sexta-feira, 31 de julho de 2015

O quadrinho brasileiro não morreu... ainda

Enquanto as bancas estão inundadas de quadrinhos estrangeiros de mascarados ambíguos e mitologia oriental que mal conseguimos perceber, o quadrinho nacional segue vivendo na UTI a base de editais e ações entre amigos. Mas será que o quadrinho nacional realmente se tornou tão somente um sorvedouro de verbas públicas e favores da galera? Não mesmo.
Nos terríveis anos 1980, quando a catástrofe da distribuição cartelizada demoliu para sempre o mercado de quadrinhos nacionais nas bancas, a arte nativa refugiou-se nas edições independentes, os conhecidos fanzines. O ambiente alternativo fez muito bem ao quadrinho nacional, que encontrou identidade e linguagem próprias num caldeirão de criatividade que até hoje serve de fonte para os caça-talentos estrangeiros. Ainda que os artistas brasileiros ganhem prêmios e prestígio de superstars trabalhando para o mercado estrangeiro, não conseguem publicar uma única página autoral no próprio país, que ainda parece fazer questão de humilhá-los promovendo grandes festivais para festejar o predomínio absoluto do quadrinho estrangeiro em terras tupiniquins. Mas, em meio a essa enorme tristeza e escuridão, sempre há de existir alguma luz. Sim, são eles novamente: os fanzines estão de volta.
Numa visita ao Animefriends, um dos superdimensionados festivais que celebram o quadrinho estrangeiro, acontecido ao longo de duas semanas do último mês de julho, lá estavam alguns dos novos heróis do quadrinho brasileiro, oferecendo seus fanzines num corredor periférico, bem longe dos olhos do público mais interessado em quinquilharias importadas, em meio a palestras de subcelebridades e muito desconforto.
Mas, de fato, os fanzines nunca deixaram de circular. Durante a virada do milênio, as edições independentes migraram com força para a internet, aproveitando o apelo irresistível da publicação barata mas, no caso dos quadrinhos, as autores não ficaram satisfeitos com o resultado virtual. Sendo uma linguagem criada e desenvolvida na mídia impressa, o quadrinho soa estranho fora dela, por isso muitos voltaram ao papel, investindo na variedade de temas e estilos, e especialmente na qualidade gráfica.
Faço questão de prestigiar essa galera cheia de disposição, que enfrenta a maratona cansativa de um festival voltado para um público que não a valoriza, com esperança de tornar seus sonhos reais. Nos próximos posts, comentarei os títulos que adquiri na oportunidade.

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