segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Cloverfield

Este final de semana tive a oportunidade de finalmente assitir Cloverfield - Monstro, longa metragem de 2008 dirigido por Matt Reeves sob o roteiro original de Drew Goddard, embora quem tenha levado os créditos seja o produtor J. J. Abrams, que ficou famoso por suas séries de TV, mais especificamente o megassucesso Lost.
O filme é muito bacana e movimentado, conta o que acontece a um grupo de novaiorquinos que, durante uma festa, são supreendidos por uma hecatombe de dimensões bíblicas: alguma coisa está destruindo a cidade e eles precisam correr para salvar suas peles. Tudo vai sendo registrado por um deles, através de uma filmadora doméstica, por isso as cenas são bagunçadas, trêmulas, a montagem é confusa, mas tudo isso é proposital, para dar a narrativa um ar de cinema-verdade, como usado em A bruxa de Blair. Apresentado de forma enviezada, em nenhum momento sabemos claramente o que está contecendo. Apesar dessa estrutura fragmentada e caótica, os personagens são perfeitamente identificáveis e podemos mesmo sentir alguma empatia com cada um deles, o que demonstra a competência
técnica do diretor da fita. Os cenários de Nova York são reconhecíveis, o que dá ainda mais realismo à narrativa.
No meio da destruição, um dos portagonistas recebe o telefonema da namorada que está presa nos escombros de seu apartamento e quatro jovens sobreviventes - entre eles o dono da câmera, é claro - decidem voltar para resgatá-la, enfronhando-se no olho da destruição, causada por uma espécie de monstro gigante acompanhado por um exército de feras similares a grandes aranhas.
Não há dúvida que o filme é uma catarse ao ataque ao WTC, tem até uma cena que repete as imagens da tragédia de 11 de setembro, quando um prédio desmorona levantando uma densa nuvem dem poeira acinzentada. Mas um bocado de coisas aparentemente não encaixa nessa história absurda.
Primeiro, por que alguém que não é jornalista manteria uma câmera funcionando naquela situação? Isso pode ser explicado pelo fato do jovem cineasta amador ser um tipo tão simplório e tolo - como foi apresentado nas cenas inicias da própria gravação - que não tinha iniciativa suficiente para jogar fora aquele traste incômodo.
Segundo, como os militares chegaram tão rapidamente a zona de conflito? Afinal, entre o primeiro ataque e o final apocalíptico, se passam pouco mais de seis horas. Mas isso também tem uma explicação, que advém do fato que Cloverfield não ser um filme convencional. Ele não se resume àqueles oitenta e poucos minutos de exibição, mas conta com uma série de curtametragens distribuidos pela internet em forma de teasers que mostram, muitas horas antes do ataque a NY, a presença algum tipo de ameaça no oceano, com destruição e mortes em torres de petróleo e navios. Ou seja, o monstro já estava destruindo coisas nuito antes de chegar a NY e um exército bem armado, embora inútil contra tal agressor, já estava esperando por ele.

Outro aparente absurdo é o fato do monstro estar em toda parte. Para onde os jovens correm, lá está ele pisoteando edifícios. Minha conclusão é que não havia penas um monstro, mas vários. O exército de aranhas reforça a idéia de que não se trata de um mutante despertado depois de eras adormecido no fundo do mar, como na aterrorizante mitologia lovecraftiana, mas uma maciça força de invasão. E o monstro — ou monstros — é uma arma de ataque para abrir uma cabeça de ponte. Dessa forma, Cloverfileld dialoga, na minha leitura pessoal, com Guerra dos mundos, romance clássico da ficção científica escrito por H. G. Wells, com o qual guarda muitas semelhanças, a começar na narrativa delocada do padrão do gênero: os protagonistas não são cientistas, generais e políticos de alto escalão que sabem o que está acontecendo e assumem o papel de reagir ao ataque, mas pessoas do povo, presas no fogo cruzado, que correm como baratas tontas sem saber para onde nem por quê.

Contudo, não consegui ver os monstros de Cloverfield — palavra que se refere a um código do exército para essa operação — como uma invasão de outro planeta. Neste aspecto em especial, o filme parece dialogar com outro filme-livro, o ótimo The mist, baseado num conto de Stephen King. Os monstrengos de Cloverfield parecem ser do mesmo tipo daqueles vistos em The mist, tanto as aranhas quanto os grandalhões. Poderiam ser histórias dentro do mesmo universo, que acrescenta uma perturbadora profundidade a ambas as produções.
Cloverfiled é um filme totalmente aberto, com uma proposta moderna e inovadora, que se amalgama a muitas outras histórias e se espalha por várias mídias. Outras visões criativas desse apocalipse podem ser dadas, acrescentando detalhes ou ampliando ainda mais seu alcance dramático, inclusive permitindo a cada expectador um bom espaço de especulação pessoal, como a que eu acabei de fazer aqui, construindo cada qual sua própria estrutura de fundo. Isso não é pouco e por si deveria ser suficiente para elevar Cloverfiled a um patamar superior dentro da filmografia de FC&F.
Em tempo, Abrams divulgou que está em seus planos fazer uma sequência a Cloverfield. Quem viver, verá.

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