adaptações audiovisuais de obras literárias, mas também há artigos que tratam de versões filmadas de quadrinhos e games, dentre os quais se destaca o de Maria Clara da Silva Carneiro e Lielson Zeni, que analisa a adaptação de Otto Guerra para as tiras de Os piratas do Tietê, de Laerte Coutinho, o único artigo da seleta dedicado à uma obra brasileira. 
É claro que a revista não pretendia esgotar o tema, que é amplo e problemático mas, pelo menos aparentemente, os artigos publicados não chegam a tratar do fenômeno das novelizações, que são transposições do cinema para a literatura, que sofrem de problemas tão atrozes que beiram ao absurdo, assim como adaptações cuja mídia de chegada sejam quadrinhos, games e até o teatro, cada qual com problemas e protocolos próprios, mas que contam com exemplos que também valem estudos. 
Os artigos podem ser lidos online ou baixados gratuitamente aqui.

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Histórias Extraordinárias 7

Está aberta a campanha para a sétima edição da revista Histórias Extraordinárias, periódico literário de ficção fantástica publicado pela Editora Mundo, lançado em 2020 com cada edição viabilizada através de financiamento coletivo direto. 
Editada por Marcus Garrett, Mario Cavalcanti e Paolo Fabrizio Pugno, Histórias Extraordinárias tem formato impresso e uma linha editorial tematicamente vinculada à Golden Age da ficção científica, ou seja, aquela que caracterizou o gênero nos anos 1940 e 1950. 
A edição promete 44 páginas, e os escritores Gilson Cunha, Igor Moraes e Flávio Medeiros Jr. dão boas vindas às primeiras escritoras publicadas na revista, Ursulla Mackenzie e Lu Evans. Os apoiadores ainda recebem, junto a cada edição, cards de escritores clássicos da fc. Neste número, a homenageada é a escritora americana Octavia E. Butler (1947-2006).
É possível adquirir não apenas esta edição, mas todas as anteriores, na página da campanha, aqui

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Escambanáutica ano 3

Depois de quase um ano de ausência, está circulando a nona edição da revista Escambanáutica, publicação do Coletivo Escambau inteiramente dedicada à literatura fantástica brasileira produzida por novos autores. A edição inaugura o terceiro ano de publicação, que já lançou oito números entre 2021 e 2022. 
Como é característica do periódico, todo ano reinicia a numeração no 1, trazendo em 74 páginas contos de Chico Milla, Rafaela Pereira e Tiago de Andrade, trafegando entre o humor, a ficção científica e a fantasia. A capa é assinada por Bruno Romão.
Aconteceram muitas mudanças desde a edição anterior, publicada em dezembro de 2022. Moacir Fio passou a editoria para Wilson Júnior e a revista agora conta com recursos da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. O saite que anteriormente disponibilizava as edições foi descontinuado e substituído pela venda exclusiva para dispositivos Kindle, aqui, por um custo bastante acessível. Mas lamento o abandono do formato pdf para leitura em smartphones. 
Existe aqui um projeto de financiamento coletivo para sustentar tanto a Escabanaútica como outros títulos do Coletivo Escambau. Vale dar uma conferida, pois Escambanáutica é hoje, sem erro, a melhor revista do gênero em publicação no país. 

sábado, 16 de setembro de 2023

Relançamentos da Avec: Bile negra e Necrópolis

Receber relançamentos é sinal da vitalidade do ambiente editorial para a ficção de gênero que, em tempos menos favoráveis, raramente aconteciam. 

A editora Avec, de Porto Alegre, além de publicar diversos lançamentos de fc&f recentes de autores brasileiros, também recupera para os novos leitores diversos títulos de outras editoras que estavam fora de catálogo, como é o caso deste dois relançamentos em pré-venda, revisados pelos autores com novas capas e diagramação.

Com 144 páginas, Bile negra, de Oscar Nestarez, foi publicado em 2017 pela editora Empíreo e venceu o Prêmio ABERST na categoria Romance de horror. Diz o texto de divulgação: "Uma epidemia surge no âmago das pessoas – suas perturbações psicológicas – e avança devastando tudo pelo caminho. Na origem dos distúrbios, está a bile negra, ou mélas cholé, uma substância cujo excesso, segundo a teoria humoral de Hipócrates, causa a melancolia. Quando possuídas pela bile negra, as pessoas perdem o controle da própria mente e se tornam irreconhecíveis, perigosas até para quem amam. Em meio ao turbilhão, Vex, um jovem tradutor paulistano, luta para sobreviver nesta perturbadora história que se inicia na São Paulo contemporânea e parte rumo ao sul do Brasil". 

Necrópolis: A fronteira das almas, de Douglas MCT, foi originalmente publicado em 2010 pela Editora Draco. Trata-se do primeiro volume de uma série de quatro romances de fantasia sombria, sequências que a Avec também promete publicar. Diz o texto de divulgação: "Verne Vípero é um rapaz cético que confronta sua descrença ao descobrir a possibilidade de salvar e resgatar a alma do irmão. Com seus aliados – um monge renegado, um ladrão velocista, uma mercenária sanguinária e um homem-pássaro suspeito – vai atravessar um mundo de segredos e desafios, em uma jornada emocionante e macabra". A edição tem 268 páginas.

Para mais informações, clique nos títulos dos romances e visite suas páginas no saite da Avec.  


sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Resenha do Almanaque: Será, Ivan Hegenberg

Será, Ivan Hegenberg, 240 páginas. São Paulo: Ragnarok, 2007.

Primeiro romance de Ivan Hegenberg, escritor paulista formado em Artes Plásticas pela ECA-USP que, em 2005, teve publicada a coletânea A grande incógnita, pela Editora Annablume. Em Será, o autor envereda pelo fantástico e experimenta a ficção científica, inspirado em livros como 1984 de George Orwell, Admirável mundo novo, de Aldous Huxley, e Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, conforme evoca o texto da orelha do livro. Porém, a estrutura do romance é de coletânea, formada pelo encadeamento de narrativas independentes e não contínuas, situadas no mesmo universo. São elas:
“História do mundo”: Um homem desiludido com a vida dialoga com um robô sem emoções, enquanto viaja pelo tempo e pelo espaço através de um programa simulador. O conto contextualiza o ambiente de um futuro superpopuloso, controlado política e socialmente por programas de computador, no qual as pessoas aprenderam a dominar a telepatia, e a carência de água e comida é o problema principal.
“Água”: Membros de uma equipe de assassinos do estado, chamado Comando da Água, torturam e matam civis inocentes apenas porque eles são infelizes, como forma de reduzir a tensão social pela falta de água. Um deles, entretanto, depois de uma vida de assassinatos, decide dar baixa do pelotão.
“Dia qualquer”: Um homem virtual vive insipidamente num simulador. Obcecada por ele, uma mulher morre de inanição depois de passar vários dias ligadas ao computador.
“Passagem”: Uma menina de oito anos aprende como se comunicar por telepatia e passa por problemas com a mãe e com os celagas da escola ao tomar contato com suas almas. A professora, uma mulher madura e infeliz, torna-se sua principal vinculação emocional com a realidade.
“Zeitgeist”: O capítulo mais longo do romance. O maior telepata do mundo invade a mente das pessoas e constrói um mosaico insano da sociedade do futuro.
“O supremo esteta”: Grafado em corpo diferenciado, este conto simula uma propaganda de uma espécie de religião do futuro.
“Encanto”: Um homem cético fica com dúvidas sobre a validade de seu ceticismo depois de participar de um ritual místico religioso em que os participantes, que têm todo o tipo de implantes e reconstruções físicas, tomam um chá alucinógeno que induz ao êxtase.
“A aldeia dos índios Tympi”: Jovens intelectuais reúnem-se para um sarau poético. Suas poesias são compostas por computadores, a partir de suas próprias moléculas de sangue. Depois do sarau, um casal tem sua primeira experiência sexual num inferninho.
“Explorações”: Três narrativas se intercalam neste trecho, sendo uma sobre um diretor de cinema que tem problemas conjugais e está produzindo um filme pornô. O segundo é sobre a trágica viagem de um grupo de cientistas ao interior de uma célula e, na terceira, um solilóquio do maior filósofo do mundo concluindo alguma coisa insondável sobre existência de Deus.
“Festa do Último Grito”: Alguns dos personagens do livro se encontram em Praga, uma das poucas cidades do mundo que não é monitorada pelos computadores, para participar de uma cerimônia de suicídio coletivo. O evento é realizado durante uma noite e apenas uma vez ao ano.  Geralmente, metade dos participantes consegue morrer. Os restantes ou sobrevivem da tentativa ou desistem, embora seja perigoso mesmo assim: os habitantes da cidade atuam como assassinos, matando todos os que encontram pela frente. Ali estão, por exemplo, a menina precoce, o ex-assassino do Comando Água, o homem cético, e muitos outros apenas citados ao longo dos inúmeros segmentos narrativos. Para cada um deles, a Festa do Último Grito é o um apocalipse. Sobrevivendo, terão enfim esperança suficiente para recomeçar. 
“Epílogo: atração”: Um casal – visto no conto “A aldeia dos índios Tympi” – colhe argila num barranco enquanto discute sua relação.
Essa conclusão anti-climática, depois das emoções sangrentas do conto anterior, ilustra bem a imagem do livro todo: uma antologia de textos pós-modernos de temas bastante variados, com trechos de interesse intercalados com solilóquios que pouco contribuem com a narrativa. Os trechos filosóficos não são convincentes e mais contornam do que discutem os temas que sugerem.
Apesar da premissa base do universo de Será estabelecer que se trata de um mundo superpovoado com problemas de abastecimento gravíssimos, isso parece ter um significado quase desprezível na vidas das personagens, mais preocupadas com seus relacionamentos pessoais do que com água e comida. Tanto que, na maior parte do tempo, suas vidas parecem tão normais que soam desinteressantes.
Um pouco melhor é tratada a questão da telepatia, detalhe significativo nos primeiros contos que vai perdendo consistência ao longo do livro até ficar insignificante nos últimos.
Dessa forma, Hegenberg desperdiça dois dos principais temas que caracterizariam o seu mundo do futuro, contando histórias que ficariam melhores se ambientadas nos dias de hoje. Sem a devida consistência ambiental, a história se tornou presa fácil à incredulidade e ao desinteresse, agravados pela falta de um personagem principal com o qual o leitor se identifique. Nem mesmo as cenas de sexo explícito narradas em “Explorações” causam algum impacto.
Mas, quando tudo parece perdido, vem o melhor texto do livro, o capítulo intitulado “Festa do último grito”, com niilismo suficiente para levantar o interesse do leitor, embalando-o até as páginas finais do volume. Este conto, se descolado do livro, pode figurar com louvor em qualquer antologia literária e deixa claro que, bem orientado, Ivan Hegenberg tem talento suficiente para escrever obras de impacto e interesse.

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Lançamento: A declaração de Stella Maberly, F. Anstey

Andarilhos é o clube de assinaturas da Editora Andarilho, inaugurado em 2022 e dedicado à publicação mensal de livros de bolso de  ficção fantástica clássica e inédita, de autores consagrados e pouco conhecidos. 
Em setembro, a coleção apresenta a novela gótica A declaração de Stella Maberly (The statement of Stella Maberly), do escritor inglês Thomas Anstey Guthrie (1856-1934), ou F. Anstey como assinava seus textos geralmente de tom humorístico, o que torna esta novela, originamente publicada em 1896, um trabalho diferenciado em sua obra. 
Diz o texto da quarta capa: "Forçada a trabalhar como acompanhante de uma velha amiga, Stella Maberly sente que finalmente pode ser feliz longe de sua madastra. No entanto, sua vida logo toma um rumo sombrio quando um incidente inesperado a faz questionar a realidade." 
O livro tem 224 páginas e tradução de Gustavo Terranova Aversa. Junto ao volume, os assinantes receberam um bloco de anotações personalizado. 
Mais informações sobre as publicações do Clube Andarilhos no saite da editora, aqui.

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

O príncipe querido, Madame de Beaumont

A Sociedade das Relíquias Literárias é um projeto da Editora Wish que viabiliza a tradução e publicação em ebook de textos raros de ficção fantástica internacional, resgatando obras desconhecidas de autores em domínio público, quase sempre inéditas em português. Uma assinatura mensal dá ao apoiador o direito de um novo ebook a cada mês, entre outras recompensas aditivas. 
A relíquia de setembro é a novela O príncipe querido (Le prince chéri) da escritora francesa Jeanne-Marie Leprince de Beaumont, publicada originalmente em 1756. A autora é mais conhecida pelo clássico conto de fadas A bela e a fera
Diz o texto de apresentação: "Antes de morrer, um rei apaixonado por seu filho, faz um pedido à poderosa fada Cândida. O que ele não esperava era que seu filho fosse se tornar um jovem maldoso e que a amizade com a fada Cândida fosse se tornar uma punição. Órfão, o príncipe querido foi mimado por todos ao seu redor e precisará aprender, a duras penas, que uma boa ação nunca fica sem recompensa."
O volume tem 66 páginas e ocupa o número 42 da coleção. A tradução é de Bruno Matangrano. Além da novela, o volume traz a biografia da autora.
Para fazer parte da Sociedade, basta formalizar o apoio na página do projeto, aqui.

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Lançamento: O último dia do futuro

O último dia do futuro
é uma antologia de contos de ficção científica organizada por Lu Evans para o selo Nebula, publicado através da plataforma de autoedição da Amazon. 
Diz o prefácio da edição: "O futuro é sonhado pelos contadores de histórias em palavras ou por meio eletrônico, inúmeras variantes, com semelhanças e diferenças, com ideias e pensamentos milagrosos ou enganosos, e à medida que os exploradores os encontram, os seus números crescem, as suas imagens misturam-se e geram novas arquiteturas, sonhos e estranhezas. Borrões e semelhanças passam a distingui-los. Futuros esquecidos ou invisíveis que não existem ou não deveriam existir, ecos do passado e do presente reverberam em projeções sinistras e ainda não sabemos se nossos sonhos gerarão futuros ou se o futuro é aquele que…"
Trata-se de uma seleta internacional, com textos de autores brasileiros e romenos. São eles: Sergiu Somesan, Nikelen Witter, Alexandru Lamba, Ana Lucia Merege, Ana Rüsche, Miloș Dumbraci, Anamaria Kovács, Saulo Adami, Anamaria Borlan, Lu Evans, Bruno Anselmi Matangrano; Florin Purluca, Regina Drummond e Adrian Mielcioiu, com prefácio de Dan Popescu. 
Alguns contos são republicações mas boa parte do material é inédita. A tradução dos textos dos autores romenos é assinada pela própria organizadora. O volume tem 213 páginas e está disponível aqui, unicamente em formato digital para dispositivos Kindle. Nos primeiros dias, a antologia pode ser adquirida gratuitamente; então aproveite agora. 

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Caravela de O Tico-Tico, 1937

Um dos meus assuntos de interesse, como é possível perceber já no primeiro número do fanzine Hiperespaço publicado no longínquo ano de 1983, são os modelos de armar em papel. A internet hoje supre os modelistas em papel com vantagens, oferecendo praticamente tudo o que se pode esperar do hobby. Mas há poucos pesquisadores dedicados a recuperar os tesouros históricos da arte que repousam esquecidos diante dos milhares de projetos modernos em centenas de saites, blogues e plataformas pela rede mundial de computadores. Contudo, mesmo os mais detalhados projetos contemporâneos não têm a magia e romantismo dos modelos antigos. Ainda guardo boas lembranças dos modelos da revista Recreio, dos anos 1970, hoje absolutamente inacessíveis porque as revistas não foram preservadas, puma vez que os leitores as picotavam para montar os brinquedos (meus exemplares foram todos destruídos pela sanha montadora). Mas, muito antes da Recreio, foi o periódico O Tico-Tico que divulgou essa categoria de entretenimento por aqui. 
O Tico-Tico foi um suplemento de jornal dedicado aos leitores jovens, publicado semenalmente entre 1905 e 1961, que trazia conteúdo de teor educativo ricamente ilustrado, além de muitos quadrinhos e, é claro, modelos de armar. As páginas centrais das edições das últimas semanas de cada ano eram dedicadas a publicar detalhados presépios para armar mas, ao longo do ano, também apareciam modelos de outras categorias e, dentre eles, consegui resgatar esta bela (e enorme) caravela, publicada ao longo de dezesseis semanas do ano de 1937. 
A história desse material é bacana: há mais ou menos trinta anos, fui procurado pela Biblioteca Pública Nair Lacerda, da cidade de Santo André, no ABC paulista, que me ofereceu um lote de materiais antigos, entre jornais e revistas, que não eram possíveis de serem tombados pela instituição. Entre volumes em alemão de Perry Rhodan e Coyote, jazia uma coleção de mais de quatrocentos números de O Tico-Tico, dos anos 1930 e 1940.  Foi nesse material, que ainda estou pesquisando, que encontrei, entre outros modelos, esta bela caravela perfeitamente preservada (infelizmente, nenhum dos presépios sobreviveu).
Cada uma as dezesseis edições do suplemento tem as páginas centrais ocupadas por uma prancha do modelo no tamanho de uma folha de jornal. Escaneei cada uma e compartilho o modelo completo aqui, num arquivo pdf, com as imagens exatamente como estão, sem qualquer restauração. Contudo, elas foram reduzidas proporcionalmente em trinta por cento para permitir a impressão em folhas A4. Ainda assim, continua a ser um modelo grande. Não havia instruções de montagem, apenas observações pontuais espalhadas pelas pranchas e a ilustração do modelo pronto, como referência. Um quebra-cabeças legítimo, portanto.
Ainda não montei a minha caravela, mas um dia chego lá. Quem montar, por gentileza, me envie uma foto do modelo montado, pois estou muito curioso pelo resultado. 
Divirtam-se!

sábado, 9 de setembro de 2023

Resenha: A torre acima do véu, Roberta Spindler

A torre acima do véu
, Roberta Spindler. 272 páginas. São Paulo: Giz, 2014.

Aconteceu muito rápido e ninguém nunca soube de onde veio o miasma que cobriu todo o planeta em algum momento de um futuro não muito distante. Quem respirava a névoa morria em dolorosa agonia, pelos menos esse foi o destino daqueles que tiveram sorte. 
Os arranha-céus das cidades futuristas, com centenas de andares, proporcionaram a uns poucos a possibilidade de sobreviver nos níveis mais altos, acima da névoa venenosa. Ali, esses miseráveis fundaram uma nova sociedade dominada por leis draconianas, devido a escassez extrema recursos, especialmente de energia, comida e água. Abaixo da linha da névoa, a vida também mudou. Humanos e animais transformados em selvagens antropófagos chamados de sombras, eventualmente sobem as escadas para caçar os últimos seres humanos encurralados no topo dos edifícios. 
Nesse ambiente insalubre vivem Beca e Edu, filhos de Lion, cidadãos da comunidade de Nova Superfície, sobreviventes que habitam um conjunto de prédios cuja sede está localizada nos últimos andares da Torre, o mais alto edifício da antiga megalópole de Rio-Aires. Beca é uma mergulhadora, exploradora especializada que, fazendo uso de cabos e outros equipamentos de escalada, desce aos andares próximos à linha da névoa em busca de qualquer dispositivo remanescente da antiga tecnologia que possa ser reaproveitado. Enquanto Beca cumpre a parte braçal do processo, Edu, seu irmão mais novo, e Lion, seu pai, um mergulhador aposentado, ficam numa central de computadores monitoranto os movimentos de Beca e mantendo cosntante contato de rádio de forma a mantê-la viva durante a missão. A história inicia durante uma dessas incursões, na qual Beca procura por um tipo de bateria de energia infinita cuja localização lhe foi passada por Rato, um informante não muito confiável. A operação acaba comprometida por um conflito com outra equipe de mergulhadores, e Beca acredita que foi traída por Rato. 
Esse desentendimento inicial progride a um conflito mais sério quando Edu, ao participar de um mergulho, acaba despencando para dentro da névoa, onde desparece completamente. Tudo leva a crer que Edu morreu, mas Rato pensa que ele ainda vive em algum lugar na superfície. Desesperados para resgatar Edu, Beca e Lion convencem os governantes de Nova Superfície a organizar uma missão de resgate na região dominada pela névoa venenosa e pelos sanguinários mutantes. E a aventura vai revelar muito mais sobre o que está por trás da névoa, de onde ela veio e por quê, e o papel de cada um nesse drama mortal.
A torre acima do véu é um romance originalmente publicado em 2014, pela Giz Editorial, e é essa a edição tratada nesta resenha. A autora, Roberta Spindler, é paraense de Belém e publicou anteriormente o romance Contos de Meigan: A fúria dos cártagos, em parceria com a também paraense Oriana Comesanha, publicado em 2012 pela Editora Dracaena. Também teve publicado o romance Heróis de Novigrat (Suma, 2018), já resenhado aqui
Spindler tem um texto maduro e bem modelado, sem experimentalismos formais, seguindo a risca todos os protocolos da ficção de gênero numa mescla de fantasia, terror e ficção científica acessível aos leitores mais jovens para quem sua ficção é dirigida. Os personagens são estruturados com motivações bem calçadas, o que dá verossimilhança ao drama ainda que seja todo crivado de situações hiperbólicas incríveis. É justamente o bom desenvolvimento dos personagens que fleva o leitor a avançar, preocupado com o destino deles. 
A produção da Giz é caprichosa, com ótima revisão de Sandra Garcia Cortez e a expressiva ilustração de Rafael Victor que já bastou para capturar a minha atenção, numa das mais instigantes capas da ficção fantástica brasileira recente. 
Enquanto aguardamos a já anunciada continuação para A torre acima do véu, o romance acaba de ganhar nova edição pela Editora HarperCollins Brasil. Vale a leitura deste e dos demais trabalhos de Roberta Spindler, que tem progredido rapidamente no espaço editorial brasileiro. 

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Lançamento: Tétricos e metálicos, Cristina Pezel

Tétricos e metálicos
é a coletânea de contos da escritora Cristina Pezel. Trabalhando com literatura há dez anos, Pezel obteve reconhecimento ao ser premiada em 2020 com o Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica pelo conto de fantasia "Jeremejevite" (antologia Duentes, da Draco), bem como com o Prêmio União Brasileira de Escritores, em 2018, pelo seu romance O mundo de Quatuorian: Cheiro de tempestade (2017, Mundo Uno). 
Diz o texto de divulgação de Tétricos e metálicos: "A vida real, a tragédia e a loucura se misturam ao horror sobrenatural. Histórias de séculos atrás ou de tempos presentes, permeadas por interconexões discretas e com a presença de algum elemento metálico, desassossegam o leitor pela acidez e proximidade com a percepção da realidade."
O livro tem 144 páginas com dezoito contos de terror e mistério, faz parte da Coleção de Pesadelos, da Editora Avec, e está em pré-venda aqui.

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Quarenta anos no Hiperespaço 3: A saga continua

Prosseguindo com a comemoração aos quarenta anos do fanzine Hiperespaço, redisponibilizo o histórico terceiro número do fanzine de ficção científica patriarca deste blogue, publicado originalmente em 1984.
A edição tem dez páginas e traz artigos de José Carlos Neves sobre os efeitos especiais da hoje lendária ILM, empresa responsável pelos efeitos especiais da trilogia clássica da franquia Star wars, e sobre a construção de um modelo super-realista da famosa espaçonave da série de tv Battlestar Galactica. A capa traz uma ilustração de Cerito.
Hiperespaço 3 pode ser lido online aqui ou baixado gratuitamente aqui. Os números 1 e 2 também estão disponíveis.

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Resenha: Naquela época tínhamos um gato/Os saltitantes seres da Lua, Olyveira Daemon

Naquela época tínhamos um gato/Os saltitantes seres da Lua
, Olyveira Daemon. 216 páginas. São Paulo: edição de autor, 2023. Ebook.

Afinal, quem é Olyveira Daemon? 
Não há mistério. Trata-se da personalidade pós-lobotômica do ser fragmentário antigamente conhecido por Nelson de Oliveira, escritor mainstream, ou quase isso, que logrou ganhar o Prêmio Fundação Cultural da Bahia por sua primeira coletânea, Os saltitantes seres da Lua, publicada em 1997. E, como se não fosse suficiente, abiscoitou também o importante Prêmio Casas de Las Américas em 1998 pela coletânea Naquela época tínhamos um gato (escrita antes, publicada depois), ambas reunidas agora em uma única edição, "parcialmente revisada", como diz o próprio Olyveira na página de rosto da nova edição. 
Quando ganhei uma cópia deste livro, o autor mandou jogar fora as edições anteriores. Talvez as revisões não tenham sido tão parciais assim. De qualquer forma, foi uma ótima iniciativa recuperar essas duas publicações que estavam esgotadas e eram difíceis de encontrar. Embora eu me recorde de ter lido Naquela época tínhamos um gato por volta de dez anos atrás, todos os contos, de ambos os títulos, me pareceram tão fresquinhos como se tivessem sido escritos agorinha mesmo. 
Lembro que, na primeira leitura, já havia ali o indisfarçável experimentalismo com estilos de discurso e linguagem, que me causou mais estranhamento do que os enredos propriamente ditos. Desta vez, os experimentos estão ainda mais acentuados e levam o leitor desavisado ao quase desespero cognitivo. Sobrevivi porque já esperava por isso mas, mesmo assim, a leitura desta reedição é uma experiência estética incomum. 
Olyveira Daemon não dá trégua ao leitor. De um texto em que todas as letras "i" são substituídas por "y" e as "c" por "k", segue-se outro escrito em portunhol, e outro no qual os pontos finais são trocados por barras verticais, sinais de parágrafo (§) e outros grafismos, ou em que as letras "o" viram círculos pretos, ou certas palavras são substituídas por falsos cognatos muito marotos, ou os nomes dos personagens antecedem suas falas como em um roteiro de teatro, e assim por diante. Quanto mais avança a leitura, mais profundas as ousadias. 
Mas não só de experimentos de linguagem vive o heterônimo de Nelson de Oliveira. As histórias também são arrojadas, indo do realismo naturalista de "Éramos todos bandoleiros", e ">Os insetos , o silêncio", passando pelo absurdismo de "Kadáver kauteloso eskondido num baú" e "Encanador", pela fantasia de "A vysão vermelha de Vyctor, ao vento", pelo humor escrachado de "Qüiprocó na Sé", até pela ficção científica de "The body snatchers". Alguns são curtinhos, praticamente vinhetas de duas ou três páginas, outros são robustos, ocupando dezenas delas, formando uma seleta de trinta contos no total. Em alguns intervalos entre os contos, surgem comentários espirituosos do autor, chamados de "Notas-anedotas" que ajudam a contextualizar os textos quanto às propostas do autor. O volume é completado por um prefácio assinado pelo jornalista e também escritor André Cáceres.
A coletânea é empolgante quanto as perspectivas que propõe para a estética literária, especialmente com relação a ficção fantástica que tem na suspensão da descrença um fundamento considerado incontornável e que é extemamente vulnerável ao mais leve experimentalismo na linguagem. 
Olyveira Daemon prova que a fcf brasileira engatinha no que se refere a ousadia formal, mas temo que os autores do gênero talvez não comprem a ideia com facilidade. Um dia, quem sabe? 
Enquanto isso, festejamos o fato de existir um Olyveira Daemon para sacudir os protocolos embolorados da velha pulp fiction.

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Apoie Rosazul, de Roberto Fideli

Rosazul: Academia de magia para garotas
é um romance de fantasia, estreia do jovem escritor paulista Roberto Fideli, conhecido pelos contos que publicou, nos últimos anos, em revistas e antologias de ficção científica e fantasia, além de ebooks de contos independentes. E o autor têm a genética necessária para a tarefa, pois é filho dos também escritores Finisia Fideli e Roberto de Sousa Causo, ambos especialistas em ficção fantástica.
O livro está em campanha de financiamento direto no modo flexível, isto é, será publicado mesmo que não atinja a meta mínima. E os apoiadores podem confiar no recebimento dos volumes pois a casa publicadora é a prestigiosa Editora Avec, que tem sustentado um execelente catálogo na literatura de gênero produzida por autores brasileiros. 
Diz o texto de divulgação: "Desde criança, Ariadne quis ser tão famosa e poderosa quanto Agatta Aramante, fundadora da Academia Rosazul de Magia para Garotas e uma das bruxas mais poderosas de todos os tempos. Quando a carta de aceite chegou na modesta sapataria de seu pai, o maior sonho dela se tornou realidade. Porém, a Academia Rosazul, a melhor escola de magia do reino de Lemúria, é uma escola para garotas ricas, e mesmo sendo aceita como bolsista, Ariadne sabe que, uma vez lá, terá que enfrentar o desprezo de suas colegas. O que não ela espera encontrar, porém, é amor. E o amor em tempos de guerra pode ser uma coisa perigosa."
Mais informações e apoios ao projeto, com direito a diversas recompensas, na página da campanha, aqui.

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Criaturas em branco tem campanha

Criaturas em branco
é uma coletânea de contos de horror e oitavo título da escritora goianiense Larissa Prado, ganhadora do Prêmio ABERST de Artista Revelação em 2019. O livro está em campanha de captação de recursos para sua publicação, possivelmente ainda em 2023, pela editora Diário Macabro. 
Diz o texto de divulgação: "Monstros brancos e o horror sem cor. Aqui, você encontrará criaturas do desconhecido, como na maioria das histórias de horror cósmico escritas por H. P. Lovecraft, mas a aparência desses seres difere do que estamos habituados. Criaturas em branco revela monstruosidades incolores ou claras, que ofuscam e confundem a visão, representando assim o perigo de um conhecimento inacessível à cognição humana. É através da cor branca, e sua miríade de cores de luz, que mora o germe da loucura desses contos."
O projeto inicial propõe a publicação de um volume de aproximadamente duzentas páginas com um poema e dez contos da autora, e posfácio da pesquisadora Nathalia Sorgon Scotuzzi. 
Informações e apoios ao projeto, com direito a diversas recompensas, estão detalhados na página da campanha, aqui.

sábado, 2 de setembro de 2023

Resenha: De ferro e de sal, Simone Saueressig

De ferro e de sal
, Simone Saueressig. 608 páginas. Novo Hamburgo: edição de autor, 2018. Ebook.

Asanegra é um adolescente em idade de ser vendido, por isso seu pai o leva até o mercado central da cidade fortificada de Brutmir, onde poderá encontrar o comprador certo para encaminhar o filho a uma profissão respeitável e lucrativa. E esse comprador acaba sendo o ferreiro Daskos que não tem filhos homens e pressente que precisa passar suas habilidades a um aprendiz. 
Satisfeito com o dinheiro que irá saldar suas muitas dívidas, o homem deixa o filho com Daskos e volta para sua terra, na região rural do distrito. Asanegra também está animado, pois escapou de ser comprado por algum tarado, o que não é incomum nesse tipo de negócio. O que ele não imaginava é que Daskos na verdade não é um homem sem filhos. Ele tem uma filha, a rabujenta Orí, que sempre quis conhecer a Forja onde o pai trabalha mas nunca pode porque é tabu que mulheres entrem lá. 
A Forja é uma instituição importante para Brutmir, uma vez que é onde se fabricam as armas e as barreiras de defesa da cidade contra o ataque do povo élfico, inimigos figadais dos homens desde que estes lhes tomaram a Torre de Amálgama, edificação que fica no centro de Brutmir e é sagrada para os elfos, que juraram retomá-la. Todo o trabalho na Forja só é possível com a ajuda dos Servidores, demônios domesticados que fazem a função de fornalhas de bancada, aquecendo o metal para ser modelado pelos ferreiros. Acontece que os Servidores enlouquecem de desejo se sentirem o cheiro das mulheres humanas e, no gozo do prazer, acabam por matá-las numa explosão autodestrutiva. 
Desse modo, a vida de Asanegra na casa de Daskos torna-se um inferno com as provocações e maldades de Orí, enciumada pelo privilégio do garoto em entrar na Forja e por ele ter a atenção do pai que, até então, só a ela pertencia.
Em outra parte da cidade, vive o estranho Sivo, homem poderoso e cheio de mistérios, chamado por todos de o Homem Santo. Sivo não é uma boa pessoa, pois está até o pescoço de ódio e ressentimento, e seu único desejo é destruir Brutmir e tudo o que ela representa. Para isso, vem articulando um plano de longo prazo, com detalhes que precisaram ser definidos com o cuidado de um relojoeiro. E a hora de colocar a máquina em funcionamento se aproxima pois, em breve, haverá uma conjunção rara de planetas que vai abrir caminho para o ataque definitivo dos elfos, algo em que ninguém em Brutmir acredita, pois os elfos estão distantes há muito tempo. Sivo se aproveita dessa situação para enfraquecer as defesas da cidade muralhada, bem como o seu exército que está decadente pelo ócio e pela corrupção. 
Este é, basicamente, o enredo de De ferro e de sal, romance de alta fantasia da escritora gaúcha Simone Sauressig, que o publicou em 2018 com recursos próprios através da plataforma de autoedição da Amazon. 
Trata-se de um texto longo, com mais de cem mil palavras e muita ação, especialmente em sua metade final, uma vez que a primeira metade do livro é dedicada a apresentar os muitos personagens, todos bem construídos, e a cidade murada de Brutmir, personagem principal da trama.
Alta fantasia não é uma novidade na produção da autora, que já apresentou outras obras no gênero, como a saga Os sóis da América (2013), o romance O jogo no tabuleiro (2009) e a duologia A noite da grande magia branca (1993)/A fotaleza de cristal (1988). A diferença que salta aos olhos para quem já conhece a ficção de Saueressig é o tom violento e cruel desta dramatização. Não que seus trabalhos anteriores não tivessem situações tensas e incômodas, inclusive isso foi bastante utilizado pela autora no romance de ficção científica B9 (2010) e em suas histórias curtas de horror, nas quais cenas sangrentas não são incomuns. Até mesmo a morte de personagens importantes nas tramas também está presente em obras anteriores. Porém, em De ferro e de sal, esse tom está definitivamente emaranhado à história, configurando um estilo diferenciado diante das peças acima citadas, como se Saueressig estivesse deliberadamente conduzindo sua ficção para um público mais maduro do que aquele ao qual foram dirigidos os trabalhos anteriores. Isso, somado ao curioso formato humorístico de sua coletânea mais recente, A noite dos insensatos (2023), demonstra o desejo de Saueressig em encontrar novos públicos e escapar do paradigma de autora de ficção juvenil. De ferro e de sal é certamente o ponto alto dessa estratégia e confima, mais uma vez, o estatus de Simone Saueressig  como um dos melhores autores de alta fantasia no Brasil.

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Resenha: Novela

Novela
é uma série brasileira de fantasia e humor que estreou em 2023 na plataforma de streaming Amazon Prime. Foi criada e escrita por Valentina Castello Branco e Gabriel Esteves, com direção de Renata Pinheiro e Gigi Soares, e produção do Porta dos Fundos. 
Esta primeira temporada tem oito episódios e o elenco conta com nomes conhecidos da televisão, como Monica Iozzi, Miguel Falabela, Tarcísio Filho, Caio Menk, Herson Capri, Suzy Rego, Marcello Antony, Maria Bopp, entre outros, muitos deles interpretando dois ou até três papéis.
Claramente inspirada em Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, Novela conta a história da roteirista iniciante Isabel (Monica Iozzi) que, no evento de estréia de sua primeira novela, Rebote do destino, descobre que seus créditos foram usurpados por seu mentor, o novelista decadente Lauro Valente (Miguel Falabela). Aturdida, Isabel vaga pelo estúdio e é sugada por um monitor, indo parar justamente no primeiro capítulo que acabava de ir ao ar. E o que é visto pelo público na televisão não é o que foi gravado pelo elenco, mas sim uma história metalinguística totalmente divergente, na qual a presença de Isabel subverte o enredo e transforma a vida de Lauro e do elenco da novela numa montanha russa imprevisível. 
Ao longo dos primeiros capítulos, Isabel conclui que o único modo de escapar da loucura na qual mergulhou é forçando o desfecho recorrente das histórias de Lauro Valente, fazendo a mocinha (ela mesma) e o galã se casarem pois, com o fim da história, acredita que voltará automaticamente para a realidade. 
Mas as interferências de Isabel fizeram a novela bater recordes de audiência e, pressionado pela direção da emissora e pelos anunciantes, Lauro terá que sustentar a farsa e esticar a novela, sem ter a menor ideia do que pode acontecer quando o próximo capítulo for ao ar. 
A série trabalha com muitas situações de bastidores da teledramaturgia, além de homenagear várias novelas e brincar com os cacoetes desse tipo de produção, com figurinos bizarros, situações esterotipadas e muito nonsense, como quando entram os intervalos comerciais e tudo se congela, exceto a própria Isabel. 
Novela vem somar um conjunto de boas ideias às séries brasileiras, um novo tipo de produto televisivo que tem investido em histórias fantásticas como Cidades invisíveis, Espectros, 3% e Vale dos esquecidos, e pode contribuir decisivamente para renovar o modelo tradicional das novelas da televisão brasileira.