Houve um tempo, entre 1980 e 2000, em que a produção brasileira de literatura fantástica dependia totalmente dos fanzines, publicações amadoras e de pequena tiragem, geralmente produzidas por fãs para servir de meio de congregação de grupos de interesse específico.
Alguns fanzines brasileiros foram muito prestigiados em seu tempo, como o Megalon, o Somnium, o Juvenatrix e o próprio Hiperespaço, o antecessor deste blogue. Destes, somente o Juvenatrix continua a ser publicado hoje, contudo apenas em formato virtual.
Todos os demais fanzines brasileiros de FC&F desapareceram ao longo da primeira década deste século. O último a sumir foi o Scarium Megazine, cuja última edição foi distribuída em 2010.
Nas primeiras edições, o Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica mantinha uma seção para avaliar o desempenho dessas publicações no Brasil mas, quando deixou de haver massa crítica mínima para uma análise, ela foi cancelada.
Desde então, tenho acompanhado a trajetórias dos fanzines por minha conta e já cheguei a falar sobre isso aqui, mas faz algum tempo que não me debruço sobre o assunto. Fui então levantar o estado atual dos fanzines brasileiros de FC&F e fiquei perplexo. Parece que o fandom brasileiro deixou mesmo os fanzines para trás. Publicações que surgiram "chutando a porta", cheias de energia, manifestos e frases de ordem, desapareceram como fumaça poucos meses depois, sem deixar rastros. Nem mesmo o apelo de custos baixos e divulgação viral foram suficientes para manter os fanzines em atividade.
Em suma, 2011 trouxe à luz a publicação de apenas seis títulos, entre os quais um único lançamento.
O mais vigoroso deles foi o já citado Juvenatrix, editado por Renato Rosatti, fã ardoroso de cinema fantástico, que também mantém o blogue Infernotícias. Juvenatrix surgiu com o nome de Vortex, mas logo adotou o novo título inspirado no filme Reanimator. Seu conteúdo é diversificado, abordando especialmente cinema, mas com bom espaço para a literatura e rock extremo. Em 2011, Juvenatrix teve sete edições (números 126 a 132) distribuídas por email diretamente aos interessados, ou seja, as edições não estão online para serem baixadas. É provavelmente o fanzine amador continuamente editado há mais tempo no país.
Outro fanzine que sustentou-se em 2011 foi Flores do Lado de Cima, editado pro Rosana Raven, com duas edições (números 16 e 17). Dedicado à arte soturna, o fanzine passeia pela literatura, artes plásticas e música. As duas edições, distribuídas através de sites de compartilhamento, trouxeram compilações musicais que podem formar um CD com capinha e tudo. Um capricho só. Mas o zine demonstrou algum desgaste em 2011, uma vez que, nos anos anteriores, distribuiu cinco edições em média.
O mesmo se pode dizer de seu fanzine irmão, Fun House Xtreme, que também apresentou duas edições (números 19 e 20) em 2011, quando sua média era de 6 edições ao ano. Editado por Iam Godoy, também é dedicado ao horror, porém focado no cinema, especialmente as produções independentes.
Outro fanzine que puxou o freio de mão em 2011 foi Terrorzine, editado pelo escritor Ademir Pascale. Depois de lançar 22 edições entre 2008 e 2010, publicou somente uma única edição no ano (número 23), com contos ultracurtos e entrevistas com autores nacionais. Talvez o envolvimento do editor em trabalhos profissionais tenha sido a causa do fraco desempenho do fanzine no ano, mas ele foi algo compensado pelas muitas antologias literárias organizadas por Pascale.
Mais dois títulos apareceram em 2011 com apenas uma edição publicada. Um foi o estudo bibliográfico que o jornalista Marcello Simão Branco realizou sobre a obra do escritor americano H. P. Lovecraft, publicado em forma de uma monografia acadêmica. O material causou interesse e talvez o vejamos futuramente em forma real por alguma editora.
O último deles foi a excelente revista eletrônica Hyperpulp, editada por Alexandre Mandarino. Trata-se de uma publicação bilíngue, graficamente profissional, com contos fantásticos nacionais e estrangeiros mas, por sua apresentação digital, podemos classificá-la como um fanzine. A boa notícia é que a revista teve um segundo número publicado em 2012 e ambas as edições podem ser obtidas aqui.
O que se pode concluir deste panorama é que a publicação dos fanzines de arte fantástica está prestes a ser uma coisa do passado, inclusive no ambiente virtual. Em seu lugar estão hoje as redes de relacionamento, bem como as publicações reais, especialmente os livros, que nunca dispuseram de tanto espaço.
Há uma perda, contudo, uma vez que os fanzines publicavam muitos artigos e resenhas, que estão desaparecendo do fandom.
Que venha 2012. Quem sabe o ano ainda nos reserve algumas boas surpresas.
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