quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O retrato de Dorian Gray

Não é segredo para ninguém que o que tem sustentado o mercado de quadrinhos no Brasil são adaptações da literatura canônica. Dezenas de títulos foram publicados por diversas editoras, cada uma delas tentando abocanhar uma fatia da verba pública que sustenta esse nicho, uma vez que o Estado é o principal comprador de quadrinhos atualmente.
Mas nem aí os autores brasileiros têm vida fácil, pois começam a desembarcar por aqui trabalhos estrangeiros com adaptações de textos da literatura mundial, como é o caso de O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, ilustrado por Stanislas Gros, traduzido pelo selo Quadrinhos na Cia da Companhia das Letras.
A obra adapta para a arte sequencial o clássico romance de horror no qual um belo jovem vive desregradamente enquanto um quadro pintado com a sua fisionomia envelhece em seu lugar.
O romance, originalmente publicado em 1891, é o único escrito por Wilde e escandalizou a sociedade vitoriana à época.
O álbum tem 72 páginas coloridas e um trecho pode ser lido aqui.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Asterios Polyp

David Mazzucchelli tem uma história interessante. Como a maior parte dos desenhistas de quadrinhos americanos de sucesso, ele iniciou sua carreira produzindo histórias de super-heróis. Passou pela Marvel, onde ilustrou uma das melhores fases do Daredevil, em parceria com Frank Miller. Depois foi para a concorrente, DC, e lá ilustrou uma das mais respeitadas histórias da mitologia do vigilante de Gothan City, Batman Ano Um, publicada em 1987. Já dava para perceber que alguma coisa estava acontecendo com Mazzucchelli, que se distanciava cada vez mais dos estereótipos dos super heróis, focando personagens coadjuvantes e um Batman ainda sem uniforme.
Então, para a surpresa de todos, Mazzucchelli afastou-se da Meca dos quadrinhos, exatamente quando seu nome já estava entre os grandes ilustradores americanos.
Mas Mazzucchelli não abandonou os quadrinhos, apenas mudou o modo com que queria se relacionar com a arte, passando a investir em seus projetos pessoais, como a revista Rubber Blanket. Anos depois, em 2004, apareceria quase irreconhecível aos seus fãs, na excelente adaptação do romance de Paul Auster Cidade de vidro (City of glass), publicada no Brasil em 1998 pela editora Via Lettera. Mazzuccelli estava muito diferente. Seu desenho era mais livre, quase um cartum, e a história delirante de Auster deixava tudo ainda mais estranho aos leitores.
Desde então, não tivemos mais contato com David Mazzucchelli. Até agora.
Acaba de sair, pelo selo Quadrinhos na Cia, da Companhia das Letras, o álbum Asterios Polyp, um livro de 344 páginas que pode ser classificado como quadrinho-design, devido ao surpreendente trabalho gráfico que Mazzucchelli imprimiu à obra, com cores improváveis e muito experimentalismo gráfico.
Conta a história de um arquiteto excêntrico que entra em crise existencial depois que sua casa é destruída por um incêndio. Confuso, ele parte para uma viagem pelos EUA, onde vai se deparar com uma realidade que não conhecia. A narrativa também é incomum, sendo que o narrador da história é o irmão gêmeo de Asterios que, veja só, morreu antes de nascer.
O tradutor Daniel Pellizzari fez milagres na versão da obra para o português, repleta de termos intraduzíveis. O resultado é uma história aberta, tão rica em interpretações quanto em sua estética pós-tudo.
Publicada originalmente em 2009 pela Pantheon Books, Asterios Polyp ganhou o prêmio Los Angeles Times Book Prize Graphic Novel e recebeu quatro indicações para o Prêmio Eisner, ganhando nas categorias Melhor Álbum Novo, Melhor Autor/Ilustrador e Melhor Letrista. Também ganhou três categorias do Prêmio Harvey 2010.
Uma amostra do trabalho pode ser vista no saite da Companhia das Letras, aqui. Um excelente investimento para o décimo-terceiro.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

QI 112

Quadrinhos Independentes, fanzine editado por Edgard Guimarães, completa mais um ano de edição regular e ininterrupta. A edição 112 segue no formato e conteúdo tradicionais, com as seções fixas "Mistérios do colecionismo", na qual o editor comenta as curiosidades editoriais dos quadrinhos, "Memória do Fanzine Brasileiro", com um depoimento do editor Wallace Vianna, "Fórum", com as cartas dos leitores, e "Edições Independentes", com um levantamento das publicações alternativas do bimestre.
Também publica quadrinhos e ilustrações de Luiz Claudio Lopes Faria, Anjos, Bira, Expedicto Figueiredo, Beto e do próprio editor, além de um poema de Cássio Aquino e o primeiro de uma série de artigos de Carlos Gonçalves sobre Tintin em Portugal. Encarta ainda a cédula de votação para o 28º Prêmio Angelo Agostini. A capa é ilustrada por um trabalho de Guimarães.
Sendo esta a última edição do ano, é justamente a hora para o leitor interessado fazer ou renovar sua assinatura, único meio pelo qual o fanzine é distribuído. Para assinar, informe-se pelo email edgard@ita.br.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

É Natal!

Naquela noite bendita, a criança nasceu.
Imediatamente, toda a criação soube, os anjos cantaram e as estrelas fulguraram ainda mais. A natureza rejubilou-se porque algo maravilhoso aconteceu.
Pela infinita Graça de Deus, o Rei veio ao mundo.
Vivamos esse tempo. Alegremo-nos. O Nosso Senhor chegou e estará conosco para sempre.
Tenham todos um Feliz Natal!
Amém.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Selvagens Cadáveres de Guerra

Antes de encerrar 2011, surge mais um ebook de terror.
Os Selvagens Cães Cadáveres de Guerra é uma antologia com sete contos organizada por Rochett Tavares (autor do romance Anakagawea, também publicado em 2011).
A ídeia foi misturar elementos das histórias de guerra, especialmente aquelas acontecidas durante a Segunda Guerra Mundial, com histórias de terror sobrenatural. Algo como o divertidíssimo filme Dead Snow, que comentei há algum tempo aqui.
Diz o editorial: "Experimentos ocorridos em laboratórios cuja localização, ainda neste século, permanece envolta na bruma das lendas; Combates sangrentos e o horror vivenciado por homens simples que empunharam suas armas movidos à fleuma de ideais utilizados por seus líderes apenas para manipulá-los e fazer deles a massa através da qual conquistariam seus torpes objetivos. Imaginem se tais pesquisas, a busca pela arma definitiva, de fato houvesse saído ao controle e gerado horrores inomináveis! Imaginem se o “soldado perfeito” houvesse sido um retumbante fracasso, voltando-se contra seus mestres!"
Além do próprio organizador, estão presentes na antologia os escritores Alastair Dias, Celly Monteiro, Marcelo Augusto Claro, Eric Musashi, Monica Krupp e C. R. Gondim.
O volume foi publicado através do Projeto Livro Grátis e pode ser baixado aqui.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Somnium blogando

Nos anos 1980, quando o escuridão cobria o Brasil, o boletim do Clube de Leitores de Ficção Científica, o Somnium, manteve acesa a pequena tocha que insistia iluminar a produção de FC nacional. Junto a ele, outros fanzines surgiram e, ao longo dos anos 1990, construíram o gérmen do fandom brasileiro que hoje conhecemos. Nos anos 2000, os fanzines perderam sua importância e, um a um, foram desaparecendo. O Hiperespaço, por exemplo, foi cancelado em 2004, e o Somnium teve sua última edição, de número 100, publicada em setembro de 2007. O CLFC até tentou virtualizá-lo, mas apenas uma única edição foi publicada, em 2008, cuja capa ilustra este post. Até o saite do Clube entrou em recesso, depois de várias encarnações sem expressão.
Hoje, com uma nova e animada diretoria, o Somnium renasce de cinzas. O CLFC acaba de anunciar a reestreia do boletim agora na forma de um blogue, editado por Daniel Borba e Fábio San Juan.
Nesta primeira investida, o boletim apresenta algumas resenhas, contos de Cesar Alcazar, Álvaro Domingues e Duda Falcão, e um longo artigo de Marcello Simão Branco contando a história do CLFC.
É acanhado, se comparado a outras iniciativas que rolam na internet, ainda mais quando lembramos a importância que o Somnium teve para a FC brasileira. Mas, depois de tantos anos inativo, é um avanço que merece minhas congratulações.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Juvenatrix 132

Está disponível aos interessados a nova edição do periódico de horror e ficção científica Juvenatrix, um dos últimos sobreviventes do era de ouro dos fanzines no Brasil.
Editado por Renato Rosatti, este número entrevista o cineasta independente Joel Caetano, publica contos de Dalila Rocha Sousa e Rita Maria Felix da Silva, e resenhas os filmes Os monstros da noite (1966), O último mundo dos canibais (1977) e Planeta dos macacos: A origem (2011), além de divulgar produções alternativas e bandas de Metal extremo. A capa traz uma ilustração de Rafael Tavares.
Para solicitar uma cópia em formato PDF, envie um e-mail para renatorosatti@yahoo.com.br

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Green death: Ecoterrorismo licantrópico

Mais um título chega para rechear as noites insones dos fãs de histórias de terror. Trata-se Green death: Ecoterrorismo licantrópico, Volume zero, antologia virtual com contos sobre lobisomens, organizada pelo escritor Alfer Medeiros.
O volume traz textos de Alastair Dias, Amanda Reznor, Carolina Mancini, Celly Monteiro, Diego Alves, Gerson Balione, Iam Godoy, Marcelo Claro, Mariana Albuquerque, Rosana Raven, Susy Ramone e Tânia Souza, além de uma galeria de ilustrações em cores.
A antologia faz parte de um projeto que engloba o livro Fúria Lupina, de autoria de Medeiros, e a ideia é que se usem as histórias do livro como sugestão de aventuras passadas no Brasil para serem adaptadas em jogos de representação.
Diz o organizador na apresentação do volume: "Green Death faz parte do universo da série Fúria Lupina, onde lobisomens vivem e atuam em um contexto histórico/cultural real. Assim como na nossa realidade, os lobisomens são tidos como um mito. Isso quer dizer que é da preferência dos homens lobo que as coisas permaneçam assim, ou seja, as ações do grupo são planejadas de modo a não deixar pistas da existência de tais seres. Aparições em público dos licantropos são evitadas a todo custo".
O livro é gratuito e pode ser baixado aqui.

O jogo no tabuleiro sai do papel

A escritora gaúcha Simone Saueressig mandou-me esta notícia curiosa, sobre uma inesperada repercussão de seu romance O jogo no tabuleiro, publicado em 2010 pelo Clube dos Autores:
"Fui a uma costumeira visita a escolas, pensando que seria um dia como outro. Mas tive uma surpresa muito legal, que queria compartilhar contigo: uma das turmas de oitava série baixou da rede o primeiro volume de O jogo no tabuleiro e o trabalhou em sala de aula! As fotos anexas são do grande tabuleiro que os alunos criaram".
Pois aqui estão as fotos. A garotada realmente se empolgou com o romance, que é mesmo muito bom.
Para quem leu, a aranha amarela é de arrepiar. Senti falta do grande dragão, mas é porque ele está está aqui no meu próprio tabuleiro.
Parabéns Simone.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Páginas do futuro

E para não deixar pedra sobre pedra, Braulio Tavares ainda guardava mais uma carta na manga. Acaba de ser anunciado o lançamento da antologia Páginas do futuro, organizado por Tavares com doze contos de literatura fantástica escritos por autores brasileiros escolhidos dentro do cânone nacional, como atestam alguns do nomes selecionados: Rachel de Queiroz, Rubem Fonseca e Joaquim Manuel de Macedo, entre outros.
Diz o relise: "Nesta edição estão representadas épocas sucessivas do conto de ficção científica, passando por narrativas épicas, fantásticas e aventurosas que incluem histórias de seres sobrenaturais, deuses, monstros, artefatos mágicos, cidades encantadas, excursões a outros mundos, mitos de criação do mundo e dos seres. Uma literatura na tênue fronteira entre o real e o imaginário, indo dos romances científicos até a literatura pulp, passando pela especulação filosófica e pela projeção dos avanços científicos de criogenia, robótica e informática".
O livro tem 152 páginas e é uma publicação da editora Casa da Palavra.

Amor e sexo

O escritor e jornalista paraibano Braulio Tavares investiu, um dia, em uma carreira de autor. Publicou duas coletâneas (A espinha dorsal da memória, 1989, e Mundo fantasmo, 1986) e um romance (A máquina voadora, 1994), todos de excelente qualidade literária. Porém, o que deu certo mesmo foram as antologias. Há alguns anos, Tavares mantém boa regularidade editorial organizando antologias de literatura fantástica que foram muito bem recebidas pelo mercado. Títulos como Páginas de sombra: Contos fantásticos brasileiros (2003); Contos fantásticos no labirinto de Borges (2005); Freud e o estranho: Contos fantásticos do inconsciente (2007) e Contos obscuros de Edgar Allan Poe (2010), todas publicadas pela editora Casa da Palavra.
Agora, Tavares está lançando, pela Imã Editoral, a antologia Contos fantásticos: Amor e sexo, reunindo textos de ficção científica de Samuel R. Delany, Robert Silverberg, John Crowley, Ruth Rendell, Greg Egan, Fausto Cunha, Honoré de Balzac, Conan Doyle, William A. Lee e Edgar Allan Poe. Sem dúvida um grupo seletíssimo, com alguns autores pouco publicados no Brasil.
Diz o relise: "Escritores do século 18 ao 20, entre clássicos e renovadores da Ficção Científica, criam contos em que o amor e o sexo vencem os limites do tempo e da morte e onde máquinas estendem para além do imaginável as paixões e os prazeres".
O livro tem 230 páginas e uma amostra pode ser vista aqui.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Antes das grafic novels

Em 1974, surgiu na França uma publicação que abalou o cânone das histórias em quadrinhos. Era a revista Metal Hurlant, publicação da Les Humanoides Associés, editora formada pela união dos quadrinhistas Jean Giraud (Mœbius), Philippe Druillet e o escritor Jean-Pierre Dionnet, que apresentaram uma nova e perturbadora forma de ver a arte sequencial, investindo em temas como a ficção científica, a fantasia e o absurdismo, com muita violência, sexo e bizarrias.
Três anos depois, surgiria a sua versão americana, Heavy Metal, editada pela National Lampoon, que, além de traduzir algumas das histórias da matriz europeia, apresentava artistas americanos na mesma linha editorial. O impacto combinado dessas duas publicações na arte mundial foi avassalador e, ainda hoje, décadas depois do cancelamento de ambas, a influência se faz sentir.
As grandes editoras americanas reagiram a isso de formas diferenciadas, mas a Marvel Comics, que tinha sua grade editorial dominada por séries de aventuras para adolescentes, principalmente com super-heróis, investiu na publicação de uma revista similar a Heavy Metal, chamada Epic Illustrated, lançada em 1980. Nela, os artistas da casa tinham liberdade para criar narrativas exóticas e mais apimentadas daquelas que predominavam nas revistas de linha. Uma das histórias publicadas ali foi "Metamorphosis odyssey", de autoria de Jim Starling, tradicional criador de super-heróis. Seus trabalhos principais na Marvel haviam sido, até então, as primeiras histórias de Shang Shi e o épico de fantasia espacial do Capitão Mar-Vell, conhecido como "A saga de Thanos".
"Metamorphosys" conta a história de Vanth Dreadstar, um drama de space opera na mesma linha de Mar-Vell. A arte algo histérica de Starling tornou-se uma chancela da Epic, ilustrada com pinturas de cores vivas que ficam mais berrantes com o passar da história, uma assinatura lisérgica que predomina nos quadrinhos dos anos 1980.
As histórias de Dreadstar tiveram sequência na revista Epic Marvel, que chegou ao Brasil ainda nos anos 1980 publicada pela editora Abril. Contudo, o material publicado pela Epic Illustrated em suas 36 edições – a revista foi cancelada em 1986 – continuava inédito no Brasil até que, há algumas semanas, a Devir Editorial publicou, num único volume, a história completa de "Metamorphosys odyssey" sob o título de Dreadstar: A odisseia da metamorfose.
Diz o relise: "Durante milênios, os Orsirosianos foram a raça mais avançada da Via Láctea, além de terem sido os ancestrais de toda a vida humanóide da galáxia. Sua supremacia, entretanto, chegou ao fim com o surgimento dos Zygoteanos, uma raça impiedosa que parece querer conquistar e destruir todo o Universo… Aknaton, um místico imortal Orsirosiano, deve colocar em prática um plano devastador que dará fim à ameaça desses invasores e trará consequências cataclísmicas! No entanto, para que esse estratagema se concretize, ele deverá reunir um grupo de pessoas especiais. Entre elas está Vanth Dreadstar, um guerreiro implacável e astuto de enorme poder".
Dreadstar: A odisseia da metamorfose tem 128 páginas coloridas e custa R$53,00.

Barba Negra e o novo quadrinho

A editora Barba Negra, que se tornou o selo de quadrinhos da Editora Leya, distribuiu recentemente às livrarias algumas das mais perturbadoras histórias de uma novíssima geração de autores internacionais que, cada vez mais, distanciam-se das aventuras de ação que sempre caracterizaram a arte, enveredando por dramas mais realistas e existenciais.
Koko Be Good é o trabalho de estreia da ilustradora americana Jen Wang, publicado originalmente em 2010, com uma personagem anteriormente vista na internet. Sucesso no seu país de origem, conta a história de um casal de jovens tentando organizar suas vidas em Los Angeles, entre encontros e desencontros, confusões e um pouquinho de romance. O desenho é bastante movimentado, com uma colorização diferenciada em tons neutros. Apresentado na forma de um livro, tem 304 páginas e custa R$29,90.
Lucille, do francês Ludovic Debeurme é uma grafic novel de 544 páginas que também conta a história de um casal de jovens adolescentes, estes de uma aldeia no litoral da França, que fogem juntos para uma aventura pela Europa, em busca de suas próprias identidades. A narrativa ágil e repleta de flashbacks é ilustrada com desenhos simples, lineares e sem requadros. Lançado originalmente em 2006, o trabalho foi vencedor dos prêmios René Goscinny e da La Nouvelle Republique, além de ter sido destaque no Festival de Angoulême. A edição brasileira custa R$54,90.
Mas ainda há algum espaço para a fantasia. Pequeno Pirata (Roi Rose), do francês David B., é baseado num conto de Pierre Mac Orlan e soa como uma mistura de O livro do cemitério e Piratas do Caribe. Com um belo trabalho de arte visual totalmente em cores, conta a história de um bebê que é adotado pelos fantasmas do amaldiçoado navio Holandês Voador. Originalmente publicado em 2009, foi indicado ao Eisner Awards 2011. O álbum tem 48 páginas e custa R$29,90.
Ótimas opções para presentear neste Natal.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O rebuliço apaixonante dos fanzines

Tudo começou timidamente em 1965, quando Edson Rontani publicou em Piracicaba o boletim Ficção. Mas só partir do final dos anos 1970 começaram a girar no Brasil as engrenagens de um movimento que iria explodir nos anos 1980: a publicação de fanzines.
A mania ganhou força quando o movimento punk desembarcou por aqui, e com a popularização das copiadoras eletrostáticas que facilitaram a produção, surgiram fanzines por todos os lados.
Em 1990, Henrique Magalhães foi o primeiro acadêmico a perceber o significado sociológico dos fanzines, e elaborou um estudo sobre eles em sua dissertação de Mestrado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
Em 1993, parte desse trabalho foi publicado no livro O que é fanzine, na Coleção Primeiros Passos da editora Brasiliense. Dez anos depois, Magalhães publicou ele mesmo, pela editora alternativa Marca de Fantasia em parceria com a Editora Universitária da UFPB, a versão integral dessa dissertação, com o título de O rebuliço apaixonante dos fanzines.
Com ambas edições esgotadas, o estudo volta a estar disponível em forma de ebook. O rebuliço apaixonante dos fanzines agora é o número 27 da Série Quiosque da Editora Marca de Fantasia, com duas grandes vantagens sobre as edições anteriores: ferramentas de navegação e ilustrações coloridas.
Diz o relise: "Além da história dos fanzines, que Henrique descreve em seus vários momentos de esplendor e crise, até a incansável busca de perspectivas e saídas para a produção, o livro traz uma introdução que dá um referencial teórico à pesquisa, com a definição de imprensa alternativa".
O rebuliço apaixonante dos fanzines tem 165 páginas e custa apenas R$5,00.
Uma amostra do livro pode ser vista aqui.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Mundo monstro

Lançado no final de novembro, Mundo monstro: O estranho caso do vampiro assassino é uma divertida história de fantasia que usa de humor para falar a leitores de todas as idades sobre os mais diversos mitos da cultura brasileira. Seu autor é o escritor Gian Danton, conhecido como um dos melhores roteiristas brasileiros de quadrinhos, já premiado com o HQ Mix e o Angelo Agostini. O trabalho foi publicado em foma de ebook pela Editora Infinitum, que tem oferecido títulos muito interessantes em seu catálogo.
Diz o relise: "Numa cidade perdida, humanos e monstros convivem pacificamente. Mapinguaris conversam com duendes, canibais são garçons, dragões trabalham em restaurantes e a fênix faz um show de exibicionismo. Mas esse equilíbrio pode ser quebrado a qualquer momento por um assassinato. Para impedir que isso aconteça, um detetive lobisomem e seu pupilo devem desvendar esse mistério".
O desenho da capa de Mundo monstro é do excelente ilustrador curitibano Antônio Eder, e uma pequena amostra pode ser apreciada aqui.
Apesar das brincadeiras do relise, não é segredo que Gian Danton é pseudônimo de Ivan Carlo Andrade de Oliveira, que atualmente é professor da Universidade Federal do Amapá. O selo Hiperespaço já publicou dois livros de sua autoria: Spaceballs (Coleção Fantástica volume 6, 2000) e O anjo da morte (2002), além de diversos contos na fase em que o 'Hiper' foi um fanzine de papel.
Ivan Carlo mantém os blogues Idéias do Jeca Tatu, e Exploradores do Desconhecido, já comentado aqui.

Um cartum

Não costumo publicar muitos dos meus trabalhos neste blogue, sempre prefiro priorizar à divulgação de livros e revistas. Mas não dava para deixar passar este.
Depois das notícias da queda de mais um ministro do governo federal, decidi publicar este cartum, feito por encomenda para uma revista e que acabou não sendo publicado. Isso já faz uns dois meses, mas o cartum ainda não perdeu a atualidade. E, pelo jeito, não perderá por um bom tempo.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Ação Magazine 1

Divulgada na internet em janeiro de 2011 e lançada em julho, no 14º Festival do Japão, finalmente chegou às bancas de São Paulo a revista Ação Magazine, da Editora Lancaster.
Anunciada como efusividade no ambiente dos fãs, principalmente através da internet, a editora prometia implementar no Brasil o mesmo sistema editorial usado no Japão, que investe na publicação de semanários volumosos, com vários seriados em cada edição e ampla relação com os leitores.
A edição 1 é ousada, com 160 páginas, muitas das quais em cores e papel especial. O conteúdo é de boa qualidade, com três histórias de 45 páginas cada, todas muito bem feitas. "Madenka", aventura de fantasia com toques de mitologia brasileira, é desenhada e escrita por Will Walbr; "Jairo", com histórias sobre lutas, tem roteiros de Michele Lys e Renato Csar, e desenhos de Altair Messias; e "Tunado", de Maurílio DNA e Victor Strang, trata do mundo dos carros envenenados. Especialmente esta última é de uma originalidade bem vinda, com os desenhos caprichados de automóveis que podem ser reconhecidos pelos brasileiros. A revista ainda publica artigos curtos sobre games, literatura, internet e tecnologia. O preço de capa é R$9,99.
Antologias de quadrinhos não são uma novidade por aqui. Revistas como a Vertigo, da Editora Panini, por exemplo, fazem isso há algum tempo. Nem mesmo com "mangaijim" a ideia é nova, uma vez que, em 1999, a Editora Escala distribuiu uma publicação similar, a Manga X, com ótimas histórias de veteranos na arte dos quadrinhos, cancelada na terceira edição.
Ao que tudo indica, o projeto da Ação Magazine não decolou como se pretendia. Afinal, um periódico lançado em agosto não pode demorar quatro meses para chegar às bancas de São Paulo. Mas isso era previsível. Produzir uma revista dessas a cada mês é, por si, um desafio hercúleo para o desanimado mercado brasileiro de quadrinhos; períodos tão estreitos quanto os praticados no Japão são impraticáveis aqui.
É bom lembrar que o Japão está fazendo isso há décadas e o modelo está sedimentado no imaginário popular japonês. Além disso, os artistas japoneses sabem que, se o sucesso vier, ganharão muito dinheiro com a produção de animes, brinquedos e jogos eletrônicos, algo que aqui não tem muita chance de acontecer.
Difícil elaborar um diagnóstico dessa aventura editorial, mas está claro que, sem um capital avantajado à mão, não dá para fazer funcionar o modelo japonês por aqui. Seriam necessárias tantas correções e adaptações que, no final das contas, o resultado seria completamente diferente. Talvez uma revista menor e mais barata, com histórias mais curtas e mais variedade, mas realmente não dá para ter certeza de nada.
A editora Lancaster anunciou em seu twitter o lançamento da segunda edição em 30 de novembro, na cidade do Rio de Janeiro. Também lamentou problemas enfrentados com a distribuição: é o Custo Brasil, que derruba qualquer planejamento, por melhor que ele seja.
De qualquer forma, vale a pena conferir a edição 1 que está nas bancas e dar uma olhada também no número zero, disponibilizado virtualmente aqui.

Resenha: Curtas e escabrosas

A ideia básica de uma antologia é a compilação de trabalhos previamente publicados, uma seleta de obras que se destacaram dentro de um segmento ou um tema. Quando as peças são de um mesmo autor, chamamos de coletânea.
No Brasil, tanto nas antologias como nas coletâneas predomina o material inédito. Isso porque faltam os periódicos nos quais os autores brasileiros se exercitem. Nos quadrinhos não é diferente, mas não foi sempre assim. Num passado recente, havia várias publicações nas bancas que traziam histórias de autores variados, como Animal, Canalha, Circo, Chiclete com Banana, Lúcifer, Porrada, Pau Brasil, Metal Pesado etc. Essa prática editorial garantiu o desenvolvimento de uma geração talentosa de artistas, entre os quais se destacou o  André Toral que, em setembro último, lançou uma legítima coletânea, o álbum Curtas & Escabrosas, comentado aqui.
Trata-se da reunião de boa parte da produção curta de Toral: 23 histórias, que têm de duas a cinco páginas cada, muitas publicadas originalmente na revista Brasileiros.
São narrativas independentes com personagens diversos, todos brasileiros, passadas desde o descobrimento até os dias atuais. Contudo, dois personagens são recorrentes: Paulão, um motoqueiro que nunca tira o capacete, e o Carrasco da Moóca, um ex-boxeador que trabalha como leão de chácara em boates.
A maior parte das histórias é pintada com uma elegante técnica de aquarela — uma das paixões de Toral — enquanto outras são em preto em branco, da fase em que o artista desafiou-se a fazer quadrinhos "normais". Ainda bem que ele nunca conseguiu. As histórias de Toral têm o DNA dos grandes contistas: são poderosas, agudas e fazem um estrago enorme. O título do álbum é absolutamente perfeito.
Toral não publicou aqui suas histórias de guerra, que ainda aguardam uma oportunidade particular.
O talento desproporcional de Toral tem explicação genética. Paulistano, ele é filho do prestigiado artista plástico chileno Mário Toral e da acadêmica de história da arte Aracy A. Amaral. Desde criança, viveu rodeado pela arte. Contudo, sua primeira opção profissional foi a sociologia.
Graduado em Ciências Sociais pela USP, com Mestrado em Antropologia Social pela UFRJ, André Toral tornou-se antropólogo e trabalhou muitos anos como indigenista. Seu envolvimento com os quadrinhos começou justamente com as histórias curtas, no final dos anos 1980. Seu álbum de estréia foi O Negócio do Sertão: Como Descolar uma Grana no Século XVII (1992, Dealer), premiado com o HQ Mix. Outro grande momento do autor é o álbum Adeus Chamigo Brasileiro (1999, Companhia das Letras), também ganhador do Prêmio HQ Mix. Ainda é de sua autoria o álbum Os Brasileiros (2009, Conrad). Hoje com 53 anos, André Toral é professor de História da Arte na FAAP.
Curtas & Escabrosas tem 72 páginas em cores e é uma publicação da Livraria Devir. Altamente recomendável.