Uma estrela vermelha (Красная звезда), Alexander Bogdánov. 322 páginas. Tradução de Thais Rocha. São Paulo: Cartola, 2020. Edição original de 1908.
Uma estrela vermelha é uma coletânea de textos especulativos do escritor russo Alexander Bogdánov (1873-1928) que, por um bom tempo, foi ativista no processo revolucionário que levou a Rússia do regime czarista para o comunismo soviético. Também foi um homem interessado em conceitos ligados à imortalidade, e todo o seu pensamento está retratado nas novelas e poemas que compõem o volume organizado e publicado pela Editora Cartola em 2020. São eles "Uma estrela vermelha" (novela), "O engenheiro Menni" (novela), "Festival da imortalidade" (noveleta) e os poemas "Um marciano preso na Terra", "Natasha", "Nina", "No céu da juventude brilha...", "O sino afundado de Hauptmann" e "Vozes do destino". O volume ainda conta com uma longa introdução história sobre o autor e sua obra, assinada pelo pesquisador e professor Alexander Meireles da Silva (UFG).
A parte principal do livro é composta pelas novelas "Uma estrela vermelha" e "O engenheiro Menni". A primeira narra a aventura de um russo do início do século XX que é levado a Marte e todas dificuldades físcas e psicológicas que enfrenta para se enquadrar na sociedade comunista marciana. Em "O engenheiro Menni", o melhor momento da coletânea, somos levados ao passado da história marciana, quando o grande engenheiro Menni, uma espécie de herói planetário, propôs e executou a construção dos canais marcianos que levaram o planeta de uma sociedade capitalista para o comunismo. A novela e os poemas que completam a seleta são peças livres, mais ou menos correlacionadas com as narrativas principais, mas que podem ser apreciadas individualmente.
Apesar do que se espera do discurso de um ativista comunista, o texto das novelas não é proselitista. Era de se esperar que Bogdánov pensasse no comunismo como uma evolução política natural do capitalismo, uma uma vez que o comunismo proletário só pode surgir em um ambiente em que houvesse a guerra entre classes. Contudo, em muitos momentos, o discurso de Bogdánov soa ambíguo e inseguro, como se o autor não tivesse muita certeza das benesses do socialismo, mesmo em comparação com os vícios perversos do sistema capitalista, muito bem delineados na novela "O engenheito Menni". A questão fica como tema para reflexão dos leitores, que continua intrigante mesmo à luz do "capitalismo vitorioso" deste do século XXI.
Uma estrela vermelha não é um livro fácil de ler. O texto é demasiadamente descritivo, os conflitos são internalizados, não há muita ação e os aspectos filosóficos ocupam as discussões de forma mais evidenciada. A edição da Cartola, infelizmente, não é das melhores pois apresenta muitos muitos erros ortográficos que poderiam ter sido corrigidos com uma revisão mais atenta. Minha leitura foi na versão digital, disponível no acervo da biblioteca digital BibliOn, mas imagino que as falhas ortográficas também devam estar presentes na edição impressa. Apesar das dificuldades, é um livro significativo que merece a leitura atenta.
Há ainda uma outra edição do título no Brasil, publicada pela Boitempo em 2020 – e também disponível na BibliOn – contudo, apresenta apenas a novela que lhe dá título. Para uma visão mais ampla do trabalho de Bogdánov, vale a pena procurar pela edição da Cartola.

Nenhum comentário:
Postar um comentário