quarta-feira, 22 de março de 2023

Rio2C começa bem... mal!

Há semanas que escritores e quadrinhistas brasileiros aguardavam com ansiedade a divulgação da lista de trabalhos selecionados para o "pitching editorial" da Rio2C, congresso que se autodenomina "O maior evento de criatividade da América Latina". Marcado para acontecer nos dias 12 e 13 de abril de 2023, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, conta com o patrocínio de empresas de porte como Banco do Brasil, Petrobrás, Enel, Ancine, Globo, OLX e outras marcas públicas e privadas. 
O pitching editorial é um tipo de audição na qual os artistas apresentam produções originais, literárias ou de quadrinhos inscritas nas categorias "Ficção" e "Jovem Adulto", para uma banca de examinadores que apreciarão as possibilidades de transformá-las em produtos audiovisuais e/ou editoriais. O edital do certame – que não está mais disponível no site do evento – determinava que apenas obras inéditas deveriam ser inscritas. E foi justamente isso que causou profundo mal estar e revolta entre os candidatos rejeitados, pois quase a metade dos dezenove trabalhos anunciados aqui estão longe de serem inéditos, tanto que uma busca rápida pode encontrá-los facilmente à venda pela internet. Por exemplo:
Camille & Camila, Bella Prudêncio (FlyveQVoe (2021) 
Tempos de liberdade, Chiara Ciodarot (UBK, 2022)
Filhos do fim do mundo, Fábio Madrigal Barreto (Fantasy, 2014)
Os últimos mestiços, Maria Eduarda Celestino Vieira (UICLAP, 2022)
Fake, Felipe Barenco (Umo, 2014)
Unay, Carlos Felipe Figueiras (Cafezal, 2022)
Pá de cal, Gustavo Ávila (Amazon, 2022)
Algumas edições são recentes, de 2021 e 2022, mas causa espanto que textos publicados em 2014 apareçam na lista. Filhos do fim do mundo, de Fabio Madrigal Barreto, chegou até a ganhar o prêmio Argos do Clube de Leitores de Ficção Científica, quando de sua publicação. E teve até uma adaptação audiovisual, ainda disponível aqui.
Como minha pesquisa foi ligeira, pode não ter identificado a publicação prévia de todos os títulos que efetivamente o foram, o que coloca as obras restantes também sob suspeição nesse aspecto.  
É uma pena que tal nível de leviandade se apresente num evento que envolve a produção de fc&f brasileira, que já sofre profundamente com o preconceito e a falta de profissionalização. A depender de eventos desse tipo, a situação certamente não melhorará. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário