Portal de Capricórnio, Ursulla Mackenzie. 218 páginas. 2.a edição. São Paulo: UICLAP, 2019. Edição original: Anadarco, 2012.
Romance de estreia da escritora paulista Ursulla Mackenzie, originalmente publicado em 2012, quando a autora ainda assinava M. R. Olivieri. O exemplar a que tive acesso foi publicado em 2019 através da plataforma de edição por demanda UICLAP. Trata-se de uma mistura de romance planetário, ucronia e transmigração, mas podemos simplificar as coisas e classificá-lo como fantasia.
Conta a história de Dru Ruver, uma jovem que durante as férias no litoral descobre um livro com mapas e ilustrações intrigantes que parecem sugerir a existência de um portal através do qual se poderia acesar um outro mundo, em tese, a própria Terra vinte mil anos no passado. Um grupo de cientistas se forma para uma missão de exploração desse portal, que fica no interior de uma casa no litoral de São Paulo. As informações do livro se revelam verdadeiras e o grupo é transportado para um deserto repleto de monstros e armadilhas. O grupo se desmantela e cada membro vai ter de enfrentar sozinho os perigos desse mundo estranho e surpreendente. Mas eles não estão realmente sozinhos ali. Um empreendimento político-militar já se instalou naquele lugar e seu sucesso vai trazer riscos para os dois mundos.
Mackenzie afirma que a inspiração para a história veio do maravilhamento que experimentou durante uma viagem à Praia de Santa Rita, em Ubatuba/SP, onde a casa descrita no romance realmente existe, sem o portal do tempo, provavelmente. O título Portal de Capricórnio faz referência ao Trópico de Capricórnio, que passa exatamente pela cidade. O estilo da história é weird, na linha de Edgar Rice Burrougs em Uma princesa de Marte e Pellucidar, com toques de O senhor dos anéis, de J. R. R. Tolkien.
O livro esta dividido em duas partes bem evidentes. A primeira narra a expedição ao passado até o retorno ao presente e traz maior quantidade de mistérios e surpresas, com uma introdução realista que reforça o estranhamento da história. A segunda parte conta sobre a volta dos protagonistas para uma segunda viagem ao passado que, por ser uma repetição, já não causa tanto impacto, mas é tecnicamente mais consistente que o trecho inicial.
A opção pela viagem no tempo é tímida pois, fica evidente que não se trata de uma ucronia. Vinte mil anos não seria tempo o bastante para determinar as profundas mudanças descritas como, por exemplo, os contornos dos continentes que, nessa época, já eram iguais aos de hoje. Além disso, a maior parte das criaturas que surgem na história nunca existiu na Terra, sugerindo uma viagem a outro mundo ou, melhor ainda, a outra realidade, que traria outros e mais profundos significados à trama.
Significativa também é a forma literária adotada, que não faz uso de recuos nos parágrafos nem de travessões nos diálogos. Nada que cause grandes dificuldades à leitura, que é leve, agradável e dá prazer. Várias pontas soltas deixam a sensação de ganchos para uma sequência futura, embora já tenham se passado muitos anos e a autora não deu sinal de pretender publicar alguma coisa nesse sentido. Mas, se vier, vou querer ler.

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