sábado, 5 de setembro de 2020

Memória dos Fanzines

A atividade editorial alternativa ganhou muitos adeptos durante os anos 1970, por um lado porque havia censura prévia em todos os veículos de comunicação, e por influência das propostas libertárias do movimento punk, entre as quais a do "faça você mesmo". Mas os fanzines são muito mais antigos que a ditadura brasileira e o punk rock. Na verdade, surgiram por volta dos anos 1930, durante a grande depressão, que promoveu a literatura de ficção científica a produto de consumo de massa na forma de revistas periódicas populares, a chamada pulp fiction. Jovens leitores dessas revistas, entusiasmados com a criatividade do gênero, começaram a exercitar suas próprias narrativas e publicá-las em apostilas impressas em mimeógrafos, e essa é a real origem dos fanzines: publicações feitas por fãs para os próprios fãs. No Brasil, os fanzines encontraram um ambiente favorável a partir de 1980, unindo comunidades de fãs em torno de diversos assuntos. Muitos artista, principalmente poetas, escritores e quadrinhistas, encontraram nos fanzines o formato ideal para exercitar e divulgar sua arte. Os fanzines foram a primeira rede social efetiva, tudo feito analogicamente, pelos correios. Muitos tiveram poucos números, outros se prolongaram por muito tempo, e alguns se tornaram verdadeiros marcos da arte, mas com a chegada da internet, quase todos foram extintos  e esquecidos. Por isso, é providencial a iniciativa do fanzineiro Renato Rosatti (editor do Juvenatrix, um dos poucos fanzines sobreviventes nos dias de hoje), que publicou um volume impressionante de estudos e pesquisa sobre os fanzines no Brasil. Trata-se de Memória dos Fanzines, livro eletrônico de 183 páginas que reproduz nada menos que 600 capas e descritivos de fanzines brasileiros de várias épocas. Também traz entrevistas com editores e artigos antes disponíveis no blogue Metal Reunion Zine. Além de Rosatti, Fabio da Silva Barbosa e Alexandre Chakal colaboram na publicação. 
O livro está disponível para download gratuito na Cadaveric Noise Bibilotech, uma espécie de memorial de fanzines e publicações independentes.
Os editores informam que já está em andamento a produção de um segundo volume do Memória dos Fanzines, e a publicação aceita colaborações. Mais informações no blogue Memória dos Fanzines.

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